Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 62
O diário de Amy Pond


Notas iniciais do capítulo

Hi! :)

"As garotas aceitaram fazer uma "expedição" descontraída pela TARDIS, a fim de conhecê-la melhor e também encontrar seus respectivos quartos...
Claro que as chances disso dar cem por cento certo são quase nulas".



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Luisa fazia seu caminho pacientemente, na esperança de ver algo novo. Felizmente, até agora estava indo tudo bem e a chave não mudara para vermelho em nenhuma vez. Por outro lado, ela estava louca de curiosidade sobre seu quarto na cabine, e torcia á cada segundo para que a chave brilhasse em dourado, indicando-lhe a porta certa. Os corredores em geral eram todos iguais: com piso, paredes e teto parecidos e portas fechadas para todos os lados que você olhasse. Parecia um labirinto. Um perfeito trajeto para se enlouquecer, mas ela estava com a chave GPS, o que a permitiu relaxar um pouco, porque nem morta toparia explorar aquele lugar sem um guia experiente... É claro que, quem ouve isso de imediato pensa que ela já estava lá há muito tempo, dando voltas ás cegas, mas na real, não haviam nem se passado direito dez minutos, desde que entrara nos corredores.

Não passou muito e a chave de Melissa esfriou em seu pescoço, ainda no final na primeira extensão do corredor. Ela correu até uma abertura grande na parede, em estilo colonial, sem portas de entrada desta vez, e deu de cara com uma imensa sala de lazer (ao som de *Garls Just Want To Have Fun –Cindy Lauper), com sofás estofados e poltronas confortáveis, igualmente em tom púrpura, além de uma ótima mesinha para se colocar pipoca e refrigerante. Em frente ao sofá, havia uma gigantesca TV de sei lá quantas polegadas em HD, alta definição, com entradas para Karaokê, videogame, pendrive, vídeo cassete, DVD normal e em 3D, BLU-RAY e uma coisa chamada RaioVax, que parecia ser alta tecnologia. No teto havia um Projetor automático para outras mídias serem transmitiras na parede branca. À direita da TV, havia uma vitrola antiga e, á esquerda, um Jukebox com sistema de áudio clássico, (era considerado febre na década de sessenta, porque trocava os discos automaticamente, em geral, atendendo á pedidos). Havia uma esteira de corrida nos fundos, um aparelho de som incrível para CD e MP3 e, bem ao lado, um amplificador com uma Guitarra conectada. Também havia um pequeno frigobar na lateral, com todo o tipo de refrigerante, drinque, champanhe, vinho ou refresco que se possa imaginar. Na outra lateral havia uma seqüência de mesas de jogos, como os que se encontram em cassinos de Las Vegas, com números, canaletas, fliperamas, animações virtuais e uma mesa redonda para jogos de carta e baralho, além de uma clássica mesa-tabuleiro, para xadrez e dama.

Os olhos de Melissa brilharam ao contemplar aquele lugar.

—Como é que aquele filho da mãe tem tudo isso sem ter um centavo no bolso? –ela indagou por um instante, então sorriu ainda mais. –Dane-se! Eu vou me esbaldar aqui...

Luisa franziu a testa por um instante, pensou ter visto alguma coisa no fim do terceiro corredor, mas não era nada. Só mais uma porta fechada. A garota bufou e parou em uma bifurcação, entre o corredor ás suas costas, por onde viera, e três caminhos alternativos á sua frente.

—Tá legal... Já chega de esperar! –ela colocou a chave no bolso e deu meia volta. Parou bem no centro do corredor por onde viera e fitou as opções. –Esse corredor, assim como os dois primeiros, estão isentos de problemas. –ela estralou os dedos. –Bom, vamos entrar na brincadeira... –esticou a mão para a maçaneta da porta mais próxima e entrou sem pestanejar (ao som de *Coldplay –Adventure Of A Lifetime). –Uau! –era a cozinha. Linda, imensa, e fantasticamente tecnológica. Microondas, geladeira com frízer de ultima geração, pia com lava-louças automático e guarda louças também, fogão elétrico, balcão com cafeteira automática, máquina de cappuccino, jarra estilizada para suco, batedeira e liquidificador modernos, talheres em uma gaveta vertical, com tampa de vidro e encaixes próprios, porta copo automático, mesa de vidro com cadeiras decoradas, armários com portas de vidro, azulejos azuis nas paredes e piso azul-cobalto. Estava tudo á meia luz no começo, mas conforme Luisa pos os pés no centro do ambiente, o teto acendeu avidamente, com luminárias laterais em forma de estrelas. Luisa fitou-as por um momento: porque não estavam no teto? Então finalmente conseguiu vê-lo e perdeu o fôlego: Era lindo. O azul marinho era o mais intenso de todos, e estava salpicado por lusinhas pequenas e cintilantes: estrelas, bem distantes, que brilhavam em tempo real, ao redor de uma imensa forma colorida e circular magnífica: uma via-láctea de verdade, expandindo e girando, como um redemoinho colorido. As cores mais lindas que ela já vira. Luisa não fazia idéia de como era possível transmitir uma imagem daquele tipo, retratando o espaço-sideral, que além de tudo o mais se movia, dentro da cozinha da TARDIS. Mas com certeza a tecnologia era muito mais que avançada: era única. Ela sorriu amplamente, ao se sentir com os pés em uma cozinha alienígena, e a cabeça na imensidão do universo.

—É ao vivo. –uma voz anunciou e ela olhou para trás, porém, não viu ninguém. –A TARDIS passa por muitos lugares durante sua deslocação pelo espaço-sideral. Mas esse não é um “simples descanso de tela”.

—Doutor?

—Estou na sala de controles, mas posso me comunicar com você a partir dos megafones instalados em alguns cômodos determinados. –ele fez uma pausa, em que ela localizou o aparelho no canto da parede. Naquele mesmo instante, a musica *No seu Lugar –Kid Abelha, começou a tocar através do aparelho. Aparentemente, novamente a TARDIS tomara liberdade de escolher um tema de fundo para a ocasião. Em algumas horas, ela mais parecia uma caixinha de musicas azul tamanho família, do que uma máquina do tempo.

—Você disse que é ao vivo? –Luisa se certificou, ao voltar a fitar a vista estonteante do espaço, no teto da cozinha.

—Sim. Você está tendo uma visão completa do lugar por onde estamos passando nesse instante no universo. –ele disse e ela se encantou ainda mais. –Se você saísse da TARDIS nesse instante, essa seria a visão que teria. É uma projeção ao vivo do que há do lado de fora...

Luisa amplificou o sorriso.

—Incrível...

Melissa estava ainda na sala de TV, que era um nome muito simplista para aquilo tudo, mas descobriu que chamava-se assim, pois em um dado momento, em que acabou se distraindo por completo fuçando o frigobar, ouviu um estampido rápido e inesperado, como se algo tivesse dado curto circuito, e logo em seguida, viu se acender em letras azuis e vermelhas o nome “SALA DE TV” surgindo, imprevisívelmente, no topo da parede próxima á passagem de estilo colonial.

—Esse lugar é impossível... –ela se permitiu sorrir, impressionada. Então, com um drinque na mão, ela encostou as costas na parede do frigobar, que tinha uma cortina vermelha na frente, mas inacreditavelmente, a parede cedeu e ela se desequilibrou. Não caiu, graças á cortina comprida, onde conseguiu se segurar. Porém, ficou intrigada, fitando parte do tecido na mão. Começou a caminhar por toda a extensão desta, até descobrir onde ela começava. Achando a brecha no tecido, puxou-a e a cortina correu para o outro lado, revelando (ao som de *Good Feeling –Flo Rida) uma extensão secreta da sala de TV, onde havia um salão imenso com pistas de boliche. –Não! Isso nunca! Ele não fez isso!—ela boquiabriu-se incrédula.

Longe dali, Luisa já saía da cozinha e agora caminhava livremente pelos corredores, sem tanta atenção na chave.

—E aí João Paulo II disse: “Filho, isso é sacrilégio! Como você pode dizer que é um Senhor do Tempo? O único que controla o tempo é Deus”, e eu disse ao Papa: “Poxa vida, vocês não perdoam nada mesmo! Um homem vem de tão longe para conhecê-lo e nem pode pensar em divertir um pouco os coroinhas...”.

Luisa parou de chofre e lançou um olhar debochado ao mais próximo megafone no teto.

—Você está me seguindo? –ela replicou.

Seguindo?—ele fez uma pausa que comprovou suas suspeitas. -Não! Porque você acha isso?

Ela riu.

—Porque você está falando comigo através dos megafones desde a cozinha, que eu já deixei para trás faz uns vinte minutos...

O Doutor parou de chofre e se ajeitou ereto na poltrona.

—Eu estou atrapalhando?

—Não. –ela tornou a rir. -É só uma observação...

—Não, você tem razão... É obvio que eu não deveria estar aqui tagarelando. Vou deixar você trilhar seu caminho sozinha.

—Obrigada. –ela sorriu amigavelmente. –Já, já a gente se fala...

—Tá legal –ele silenciou. –Só mais uma coisa.

Luisa riu descontraída.

—Tá... Pode falar.

—Dê uma olhadinha na terceira porta á esquerda. Acho que você vai gostar...

—Isso foi uma dica?

—Foi. Cabe a você decidir se quer conferi-la, ou vai preferir escolher outra opção. Como eu disse no começo, você quem sabe. 

—Tudo bem. –ela sorriu, caminhando em linha reta pelo corredor. Passou reto pela porta apontada, mas logo em seguida olhou para trás, sorriu para o megafone e dirigiu-se a ela. O Doutor alargou um enorme sorriso pelos cantos dos lábios, satisfeito. Ela girou a maçaneta e entrou, dando de cara com uma sala de discoteca. –Meu Deus!—no mesmo segundo, um globo desceu do teto e começou a girar, uma pista de dança ergueu-se do chão, transformando-se em um pequeno palco, luzes coloridas cintilaram de todas as direções e a musica *Stayin’ Alive -Bee Gees começou a tocar. –Isso é incrível!!!

Melissa atravessou um novo corredor com muito custo; Por ela mesma, teria ficado a noite toda na sala de TV ou na pista de boliche, mas o combinado era explorar e ela precisava continuar...

Encontrou uma nova fileira de portas no corredor seguinte, mas igualmente sem título. Nenhuma tinha nome, mas como a “sala de TV” assumira sua identidade logo após ser encontrada, Melissa já imaginava que as demais fizessem o mesmo, conforme fossem descobertas. Abriu a primeira da qual foi com a cara e adentrou no novo espaço: encontrou uma oficina, cheia de arames e ferramentas esquisitas. Fechou-a, mas a porta não ganhou nome, como imaginado. O plano parecia mesmo envolver deslocar as pessoas, criando um esquema confuso para fazê-las se perderem naquele imenso labirinto de portas e corredores infinitos. Era obvio que ela não se perderia, pois tinha a sala de Tv como parâmetro agora, mas deveria levar em conta que, enquanto ela abria algumas poucas portas, aleatoriamente, outras centenas passavam despercebidas. Era certo que isso era algum tipo de tática para confundir, talvez servisse para deslocar invasores, mas até mesmo Melissa se perderia, se não tomasse cuidado e se afastasse demais da sala de TV, por isso, achou melhor maneirar.

—Tá com medo? –o Doutor a fez se sobressaltar por um instante.

—O único medroso aqui é você! –ela rebateu, emburrada por ter sido pega pelo susto.

—Calma, nervosinha. Não precisa se estressar... Eu só estou de passagem!

Melissa olhou para trás e depois voltou a olhar para frente: viu apenas a extensão dos corredores vazios, com portas de cada lado das paredes, mas não viu o Doutor, o que a fez enrugar a testa. Sem dizer uma palavra esticou a mão e tentou agarrar algo no ar, como se esperasse que o amigo estivesse invisível, ao seu lado.

—Isso não vai funcionar.

—Posso ouvi-lo, mas não o vejo... –ela ponderou. –Cadê você?

—Ainda na sala de controles. –ele esclareceu. –Você pode me ouvir falar pelo megafone, no teto á sua direita. Melissa seguiu a direção com o olhar, e depois cruzou os braços, inconformada.

—Ei! E quanto á minha privacidade? –ela chiou, ao localizar também a câmera que a estava filmando naquele momento. –Vá bisbilhotar outro, seu alien intrometido!—e prendeu seu elástico de cabelo contra a lente da câmera de vigilância, interrompendo a visão geral daquela ala.

Ei! Não mexe aí! Isso é propriedade da TARDIS!—o Doutor reclamou. –Você é uma chata! Não brinco mais com você! –anunciou ele, fazendo bico na sala de controles, emburrado.

—Azar o seu! –ela riu, esfregando uma mão na outra, vitoriosa. O rapaz ficou praguejando por uns vinte minutos, até que a câmera se moveu sozinha e o Doutor percebeu que, contrariando todas as suas expectativas, Melissa estava de volta, retirando o elástico da lente.

—Ah! Pelo menos teve bom senso... –o Doutor deu graças aos céus. Seria um tédio ter que procurar aquela câmera violada, depois.

—Que bom senso que nada! Eu só voltei por causa do meu elástico! –ela replicou, com o rosto bem perto da câmera. –Você pensa o quê? Aquela liquidação foi a melhor que já tivemos e eu não ia perder o meu elástico para uma câmera velha e poeirenta! –ela rebateu. –Deus sabe quanto eu amaria ter deixado a câmera assim, mas aí eu ia sair no prejuízo... É um elástico excelente!

O Doutor bateu a mão contra a testa.

—Á propósito: belo frigobar...—ela sorriu, antes de seguir em frente. O Doutor apreciou o elogio, mas decidiu que daqui por diante seria melhor não interferir mais em ambas as expedições, ou acabaria levando uns tapas, quando elas retornassem.

Depois da prosa com o Senhor do Tempo, Melissa continuou seu trajeto. Ficara fazendo hora, durante os últimos dez minutos em uma sala de academia, repleta de aparelhos legais, mais ainda sim, não era sua melhor escolha. Por enquanto, entre a sala de TV, uma oficina enferrujada, duas piscinas de bolinhas e uma sala com bicicletas ergométricas, ela ainda ficava com a opção um.

Uh! Era disso que eu estava falando!—ela sorriu amplamente, ao finalmente localizar outra coisa que era de seu gosto: uma sauna. –Essa aqui eu tenho que experimentar!

E correu para dentro da sala de sauna sem demora, batendo a porta ao passar. Agora, a sala de TV finalmente teria uma boa concorrente.

 

*    *    *

Luisa passara por muitos lugares depois da cozinha e a discoteca: uma sala curiosa chamada JUMP, da qual tudo nela, inclusive as paredes e o chão eram compostos por elásticos, que estavam tão esticados que até mesmo um simples pulo era capaz de impulsionar uma pessoa até o teto; um salão de gravidade zero, da qual qualquer pessoa poderia flutuar feito um astronauta, e sem precisar de roupas especiais; também havia uma espécie de sala-do-avesso, onde tudo ficava de cabeça para baixo; e uma sala com espelhos que eram dimensionais, e refletiam imagens diferentes de peixinhos em aquários de outras realidades; além da sala maluca com uma árvore com planetas no lugar de frutos e um queijo girando em sua órbita; sem falar em uma garagem, onde havia uma lambreta, uma moto e acreditem se quiser, um camelo e uma lhama também. E, graças aos céu, um banheiro, que surgiu em uma hora muito bem vinda: ela precisava lavar o rosto e retocar a maquiagem. Não teve muito tempo para isso durante sua estadia no expresso. Ajeitou as roupas e seguiu para outra porta aleatória. Chegou a achar que a chave jamais mudaria de cor, já que até agora ela se mantivera fria e prateada. Não queria dar de cara com um alarme vermelho logo em seguida, informando perigo, mas esperava realmente poder encontrar seu quarto muito em breve...

Respirou fundo e escolheu a próxima porta: passou dessa fase, e girou a maçaneta... Dessa vez, levou um banho de uma cachoeira, que parecia estar deitada horizontalmente, pois seu jato jorrou como um esguicho reto na direção da porta. Logo em seguida, mesmo estando toda ensopada, recebeu uma mensagem de Melissa:

Lu, acabei de achar meu quarto.

Ele é bem legal.

Como você está se saindo?

Teve sorte?

Ela teve vontade de tirar uma foto da cachoeira e mandar para Melissa, mas se conteve e decidiu que só conseguiria encontrar seu aposento se fosse persistente. Aparentemente, parecia ter andado muito, mas na real, estivera apenas três corredores de distancia da sala de controles, desde o momento em que começou até agora. Isso porque, ao contrario de Melissa, ela olhou porta por porta... Afinal, qualquer uma poderia ser a de seu quarto. Já estava á meio caminho do próximo corredor, quando avistou dois caminhos alternativos novos. Qual direção ela tomaria? Bem... Até agora não fizera diferença, então, provavelmente qualquer uma serviria...

Deu um passo à frente, em direção ao corredor da direita, mas acabou ficando pasma: pela primeira vez, a chave ficou vermelha. Então, com os olhos arregalados e medindo os passos, ela recuou devagar e seguiu pelo trajeto da esquerda, esperando ter mais sorte.

Logo a chave normalizou. Ao menos isso!—pensou ela. Passou de vermelho para prata, mas espantosamente, mudou logo em seguida para dourado. Luisa abriu um enorme sorriso ao se deparar com a primeira porta do corredor. Aquele era seu quarto! Ela mal podia esperar para abri-lo...

—Opa! –sem querer, ela bateu o bico do All Star com tudo no chão e o impulso do corpo a fez derrubar a chave. Esta aterrissou no piso sem sofrer nenhum dano, mas acabou parando em frente á porta ao lado, a segunda do corredor.

—Que coisa... –Luisa se abaixou para apanhá-la, mas ao emparelhar a chave com a porta, percebeu que a luz dourada que esta emanava, ficou azul.

A garota franziu o cenho. PRATA, DOURADO, VERMELHO. O Doutor não mencionara nada sobre azul! O que a cor significava?

—Curioso... –ela ponderou, fitando a chave, encabulada. Então, quase que imediatamente, as luzes do corredor piscaram de leve, como se a eletricidade tivesse sido concentrada em alguma coisa que sugava muita energia e a garota ouviu o gemido rouco da cabine, então, olhou novamente para a segunda porta do corredor, da qual ainda estava parada em frente. –Isso é algum tipo de brincadeira? Doutor? É você que está fazendo isso, não é? Já pode parar agora... –ninguém respondeu. Só se ouviu novamente o ruído da TARDIS. –O que foi? –Luisa perguntou para a cabine. Na real, nunca se referira exclusivamente à TARDIS. Ela sabia que a caixa azul tinha alma, (porque o Doutor dissera isso uma vez), que ela amava aventuras e que adorava lançar temas musicais para o trio em momentos importantes e memoráveis, mas ela nunca se dirigira propriamente à caixa azul. Apesar de ver o Doutor fazer isso sempre, não era tão fácil de se imitar, pois a experiência era muito próxima a de se falar com as paredes, e Luisa não queria sentir que estaria realmente ficando biruta. Afinal, será que a TARDIS realmente podia ouvi-los, ou as coisas que aconteciam eram algum tipo de coincidência ou efeito colateral de algum tipo de mau funcionamento dos controles principais, o que o Doutor normalmente encararia como um sinal ou resposta da cabine? Bem, isso ela não tinha como comprovar. Só torcia para estar certa... –TARDIS? É você? Você está tentando me dizer alguma coisa? O que foi?

 “Vuuuul” “Vuuuul” –a cabine ressonou, baixinho.

—Porque a chave ficou azul? –Luisa perguntou, encarando a chave e logo em seguida o teto do corredor. –Isso era para acontecer? Porque o Doutor não disse nada sobre a cor azul... Quem fez isso? Você sabe?

A cabine silenciou.

—Ah... Devo estar ficando maluca... –Luisa disse consigo mesma, voltando ao seu trajeto. Mas então, quando ela ia das as costas á porta, a maçaneta girou e se abriu sozinha. Luisa abriu um imenso sorriso de imediato. Segurou forte na maçaneta da segunda porta e fitou cada canto do corredor com o olhar iluminado, agradecendo á TARDIS em silêncio, já que ela era tudo ao seu redor. –Você abriu a porta... Bom, foi um ótimo começo.

“Vuuuul” –a cabine respondeu baixinho.

—Está querendo fazer amizade, é? –Luisa sorriu. –Bom, é seu dia de sorte, madame... –e com isso, empurrou a porta, recebendo a visão do novo aposento em total breu.

O cômodo era um quarto. Um quarto comum. Sem jatos de cachoeiras deitadas, passagens hiper-dimensionais, ou bizarrices do espaço. Era apenas um quarto. Um quarto de casal, ela comprovou, pois havia uma cama muito larga, dois criados mudos, um de cada lado, uma prateleira presa á parede, um pequeno guarda-roupas, além de uma escrivaninha, que se destacava na lateral do aposento. No começo, nada chamou muito a atenção de Luisa, mas ela persistiu e adentrou no ambiente. “Se a TARDIS me induziu a entrar aqui, então deve ser por um motivo importante”, pensou consigo mesma ao seguir em frente. Mas, a cada novo passo que dava, pareciam crescer as duvidas em sua cabeça: Tudo era extraordinariamente normal ali dentro... Então, qual o problema com aquele lugar? Sem pestanejar, Luisa correu até a escrivaninha e acendeu a luz de um abajur que ali estava, para ver se conseguia enxergar melhor. Imediatamente, o objeto se acendeu e os olhos de Luisa ficaram maravilhados com o efeito que ele reproduziu no teto. Ele tinha a base azul com a silhueta moldada, e o refletor branco, para, como já dizia o próprio nome, refletir a luz amarela emanada por uma lâmpada disponibilizada bem no centro. Mas, o mais incrível da peça, era que o refletor tinha alguns pequenos recortes em forma de estrelas, o que criava uma linda ilusão de ótica no teto, onde as estrelas eram refletidas em amarelo ouro. Depois de recuperar o fôlego, ela conseguiu ver melhor o ambiente: as paredes eram azuis e o teto, branco, assim como o padrão do abajur. Achou engraçada a combinação de cores e continuou a explorar, afinal, parecia ter todo o tempo do mundo para isso... Sim, porque dentro daquele lugar, a sensação era de que o tempo houvesse parado. Literalmente. O lugar parecia intocado e esquecido pelo tempo, mas ainda sim, havia uma persistente energia emanada pelo cômodo desde que ela entrara ali, passando uma sensação de paz e, ao mesmo tempo, saudades de uma época diferente. Era extremamente calmo e acolhedor permanecer ali. Tão tocante e esplendoroso que Luisa sentiu como se aquele lugar fosse o melhor canto da TARDIS –e isso porque ainda não havia entrado em seu quarto –o tempo não conseguia interferir na beleza do ambiente... Era como se os segundos, dentro daquele espaço, pudessem ser eternos.

Foi em um momento de distração, porém, que ela reparou que havia uma cordinha pendurada na altura do pé da cama, e se inclinou para ver o que era. Não conseguiu distinguir do que se tratava á meia luz, mas logo encontrou um interruptor na continuidade da cordinha. Acionou-o e, ao se erguer novamente, ficou entusiasmada ao contemplar uma seqüência de lusinhas pisca-pisca, ligadas em série, e amarradas com o maior cuidado contra as grades da cabeceira da cama. Agora, o quarto estava ainda mais encantador... Afinal, quem coloca lisinhas pisca-pisca na cabeceira da cama hoje em dia? Os olhos de Luisa brilharam... A simplicidade do aposento era o que lhe tornava ainda mais encantador! Ela sorriu amplamente e sentou-se no colchão da cama, coberto também por uma colcha azul-escura, para poder observar a beleza do ambiente por outro ângulo. Era quase como se a experiência pedisse isso: não poderia partir daquele lugar, sem antes se deitar e fitar as estrelas refletidas no teto, transmitindo a sensação de se estar contemplando o céu noturno deitada no gramado se sua casa. Porém, quando suas costas tocaram o lado esquerdo da cama, acabou franzindo o cenho ao sentir que o colchão não aderira corretamente sob seu peso... Intrigada, espiou em baixo da cama. Pensou ter visto algo entre o colchão e o estrado de madeira, só então, colocou a mão entre o espaço e puxou algo duro para fora do esconderijo...

—O que é isso? –ela franziu a testa. Era um livrinho pequeno, quase uma agenda, só que com uma capa esculpida em madeira. Nunca havia visto nada parecido... –Isso é um livro comum ou tem outra utilidade? Bem, só há um jeito de descobrir... –ela puxou a capa e a madeira aderiu perfeitamente, inclinando-se e revelado a primeira página de papel, e uma próxima anotação em caneta, bem no centro da folha:

ESSE DIÁRIO PERTENCE A AMY POND

 

Luisa deixou as sobrancelhas em V. Já havia ouvido aquele nome antes... Tinha certeza que o Doutor já mencionara uma tal de Amy Pond, certa vez, durante uma conversa que tiveram. Mas, a expressão intrigada passou para pasma, quando virou a próxima página e encontrou uma foto com quatro pessoas: A primeira era uma loira, de cabelos cacheados e expressões ousadas, alta e encorpada, usando um vestido extravagante com decote na região do colo; o segundo era um rapaz de feições simples, nariz comprido, cabelos claros e curtos penteados para trás, e roupas sociais; a terceira era uma ruiva, magra e alta, de cabelos volumosos e rosto angelical, usando uma jaqueta de couro, saia curta, meia calça colorida e botas de cano alto; e o quarto era um rapaz também alto e magro, que usava topete, camisa listrada, calça justa, botas com cadarço, casaco marrom teed, chapéu turco, suspensórios e gravata borboleta vermelhos... Ele sorria alegremente, fazendo um sinal de paz e amor com os dedos. Todos estavam abraçados e pareciam extremamente felizes na imagem. Quase era possível ouvir as risadas ressonando pelo ambiente... Luisa levou as mãos aos lábios ao ler a frase escrita em baixo da foto:

RIVER SONG, O SR. POND E EU,  E NOSSO QUERIDISSIMO DOUTOR...

MEUS AMIGOS. MINHA FAMÍLIA.

 

*    *    *

O Doutor quebrava a cabeça pensando em uma forma de trocar uma alavanca do painel de controles, sem ter que mover a base toda, mas foi surpreendido por Melissa, que surgiu sem aviso prévio e quebrou o silêncio ruidosamente, fazendo-o bater a cabeça em uma tampa de ferro, ao tentar se erguer rapidamente.

—Ai! Porcaria! –gritou, rabugento, estapeando a tampa para extravasar a raiva, o que, para começo de conversa, gerou mais confusão, já que ele machucou também as pontas dos dedos. –Só não coloco você de castigo porque isso está fora de cogitação! –ele berrou para a tapa inerte, chupando os dedos para amenizar o ardor.

—Você tá bem ou só tá louco mesmo? –Melissa aproximou-se, tirando sarro.

—Muito engraçado... –ele fez cara de pouco caso. –Vamos! Continue a rir de mim... Sou apenas um velho bobo inofensivo! –ele desabafou, aborrecido, acionando alguns controles e puxando uma alavanca.

—Inofensivo? –Melissa fez uma careta, andando próxima dele. –Já se olhou no espelho alguma vez na vida?

—Já. –ele contornou. –E, devo admitir, fiquei surpreso com o que vi... –disse, distraído com o trabalho. –Especialmente após regenerar. Acredite, os primeiros dias são um caos!

—Acredito que sim –ela fitou-o como se ele fosse biruta. (Melissa não sabia das regenerações, por isso não deu muita importância à informação, como se fosse só mais uma maluquice inventada por ele).

—Falando em surpresas, onde está sua amiga?

—Sei lá. Por aí, procurando pelo quarto... –Melissa sentou-se na beirada do painel, em um ponto sem controles. –Eu pensei que estivesse nos monitorando...

—Eu estava, mas fiquei entediado e mudei de foco –ele disse, soprando uma peça aleatória, que acabara de retirar de dentro do painel circular. –E você?

—Eu encontrei meu quarto. Ele é bem legal... –ela disse, disfarçando a empolgação.

—Como conseguiu encontrar o caminho de volta para a sala de controles? –ele quis saber, curioso, enquanto escaneava a peça com a chave sônica.

Ela abriu um sorriso travesso.

—Eu encontrei a sala de Tv.

E ele também sorriu.

—Ah, já entendi.

—Mas na boa... Por que chama “sala de Tv”? É tão modesto...

—Eu sou modesto.

Melissa deu um sorriso zombeteiro ao se apoiar no console.

—Você sabe que, dizendo isso, já deixou de ser modesto né? 

De repente, um alarme ensurdecedor disparou e a nave saiu do curso, ultrapassando os níveis de solavancos e guinadas.

—O QUE ESTÁ ACONTECENDO? –Melissa gritou. –O QUE VOCÊ FEZ?

—Não fui eu! –ele rebateu, tendo dificuldade em se manter em pé. –É a TARDIS! Está sendo puxada para algum lugar... É confusão na certa!

Melissa arregalou os olhos para ele, em meio á confusão de solavancos e tropicões.

—E a Luisa? Ela ainda não voltou...

—O quê? –ele se indignou. –Melissa! Por favor... Como consegue ser tão desatenta? Está me envergonhando na frente da TARDIS!

—O quê? –ela franziu a testa, tentando manter o equilíbrio. –De que diabos você está falando?

O Doutor fez uma careta.

—O tempo todo, durante a nossa conversa, eu estive polindo uma determinada peça... Essa peça, por acaso, é a fonte do tele-transporte interno da TARDIS, da qual eu acabei de encaixar de volta no painel de controles... –ele arfou. –Eu pretendo ativá-lo e trazer Luisa para junto de nós, em segurança...

—Mas aqui está um caos! Como a sala de controles pode ser a mais segura da TARDIS?

—Você pode enxergar isso de vários ângulos: a sala de controles pode parecer uma montanha-russa às vezes, mas pelo menos, se a TARDIS precisar se livrar de alguma sala ou corredor interno, para poder estabilizar melhor o pouso, a sala de controles será a ultima opção da lista, porque ela sabe que ficamos sempre aqui e irá querer nos proteger á qualquer custo...

—E isso pode mesmo acontecer? Sermos DELETADOS do mapa?

—Pode, como já aconteceu antes... –ele ressaltou sem psicologia alguma, deixando-a ainda mais alarmada. –Esse é um dos motivos pelo qual eu nunca consigo decorar os caminhos para todas as saletas da TARDIS: eles vivem entrando em desuso e sendo descartados, reformulados e etc...  –disse o Doutor, aflito ao apertar vários botões aleatórios.

Hã? Quer dizer que o meu quarto pode ser descartado?—Melissa indignou-se.

—QUER CALAR ESSA BOCA!? –ele gritou. –Estou tentando salvar nossas vidas... Para variar! Então, por ao menos uma vez na vida: fique quieta e me deixe trabalhar!

Melissa fitou-o pasma, mas seu semblante ainda era o mais cara de pau de todo o universo...

—Falô. –ela murmurou, dando de ombros. –Aperta os troços aí e seja feliz.

Ele sufocou um suspiro.

—Obrigado. –disse, tentando ser legal, mas logo depois deu-lhe as costas e saiu correndo, estabilizando os estabilizadores hexagonais de gravidade quântica, para manter o vôo em linha reta, o que particularmente não deu certo.

—O que está havendo? –Melissa gritou. –Por que ainda não paramos de girar? Eu odeio piruetas!

—São o estabilizadores hexagonais de gravidade quântica. Eu tentei alterá-los, mas parece que o motor não vai aderir... Tem muita tensão em um vôo descontrolado!

—É. Eu sei como é. –ela disse, falando por si mesma, enquanto agarrava-se ao corrimão do console. –Ao menos você pode fazer algo á respeito do salvamento de emergência da Luisa?

—É o que estou fazendo neste instante... –ele segurou duas alavancas curvas ao mesmo tempo. –Muito bem... Isso vai dar um pouco de vertigem depois: Allons-y!

—Aaaaaaaaaaaaaah!

Luisa estava no quarto de Amy Pond, quando, de repente, sentiu tudo tremer e ergueu-se da cama de um pulo, abraçando o diário da garota contra o próprio peito. Não sabia o que estava acontecendo... Parecia um terremoto! Assustada, ela caminhou errantemente até a porta, desviando dos moveis que pareciam querer correr em sua direção, como se ela tivesse um ímã junto do corpo. Por fim, chegou à porta do aposento e fechou-a. Mas então veio o pior: não sabia onde estava. Não sabia para onde devia correr. Não sabia em qual quarto se esconder... Não! Espere! Ela sabia sim! Seu quarto estava logo ao lado! Ela esticou a mão e tocou a maçaneta, mas no momento em que o fez, a porta se desfez em átomos e, junto com ela, o corredor e tudo mais ao redor. Quando deu por si, estava gritando, como se escorregasse em um tobogã desgovernado e, no momento seguinte, surgiu por uma das coisas redondas nas paredes da sala de controles, próxima ao teto, que se abriu como um alçapão e despejou-a para fora, em direção do chão. Ela despencou com tudo, gritando e se debatendo. O Doutor franziu a testa.

—Caramba! Errei de novo! –ele gritou, indignado, então correu e apanhou-a em seu colo, antes que ela colidisse com o chão. –Tudo bem com você?

Os quartos Doutor! Eles sumiram! E os corredores também! Todos se desfizeram e eu...

—Você veio parar aqui. Fique tranqüila. Isso fui eu. Os quartos não se desfizeram: foi você que foi deslocada e trazida de volta à sala de controles...

—Eu pensei que ela devia ter sido tele-transportada e não deslocada. –Melissa relembrou.

Quieta!—ele resmungou. –É fácil criticar! Não é você quem tem que pilotar a nave e consolar Luisa ao mesmo tempo!

Mas eu caí do teto!—Luisa protestou, ainda em pânico, agarrando-se ao pescoço dele com força. –Meu Deus! Eu literalmente despenquei das alturas! Você me deve um consolo...

—Calma! Segure os ânimos! Ainda não consegui pousar a gente... –ele arfou, colocando-a de volta ao chão, e correndo ao redor do painel, desdobrando-se para apertar vários botões, interruptores, discos e alavancas de controles, distantes umas das outras, ainda em tempo de salvá-los de serem arremessados para fora do Vórtice Temporal. O que seria mais do que um problema, se ocorresse de novo. Luisa aproveitou para se segurar e conferir se ainda estava inteira: a dignidade estava intacta, a bolsinha rosa pendurada no pescoço e o livro de capa dura, entrelaçado em seus braços. Ao menos isso não se perdera no meio daquela confusão.

De repente, uma luz no console se acendeu e um alarme começou a berrar. No mesmo instante, o mostrador de datas começou a mudar os números feito louco, retrocedendo no tempo. Rapidamente, as meninas o avisaram sobre isso e ele tratou de colocá-las para ajudá-lo. Precisaria de mais de um piloto para conseguir fazer todos os procedimentos para pousá-la em segurança, pelo menos nas circunstancias atuais. Ele correu contra o tempo e indicou para Luisa manter pressionado um botão durante todo o tempo e Melissa ficou com uma manivela, dando corda quando ele pedia, enquanto ele fazia o que mais fosse necessário. Era o mínimo de ajuda que poderiam prestar agora e, quem sabe, seria esse trabalho em equipe que os livraria de uma fria...

—Luisa! Mantenha-me informado o tempo todo sobre o mostrador de datas... –ele anunciou. –Eu preciso saber se sua intervenção está causando alguma alteração no deslocamento temporal! –ele tagarelou, segurando-se para não perder o equilíbrio.

—Doutor! Não está funcionando! –gritou Luisa, exasperada, continuando a prensar o botão. –Os números continuam correndo desgovernados! Não vamos conseguir desacelerar!

—Não desista agora! Continue apertando! –ele instruiu, ao que ela prosseguiu, concentrada em não soltar aquele maldito botão por nenhum decreto no mundo. –Melissa! Gire a manivela agora! Precisamos alimentar o condensador de energia Hawen.

—“Melissa faça isso! Melissa faça aquilo!”—ela resmungou, imitando a voz dele, ao girar a manivela com dificuldade. —“Melissa, me dê uma bofetada na cara agora mesmo! Oh! Com muito prazer, seu marciano aproveitador!—ela guinchou, irritadiça.

—Pare de reclamar! –ele rebateu.

Doutor! Está pioraaaaando!—Luisa gemeu de dor. Seu dedo já estava ficando roxo com a pressão e os solavancos de nada ajudavam. –Me ajude!

—Eu vou! Eu já vou! Só deixe-me tentar mais isso... -o Doutor apertou suas ultimas alavancas e, quando viu que nada mais funcionava, apelou para o grande botão amarelo. –Foi mal pessoal... Teremos que tentar outra abordagem. Luisa, largue esse botão... –ele tirou o dedo dela do painel e levou-a até os corrimãos circulares, entrelaçando seus braços no ferro. –Agora, segure-se firme. Isso pode ser turbulento... Eu estarei logo atrás de você, também me segurando firme, e Melissa... –ele fitou-a. Ela, como sempre, fez cara feia. –Ah... Cuide de si mesma, ta?  -a garota revirou os olhos e agarrou-se em um puxador cravado no painel, enquanto ele preparou-se para apertar o botão. –Muito bem... De novo, já vou avisando que isso pode causar futuros enjôos e loucura mental... Estou brincando. GERONIMO!!!

 

*    *    *

—E, comece!

—Ah, Taylor... Taylor! Eu acho que não devíamos continuar com isso. –articulou Jim, entrando na frente do comandante.

—Devo lembrá-lo que você não tem autoridade para me dar ordens? –Taylor argumentou. Jim baixou os ombros.

—Não senhor.

—Bom. –Taylor pôs a mão no ombro do outro, vencido. –Jim, você é um excelente policial e um bom amigo. Sei o que está querendo fazer, mas não posso perder a chance de descobrir os planos de Lucas e Mira. Se não agirmos agora, essa pode ser a ultima noite que a colônia passa com vida. Precisamos neutralizar o problema, antes que ele tome conta de tudo e acabe neutralizando á nós.

Jim respirou fundo, olhando bem para Taylor. O comandante Taylor não era bem o tipo de cara fácil de se manipular. Ele era durão e muito esperto. Quase ninguém alcançara a proeza de enganá-lo. Ninguém, além dos Sextos. E isso o deixava zangado.

—Então, -Taylor contornou. –Vai deixar eu trabalhar ou prefere tomar partido no procedimento, por mim?

Jim jamais aceitara aquilo. Ele foi contra aquela idéia maluca desde o primeiro momento em que Taylor apresentou o plano para todos os oficiais. Não queria fazer parte daquilo, mas não tivera escolha. Se não concordasse, teria que deixar os arredores da colônia e ir ele mesmo fazer a busca, o que seria terrível naquele território incerto e perigoso. Aviam criaturas á espreita. Criaturas cuja nenhum ser humano jamais ousou imaginar... Monstros carniceiros, ferozes e horripilantes. Com essas variáveis, quem é que iria descordar do plano de Taylor?

—Tem razão. Me desculpe. -Jim assentiu e saiu da frente da central de monitoramento do quartel da colônia. Taylor então, assumiu o controle. Naquele instante, porém, Jim sentiu um mau pressentimento. Taylor olhou para trás e notou a apreensão nos olhos do colega.

—Qual o problema Jim? Nunca o vi tão nervoso na vida. O único motivo que chegaria a deixá-lo dessa forma só poderia ser...

—Minha família? É. É isso sim. –ele abafou um tremor interno. –Eles e todos na colônia. Eu acho isso tudo muito perigoso... O que me faz pensar se estaremos sendo sensatos em tentar uma abordagem que pode tanto nos favorecer, como também se voltar contra nós á qualquer minuto.

Taylor apoiou as costas da mão no queixo.

—Esse protesto todo não seria porque sua esposa foi recrutada para atuar no projeto experimental, seria? –Jim não respondeu. –Jim... Ela é médica! Ela tem que estar na equipe... Essa é a função dela na colônia! Será que devo lembrá-lo que foi por isso que vocês foram recrutados para fazer parte da décima peregrinação?

—Bem, nem todos nós. –Jim retorquiu, então achou melhor não bater boca com Taylor. Podia chamar o comandante do que fosse, menos de mentiroso. Jim sabia que a confusão no dia previsto para a décima peregrinação não ocorreu por culpa de Taylor. Afinal, não fora ele que foi preso e proibido de se juntar à própria família no dia da viagem para um novo recomeço. Jim fizera isso acontecer. A culpa era exclusivamente dele e de sua ousada inconseqüência. Mas, por ironia do destino, conseguira chegar á colônia e continuar a fazer o que sempre fizera de melhor: prender bandidos. Apesar desse critério ter mudado um pouco com o tempo, dadas as novas circunstancias...

Taylor esfregou a barba branca, quase rala.

—Temos outra escolha?

—Talvez. –Jim deu de ombros. –Poderíamos pensar em algo menos...

Comandante Taylor... Aqui é a oficial Medley. Tivemos sucesso no primeiro estagio. Nós o pegamos e o enchemos de sonífero... Ele já está imóvel. Deve levar um dia inteiro para voltar a si... Precisamos da sua autorização para iniciar o processo padrão de espionagem. Os cirurgiões aguardam seu sinal.—a voz ressonou no espaço a partir do comunicador de Taylor. Todos estavam á sua espera.

Taylor e Jim se entreolharam.

—Sinto muito Jim. –Taylor prosseguiu. –Mas, nesse momento, só vejo uma saída... –e apanhou o comunicador. –Prossiga oficial. Vamos em frente... Pela Colônia.

E lançou um olhar cúmplice à Jim.

—Pela Colônia. –o outro respondeu, mostrando lealdade. Taylor assentiu, satisfeito e acionou uma alavanca que lhes permitiu visualizar as câmeras de segurança, dispersas na sala de cirurgia improvisada. Daquele momento em diante, eles acompanharam passo a passo do difícil processo. Se o projeto desse certo, eles estariam garantindo um espião natural.

—O que são as Terras Malditas? –perguntou Jim.

—Já disse que não faço idéia. –retorquiu Taylor. –É por isso que estamos fazendo esse experimento...

—Eu sei disso. –interpôs Jim. –É que eu ainda não entendi o que tem demais naquele lugar. Porque, de repente, nós estamos atrás das Terras Malditas enquanto Lucas, Mira e os Sextos continuam a executar seu plano... Não acha que esse tempo que estamos gastando com esse experimento, poderia nos ser precioso para chegarmos á outras conclusões e, quem sabe, passarmos a frente deles?

—Eu já pensei nisso Jim. Não sabe o quanto eu já pensei nisso... –o outro contornou, esfregando os olhos, exausto. –Mas eu realmente acredito que, seja lá o que os Sextos escondem... Tem alguma coisa a ver com aquele lugar. Ah, se têm!

Jim fitou o amigo por um instante, então voltou a contemplar a imagem em tempo real da câmera de segurança. De soslaio, distinguiu sua mulher no meio dos poucos cirurgiões e focou-a de imediato, para não perdê-la novamente de vista. No centro, onde os poucos estavam agrupados, não havia uma maca, mas sim uma jaula imensa que acabara de ser aberta por uma meia dúzia de guardas. Um a um, os médicos e enfermeiros iam adentrando no espaço que era definido por um breu, que a câmera não conseguia captar direito, em detalhes. A partir do momento que todos entrassem, Taylor e Jim só conseguiriam conferir o procedimento através de áudios. Não haveria outra forma.

No exato momento que a doutora Elisabeth Shannon aproximou-se da jaula, ela voltou-se para trás, como se procurasse pelo rosto do marido e, ao localizar a câmera de segurança, pareceu sentir um alivio imediato. Ela sabia que ele a estaria vendo em tempo real, então disse para a câmera:

Não se preocupe comigo, Jim. –ela abraçava a prancheta contra o peito. -Comandante Taylor... –e bateu continência. –Nós vamos conseguir. Eu sei que vamos.

 Movido pelo impulso de protegê-la, Jim tocou a tela de transmissão da câmera, exatamente no ponto onde a esposa se encontrava. Então Taylor, vendo como tudo aquilo estava sendo duro para Jim, propôs:

—Vá em frente –e estendeu-lhe o comunicador portátil. –Eu abri a linha no viva-voz. Ela te ouve...

No mesmo instante, Jim agarrou o comunicador.

—Elisabeth!

—Jim! –ela sorriu amplamente. –Prometo que darei o meu melhor...

—Eu sei. –Jim soltou o ar preso nos pulmões.

—Eu volto logo... –ela apreçou a despedida. Estavam todos aguardando por ela. –Eu te amo.

Jim levou a mão á testa, sentido. 

—Eu também te amo.

—Comandante Taylor, estamos prontos. –ela avisou, referindo-se agora ao outro.

—No seu tempo, doutora Shannon. –Taylor tentou não pressionar. –Boa sorte.

—Obrigada. -e a comunicação foi cortada. Agora eles só poderiam ouvir as conversas, sem poder participar ou interferir em nada.

Jim entrelaçou as mãos, focando o borrão escuro e retangular na extremidade da câmera, sinceramente ansioso.

—Não se preocupe Jim... Ela sabe o que faz. –Taylor reconfortou-o. Palavras de conforto eram realmente só o que os motivariam naquele instante, porque o que viria a seguir era incerto.

Por vários longos minutos, eles se mantiveram em silêncio, só ouvindo os argumentos dos especialistas. Logo os minutos viraram meia hora e a tenção não cessava. Taylor e Jim não desgrudavam os olhos do radio transmissor, como se pudessem puxar as pessoas para fora da jaula, a partir do aparelhinho, no primeiro sinal de problemas. Porém, o tempo foi passando e nada de anormal ocorreu. Claro que até agora eles não haviam chegado á parte de inserir o chip no paciente... Era essa hora que eles tanto temiam. O momento exato em que tudo poderia dar errado e mudar de figura.

Na jaula, havia uma imensa criatura amontoada. Apesar de estar apagado, o monstro transmitia a mesma sensação de terror, de quando estava acordado. Seu tamanho já os intimidava bastante e suas mandíbulas não ajudavam a melhorar a situação. Era um perfeito carniceiro e qualquer um estremecia ao imaginar ter de se aproximar. Mas era seu trabalho. Aquilo tinha que ser feito por eles. Pelo menos, a criatura não se lembraria de nada quando acordasse. 

Os médicos mexiam na gigantesca perna traseira do animal, e preparavam-se para inserir o chip. Devagar, eles marcaram o ponto certo, onde poderiam implantar o aparelho sem prejudicá-lo.  

Estamos indo bem, Tim. Continue assim Katty, Mason. Em breve estaremos fora dessa jaula macabra... Espero um dia poder esquecer o que fizemos hoje. É simplesmente inaceitável!”

—Sua esposa sabe mesmo como motivar os outros. –brincou Taylor, para descontrair. –E posso ver que também está contra o meu plano...

—Não é nada pessoal, Taylor. –Jim desconversou. –Mas, já que estamos todos nas mãos deles, e o clima lá embaixo não é dos melhores, acho melhor não nos darmos ao luxo de provocar novas desavenças...

Taylor riu.

—Você é atentado, Shannon! –ele bateu nas costas do outro, pegando-o de surpresa. -É por isso que o promovi á segurança da colônia. Meu braço direito...

Na jaula, Mason, um dos doutores cirurgiões, passou o bisturi sob a perna da criatura, fazendo um corte superficial, mas o membro contraiu-se de leve e eles todos deram um pulo para trás, assustados. Pensaram que a criatura voltaria a si... Mas a perna permaneceu imóvel.

—Tudo bem, pessoal, foi só um reflexo. Ele ainda está dormindo... –avisou Carla, a moça que estava sentada ao lado de uma máquina que controlava os batimentos do animal.

Mas, o que eles esqueceram, foi que se fingir de morto era uma coisa bem comum entre os animais. E, conseqüentemente, sem que eles notassem, pois estavam voltados para a parte traseira e a cabeçorra estava na outra direção, a besta abriu um dos olhos e depois contraiu-o em uma expressão feroz, de raiva. Mas, permaneceu imóvel, esperando...

De repente, o telefone celular tocou no bolso de Jim e ele afastou-se para atender.

—Alô?

—Pai! –era Josh no telefone. Seu filho mais velho, de 17 anos. -A Maddy tá me enlouquecendo com aquelas teorias malucas dela sobre o universo e a Zoe não pára de perguntar sobre a mamãe! Onde é que você tá?

—Eu estou com o Taylor, você se importa? –Jim enrijeceu por um minuto. Ouviu o filho bufar do outro lado da linha. –Trabalhando, lembra? –enfatizou, mas continuou a ouvir reclamações alheias dos filhos, do outro lado da linha, especialmente das duas garotas mais novas, que pareciam muito aborrecidas com Josh por algum motivo, então, em meio aquilo tudo, Jim acabou suspirando: -Sua mãe e eu logo voltaremos para casa. Não se exaltem! E, Olha... Só, tentem não botar fogo na casa até nós chegarmos. Lembre-se que ela é literalmente feita de madeira!

Pô pai!—resmungou Josh. Jim se permitiu sorrir um pouco. Ele sabia qual a cara que o filho deveria estar fazendo do outro lado da linha. Posição impaciente e aquele famoso “revirar de olhos”: tédio eminente. –Vocês vão demorar muito? Porque eu tô muito a fim de estrangular a Maddy ainda hoje...

Jim! Escute!—Taylor chamou.

—Josh, filho, eu tenho que ir... –ele apreçou o fim da ligação. –Tente não perder a calma e, por favor, não estrangule sua irmã. Nós falamos sobre isso mais tarde. Tchau. –ele desligou, mas o rapaz continuava a tagarelar do outro lado, indignado. Ele sabia que teria que escutar uma porção de reclamações mais tarde. Bom, se ao menos o “mais tarde” viesse, ele já poderia se dar por feliz.

Jim correu afobado para junto de Taylor.

—O que foi?

—Shhh! –Taylor o reprimiu. Queria muito ouvir o que estava acontecendo e não queria interferências. –Escute! Parece que deu algo errado...

Jim encarou-o com puro terror estampado na face. Suas pupilas se dilataram ao máximo e ele ficou meramente paralisado. Taylor aumentou a transmissão:

O que vamos fazer?” “Não pare agora! Vamos até o fim!” “Não está dando certo!”

Taylor trincou o maxilar e forçou a comunicação de sua posição para a deles.

Chamando sub-solo! Chamando sub-solo! Dra. Shannon? Está na escuta?

Não ouve resposta. Somente um chiado irritante. A comunicação de cá pra lá permanecia cortada.

—Não adianta, Taylor! Temos que ir até lá! –Jim pegou seu casaco em um ato de desespero, mas Taylor segurou seu braço no momento em que um terrível urro peculiar repercutiu na sala de segurança através do comunicador. Os dois homens focaram no mesmo segundo, o pequeno objeto em cima da mesa, apreensivos. No instante seguinte, a câmera externa de segurança se ativou novamente, captando um rebuliço antiquado e, logo depois, a correria constante dos médicos para o mais longe possível da jaula escurecida, que parecia tremer violentamente:

“Ai meu Deus! Meu Deus! Ele acordou!” “Ele nos enganou... Estava apenas se fingindo de morto. Como conseguiu isso?” “Estamos perdidos! Vamos MORRER!!!”


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Notas finais do capítulo

Tadããã!

Yep! E aqui tivemos uma introdução beeeem TENSA sobre o que vem por aí. Parece familiar?



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