Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 124
O Guarda-roupa na Sala de Defesa Contra as Artes das Trevas


Notas iniciais do capítulo

Hey hey!

Esse é um dos meus capítulos favoritos dessa era *-*
Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/748924/chapter/124

As férias haviam sido boas, apesar de um certo clima de preocupação e receio, que recaia sob toda a comunidade bruxa. Antes do Natal, as pessoas fechavam seus olhos para a verdade: ninguém, além de Harry Potter e seus aliados da Ordem da Fênix, queria acreditar que Lord Voldemort retornara. Mas agora, novas evidencias transpareciam todos os dias, dando indícios aqui e ali... Estava se tornando cada vez mais complicado continuar descrente. Até o próprio Ministério da Magia já vinha sendo contestado e, algumas vezes até criticado, por ignorar os fatos, chamando-os de “boatos” e fingindo que estava tudo bem. Cornélio Fudge (o Ministro da Magia) estava convicto de que não havia ameaça alguma, e chegara a pensar que Harry e Dumbledore –duas figuras muito influentes –estavam fazendo uma espécie de complô contra ele. Fudge não poderia estar mais errado. Harry e Dumbledore podiam pensar da mesma forma, mas era um absurdo supor que haviam se unido para espalhar boatos, na intenção de aterrorizar a população bruxa, pois atualmente, eles não poderiam estar mais distantes.

Harry passara o Natal com a família dos Weasleys. Rony tinha muitos irmãos e todos, inclusive seus pais, eram muito gentis e atenciosos. Arthur Weasley –o pai de Rony –não poderia estar mais satisfeito com a presença de Harry. Há pouco mais de um mês, ele salvara sua vida e o sr. Weasley sentia-se em gratidão eterna com ele. Hermione Granger também passara as festas com eles, contudo, não como namorada de Harry. O beijo que guardavam em segredo ocorrera em um momento de aflição e desespero. Sim, pode-se dizer que eles já esperavam há bastante tempo por uma oportunidade como aquela. Queriam uma chance de descobrir até onde se gostavam... Entretanto, ambos concordaram que sentiam um pelo outro a empatia de dois irmãos, e não poderiam seguir adiante com aquilo. De qualquer forma: uma experiência a mais para acumular.

De certo modo, Harry até agradeceu por não ter rolado nada, pois sabia que seu melhor amigo Rony andava de olho em Hermione ultimamente... Em geral, o que sentiam um pelo outro nunca passara de uma amizade superficial. Às vezes, sentavam lado a lado para fazer suas lições, mas nem se falavam. Em outras ocasiões, interagiam mais, mas em geral, sempre que Harry estava por perto. Com o passar dos anos, Harry deduziu que Rony e Hermione gostavam mesmo era de se conflitar diariamente. Viviam brigando e discutindo, e estranhamente, pareciam apreciar a companhia um do outro justamente por isso. Harry nunca entendeu a lógica desse sentimento... Mas também nunca pedira a nenhum dos dois para lhe explicar. Felizmente, Rony vinha demonstrando uma postura mais flexível ultimamente, e andava tomando mais cuidado com suas atitudes, sobretudo quando Hermione estava por perto. Na véspera de Natal, Rony puxou a cadeira para Hermione se sentar à mesa; os gêmeos Fred e Jorge ficaram implicando com ele o resto da noite, mas era possível detectar que bem lá no fundo, Rony estava bastante satisfeito consigo mesmo. Dois dias depois, Bichano, o gato de estimação de Hermione, desapareceu e ela não conseguia encontrá-lo de jeito algum. Rapidamente, Rony voluntariou-se para ajudá-la e providenciou uma busca incessante por toda a mansão dos Black (onde morava o padrinho de Harry, Sírios, e também, onde ficava a Sede da Ordem da Fênix). A garotada passou a tarde inteira procurando pelo gato... Até que Rony abriu uma escotilha na parede, camuflada com papel de parede. Imediatamente uma mancha laranja e peluda saltou para fora, miando alto. Bichano não só saiu voando lá de dentro, como também mostrou as unhas e atacou Rony. O pessoal todo veio correndo para ver o que tinha acontecido e se depararam com um Rony todo arranhado, com a bochecha sangrando. Hermione surgiu entre todos e apanhou Bichano no colo, muito contente. Depois olhou para Rony e enrubesceu. Estava na cara que queria dizer alguma coisa mais consistente, mas como estava rodiada de uma platéia bastante atenta, ambos ficaram sem jeito. Hermione limitou-se a agradecer e se afastou. Harry pensou que a coisa havia terminado por ali, mas percebeu que se enganara, quando mais tarde passou pelo corredor principal e vislumbrou Hermione sozinha com Rony na cozinha, conversando baixinho e passando remédio em suas feridas.

Harry estava feliz pelos dois: finalmente pareciam estar se entendendo... Contudo, o que não esperava, era que coisas do tipo acontecessem a ele também. Pouco depois de se afastar da cozinha, Harry subiu para o andar de cima e deparou-se com Gina, a irmã mais nova de Rony. Ela estava bonita: com um vestido verde e o cabelo preso em um coque.

—Olá, Harry –ela disse. Gina gostava muito dele, mas raramente tinham oportunidade de conversar a sós. Ela mesma preferia ficar por perto quando Harry estava acompanhado por mais gente, isso porque era um pouco tímida, e tinha vergonha de revelar seus sentimentos. Contudo, a época do Natal sempre costumava aquecer os corações de todos, e Gina despertou aquela manhã sentindo que estava na hora de abrir seu coração.

—Oi Gina –Harry olhou para seu vestido. -Você está bonita...

—Ah, obrigada. –ela olhou para o relógio na parede. Os ponteiros em formato de varinhas avisavam que já era onze e meia. Faltava meia hora para as doze badaladas da meia noite e aí... Natal. Todos na casa começariam a se cumprimentar e a ceia teria início. Em resumo: ficaria impossível falar com Harry.

No entanto, Gina já fizera os cálculos. Passara o dia todo bolando um plano eficaz para poder ter alguns minutos a sós com Harry. Até agora, estava tudo dentro do cronograma. Para não perder mais tempo, ela propôs:

—Harry, você pode vir comigo até meu quarto? Está chegando meia noite e ainda não encontrei meu pulôver.

—Ah, tudo bem então. Vamos procurá-lo –Harry aceitou numa boa, sem desconfiar de nada. Eles entram no quarto da garota e Gina fechou a porta. –Tá legal... Por onde podemos começar a procurar?

—Em lugar nenhum –Gina respondeu, sem olhar nos olhos dele. Harry ficou meio confuso.

—Como assim?

Gina sorriu, timidamente.

—Eu sei perfeitamente onde está meu pulôver. –anunciou, depois olhou para ele. –Eu só queria trazer você aqui... –e apanhou um pacote embaixo do travesseiro. -Para te dar isso.

—Um presente? –Harry inclinou a cabeça. –Mas ainda não é meia noite. Não quer esperar até o Natal? Todos vão trocar presentes daqui a pouco...

Gina sentou-se sob a cama.

—Não, eu... Queria que recebesse o meu primeiro. –Harry arqueou as sobrancelhas.

—Ah... Tudo bem. –concordou. Então aproximou-se dela... Gina fez sinal para ele se sentar na cama. Harry sentou-se ao seu lado e entrelaçou as mãos. –Sua cama é confortável –comentou.

—Eu sei. –ela riu. -Tome. –entregou o pacote e ficou observando sua reação, enquanto ele o desembrulhava. Os olhos de Harry se arregalaram quando reconheceram um Quadribol de Tabuleiro, com peças que voavam e interagiam entre si, como num jogo de verdade.

—Gina... Isso é... Incrível! –sorriu. Depois olhou para ela. –Você é incrível.

Gina ruborizou. Colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha, tomando fôlego: Era agora ou nunca... Precisava dizer o que sentia. 

—Harry, eu amo você. –falou de uma vez só, depois sentiu o rosto inteiro esquentar. Harry não disse nada a principio, e isso a deixou ainda mais embaraçada. Sem saber o que fazer, ela pegou o travesseiro e escondeu o rosto atrás dele. –Não olhe pra mim!

—Hã... Tudo bem. –Harry umedeceu os lábios. –Mas será que posso perguntar porque não devo olhar? Eu gosto de olhar pra você.

Os olhos de Gina apareceram acima de uma das bordas do travesseiro.

—Você... Gosta?

—Gosto.

—Não pode estar falando sério!

—Mas eu estou! Nunca falei tão sério antes... –disse, então percebeu que teria que provar a ela. Diante daquela situação, Harry refletiu por um momento. –Hum... Eu gosto dos seus olhos. Eles são doces. Gosto do seu cabelo, pois ele é vermelho e quando o por do sol o ilumina e o vento bate, parece que está em chamas... –Gina sorriu atrás do travesseiro. Harru continuou: -Também gosto das suas sardas. Da sua voz... –Harry foi desacelerando. Gina baixou o travesseiro para o colo, deixando o rosto inteiro à mostra. De repente o tempo pareceu parar. Harry terminou: -E da sua... Boca.

Gina sentiu uma espécie de ansiedade. Sabia e ao mesmo tempo não sabia o que viria a seguir. Harry aproximou o rosto dela. Gina não recuou. Os dois se beijaram. Mas não foi um beijo tão comportado... De começo, Gina e Harry nem se moviam, mas assim que ele passou a mão em sua cintura, ela envolveu seu pescoço com os braços e eles aceleraram os beijos. Sentiam como se o peito fosse explodir. Como se houvesse uma explosão de fogos de artifício dentro de seus corpos: eram as células comemorando a química! Eles eram feitos um para o outro...

De repente, ouviram passos no corredor e se separaram. Todos estavam descendo para se reunir para a ceia e a troca de presentes. Há essa hora, alguém já devia ter notado a falta deles... Será que fariam associação?

—Ai, não... Eles vão desconfiar –disse Gina, receosa.

—Qual o problema nisso? Se vamos começar a namorar, naturalmente as pessoas vão ficar sabendo.

Gina conteve um gritinho.

—Vamos começar a namorar!?

—É o que parece –sorriu Harry, abraçando-a. –Feliz Natal Gina!

—Muito MUITO Feliz Mesmo! –ela riu, abraçando-o forte.

Depois disso, eles desceram as escadas de mãos dadas e o pessoal já estava esperando com aquelas carinhas danadas. Houve um pequeno silêncio, até que Fred gritou:

—VIVA! GINA E HARRY DESENCALHARAM!!! –e todos começaram a rir, se abraçar e se cumprimentar. Os pais de Gina, Arthur e Molly Weasley, ficaram muito felizes com a notícia do namoro dos dois. Eles adoravam Harry e sabiam que Gina estaria mais do que feliz ao lado dele. Hermione e Rony deram-lhe os parabéns e... Surpreendentemente, também estavam de mãos dadas. Os gêmeos Weasley (que eram mais velhos) ficaram cantando e dançando ao redor deles feito duas crianças doidas; Alguns outros integrantes da Ordem da Fênix que estavam presentes, também abraçaram e cumprimentaram os dois. Por fim, Sírios Black sorriu para Harry e chamou-o à um canto, para conversar.

—Ora, ora... Vejo que alguém se apaixonou –disse Sírios, sorrindo, de braços cruzados.

—Isso não é nenhuma novidade –falou Harry, fitando-a ao longe. –Gina e eu sempre nos gostamos... Só não tínhamos conseguido dizer isso um ao outro.

—Eu sei como é. Também gostei de uma jovem bruxa uma vez... Me arrependo até hoje de não ter falado com ela. –comentou Sírios, sem deixar aquilo estragar o momento. Colocou a mão no ombro de Harry e sorriu ainda mais. –Você, meu querido sobrinho, me superou! Seus pais ficariam muito orgulhosos...

Harry ficou muito feliz em ouvir aquilo. Todos viviam dizendo que ele era parecido com Tiago e Líliam Potter, mas era realmente reconfortante ouvir isso vindo de Sírios. Era quase como se os pais de Harry estivessem presentes ali com eles, divertindo-se e comemorando.

Tiveram um Natal excepcionalmente incrível. Todos foram dormir muito animados, e acordaram na manhã seguinte igualmente contagiados com aquele espírito. Entretanto, a manhã de Natal trazia uma má notícia, que só chegou ao seu conhecimento quando o correio coruja entregou o jornal com as manchetes do dia.

Remo Lupin –alto, magricela e muito pálido; também antigo professor de Hogwarts –apanhou o jornal na casa da Ordem da Fênix e leu a primeira manchete. Ninfadora Tonks –sua esposa de roupas chamativas e um cabelo multicolorido –chegou logo depois, para ver porque Lupin estava demorando. Ela segurou seu braço.

—Remo, está tudo bem?

Lupin tinha os olhos arregalados para o jornal.

—Tonks, aconteceu uma coisa terrível –e mostrou-lhe o jornal. Segundos depois de ler a manchete, a mulher levou as mãos aos lábios, perplexa. –Precisamos contar para os outros.

Harry ainda dormia. Começou a perceber um alvoroço vindo dos corredores, mas não deu ouvidos. Momentos depois, a porta de seu quarto foi escancarada e Gina entrou correndo. Ela subiu em sua cama e deu-lhe um beijo de bom dia. Hermione e Rony entraram logo atrás, rindo alto. Harry se sentou na cama, e pôs os óculos para ver o que estava acontecendo. Os gêmeos Weasleys entraram pulando. Eles estavam amarrados um no outro e não conseguiam se soltar. Hermione explicou que eles haviam tentado atacar a geladeira durante a noite, mas a senhora Weasley fora mais esperta e colocou um feitiço na porta. Quando eles tentaram abri-la, o feitiço de proteção atingiu-os e eles ficaram amarrados. Agora eles precisavam se livrar das amarras antes que a mãe os visse, mas não estavam obtendo sucesso.

—Ah, vai! Ajuda a gente! –disse Fred.

—É, vocês não tem nada a perder! –falou Jorge.

—Desculpe, não vai ser possível –disse Rony, contendo uma risada.

—Mais por que não?

Hermione não se agüentou.

Por que isso é hilário!—e começou a gargalhar. Harry, Gina e Rony acompanharam-na.

Os gêmeos começaram a praguejar, até que inesperadamente Jorge conseguiu desfazer o feitiço e as amarras se desfizeram em pó. Houve um momento de tensão no ambiente.

—PEGA ELES, JORGE! –gritou Fred, como num grito de guerra.

—DEIXA COMIGO, FRED! –Jorge sorriu torto, apontando a varinha para porta. Segundos depois, vários travesseiros entraram dentro do quarto flutuando, e começaram a perseguir os adolescentes, de modo a atingi-los, promovendo uma legitima guerra de travesseiros. Rony foi tentar se defender lançando um feitiço de congelamento no travesseiro que o perseguia, mas ao invés disso, acabou explodindo-o. As penas espalharam-se por todo o ambiente... Hermione estava do lado de Rony quando aconteceu, e começou a rir desenfreadamente. Logo todo mundo estava gargalhando também.

Entretanto, Olho Tonto Moody –um homem manco com um cajado e um olho saltado para fora (que também fazia parte da Ordem da Fênix), surgiu na porta com uma expressão nada satisfeita.

—Será que vocês podem parar com essa palhaçada? O mundo está acabando e vocês com criancices! Ora! –resmungou, irritadiço.

Todo mundo se entreolhou. Do que o professor estava falando? Rapidamente saíram para fora do quarto e amontoaram-se no hall da escada, ouvindo as conversas no andar de baixo: Alguma coisa sobre uma Fuga em Massa de Azkaban na noite de Natal... Todos gelaram.

 

*     *      *

Hogwarts estava voltando a ficar cheia. Já era janeiro, e as aulas foram retomadas rigorosamente. Todo mundo nos corredores comentava sobre as férias e a Fuga em Massa de Azkaban. Luisa, por outro lado, não se afetara nem um pouco por causa daquilo. Primeiro porque não sabia que Azkaban era a prisão bruxa de maior segurança que havia; segundo porque não tivera férias. Somente na noite do Natal, e quando digo “noite”, quero dizer das nove horas em diante.

Quase uma semana depois do sr. Weasley ser resgatado, Dumbledore retornou para Hogwarts –ninguém sabe o que fizera neste meio tempo –Luisa só soube que ele voltou com a corda toda. Começou a apertar o passo com as matérias das aulas particulares, que ficavam cada vez mais complicadas, conforme avançavam. Sem dúvida aquele fora o mês mais desgastante de toda a sua vida. Feitiços eram difíceis de ser aperfeiçoados, e ela quase não tinha base nem controle sobre as coisas. Contudo, Dumbledore era esperto e arrumou uma forma de aproveitar o máximo de cada dia. Usou um objeto chamado Vira-tempo, para que sempre que o dia terminasse, eles pudessem voltar no tempo e recomeçá-lo novamente com uma nova aula –só que em salas diferentes. Era extremamente importante não se deixarem ver pelos seus “eus” do passado, e como Hogwarts estava vazia, eles tinham salas de sobra. Dumbledore chegou a fazer um dia render um mês inteiro...

Estava exausta. Luisa passou dezembro inteiro estudando feito uma universitária, e agora que janeiro já estava em curso, era obvio que o ritmo não diminuiria.

—Luisa! –Luna vinha vindo em sua direção, com mais um pessoal da Grifinória. –Você ouviu sobre a Fuga em Massa de Azkaban? Está em todos os jornais! –ela estendeu o jornal na mesa, como se a notícia tivesse acabado de sair. –Meu pai diz que esse é o sinal que os bruxos precisavam para acreditar no retorno do Você-Sabe-Quem. Todo mundo está pensando duas vezes sobre os discursos tranqüilizadores de Fudge. O Ministério está atordoado... Com os Comensais da Morte fora da prisão, ninguém sabe o que esperar de agora em diante...

—Com certeza, os tempos de paz se foram. –comentou Neville Longbotton, pesaroso.

—É, mas nós não podemos desistir agora –disse Simas Finnigan. –Precisamos treinar mais, para nos fortalecermos.

—Harry irá nos ajudar. Eu ouvi dizer que as aulas na Sala Precisa procedem –sussurrou Padma Patil, tomando cuidado para que mais ninguém além deles ouvisse.

—É. Treinar é nossa única esperança –concordou Parvati Patil. –Se não estivermos capacitados para enfrentar bruxos poderosos, seremos derrotados facilmente.

—A pior parte é que eles cancelaram o Quadribol este mês –disse Dino Thomas.

—É uma merda mesmo...  Nós passamos as férias inteiras treinando por nada! –resmungou Fred.

—Agora eles só querem que a gente estude sem parar, sem direito a divertimento nem descontração –completou Jorge, igualmente inconformado. –Eles querem nos MATAR!

—Pois é. Se Você-Sabe-Quem não fizer isso primeiro, Hogwarts fará depois. –disse Rony, desanimado.

—Oi gente –disse Harry, aproximando-se de mãos dadas com Gina. Luisa surpreendeu-se com aquilo.

—Harry? Você e Gina estão namorando? –Luna abriu um sorriso.

—Sim, estamos. –Harry disse, muito orgulhoso. –E o Rony e a Hermione também.

Todo mundo ficou boquiaberto. Até os gêmeos Weasley, que já sabiam da notícia.

—Que foi gente? Por que está todo mundo me olhando como se eu tivesse engolido o sapo do Neville? –indagou Rony. –Tá, eu admito: Isso não estava tão na cara assim como com o Harry e a Gina, mas vocês também já estão exagerando...

—Quem está exagerando? –perguntou Hermione, juntando-se a eles. –O que foi?

—Hã, nada Mione –riu Rony, disfarçando. –É melhor irmos conferir nossos materiais... A gente não vai querer esquecer nossas varinhas logo no primeiro dia.

—Tem razão –concordou Hermione, que sempre se importava com organização. –Vamos logo... A propósito, Harry: Depois da aula, vamos começar hoje com a lição dos Patronos para a Armada –eles costumavam falar da armada próximo de Luisa. Harry dissera que fizera um convite a ela, mas que, por ter vindo de “intercâmbio” para Hogwarts há pouco tempo, não poderia participar. Todo mundo engoliu essa história e, justamente por saberem que ela já tinha conhecimento de seu plano e que não tinha a menor intenção de entregá-los, não se importavam em conversar perto dela.

Entretanto, haviam outras pessoas que não eram tão confiáveis assim, mas que viviam rondando-os. Draco Malfoy era um deles, junto com uma batelada de gente da Sonserina, que vivia pondo o nariz onde não era chamada; Hermione congelou. Teve certeza de que havia posto tudo a perder.

—Ah... Então vocês estão aí cochichando de novo –disse Draco, fazendo uma entrada triunfal. Tinha um sorriso desprezível no rosto. –Sempre cochichando... O que será que o Potter e seu BANDO estão aprontando desta vez?

Todo mundo amarrou a cara para Draco.

—Não estamos aprontando nada –disse Hermione, recuperando-se do susto. Por um segundo pensou que ele ouvira alguma coisa realmente significativa que pudesse entregá-los. Mas não, ele só estava sendo insuportável como sempre. –E mesmo que estivéssemos: Nossas coisas não são da sua conta! –deixou bem claro.

Nossa, parece que a carapuça serviu mesmo –riu ele. –Eu soube que você e o Weasley estão namorando? –ele fez uma careta. –Qualquer panaca tem mais classe que vocês... E olhem só, falando em panacas: Temos Harry Potter com uma Weasley também! –ele riu, desdenhoso. –Sério Potter, você gosta tanto dessa gentinha, que não sossegou até que conseguiu entrar também para essa família da fracassados...

—Ei! Ei! Quem você está chamando de fracassados!? –gritaram os gêmeos, querendo partir a cara de Draco ao meio. O pessoal da Grifinória teve que segurá-los.

Em meio a uma enxurrada de sentimentos a flor da pele, Harry deu um passo à frente; a mão ainda entrelaçada com a de Gina.

—Cai fora Malfoy! –falou, firme. O olhar gélido de raiva.

—Vocês todos são patéticos! –riu Malfoy, se afastando.

—Qual é a desse idiota? –Luisa perguntou, depois que Draco foi embora.

—O Draco adora pegar no nosso pé. –explicou Hermione, que desde que começou a namorar, parecia muito mais feliz e amigável.

—O garoto é insuportável –disse Fred, acertando as vestes amarrotadas. –Ele precisa de uma boa lição...

—É! Quem sabe a gente não coloque fogo nele? –sugeriu Jorge, com um olhar psicopata.

—Grande plano! –concordou Dino, esfregando as mãos.

—Só não deixem ele ouvir –disse Harry, sorrindo.

—Vamos gente! Já estamos atrasados para a primeira aula... A McGonagall não vai gostar –disse Simas.

—Tá certo... Ah! Alguém avise a Cho Chang que a Armada vai se reunir no horário normal? Certo, obrigado Luna! Vejo vocês todos lá! –disse Harry.

E a turma se dispersou. Luisa ficou sozinha na mesa. Apanhou seu material e seguiu para o corredor, onde ficava a sua principal sala de aulas particulares. Entrementes, seu celular tocou e ela atendeu.

—Alô? –a garota estranhou atender um celular em Hogwarts: primeiro porque ninguém usava tecnologias por lá, segundo porque fazia mais de um mês que o celular não tocava...

Para sua surpresa, era uma voz amigável e conhecida, do outro lado da linha.

—Ah, Luisa! Aqui é o Luke Smith. O Filho da Sarah Jane... Lembra de mim?

—Luke! –ela sorriu largo. –Claro que me lembro de você! E não só de você... Tinha mais um pessoal trabalhando com a Sarah, inclusive minha prima Maria Jackson.

—O Clyde, a Rani e minha irmãzinha Sky. Pois é, estamos todos com saudades. –disse Luke.

—Eu também estou! Parece que faz um século que a gente não se encontra... –disse Luisa.

—Exatamente. –o tom dele era mais sério agora. –Era sobre isso que eu queria conversar com você... –na casa nº 13 da rua Bannerman, Luke se sentou na cama, em seu quarto. –O que foi que aconteceu? Para onde todos foram? Não vemos Maria a mais de um mês... Nem você. Estamos preocupados! O sr. Smith já fez e refez uma varredura completa de suas posições, mas não conseguimos rastreá-las. Eu mesmo tentei ligar pra você diversas vezes, mas sempre dizia que estava fora de área... Com Maria tivemos um pouco mais de sorte. Ela conversou com a gente ontem de noite, mas só via webcan. Mesmo assim, não disse nada sobre você. Luisa, onde exatamente você está?

Luisa olhou ao redor. Aquelas paredes eram e ao mesmo tempo não eram familiares para ela.

—Estou fora de alcance Luke. Assim como meu celular esteve.

—O Doutor está com você?

Houve uma pausa.

—Não, eu... Fiquei para trás.

Uma nova pausa.

—O que aconteceu?

—Eu caí, Luke. Caí do Vórtice Temporal. A TARDIS estava com a porta aberta e eu não sabia, então me apoiei nela e caí. Simples assim.

—Mas como assim caiu? Você não morreu...

—Não. Ainda no fim o universo conseguiu me surpreender: Eu estava caindo por um abismo infinito, aí de repente, despenquei em uma rua, na cidade de Londres, na Inglaterra. É. Depois disso, a coisa fica complicada de explicar... Só sei que sobrevivi, e eu nem sei como.

Luke fez uma pausa, poderia estar organizando as idéias ou assimilando informações. 

—A última vez que vi vocês na rua Bannerman, a polícia estava rodiando a sua casa. Eu vi quando foram presos... Eu estava espiando na janela. Queria muito fazer alguma coisa, mas minha mãe falou para eu não ir lá fora. Disse que as coisas só piorariam...

—Sarah Jane estava certa. Se você tivesse saído, provavelmente seria levado preso com a gente, como cúmplice ou sei lá o que. Aquele dia foi tenso, Luke... Fiquei com muito medo que fizessem mal ao Doutor. Ele tinha sido preso com a alegação de nos seqüestrar e mais um montão de baboseiras... Foi a mãe da Melissa que prestou a queixa. No final, nós partimos como fugitivos e a Melissa não teve chance de conversar com a mãe. Provavelmente, ela inda acha que o Doutor é do mal.

—Acho difícil, Luisa. Faz algum tempo que estamos tentando entrar em contato com Melissa também, mas não temos notícia de seu paradeiro. O último que esteve com ela foi um tal de Harry Styles, o cara daquela banda britânica One Direction.

—Sim, ele esteve com gente na nossa última aventura.

—Pois é. O sr. Smith localizou o número dele, e minha mãe entrou em contato. Harry disse tudo que sabia... Disse que o Doutor deixou Melissa para trás na Terra, e que pretendia não voltar, mas aí, não se sabe bem o motivo, ele mudou de idéia e voltou para buscá-la... Harry acha que eles foram atrás de você.

—Atrás de mim? –Luisa pareceu confusa. –Mas eles não fazem idéia de onde eu estou...

—Será mesmo? O Doutor é cheio de surpresas... –ponderou Luke.

—Você acha que eles estão procurando por mim? –Luisa ficou animada. –Ah, Luke, seria maravilhoso! Nós passamos por tantas complicações da última vez que nos vimos, mas pelo menos estávamos todos reunidos. Desde então, eu não os vi mais. Nem o Doutor, nem Melissa... Nem ninguém. Sei que não posso ser injusta: O pessoal aqui tem sido muito bom pra mim, mas também não posso deixar de sentir saudades. Saudades de todos vocês.

Luke sorriu do outro lado da linha.

—Nós também sentimos saudades suas... Por isso mesmo que estamos fazendo de tudo para entrar em contato. Queremos saber como você está.

—Claro! Eu compreendo perfeitamente... Luke, escute com cuidado o que eu irei te dizer, e depois conte para a Sarah Jane: Eu estou em uma escola de... -de repente um chiado muito forte preencheu o telefone e a linha caiu. Luisa tentou refazer a ligação, mas aconteceu o mesmo que nos outros dias: o celular dava como fora de área. –Luke? Luke? Ah, céus! Por que tem que ser sempre assim?

Sem poder fazer mais nada, ela entrou na sala onde Dumbleodore estaria aguardando-a, entretanto, ele não estava lá. A sala estava vazia... Havia apenas um bilhete atrás da porta, avisando que o diretor não poderia dar aulas para ela naquela tarde, dado a um imprevisto de última hora.

Sendo assim, ela pensou em ir embora dali... Contudo, uma coisa lhe chamou tenção. A mesma coisa que sempre lhe chamava atenção quando entrava naquela sala: o guarda-roupa antigo.

A menina franziu a testa. Aquele móvel sempre a intrigara... E não era só pelo fato de ser um lar para bichos papões e outras coisas. Parecia atraí-la com uma espécie de força invisível, inexplicável. Devagar, ela caminhou em sua direção. Conforme se aproximava, reparou que havia um papelzinho enganchado na porta. Curiosa, ela avançou e puxou o papel. Nele estava escrito (em uma caligrafia desconhecida) “abra-me”.

A garota olhou para cima. O Guarda-roupa era alto e volumoso perto dela. Se fosse um monstro, chegaria a intimidar. Vagarosamente, ela abriu a porta, temendo que alguma criatura das trevas pudesse sair voando lá de dentro... Porém, não houve nenhum ataque. Na verdade, o que a surpreendeu foi o próprio conteúdo interno do guarda-roupa: não passava de casacos de frio. Dúzias deles. Amarrotados uns contra os outros, nos cabides. Luisa achou aquilo estranho, até para os padrões de Dumbledore. Ele não era o tipo de pessoa que abarrotaria um armário com casacos, até porque era um bruxo, e como tal, tinha outros interesses...

Acima de tudo, Luisa não entendeu o motivo do guarda-roupa querer ser aberto. Com o passar dos segundos, começou a crer que alguém havia feito aquilo de propósito, para tirar uma com a cara dela... Draco Malfoy, talvez. Pensado isso, começou a tentar encontrar vestígios de que era alguma pegadinha. Estava esperando alguém saltar de dentro do armário, quem sabe, e gritar “Peguei você!”, mas novamente nada aconteceu.

Entediada com tantas expectativas frustradas, ela começou a fechar a porta, mas... Foi aí que percebeu uma coisa interessante: conforme o espaço entre a porta e o batente ia se tornando menor, uma corrente de ar aumentava pela fresta e atingia a garota. Luisa ficou curiosa quanto aquilo. Pôs a mão sob a corrente de ar: ela realmente vinha de dentro do guarda-roupa. Curiosa, ela tornou a abrir a porta. A corrente atingiu-a com força desta vez, trazendo consigo, pequenos flocos de neve. Luisa ficou pasma olhando para aquela cena: como era possível que flocos de neve e correntes de ar existissem dentro de um guarda-roupa? A menina correu ao redor do móvel, checou a parte de trás: não havia abertura alguma nele. Então de onde viera aquele ar frio? Se ao menos Dumbledore estivesse ali, talvez ela pudesse perguntar a ele... Mas o bruxo não estava.

Não havia Dumbledore. Não havia explicações; Ela bem que poderia tirar o dia de folga... Porém, Luisa queria respostas. Foi isso que a moveu a ir adiante.

Sem ao menos assimilar o que estava tentando fazer, entrou no guarda-roupa. Meteu-se entre os casacos e começou a avançar devagar, na direção do vento. Por um momento, pareceu-lhe que a extensão do guarda-roupa era maior do lado de dentro, pois as fileiras de casacos aparentemente não tinham fim. Sentia-se como os bandeirantes em busca de terras. Finalmente, afastou a última camada de tecido e teve uma visão que muitos duvidariam: era uma floresta. Uma floresta de verdade, com pinheiros altos e neve. Muita neve branca e fofinha.

—Nossa! –exclamou ela, dando um passo à frente. Seus sapatos afundaram na neve e ela sorriu. –Isso é DEMAIS! –Luisa começou a saltar na neve. Não tivera tempo de se divertir em Hogwarts quando nevara... Agora, entretanto, tinha um dia inteiro livre para aproveitar. E levou isso bastante a sério; Fez guerras de neve (o alvo? Às árvores, é claro!), pegou um pedaço de casca de árvore seca, e usou como trenó para escorregar. Construiu um boneco de neve e vestiu-o com algumas peças do guarda-roupa. Se ela não estava com frio? Claro que sim! Mas ficara tão animada com a paisagem branquinha, que quase nem percebeu.

Depois de matar a vontade de brincar na neve, ela seguiu adiante. Nem notara inicialmente, mas havia um lampião aceso. Um único lampião, iluminando a região, no meio da floresta. Luisa ainda estava tentando compreender como poderia haver uma floresta dentro de um guarda-roupa... Então, digamos que um lampião no meio do nada nem era algo tão absurdo assim. Na verdade, era até bonito.

Luisa aproximou-se dele e o tocou. Depois passou por ele, seguindo em frente. Agora sim estava espantada: assim que atravessou o ponto onde o lampião se encontrava, a estação mudou espantosamente, passando de inverno para primavera. A paisagem agora mudara: estava tudo muito verde, havia flores e frutos nas árvores frutíferas. Os pinheiros estavam limpos, sem nenhum só indício de neve. Luisa deu um passo para trás, voltando para a posição inicial, ou seja, antes de passar pelo lampião. A paisagem voltara a ficar toda branca. Luisa abriu um sorriso.

—Que lugar mais engraçado... Na entrada neva, na continuidade, faz calor. Hum... Vamos ver –ela andou em frente, voltando para a paisagem tomada pela primavera. Deu uma última olhada para trás: o guarda-roupa ficaria ali, esperando por ela. A menina respirou fundo e começou a seguir por uma trilha entre as árvores. A paisagem era tão bela... Havia montanhas ao horizonte, árvores de todos os tamanhos e espécies... Flores de todos os tipos. Animais silvestres e... Uma criatura de pés grandes e estatura baixa que esbarrou nela, ao passar apreçado.

—Opa, dá licença moça! –mas foi tão brusco que eles deram um encontrão um no outro e caíram no chão.

—Aaaaah! –Luisa gritou, perdendo o equilíbrio. O outro despencou também, rolando até um pouco mais à frente na trilha. A garota esfregou a cabeça, sentando-se. Depois fitou o descuidado: era um homem, só que de estatura baixa –devia ter mais ou menos um metro e tantos centímetros, de altura –tinha bastante cabelo, e também pés grandes, peludos e desajeitados. Usava roupas antigas: camisa com gola, colete, lenço no pescoço, calça curta, mas os pés... estavam descalços.  –Ei... Você está bem? –perguntou, preocupada.

—Se eu estou bem? É claro que sim! –ele se pôs de pé. Luisa imaginou que tivesse uma voz proporcional ao seu tamanho, mas na verdade, tinha a voz masculina de um homem adulto. –E você, está bem?

—Estou. Acho que não quebrei nada.

—Bom, então me deixe ajudá-la –ele estendeu a mão. Era uma mão normal, com cinco dedos. Luisa segurou-a e ele puxou-a para cima. –Devo pedir desculpas... Não queria derrubá-la.

—Está tudo bem. –sorriu Luisa, observando-o. Agora que estavam de pé, pode reparar que a cabeça do rapaz batia na altura de sua barriga, e que ele também possuía orelhas pontudas. –Hã... Desculpe se isso soar meio rude, mas... O que é você?

O rapaz recolheu alguns objetos que havia deixado cair da mochila que carregava nas costas.

—O que eu sou? Eu sou um Hobbit. É isso o que eu sou... –ele colocou tudo dentro da bolsa e puxou uma cordinha para fechá-la. –E quem é você? Um elfo?

—Eu pareço com um?

—Tem lá suas semelhanças –comentou o pequeno Hobbit. –No tamanho, acima de tudo.

—Não, não... Eu sou humana.

—É o quê? Outra humana em Nárnia! Mas não é possível... Quero dizer, muita coisa é possível desde que os quatro Reis Narnianos e a Rainha boa do Gelo começaram a comandar o Condado e todos os outros setenta e oito cantos desse lugar... Bom, enfim: De onde você veio?

—Do guarda-roupa.

—Isso é uma cidade? –perguntou ele.

—Não, é um móvel.

—Ah. Em todo caso... Você é nova aqui, certo?

—Sim, acabei de chegar. –ela sorriu, amigável.

—Você tem onde ficar essa noite? Isso é, não estou convidando-a para ficar na minha casa... –acrescentou rapidamente. -Sabe como é: casas pequenas não foram projetadas para pessoas grandes.

—Tudo bem, eu não ia ficar mesmo... Preciso ir embora. –Luisa olhou acima dos ombros, procurando pelo lampião. De onde estavam, não era possível vê-lo. –Isso é, se eu encontrar o caminho de volta...

—Eu espero que você encontre –ele disse, colocando a mochila de volta nas costas. –Por que tenho que seguir em frente... Até mais!

—Espere! Você nem me disse seu nome! –lembrou Luisa, alcançando-o.

—Ah, me desculpe. Eu me chamo Bilbo Bolseiro.

—Bolseiro?

—É. Eu fabrico bolsas.

Luisa inclinou a cabeça.

—Então porque carrega uma mochila?

—Mochila? –Bilbo tirou-a para observá-la. -Isso aqui é uma bolsa.

—Não é, não. É uma mochila.

—Bolsa. Isso aqui é uma bolsa de couro...

—Só se for uma mochila de couro. –Luisa insistiu, de braços cruzados.

—Bolsa.

—Mochila.

—Bolsa!

—Tá legal, já chega! Vamos parar com isso –disse Luisa. –Não importa se é bolsa ou mochila.

—Tem razão. Estou feliz que tenhamos chegado a essa conclusão –ele colocou-a de volta nas costas. –É uma bolsa e ponto final. –e saiu andando. Luisa estapeou a testa. Ficaria para trás. Deixaria que ele se fosse finalmente, assim poderia seguir seu caminho, sozinha... Porém, sentiu um arrepio atrás da nuca. Havia uma clareira em meio às árvores... Tinha a singela sensação de estar sendo observada por ela, ou por alguma coisa ali. Um vulto, grande e dourado... Magnífico e ao mesmo tempo assustador. A incerteza deixou-a receosa demais para continuar confiante.

—Ei! Ei! Não me deixe aqui sozinhaaa! –Luisa começou a correr atrás de Bilbo.

—Oi moça –ele acenou. –Resolveu vir para Valfenda comigo? Tenho uma encomenda para entregar a alguns Elfos amigos meus...

—Qualquer lugar é melhor do que aqui. –arfou ela, andando encolhida.

—Qual é o problema? Se eu tivesse o seu tamanho, não iria querer me encolher assim...

—Não estou me encolhendo de propósito... É que, estou com medo.

—Com medo? Ora, não há nada que se temer por aqui... Bem, quero dizer, eu não vou lhe fazer mal algum... –ele sorriu, simplista. Luisa fitou-o serenamente, em retorno.

—Não estou com medo de você...

—Ora, ainda bem. Isso seria um verdadeiro achado: um Humano com medo de um Hobbit. 

—Você é legal, Bilbo Bolseiro. –ela sorriu para ele.

—Ah, eu procuro ser. Afinal, as pessoas não ganham nada sendo mesquinhas e arrogantes. –ele disse. Continuaram caminhando lado a lado. –Me diz uma coisa: Do que você tem tanto medo em Nárnia?

—Não ria –pediu ela, antecipadamente. -Bichos papões. Dementadores, criaturas das trevas: Pode escolher.

—O quê? Essas coisas não existem em Nárnia! –ele fez um gesto leviano com a mão.

—Existem sim! Dumbledore guarda Bichos Papões no armário para usar nas aulas práticas de magia e bruxaria. As criaturas assumem a forma do seu maior medo... Por isso são chamados de “bichos papões”.

—Sério? Bem, então ele deve ter uma licença... Aslan jamais permitiria que alguém despejasse demônios na terra média.

—Quem?

—Aslan. Nosso fundador e protetor. Ele controla e protege tudo a sua volta... Tudo, desde o lampião, até as últimas fronteiras. Tudo que em teoria, fizer parte de Nárnia.

Naquele mesmo instante, um dragão cruzou o céu, bem distante deles. Mais embaixo, uma Fênix voava graciosamente, banhada pelo brilho do sol. Luisa ficou maravilhada com aquela visão...

—Isso tudo é real?

—Tão real quanto eu e você. –respondeu Bilbo.

—Então é aqui que se escondem as criaturas mágicas?  

—Se elas se escondem eu não sei... Talvez prefiram o termo “tirar umas férias”.

Luisa riu sozinha. Bilbo olhou para ela.

—Achou tanta graça assim no que eu disse?

—Não é isso. É que estava pensando em outra coisa...

 Bilbo esperou. Ela não disse nada, então ele completou.

—Não quer dividir suas reflexões?

—Ah, tá. Pensei que você não tivesse interesse em ouvir. –disse ela. –É que quando eu falei sobre Dumbledore, magia e bruxaria, você nem estranhou. Não achou esquisito eu mencionar todas essas coisas sem sentido algum para o mundo real?

—Pra falar a verdade, não achei não. Por que elas haveriam de serem sem sentido? A terra média é cheia de magos e bruxos... Eu mesmo tenho um amigo chamado Gandalf. Ele sabe fazer feitiços... E todas essas coisas que você disse.

—Ah! Por isso você não estranhou... Existem outros “Dumbledores” por aqui. –riu Luisa. Então olhou mais adiante, no final da colina, e vislumbrou algo novo. -Olha só! Estou vendo uma aldeia logo ali na frente!

—É Valfenda. –explicou ele, parando de andar. –Você vem comigo até lá?

—Não sei... –Luisa teve um impulso de olhar para trás. Surpreendentemente, lá estava o lampião de novo, com a neve caindo sob. O guarda-roupa à sua espera... –Posso ir pra casa. –ela sorriu largo. Bilbo olhou para a mesma direção que ela olhava: não viu nada além de uma clareira vazia.

—Hã, moça... Do que você está falando?

—O guarda-roupa está me chamando de volta –ela apertou a mão de Bilbo. –Foi realmente um prazer conhecê-lo, sr. Bilbo Bolseiro! Espero que possamos nos encontrar em breve, para tomar um chá, quem sabe?

—Isso parece bastante agradável.

Luisa já havia tomado distância, quando Bilbo lembrou de perguntar:

—Ei, mocinha! Qual é seu nome?

—Luisa Parkinson -ela respondeu, cheia de orgulho. Sua mão segurou a Bolsa Que Tudo Tem, pendurada na lateral do corpo. -Mas alguns me chamam de “a garota da bolsinha-rosa”.

—Que coincidência! Parece que nós dois temos bolsas em comum –comentou ele, acenando. 

Luisa sorriu em retorno e acenou também, antes de cruzar a passagem cheia de neve. Quando o fez, ela desapareceu de sua vista, como se tivesse ficado invisível. Bilbo então pegou seu cachimbo e seguiu com seu caminho.

De volta a Hogwarts, a menina saiu do guarda-roupa e fechou a porta. Depois saiu da sala de aula vazia e foi embora, arrumar o que fazer.

Inesperadamente, encontrou Harry no corredor. Ele parecia cabisbaixo. Aparentemente, Dolores Umbridge fizera outro discurso que prejudicou o astral de todo mundo...

—... Nem sei se será bom dar aula hoje à Armada –dizia ele. –O pessoal está inquieto com essa coisa de “Monitores da Alta Inquisição”. Draco Malfoy e outros da Sonserina logo se voluntariaram para serem os olhos e ouvidos da Umbridge. Eles estão loucos para nos pegarem... Dolores desconfia de nós. Não sei se será uma boa, levantar mais suspeitas. –ele suspirou, chateado. –Se ao menos Dumbledore estivesse aqui...

Naquele momento, Luisa decidiu que a temporada de “segredos” havia chegado ao fim. Estava cansada desse chove não molha. As coisas eram assim ultimamente: nada era fixo. Tudo parecia se desmoronar e reconstruir num ritmo que estava se tornando torturante para todo mundo...

O fato era que: quando Luisa havia chegado em Hogwarts, Dumbledore preferira manter as aulas particulares dela em segredo, além de sua história pessoal também, mas o diretor parecia estar cada vez mais distante do comando de Hogwarts, ao mesmo tempo que Umbridge, cada vez ia tomando mais espaço na liderança. Diante das atuais circunstâncias, Luisa sentiu que já era hora de dizer a verdade. Afinal, Hogwarts recebeu-a de braços abertos, quando precisou. Querendo ou não, eles eram sua família agora... Em quem confiaria, senão em seus amigos?

—Você está com tempo livre, Harry? Tenho uma coisa pra contar pra você... Uma coisa que acho que você vai gostar de saber.

Harry assentiu.

—É claro. Vamos para algum lugar mais reservado. –sugeriu ele.

—Está pensando em algum lugar em especial?

Harry concordou.

—Vamos até a sala Comunal da Grifinória. Não tem ninguém lá a essa hora do dia.

 

*     *     *

—Tem certeza que eu posso entrar na Sala Comunal de outra Casa? Ninguém vai vir me arrastar para fora depois, né? –quis saber Luisa, preocupada com as conseqüências.

—Não se preocupe: Eu já vi vários alunos convidarem outros para entrarem em suas respectivas salas comunais. Isso é normal... A não ser que você espalhe a senha da semana para uma pessoa em quem não tem confiança. Aí realmente é uma mancada e tanto!

Harry disse a senha ao quadro da Mulher Gorda e eles entraram. A sala comunal da Grifinória estava vazia, assim como ele disse que estaria... Mas Luisa se pegou mesmo olhando a decoração: era linda. Toda em vermelho e amarelo. Tinha poltronas, escadarias, prateleiras com livros e uma lareira... Era simplesmente incrível. Muito parecida com a sala comunal da Corvinal, só que melhor. Em qual aspecto? Bem, ela ainda não sabia dizer ao certo... A única coisa que a fez chegar nessa conclusão, foi o fato de seu coração ter acelerado assim que pisou no ambiente, como se, de alguma forma, ela fizesse parte daquilo tudo.

—Sente-se –convidou Harry. –A lareira irá nos aquecer.

—Ótima idéia. Com esse frio, deveríamos ter lareiras nos quartos também... Eu sou a favor! –disse a garota, aproximando-se para esquentar as mãos.

—Então, o que você queria me contar?

Luisa olhou bem para ele.

—Harry, o que eu vou te dizer é extremamente pessoal. Era um segredo até dois minutos atrás... Até eu decidir te contar a verdade. A verdade... sobre mim. –ela fez uma pequena pausa. –E o único motivo que me faz ir adiante com isso, é justamente esses afastamentos de Dumbledore, que eu sei que estão prejudicando muito o desempenho da escola, e também, fortalecendo Umbridge, que quer fazer da vida de todo mundo um inferno.

Harry inclinou-se para frente na poltrona.

—Você sabe por que Dumbledore tem estado tão distante ultimamente?

—Eu presumo que sim. –concordou ela, respirando fundo. –É por minha causa.

—Por sua causa? Como assim? Não entendi.

—Dumbledore vem tentando me ensinar tudo sobre Magia e Bruxaria desde que cheguei. Desde que... Comecei a estudar magia e bruxaria pela primeira vez, no mês passado.

Harry franziu o cenho.

—Espera aí: você disse que chegou em Hogwarts em intercâmbio de outra escola de magia. Que estava tendo aulas particulares, porque o ensino lá era diferente do nosso... Pelo menos foi isso que eu entendi.

—Não, Harry. Eu nunca estudei Magia na minha vida. Na verdade, se não fosse Dumbledore ter se esforçado para me ensinar diariamente, eu não teria conseguido fazer feitiço algum... Acredite Harry: eu cheguei a Hogwarts sem saber segurar uma varinha. Não sabia nem acender a luz na ponta da varinha se precisasse... Mas eu sou uma bruxa. Não tenha dúvida disso... Eu só não fui colocada para aprender feitiços desde cedo. Minha mãe não queria que eu freqüentasse Hogwarts, nem nenhuma outra escola com métodos mágicos. Isso porque tinha medo de eu acabar me envolvendo em alguma batalha perigosa, contra o Você-Sabe-Quem. Mas toda essa superproteção dela meio que não adiantou de nada, pois hoje eu estou aqui, e existem fortes evidencias comprovando o retorno do Lorde das Trevas.

Harry arqueou as sobrancelhas.

—Então quer dizer que você aprendeu tudo nesse último mês, com Dumbledore lecionando?

—Sim, mas ainda não aprendi tudo. Estou muito longe de alcançar vocês na verdade... Foi por isso que reconsiderei a idéia da Armada, quando você a mencionou hoje. Você disse que é uma aula prática, em que os alunos interessados desenvolvem e praticam ainda mais os feitiços que já manjam, e aprendem os que estão menos familiarizados...

—Você está dizendo que gostaria de participar da Armada? –resumiu Harry.

—Em suma, é isso. –concordou Luisa. –Eu pensei muito nisso antes de decidir... Vivo notando a falta que a presença de Dumbledore faz no cotidiano de Hogwarts... E acho que, sei lá, se eu começar a distribuir os treinos entre as aulas particulares e o reforço que vocês promovem... Talvez haja tempo para ele voltar a se dedicar mais para seus deveres de diretor, e não fique tão sobrecarregado comigo, pois quando ele não está lecionando para mim, está resolvendo coisas para o Ministério da Magia, e coisas do tipo, que raramente envolvem o nome de Hogwarts. –ela suspirou. –Não queria atrapalhar Harry... De verdade. Mas vejo que foi exatamente o que estive fazendo. E aí, quando ouvi você dizendo que teria que dar um tempo com a Armada por causa da Umbridge, e também, que Dumbledore está fazendo falta... Eu tive certeza que era hora de dizer toda a verdade a você.

Harry ficou em silêncio por um momento, assimilando tudo aquilo.

—Então... Dumbledore nunca esteve distante. Ele estava todo o tempo ocupado planejando aulas para você. –constatou.

—Por favor, Harry, não me odeie por isso –pediu Luisa, mesmo sabendo que aquilo era uma coisa difícil de se esperar. –Eu sei que você e Dumbledore sentem uma estima muito forte um pelo outro... Que ele sempre gostou de você. Na verdade isso está muito claro: ele vive falando de você. Todos os dias... Sempre há uma hora das aulas em que ele comenta algum feitiço que você já conseguiu executar, ou alguma matéria em que você é bom, ou alguma façanha que você já realizou... Sério, se ele não fosse o diretor, diria que é seu maior fã, Harry.

Diante daquele argumento, o rapaz abriu um sorriso. Estava feliz em saber que Dumbledore não o estava evitando. Olhou bem para a garota sentada à sua frente... E uma dúvida lhe ocorreu de repente:

—Mas, então... Você disse que não estudava em nenhuma escola de magia antes de Hogwarts, e está na casa da Corvinal agora. O Chapéu Seletor te designou para lá ou...?

—Não. Eu não passei por esse processo –disse ela. –Na verdade, ainda não descobri oficialmente qual é a minha casa, mas Dumbledore deixou bem claro que assim que eu descobrir, poderei me mudar para lá.

—Bem, você poderia ser uma Grifinória. Tem muita coragem, pelo que posso ver. É leal aos seus amigos e também é justa... –ele comentou. -Quem sabe se você não é uma de nós?

—Talvez. Nunca se sabe... -Luisa gostou daquela idéia. Abriu um grande sorriso ao observar mais uma vez a sala comunal da Grifinória. Ela definitivamente sentia algo por aquele lugar. –Eu ficaria muito contente com isso.

—Isso já é um bom começo. –disse Harry.

—Eu gosto desse ambiente... –assentiu a menina. –Mas sabe de uma coisa? Corvinal tem sido muito boa pra mim. Foi a casa que me acolheu quando eu cheguei aqui em Hogwarts... Independente de qual casa eu realmente pertença, vou sempre levá-la comigo dentro do meu coração.

—Gostei do que disse. Muito poético—sorriu Harry. –Atitude digna da Grifinória!

Luisa riu.

—Então –Harry prosseguiu, após o segundo de descontração. -Explicações dadas, acho que não falta muita coisa mais... A não ser perguntar se você gostaria de se juntar a nós na aula da Armada hoje.

—Eu posso mesmo? –ela ficou em pé de um salto, mal cabendo em si de tanta empolgação.

—É claro que pode! A Armada nunca vira as costas pra um aluno dedicado. –ele levantou-se também, observando a expressão no rosto dela, que variou por um instante. –O que foi?

—Mas... E quanto a Umbridge? –sondou Luisa. –Não se importa mais com o que ela possa fazer se nos descobrir?

Harry balançou a cabeça.

—Ela não vai nos descobrir! Nós vamos ser bem discretos. Redobraremos o cuidado ao procurarmos a Sala Precisa... Vai ficar tudo bem. –afirmou, confiante. –Hey, obrigado pela força! Eu já estava surtando com toda essa pressão... Valeu mesmo por me convencer a não desistir da Armada.

Luisa ergueu os ombros, simplista.

—Foi um prazer, Harry Potter –sorriu. –É para isso que servem os amigos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Atenção: Oficialmente, Bilbo Bolseiro não faz bolsas na obra de J. R. R. Tolkien, mas aqui ele fabrica pq sim kkk Eu simplesmente achei a referência boa demais para deixar passar em branco...

*Bilbo tem 1,25m de altura, para quem ficou curioso em saber;



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.