Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 104
Discutindo a relação


Notas iniciais do capítulo

Hello! ;)

Confusão/ treta a flor da pele, aí vamos nóóóós! kkkk
Se gostam de tretas, isso aqui será o paraíso.



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—Não! Luisa! –o Doutor gritou. –Nós não devemos sair!

Mas já era tarde demais. As portas azuis jaziam abertas, rangendo porque precisavam de óleo.

O Doutor e Melissa se entreolharam por um momento, sem reação.

—Eu vou falar com ela –ele decidiu, entregando a vitamina de uva para Melissa.

—Doutor! –a loira chamou. O Doutor voltou-se para ela, apressado. –Diga à ela que eu vou apagar o vídeo. Não quero ficar com uma lembrança que faça minha amiga sofrer.

—Eu digo à ela. -o Doutor assentiu e saiu correndo, tentando recuperar o tempo perdido.

Chegou do lado de fora, mas ela não estava lá. Talvez tivesse corrido para longe da TARDIS... O Doutor não sabia. Começou a correr, chamando por ela. 

Luisa estava perto do mar. Na praia mais próxima. Uma praia que não tinha areia, mas sim, capim maçã. Aquele espaço vazio e acolhedor não era tão longe dali. Ela só havia descido a colina, abaixo do hospital, apenas a alguns metros de onde a TARDIS estava estacionada; Luisa fitava o reflexo tremeluzente da lua cheia no mar, abraçando o próprio corpo e chorando em silêncio.

Como ela poderia encarar o Doutor novamente? Depois de tudo o que fizeram noite passada... E ela nem se lembrava de tudo. Isso era a pior parte. O que mais teriam feito? Ela estava tão envergonhada... Sentiu-se tão invadida. Tão violada. E pensar que ela acreditou que o Doutor fosse inocente. Inesperadamente, apesar de saber que a culpa era toda dela, Luisa começou a sentir um certo ódio do amigo. Por que ele não a parou? Por que não a deteve quando teve chance? Por que não a encostou contra a parede e deu um ‘choque de realidade’ nela? Por que aceitou todos aqueles beijos se ele não queria aquilo também? Bom... Talvez quisesse afinal. Viu? Outro motivo para ter raiva dele! Se aproveitar dela num momento de fraqueza e inconseqüência não fora nada legal. Foi aí que Luisa decidiu que, definitivamente, se ele quisesse mesmo tê-la parado, ele teria feito. Não teria respondido ás carícias, nem dado continuidade á pegação. Luisa ficou realmente decepcionada com ele.

Mas não se privou de culpa. Mesmo sem lembrar de nada, Melissa tinha razão. Era Luisa quem regia a orquestra. Era ela quem comandava os movimentos e os gestos, esperando que ele retribuísse. E muitas vezes, ele pareceu retribuir, de um jeito ou de outro. Luisa estava com raiva de si mesma. Algumas poucas vezes, cogitou que seria bom pular no mar para afogar as mágoas... Mas aquela era uma noite fria, e ela acabaria se resfriando. E voltar ao hospital novamente, era o tudo o que ela menos queria na vida.

Inclinou-se momentaneamente para vez seu reflexo esculpido nas águas. Ela parecia muito triste. O rosto estava vermelho e inchado, e tudo que ela mais queria era um abraço da mãe e do pai. O pai. Onde estaria ele? Com a mente distante dali, a menina tateou o bolso da camisola, até seus dedos localizarem os pingentes marinhos da correntinha que seu pai lhe dera de aniversário. Sim. Desde que ela chegara a Nova Nova Iorque, andava segurando muito aquela corrente. Não sabia exatamente porque, mas começou a sentir uma tremenda falta do pai. A menina sentia como se ele estivesse presente quando ela usava a corrente. E, foi naquele momento, de frente pro mar (que o representava tão bem), que ela colocou a correntinha no pescoço desnudo.

—Que saudades, pai –fungou. Uma lágrima sua pingou no mar e, de repente, a água pareceu paralisar por completo. Não. Não fora ela que fizera aquilo, fora? Não... Devia ter sido uma baita coincidência. Sobretudo o fato da brisa com cheiro de água salgada também parar e, de tudo mais ao redor silenciar por completo. De repente, parecia que a praia toda estava observando-a ao invés do contrário.

Distraidamente, olhou para os pés descalços e percebeu a grama roçando seus dedos. Gostou daquela sensação. Viu algo passar de relance à beira mar; um tipo de sombra aquática, próxima de onde ela estava. Parecia uma silhueta humana, observando-a de dentro da água. Luisa piscou, ao mesmo tempo confusa e surpresa. Poderia ter sido só sua imaginação lhe pregando peças... Mas talvez não fosse. Intrigada, inclinou-se para frente para tentar ver a tal “sombra” de novo.

Do outro lado da colina, mais precisamente no topo, o Doutor vislumbrou a amiga de relance, se inclinando para o mar. Arregalou os olhos e disparou na direção dela.

—LUISA NÃO!

A menina escutou alguém gritar seu nome de longe, porém, não houve tempo suficiente para entender o que estava se passando; nem mesmo houve tempo para se virar, pois antes que pudesse fazer qualquer coisa, o rapaz já a havia agarrado, e puxado para longe da água.

Não Luisa! Não faça isso! Pelo amor de Deus... Não faça uma loucura dessas!

Eu estou bem! Doutor, me solta!—ela tentava se desvencilhar do abraço dele.

—Eu não vou soltar! Eu vi muito bem o que você ia fazer! –ele lutou para mantê-la imóvel. –Não adianta espernear... Não vou soltá-la! Não vou deixá-la ir... Não vou deixá-la morrer!

Morrer?—Luisa indagou, surpresa. –Quem é que vai morrer? Eu só estava olhando a água!

O Doutor parou de chofre.

—Só estava... Olhando a água? –ele repetiu, paralisado.

—É! –Luisa ralhou, aproveitando-se da brecha para abrir os braços, agora frouxos, do amigo e sair de perto dele. –O que pensou que eu estivesse fazendo?

—Pensei que fosse se jogar no mar. –ele explicou, envergonhado.

—Por que eu faria uma coisa dessas? –ela rebateu, irritada. –A minha vida vale mais do que isso!

—Tem razão. –ele recuou alguns passos. –Foi falha minha. Estava muito escuro... E eu vi demais.

—Hã! –Luisa riu de nervoso, cruzando os braços. –Sabe o que é inacreditável em tudo isso? Você ter pensado que eu seria fraca a ponto de entregar minha vida tão bestamente!

—Eu nunca disse que você era fraca –ele interveio, sério. –É que eu sei como as pessoas ficam desesperadas em algumas situações, e acabam fazendo besteira, cuja vão se arrepender depois para o resto da vida...

—Ah, que engraçadinho—ela disse com ar de pouco caso. –“Tipo ontem”, não é?

—Não. –ele retorquiu, sério. –Ontem foi diferente.

Diferente? Ah, ‘que bom que gostou’. Por que não abre um prostíbulo de agora em diante? Serviria muito bem pra você!

O Doutor esfregou a testa.

—Luisa... –começou, pacientemente.

—É. É! Seria legal, não seria? E aí você poderia pintá-lo de azul e adotar o nome “Casa do maníaco da cabine!—ela gritou com ele. –Seria legal, não seria!? NÃO SERIA!?—disse, histérica, jogando nele umas conchinhas que encontrou na beira da praia.

O Doutor levou as mãos ao rosto, tentando se proteger. Ele não fugiu dela, pois sabia que parte da culpa também era dele –apesar de ser a menor porcentagem. A garota só estava descarregando todo o desespero que sentia. Ele sabia que ela estava confusa e assustada, então esperou até ela se acalmar devidamente para prosseguir. Eles sem dúvida precisavam conversar... E aquela troca de idéias não podia esperar nem mais um dia.

Na verdade, a espera durou menos tempo do que imaginava, pois logo ela foi se cansando –talvez ainda por intervenção dos remédios –mas de um jeito ou de outro, ela jogou as conchinhas que sobraram no chão e caiu de joelhos, chorando, com o braço na frente do rosto.

O Doutor colocou as mãos nos bolsos e caminhou até ela, devagar. Depois agachou-se e puxou a amiga para junto de si.

—Ei... –ele passou o braço pelo ombro dela. –Não fique assim... Não faz mais sentido ficar remoendo o que passou.

—Doutor... –ela soluçou. –Eu fui tão estúpida.

—Fica calma. Está tudo bem. –ele sibilou. –Não precisa mais chorar. Eu estou aqui agora.

—Mas eu usei você! –ela disse com a voz embargada. –Fiz você fazer algo sem que tivesse vontade... Eu te manipulei!

—Não. Não foi assim. –ele encostou os lábios na testa dela, fechando os olhos.

—Foi sim! –ela rebateu, descrente com a tamanha compreensão dele. –Não negue o inevitável! Eu vi nós dois naquela gravação... Eu praticamente abusei de você!

—Você tem que parar de se torturar. –ele acariciou o braço dela. –Não pense mais nisso. Já passou.

Ela chorou mais um pouco em seus braços, mas quando percebeu o que ele estava tentando fazer, ergueu-se do chão, arredia.

—Não! Não tente tirar o peso da culpa dos meus ombros! –gritou, com os cabelos desalinhados. –Não vai mudar nada. Eu sei o que aconteceu ontem e tenho todo o direito de ficar desconsolada com o meu próprio comportamento!

—Eu sei que tem. Eu sei. –ele levantou também e foi, passo a passo, aproximando-se dela. –Mas isso não vai torná-la melhor ou pior. De qualquer jeito, não pode consertar isso. O que está feito está feito. –ele conseguiu chegar perto o bastante para poder colocar uma mecha solta do cabelo da menina trás da orelha. –E, quero que você saiba que eu não a culpo por nada.

Luisa olhou fundo em seus olhos. Sabia que ele falava a verdade... Mas de repente, toda aquela enxurrada de compreensão deu-lhe náuseas.

—Não! Me deixe em paz! –ela afastou a mão dele com força e tornou a soluçar, enquanto extravasava: -Não seja amável! Não seja gentil! Não seja...—eles estavam muito próximos um do outro. A respiração da garota acelerou. –... Fofo.—terminou, fungando.

—Luisa... –ele exalou. –Por favor... Seja razoável com você mesma. Você estava dopada... Como pode achar que teve culpa de alguma coisa...? –o Doutor tentou segurar sua mão.

—Não me toque! –inquiriu Luisa, erguendo os braços longe do alcance dele. -O que pensa que está fazendo?

—Estou acalmando você.

—Não, não está. –ela negou; a respiração descompassada. -Só está piorando as coisas!   

Os olhos pacifistas dele desviaram-se, confusos.

—Eu não pretendia...

—Ah, eu sei... Porque você nunca pretende nada! –ela disparou. –Você é sempre o “coitadinho” da história, não é? Senhor “inocência temperamental!

Quem te disse que sou inocente?—ele perguntou inesperadamente, pegando a amiga de surpresa. –Foi isso que você supôs? Que eu nunca fiz sexo com ninguém na minha vida, durante todos os meus quase mil e trezentos anos de idade? Foi isso que você pensou?

—Pára... –ela sussurrou, fechando os olhos, com dor de cabeça.

—Você simplesmente olhou na minha cara e pensou “esse cara é bonitinho, mas é um verdadeiro inexperiente quando a coisa esquenta”. Pois é! Sim! Eu sei que na maior parte do tempo eu passo essa impressão! Mas fique você sabendo que eu já tive uma família de verdade! Já tive esposa e filhos e netos também! Na verdade, uma neta ótima chamada Susan, que sempre ficou do meu lado em todos os momentos que eu precisei! –ele tagarelou, irritado. À medida que ia falando, Luisa ia recuando.

—Não dá mais –Luisa passou as mãos pelos cabelos, incomodada. -Por favor, pára... –mas sua voz não se sobressaiu à dele.

—... Ah! E pro seu governo, eu só consegui ter essa vida que eu tenho porque eu fui ousado! Muito antes de tudo! Muito antes de ter sido exilado, de ter roubado a TARDIS ou da maldita da Guerra do Tempo! Muito antes de perder meu povo, eu sempre fui sonhador e sempre quis conhecer as estrelas e é por isso que eu viajo, Luisa! É por isso que eu sempre continuo seguindo em frente! Porque se eu parar, não restará mais nada! Você pensa que eu saio por aí, chamando as menininhas para darem um rolê comigo na minha nave? Mas eu não faço isso por esporte! É a minha vida! Eu sou sozinho, Luisa! Sozinho! Não tenho mais ninguém além de mim mesmo, e se por acaso eu dei a entender alguma coisa sobre ser “inexperiente” em algum sentido, talvez seja porque eu somente pretendia me enturmar!   

Chega!—ela gritou, levando a mão trêmula ao lábio. –Eu não agüento mais isso! —deixou as lágrimas desabarem.  -Fique longe de mim!—e saiu correndo.

Ao vê-la se desmanchar em lágrimas, o Doutor percebeu a besteira que fizera. Foi tentar defender sua dignidade, mas acabou abalando a dela.

Não podia continuar com isso. Não podia se permitir errar desse jeito. Desde quando aprendera a ser tão indelicado?

Foi então que percebeu uma coisa avassaladora: ele era o primeiro namorado de Luisa. O primeiro! Na maioria das vezes, suas outras companheiras eram adultas, mas no caso de Luisa, era bem diferente. Ela era apenas uma adolescente, sem experiências de vida. Não era madura o tempo todo. Vivia tendo oscilações... Ele sabia. Luisa ainda não tinha o amadurecimento necessário para saber digerir uma situação daquelas. Até então, ela nunca tinha passado por nada parecido... E ele, como seu amigo, deveria ser mais compreensivo com ela.

Naquele momento, ele decidiu que engoliria seu orgulho e assumiria sua parcela de culpa em tudo aquilo, por mais que fosse quase nula. Queria dividir o fardo que Luisa estava carregando. Ele faria isso por ela. Gostava demais da amiga para deixá-la sofrer.

Devagar, caminhou até ela. Luisa estava fitando o horizonte além mar, e não percebeu sua proximidade.

—Me desculpe. –o Doutor surgiu ao seu lado. –Eu fui imaturo e egoísta. Sinto muito.

Ela não desviou os olhos do horizonte.

—Foi por isso que você estava estranho hoje cedo –constatou a menina. –Sabia que haveria algo de errado... Mas nunca pensei que o problema fosse eu.

—Não é culpa sua. –ele disse, compreensivo. –E você sabe disso.

—Não. –Luisa ergueu a cabeça. –Eu não tinha o direito de te forçar a fazer nada...

—Quem disse que você me forçou? –ele interveio, inesperadamente. –Você pode até ter visto as cenas que a Melissa gravou por engano, mas aquele vídeo é totalmente superficial. Você não consegue saber o que dissemos um para o outro, nem o que realmente sentimos, enquanto estivemos nos tocando... –ele deu uma pequena arregalada de olhos nessa última parte.

Luisa nem notou. Apenas respirou fundo e, depois de alguns instantes, prosseguiu:

—Aonde você está querendo chegar?

—Quero dizer, em sua defesa, que eu também tive culpa. –assumiu, virando o jogo subitamente. –Se eu quisesse mesmo ter impedido você, eu teria feito. Mas eu não quis... Porque parte do meu corpo estava gostando. E eu me sinto péssimo por isso. 

Luisa ergueu os olhos, fitando-o, surpresa.

—Então quer dizer... Que você também quis?

—Mais ou menos. –ele coçou a nuca. -Eu sempre soube que tínhamos algum tipo de química, mas nunca imaginei que chegaríamos tão longe.

Luisa suspirou. 

—Então você não queria realmente nada comigo. –ela concluiu, desiludida.

—Não desse jeito. –ele assentiu. –Sinto muito. Pensei que estivesse claro pra você.

Luisa balançou a cabeça com ar sarcástico.

—Você tem um jeito bastante esquisito de demonstrar “o quanto não está interessado”. Nem quero saber como é quando você está realmente interessado em alguém. –argumentou, crítica. –Francamente, se você nunca quis nada comigo, então por que sempre pareceu que tínhamos algo mais? Porque nos beijamos? Porque você deixou isso ir tão longe, se já sabia que não daria certo? —ela segurou o braço dele. -Doutor... Por favor. Eu preciso saber a verdade!

O Doutor fitou lentamente os olhos dela, depois bufou, impaciente.

—Eu não sei direito... –disse, tentando se auto-compreender. –Eu me sinto muito bem quando estamos juntos, mas geralmente, não passa disso. Digo, não que eu não goste de você... Porque eu gosto! Realmente gosto demais!

Luisa fechou os olhos, sentindo a dor no peito aumentar. Já sabia que coisa boa não viria á seguir.

Mas...? –ela instigou.

O Doutor deixou os ombros caírem, decepcionado consigo mesmo.

—Mas... Não sei se daríamos certo como um casal de verdade. –completou.

Luisa enxugou uma lágrima, discretamente, voltando a mirar o horizonte. O além mar estava se mostrando um ótimo refúgio.

Porque somos de espécies diferentes e você tem uma expectativa de vida muito mais longa do que a minha... É, eu já sei.

O Doutor contemplou-a, sentido.

—Me desculpe. Eu não devia ter incentivado esse nosso “relacionamento”. –ele baixou a cabeça, arrependido por sua falta de zelo. -Acho que deveríamos ter aproveitado o tempo em que ficamos presos na prisão do Tormento para pensar melhor sobre nossos interesses. Nós dois fomos muito impulsivos na época. Se tivéssemos pensado direito, isso jamais teria tomado o rumo que levou.

Luisa demorou um pouco para responder, mas quando o fez, parecia incrivelmente decidida.

—Mesmo que você tivesse ficado distante, não iria conseguir impedir que eu me apaixonasse. –ela pegou-o de surpresa, deixando-o sem reação, e fazendo com que ele a observasse com curiosidade. –Doutor... Será que ainda não entendeu? Você pode até tentar controlar o rumo do seu destino, mas não pode controlar o meu. Ninguém pode. Só eu mesma.

O Doutor piscou por um momento, refletindo sobre o argumento dela.

—E você teria feito tudo igual? Mesmo sabendo que tínhamos tudo para dar errado?

 -Sim. –ela fungou de cabeça erguida. –Eu teria.

O Doutor encarou-a por um momento, com as mãos nos bolsos do casaco, pensativo.

—Você sempre consegue me surpreender –comentou. –Você é incrível. Boa demais pra mim.

Luisa ergueu o olhar imediatamente. 

—Não diga besteiras. Não sou boa demais pra ninguém, muito menos pra você, Senhor do Tempo!—ela enfatizou, ríspida.

—É sim. –ele insistiu. -Você me atura. Me faz rir. Você não me julga. Nunca fica contra mim. Sempre ri das minhas brincadeiras bobas... Você é um verdadeiro milagre na minha vida.

A garota sentiu a incompreensão consumi-la aos poucos.

—O que quer dizer com tudo isso?

—Que você é a garota certa pra mim, e ao mesmo tempo, não é. –revelou. -Mas a culpa não é sua... Fique sossegada. A resistência vem sempre da minha parte, eu sei.

Luisa não gostou muito daquilo. Ele estaria querendo dizer que ela sempre fora fácil de convencer? Certo. Poderia até ser verdade, mas naquele momento, aquilo só serviu para deixá-la ainda mais arredia.

Eu não sou boa demais. Assim como você está longe de ser perfeito. Mas uma coisa é certa nisso tudo: Você mentiu pra mim. —lá estava a própria face da decepção. –Você acha que eu nunca rejeito uma idéia sua, então aí vai um ponto contra: Eu não confio mais em você!

 Ele coçou a testa, disfarçando a vontade de rir. 

—Só está dizendo isso porque está zangada. –disse, como se fosse uma afirmação inválida.

Zangada! Pronto. Viu? Eu consegui ficar zangada com você... –ela disse, histérica.

—Só porque eu sugeri que nunca conseguia ficar. –ele interpôs, cruzando os braços com ar infalível.

Luisa começou a sentir um ódio incondicional dele.

Está certo! Você quer bancar o intolerante, então porque não some da minha frente e esquece que eu existo?

O Doutor abriu os braços, como se fosse óbvio.

—Porque estamos em um mundo alienígena e eu não posso simplesmente virar as costas e largá-la nessa praia.

—Ah, é? Por que não pode? Sentiria um enorme peso na sua consciência?—ela rebateu. –Por que simplesmente você não segue em frente, como sempre faz, e finge que nada aconteceu?

O Doutor levou as mãos aos bolsos e sorriu de leve.

—Porque eu seria incapaz de esquecê-la.

 Luisa ficou intrigada. O que ele estava querendo com aquela montanha russa? O que pretendia, tirando-a do sério daquele jeito, e depois tentando restaurar tudo na maior cara de pau? Será que ele não se enxergava?

—Isso não está certo... –uma nova lágrima escorreu por sua bochecha. A garota rapidamente a limpou, de raiva. –Você está brincando com os meus sentimentos... Eu nem sei mais direito o que sinto por você agora.

O Doutor suspirou. Desta vez não sorriu. Parou de provocá-la.

—Quer saber? Eu amaria ter alguém feito você, ao meu lado, pelo resto da minha vida. –ele suspirou. -Mas infelizmente, não podemos viver isso juntos. Não conseguiria fazer uma coisa dessas com você.

—Por que não? –ela perguntou. A curiosidade se manifestando, acima de toda raiva.

O Doutor respirou fundo, antes de responder.

—Porque você merece mais, Luisa. –ele anunciou, surpreendendo-a. –Você é jovem. Tem toda uma vida pela frente. Um número incalculável de coisas para fazer e descobrir por conta própria. Milhões de experiências novas ainda estarão por vir. Afora os vários sentimentos, que você ainda irá descobrir dentro de você. Essa, Luisa, é uma jornada só sua, da qual eu não poderei me meter. E, se eu fizer você se comprometer comigo desde já... Então como poderá evoluir por si só? –ele argumentou. -Eu já sou velho e instável. Você teve uma pequena palhinha do que eu sou de verdade, desregenerando fora de controle no Shopping no Fim do Universo. Imagine só se um dia eu me regenerar e me tornar alguém completamente arrogante? Alguém que não goste de brincadeiras, não admita bom humor, ou não seja cativante ou amável? O que você faria se estivéssemos casados e, do dia pra noite, você se visse em um laço matrimonial com um completo estranho? –ele propôs, atento á reação dela. –Ainda que eu assumisse uma nova forma que fosse completamente o avesso da que você conhece, e não restasse quase nada do homem que sou hoje... Ainda assim, você me amaria?

Luisa baixou a cabeça, deslocada. Nunca pensara nisso. Jamais pensou na possibilidade dele mudar tão radicalmente... Mas, de acordo com ele, isso poderia acontecer. Lembrou-se de todos os rostos que vira no shopping alienígena e pegou-se refletindo que não teve tempo de conhecer melhor, a personalidade de cada um deles. Como seriam suas outras versões no dia á dia? Quantas delas seguiriam aquele mesmo padrão “lunático alegre”? Quais as probabilidades dele continuar assim? Se as regenerações eram uma loteria, então como ela poderia ter certeza sobre uma felicidade eterna ao lado dele?

—Luisa? –o rapaz chamou-a, preocupado com o silêncio dela. –Você está me ouvindo?

Luisa estava perdida em pensamentos. Nem escutou quando ele a chamou. Refletia sobre cada momento que tivera, á sos com o Doutor, e tentava detectar com precisão algum sinal de falsidade no passado... Não encontrou nada naqueles olhos castanho-esverdeados. 

—Luisa? –ele tornou a chamar.

—Hum? –ela voltou-se para ele, distraída.

—Você entendeu o ponto central do problema? –ele perguntou, torcendo muito para que ela assentisse.

Luisa entendia, mas não conseguia crer como ele podia estar dizendo tudo aquilo, ao mesmo tempo que, contraditoriamente, aceitara sem problemas “dar uma escapada para se divertir com ela” na noite anterior. Confusa e desconfiada, a garota se afastou, sentindo repudia. Automaticamente, naquele segundo, seu cérebro fez um link com a letra da música da *Lady Gaga –Alejandro, que parecia descrever bem aquele momento. Dali em diante, ela se perdeu em pensamentos.

—Luisa...? –insistiu ele, trazendo-a de volta do breve devaneio. –Fale alguma coisa, por favor!

—Não sei mais no que acreditar. Você... Traiu a minha confiança ontem. –soluçou, olhando-o com uma mistura de tristeza e ódio. -Como você pode? Eu estava fraca. Eu estava dopada. Eu estava completamente grog. Como pode levar á sério as coisas que eu disse? Eu estava fora de mim!!!—ela apertou o próprio peito com as duas mãos, decepcionada. –Pensei que me conhecesse o bastante para saber diferenciar. Como pôde me iludir daquela maneira? Como pode fingir que me amava? Como pode me deixar acreditar nessa mentira por todo esse tempo?—ela chorou, descontrolada.

Eu não menti pra você!—ele insistiu, chegando ao limite. –Eu sinto muito se a fiz sofrer, mas eu sou apenas um Senhor do Tempo. Isso não me priva de cometer erros... –ele acrescentou. –Eu... Fiquei tentado! Vi toda aquela situação se desenrolando bem na minha frente... Simplesmente não consegui me controlar. Caramba, Luisa!  Eu sou homem! O que queria que eu fizesse?

O lábio inferior de Luisa tremeu.

—Pensei que fosse diferente... -ela murmurou, desapontada. –Desde o principio, quando eu aceitei viajar com você na TARDIS... Desde então, nós nos tornamos confidentes um do outro. –ela fez uma pequena pausa. -Eu confiei em você. Dividi com você os meus segredos mais íntimos. Eu me entreguei totalmente ás viagens... Arrisquei minha vida uma dezena de vezes só porque você pediu; Mas parece que isso não significa nada pra você. –ela limpou o rosto molhado, de cabeça erguida.

Luisa... Não... —ele gemeu, angustiado. -Nós dois sempre fomos amigos! E nos beijávamos de vez em quando; geralmente em momentos de comemoração e alivio. É completamente compreensível, depois de termos passado por uma tensão ou perigo. Como eu ia saber que você estava se apaixonando? Os Senhores do Tempo não agiam assim...

—É. Dá pra ver que eles deviam ser mesmo caras super chatos e anti-sociais!—Luisa descascou. –E quanto aos sorrisos largos, a paciência inesgotável, as manias bobas e os beijos calorosos? Vai mentir e dizer que você também não sabia que isso faria as pessoas quererem se aproximar de você? Vai dizer que não percebeu o quanto estava sendo amável com um planeta que é super carente? Não creio que tenha um dom tão grande para dissimular...

O Doutor fechou os olhos. Parecia estar se conscientizando de algo. Naquele momento, decidiu que só conversar não ajudaria. Teria que partir para uma outra abordagem. Um “plano B”. Algo que ajudasse a amiga a se libertar daqueles fantasmas e extravasar toda a sua raiva. Foi então que teve uma idéia, que julgou ser brilhante: 

—Tem razão. –ele assentiu rapidamente, pulando antecipadamente para o grande final. –Eu não fui um bom amigo. Na verdade, eu errei feio com você. Muito feio. E sinto muitíssimo por isso. –tagarelou, sem abrir uma brecha para deixá-la falar. -Mas nada do que eu disser vai conseguir passar uma borracha em cima de toda essa situação, e eu tenho total noção disso. Também não vou ficar de joelhos e implorar pelo seu perdão, porque sei que seria uma tremenda perda de tempo, já que você não está nem um pouco a fim de me perdoar. E com toda razão, eu reconheço. –assinalou. -No entanto... Talvez eu tenha algo á lhe oferecer, que seja do seu interesse. –Luisa ergueu os olhos nessa última parte, duvidosa. O Doutor sorriu de leve com a reação brusca dela. De repente, ele havia virado o jogo e estava prestes a fazer a jogada mais importante da noite. Bastava saber dirigir a situação da maneira certa, que tudo acabaria bem. Partindo desse pensamento, ele sugeriu: –O que eu fiz ontem a noite foi um erro sem igual, eu admito. E por causa do meu mau comportamento, eu acho que mereço um belo de um castigo!

Luisa ergueu as sobrancelhas.

—O quê?

Ele tomou distância.

—Espere –caminhou até um determinado ponto, então desabotoou o casaco e jogou-o na grama, depois ficou parado com as mãos coladas ao lado do corpo, e com a cabeça erguida. –Pronto. Partindo da filosofia dos psicólogos, eu sugiro que você desconte toda a sua raiva, armazenada bem lá no fundo do seu coração, em mim, neste exato momento. –propôs.

—Como é? –Luisa abafou um riso. –Está louco ou o quê?

—É isso mesmo! Você não ouviu mal, não... –ele confirmou. –Pode me bater, estapear, pode até mesmo me chutar... Eu juro que não vou ficar bravo.

Luisa fitou-o com desconfiança.

—Não acredito em você.

—Então é bom começar a acreditar, porque o tempo está passando... –ele deu corda. –E, lamento, mas o ar gélido das noites de Nova Nova Iorque vai acabar me deixando congelado em questão de minutos, e em breve eu não estarei sentindo mais parte alguma do meu corpo; E “dar o troco” vai se tornar uma tarefa muito mais difícil.

Luisa encarou-o por um momento. Depois encarou o próprio punho fechado. Depois encarou o mar, silencioso.

—Está falando sério?

—Sim, eu estou. –ele assentiu, tremendo de leve. –Eu mereço. Agi como um cafajeste com você, ontem. Preciso pagar caro pelos meus atos inconseqüentes e convido você especialmente para “fazer as honras”.

Luisa pensou por um instante no assunto. Piscou algumas vezes mais, ainda incerta. O que o Doutor estaria planejando com aquilo tudo?

Ela não fazia idéia, mas o rapaz a provocava; irritava-a intencionalmente. Sua esperança era que ela lhe desse um murro na cara e se sentisse melhor com isso. Queria que ela extravasasse a raiva de alguma maneira. E, melhor seria fazer algo com a supervisão dele, que não fosse nenhuma outra loucura, noite adentro.

—Você quer mesmo que eu bata em você? –ela se certificou pela última vez.

—Sim! Pode vir! –ele a incentivou. –Qualquer coisa está valendo!

Luisa gostou daquela última parte. Permitiu-se até lançar-lhe um sorrisinho torto.

—Hum... Qualquer coisa mesmo?—ela murmurou. –Eu poderia chutá-lo, tipo... Em qualquer lugar?

—Claro! —ele se animou, abrindo os braços.—Sou todo seu! Pode até me dar um chute na canela, se quiser...  

Luisa mordeu o lábio por um instante, tentada. Já sabia qual alvo escolheria. Poderia parecer confiante por fora, mas por dentro ainda estava machucada com tudo aquilo... E não deixaria barato pra ele. Ah, não senhor... Naquele momento, ela estava se sentindo arrasada, e procuraria acertá-lo em algum lugar correspondente á pelo menos um terço da dor que seu coração partido vinha distribuindo para o corpo todo, desde então.

—Doutor? Poderia me esclarecer só uma coisinha antes?

Ele deu de ombros, cheio de expectativa.

—O que você quiser!

—Certo. –ela sorriu, meigamente. –Refresque a minha memória: Se os Senhores do Tempo não engravidam suas esposas “por um mero aperto de mão”, como eu supus certa vez, então isso significa que fazem bebês igual aos humanos? Digo, pelo mesmo órgão?

 O Doutor pareceu meio embaraçado com aquela questão.

—Como? Não sei. Acho que sim. Teoricamente, os Senhores do Tempo são humanóides...

—Legal. Era o que eu queria saber –sorriu. –Ah! Mais uma coisa: E, sendo todos humanóides, esse órgão também fica localizado no mesmo lugar, certo?

Ele franziu o cenho, pensativo.

—Sim. Eu creio que somos fisicamente parecidos.

—Ótimo! –ela saltitou, estranhamente empolgada demais. –E, já que está sendo tão colaborativo hoje, será que você poderia, por favor, afastar um pouco as pernas?

As pernas?—o Doutor estranhou, olhando para baixo da cintura. –O que você quer com elas? Vai dar um chute em cada joelho separadamente?

—Na verdade não. –ela disse, impassível. –Estou planejando acertar uma outra coisa...

O Doutor ainda não captara a mensagem direito, mas começou a desconfiar a partir dali.

—Por que quer saber sobre órgãos reprodutores?

—Por que acho que já escolhi meu alvo. –ela anunciou, com um sorrisinho insensível, enquanto prendia o cabelo.

O Doutor empalideceu por completo. Um enorme desespero percorreu todo seu corpo.

—Luisa, não! –desajeitado, ele tentou cobrir partes da calça com as mãos, apreensivo. –Ei... Luisa deixe disso. Isso... É golpe baixo.

—Igual ao que você fez comigo ontem à noite? É, acho que sim. –ela avaliou. –Sabe, eu gostaria que você pudesse sentir ao menos uma parcela da dor que meu coração está sentindo... E, acho que não há lugar algum em você que possa doer mais para representar a minha angustia, dor e decepção, do que lá.

O Doutor engoliu em seco.

Luisa, por favor... Ali não...—ele suplicou. –E se eu precisar dele? O que eu vou fazer se ele ficar inativo? 

—Você já teve bastante tempo para procriar em mil e trezentos anos... Já eu, nunca tive um coração partido! Você não faz idéia da dor que eu estou sentindo nesse momento... –ela disse, amarga.

Eu sei sim! Eu sei como é ter o coração partido por alguém!—ele anunciou, desesperado. -Seu peito parece que vai explodir... A sua cabeça começa a girar com pensamentos sem direção; e sobe uma coisa entalada na sua garganta, que não te deixa respirar. –ele falou em disparada. A menina baixou os ombros, desarmando-se.

—Você sabe como é –ela concluiu, pasma.

—Eu sei sim. –ele afirmou, agitando uma das mãos, enquanto a outra mão boba continuava a proteger o ponto fraco. –Luisa, por favor, me escuta... Se pensar melhor... Hã... Talvez... Droga, essa coisa de “bater em mim” não funcionou tão bem quanto eu imaginei...

—Ah! Então tudo não passou de mais um plano idiota!? –ela gritou, irritada. –É agora que eu não recuo mesmo! Trato é trato, lembra-se?

—Hã... –ele gemeu, inseguro.

—Ah, qual é, Doutor?! –ela repreendeu. -Você disse qualquer lugar!

—Mas tinha que ser justamente esse lugar em específico? –ele protestou, indignado. –Sabia que eu tenho tendinite? Se você, de repente, desse um soco no meu braço eu juro que ia ver igualmente um montão de estrelas...

Luisa sentiu um tremor interno. Não sabia mais o que era certo fazer. Uma lágrima correu por sua bochecha. Estava perdida em si própria, e o rapaz só estava servindo para confundi-la ainda mais.

—Chega Doutor! –ela rugiu. –Eu já fiz a minha escolha! Você deve arcar com as conseqüências...

O Doutor estava com uma expressão assustada no rosto. Por extinto, continuava protegendo “os países baixos”, como se já sentisse a dor da pancada á distancia.

—Mas, Luisa...

—Já chega, Doutor! Pare com essas mãos bobas! –ela correu até ele, com cara de choro, e descruzou as mãos dele a força, da frente de seu corpo. –Droga, eu preciso fazer isso! É a única forma de eu me sentir melhor... –seus olhos se encontraram rapidamente. –Você prometeu. Disse que eu poderia usá-lo para descarregar minha raiva. A idéia foi toda sua! Eu nunca teria pensado em fazer uma coisa dessas se você não tivesse sugerido...

O Doutor encarou-a por uma fração de segundos e viu a verdade estampada no rosto da melhor amiga. Com muito custo, por mais que cada célula de seu corpo implorasse pelo contrário, ele consentiu que ela prosseguisse.

—Tudo bem –aceitou, meio transtornado. –Faça o que tiver que fazer. Se for realmente “o único jeito de você se sentir melhor...” –disse, impaciente.

—Obrigada. –Luisa bufou, igualmente transtornada. O melhor amigo fechou os olhos, enquanto ela se preparava para acertá-lo.

E foi assim, de repente, que ela tomou distância, correu na direção dele e ergueu o joelho em cima da hora. Não havia como errar o alvo. O Doutor esperou pela dor... Mas ela não deu as caras. Intrigado, achou melhor abrir os olhos e checar as coisas do lado de fora. E tudo que encontrou, bem na sua frente, foi uma Luisa soluçando.

—Luisa!? –o joelho da amiga roçava no meio de suas penas, mas ela não se atreveu a terminar o serviço. –Você desistiu. –ele constatou, cuidadoso.

—Eu nunca... –ela soluçou. –Nunca conseguiria te machucar... De nenhuma forma. Nunca!—ela chorou, próximo ao peito dele, mas sem realmente se encostar. –Psicologicamente ou fisicamente; Eu jamais conseguiria!

O Doutor captou o que ela estava querendo dizer, ficando muito sério.

Mas eu sim —ele completou, cético. –Você acredita mesmo nisso? Que eu possa machucá-la por diversão? Que eu quis fazer isso propositalmente? Você realmente me enxerga como uma pessoa tão digna de desprezo?

A menina fez cara de choro e negou com a cabeça.

—Não.

Inesperadamente, ele sorriu, erguendo o rostinho molhado dela para que pudessem se contemplar olho no olho.

—Boa menina.

O contato dos dois despertou alguma coisa nela. Luisa sentiu algo doer, entalado em sua garganta, impedindo-a de conseguir respirar ou raciocinar direito; e a dor em seu peito aumentou de intensidade. Tudo aquilo a deixou muito desnorteada, e numa ação impulsiva, ela empurrou-o no chão.

Eu nunca conseguiria!—gritou de raiva. –Dá pra deixar assim!?—e saiu correndo para longe dele.

O Doutor ergueu-se sentado na grama, e observou-a, com seus olhos tristes, se afastar na calada da noite. Talvez pela urgência que sentiu ao constatar que seu plano não funcionara, não pensou duas vezes ao decidir seu próximo passo. Apanhou a chave sônica, apontou-a para seus pulsos e tirou a sensibilidade de ambos. Em seguida caminhou até o outro canto da praia.

—Ué? –parou bem embaixo de uma grande árvore larga. Olhou para todos os lados, coçando a cabeça. Luisa havia magicamente desaparecido em questão de segundos. Uma lástima! Ela estava começando a ficar boa nessa modalidade. –Para onde ela foi? Não pode simplesmente “ter saído voando!”—depois de examinar bem as proximidades em solo firme, alguma coisa naquela frase o persuadiu a procurar fora dos limites da casualidade. Com a curiosidade á flor da pele, ele ergueu a cabeça, observando com empolgação, os ramos mais altos da árvore próxima de si. Por entre os galhos grossos, detectou uma sombra, sentada em uma parte espaçosa do tronco principal.

Luisa estava lá, bem quieta, observando a lua por outro ângulo. Sabia que conseguiria ficar sozinha ali.

Aquele pedaço curiosamente adaptado do tronco era como um refúgio nas alturas. O Doutor jamais a procuraria na copa das árvores.

Shiflix.

Sinistramente, ela ouviu um barulho na folhagem e sentiu alguma coisa balançar a árvore. Preocupada, a menina encolheu toda, já esperando ser atacada por algum animal noturno, carnívoro.

—Ah, olá de novo! –disse uma voz masculina conhecida, e os músculos de Luisa relaxaram.

Porém, ela ainda estava brava.

—Você de novo!? –retorquiu, irritada. –O que está fazendo aqui? Eu já não disse pra você se afastar?

—Disse –ele assentiu, sentando-se ao seu lado. –E juro que eu tentei. Por longos cinco segundos. Mas depois eu comecei a sentir uma abstinência enorme de você e precisei vir correndo. –ele disse com ar de riso.

Luisa não gostou do ar de deboche dele, mas acabou sorrindo de leve com a brincadeira boba.

—Sorrisos são sinal de apaziguamento, afinal. -o Doutor percebeu o sorrisinho dela e ficou mais confortável.

A garota percebeu a besteira que fizera e logo quis restaurar as coisas.

Você é ridículo!—disse com desprezo e tratou de se arrastar pelo tronco, o mais longe possível dele. O que foi, em termos específicos, um pouco mais de meio centímetro, já que o espaço entre os galhos grossos da árvore onde estavam sentados não era assim tão grande. Poderia até tentar se afastar um pouco mais, mas a queda livre que a esperava, se ela o fizesse, não seria brincadeira.

O Doutor não se chateou com aquilo. Estava determinado a fazer as pazes com ela. E nada é capaz de impedir um homem determinado.

—Ei... Calma lá! O que eu fiz agora? –ele atou as mãos, inclinando-se para perto dela.

—Você está invadindo o meu espaço! –ela retorquiu, nervosa, apontando para o “meio centímetro”, como se houvesse uma linha invisível entre eles, separando-os. –Vá embora! Trate de descer... Quem disse que podia subir na árvore?

—Eu falo árvorês. –o Doutor explicou. -Pedi permissão à ela primeiro, antes de subir –completou. –Coisa que a senhorita não fez. –assinalou.

Luisa deu de ombros.

Ela não se importa.—Luisa argumentou. –Foi ela quem me deu refúgio quando eu passei correndo. A coisa entre nós foi bem diferente. Não venha com essa conversinha boba pra cima de mim!

A garota imaginou que ele continuaria discutindo (pois agora tinham novamente material para uma longa discussão), mas como o Doutor é imprevisível, conseguiu surpreendê-la ao aceitar as afirmações dela.

—Tem razão –ele mudou a direção do foco. –Talvez a árvore queira mesmo te ajudar. –fitou os próprios pés. –Eu não consegui nada mesmo...

Luisa revirou os olhos, impaciente.

—Você é inacreditável –ela disse, nada contente. –Não basta vir até aqui, roubar meu espaço e se divertir ás minhas custas... Você também tinha que mudar de rumo e começar de novo a ser gentil!

O Doutor ficou arrasado.

—Por que fica me atacando desse jeito? Eu sei que cometi um erro gravíssimo ontem... Nós dois cometemos! Mas isso não é motivo pra você ficar me atingindo dessa maneira!

Luisa inclinou-se pra ele, com cara de pouco caso.

—Ah, tá doendo tá? –perguntou, provocativamente, tocando o peito dele num ponto que envolvia os dois corações. –Eu te machuquei, foi? Por que não para de se lamentar feito uma criança e começa a tomar alguma iniciativa, pra variar?

O Doutor ficou consternado.

—E você queria que eu fizesse o quê: Me descontrolasse? Gritasse com você? Rompesse com a nossa amizade?

Luisa foi perdendo as forças, conforme ele foi despejando aquilo tudo na consciência dela. Logo a garota recuou, tentando conter o choro, inutilmente.

O Doutor notou que a magoara novamente, porém desta vez, não sentiu remorso. Sabia que ela estava descontrolada, e tudo que Luisa parecia mais querer fazer naquela noite, era deixá-lo irritado com ela. Curiosamente, ela estava querendo se torturar, e estava usando o Doutor como punhal.

—Luisa. Já chega disso –ele pediu com jeitinho. -Olhe pra mim...

Ela relutou um pouco, mas depois acabou aceitando retribuir o olhar dele.

—Você é tão bonzinho... –ela estranhou. –Como consegue falar comigo desse jeito? Como consegue não me odiar depois de tudo que eu falei? Como consegue conter a raiva?

Ele sorriu de leve.

—Eu não sinto raiva. –ele interveio. –E, acredito que nem você mesma esteja sentindo de verdade. Só consigo captar uma vibração confusa vinda de você. Mais nada.

Luisa respirou fundo, exausta.

—Eu não quero mais brigar. –ela fungou. –Queria me reconciliar, mas quando penso nisso lembro de tudo o que eu fiz ontem, então começo a sentir raiva de novo...

O Doutor segurou-a pelos braços.

—Luisa, pare de alimentar esse sentimento estúpido! A raiva é um circulo vicioso que nunca termina, sobretudo, se você ficar presa nele. Não deixe que ela se desenvolva e se torne um rancor ou coisa pior. Pense no que você vai estar fazendo com a sua vida, encarando as coisas desse jeito. Pense no tempo que você vai perder, remoendo tudo isso. –instruiu-a, olhando bem fundo nos olhos dela. –Faça um favor a si mesma, e esqueça tudo isso. É o melhor que você pode fazer agora.

—Doutor...? –Luisa olhava para as mãos dele, segurando os braços dela, com assombro. –Acho que tem alguma coisa errada comigo... –ela levou a mão á testa, preocupada. –Deus! Acho que devo estar passando mal de novo... Vê se eu tô com febre!

O Doutor levou a mão à testa dela.

—Não. Está fria como a noite. –ele assegurou. Luisa aproveitou que ele ainda tinha a mão sob sua testa e pousou sua própria palma em cima das costas da mão dele. A sensação foi a mesma.

—Ah! –ela deu um gritinho, cobrindo os lábios. –Sua mão! Eu não estou sentindo as suas mãos... Meu Deus! Eu devo estar muito mal mesmo...

—Calma. –ele riu, descontraído. –Fui eu que fiz isso. Eu tirei a sensibilidade das minhas mãos, isolando-as e impedindo que você pudesse se sentir tocada, mesmo quando eu a tocasse. -ele levou a mão à lateral do rosto dela, para melhor demonstrar. -Afinal, você sabe que eu não consigo falar sem as mãos; E eu sei que você precisa de espaço...

—Você fez isso por mim? –ela espantou-se. –Você... Respeitou meu espaço.

—Mais é claro! –ele se permitiu sorrir só um pouquinho agora. –Eu sou seu amigo, não sou?

Luisa colocou a mão em cima da dele, em seu rosto, mas novamente não sentiu nada. Podia vê-la. Podia enxergá-la perfeitamente, mas não conseguia sentir o calor dela, nem aquele toque intenso. De repente, aquela maldita sensação começou a incomodá-la.

E não foi só isso. Inesperadamente, a sensação de algo preso em sua garganta retornou, e seu peito recomeçou a doer. Porém, desta vez não era igual a antes. No meio de tudo aquilo, havia uma sensação de desespero e ansiedade.

—Deixe de besteira... –falou, chorosa, acariciando a mão dele insensível. –Traga de volta sua sensibilidade... –ela soluçou. -Eu quero sentir você.

O rapaz fitou-a com fervor.

—Certo. –ele apanhou a chave sônica e apontou-a novamente para seus pulsos. De imediato, Luisa sentiu a mão dele no contorno de seu rosto e sorriu, ao poder tocá-lo novamente. –Prontinho.

Ai, Doutor... –ela disse com a voz embargada, acariciando a mão dele. Luisa estava que não se agüentava. Queria começar a chorar de novo; não sabia mais o que fazer. –Só me abraça. Me abraça, por favor.

Diferente do dia anterior, ele retribuiu o gesto de bom grado. Com o consentimento dela, ele deu-lhe o abraço mais forte e caloroso de todos.

Durou muito tempo. Ambos não queriam se afastar; Era quase como se tivessem medo que a realidade se desmanchasse ao seu redor, se o fizessem. Por fim, quando finalmente se separaram, Luisa fitou-o com espanto.

—Retribuído sem relutância. –exclamou, boquiaberta.

—Hoje você está com a cabeça no lugar e tem total noção do que estamos fazendo –esclareceu, com um sorriso bondoso. –Me desculpe por ontem. Eu sei que a culpa não foi sua.

—Nem sua. –ela replicou, em disparate.

—Ainda acho que a culpa maior foi do hospital, que exagerou muito na dose do seu medicamento. –o Doutor completou.

É porque eu tenho medo de injeção. –Luisa esclareceu com bom humor.

—Ué? Eu também tenho. –ele deu de ombros. –Só não conte pros gatos de avental. Sabe como é... Pegaria meio mal pra mim.

Luisa riu com vontade. Fazia algum tempo que não ouvia a própria risada. Foi ótimo poder sorrir de novo.

—Vamos? –o Doutor estendia a mão para ela, sugerindo que já estava na hora de descer da árvore. Sem fazer hora, Luisa segurou sua mão, e juntos, desceram até sentir o solo firme contra a sola de seus sapatos.

—Puxa. Eu estou tão envergonhada de mim mesma... –Luisa afirmou, enquanto apoiava-se no amigo, já no chão, para poder descer também. -Como pude ser tão dura com você?

—Bobagem. –o Doutor fez um gesto leviano, após colocá-la no chão. –Está tudo bem agora.

Por mais que estivesse aliviada, alguma coisa ainda a perturbava bem lá no fundo e, já que eles estavam sendo sinceros um com o outro, Luisa pensou que não faria nenhum mal fazer uma pergunta.

—Sabe o vídeo da Melissa? Eu achei que ele não foi muito claro em questão de dizer se nós... Bem... Hã... Sabe? Chegamos lá.

O Doutor entrelaçou as mãos nas costas e balançou para frente e para trás.

—Bom, suponho que seja tarde demais para conferir. Melissa foi tão leal a você que resolveu apagar o vídeo. Qualquer prova que existisse, não passa de especulação agora.

—Ah. –Luisa pareceu aliviada, mas decepcionada, ao mesmo tempo. –Melissa é uma ótima amiga. Eu não sei o que faria sem ela.

Em meio a aquilo tudo, o Doutor sorriu.

—Mas se quiser, talvez eu possa te ajudar com esse seu pequeno problema. Afinal, eu participei de tudo. Fui um personagem importante para a trama, tenho que admitir—ele segurou o queixo, bancando o pensativo. –Se fizer questão, eu posso te contar o que realmente aconteceu. –e lançou-lhe um sorrisinho torto.

—Engraçadinho –Luisa se permitiu sorrir. –Me conte tudo.

—Então lá vai! –ele fez toda uma performance com as mãos (como a de um mágico preparando-se para fazer seu primeiro truque), que a fez rir novamente. –Preparada? –indagou, com as sobrancelhas erguidas, no final.

—Pior do que ouvir o que fizemos quando eu estava “locona”, é permanecer com a dúvida de não saber o que rolou de verdade. Então, sim! Pode contar.

Era tudo que o Doutor mais queria ouvir. Fez um suspense danado, apenas para dizer:

—Relaxa. Não houve nada. Sua integridade está preservada. Pode confiar em mim.

—Ah, obrigada! –ela tornou a abraçá-lo, mal cabendo em si de tanto alívio. –Nossa, nem sei como agradecer... –Luisa se afastou dele com uma nova dúvida. –Mas... Como conseguiu me deter? Se eu estava tão impossível, como sei que estava, como você conseguiu impedir que fossemos mais longe?

—Quer mesmo saber? –ele instigou, segurando o riso. –Você desmaiou antes de desabotoar minhas calças. –ele desviou os olhos, sorridente, corando de leve.

A garota enrubesceu mais do que o rapaz.

—Puxa, que mico! –ela riu, acompanhada pelo amigo. -Olha, eu sei que seria demais pedir, mas eu estimo muito nossa amizade, e queria saber se nós poderíamos fingir que nada disso aconteceu. –ela brincava, distraidamente, com a junta do dedo indicador, ansiosa pela resposta dele. 

O Doutor sorriu amplamente.

—Já está no passado.

—Ah! Obrigado de novo! E de novo! E de novo! –ela pulou para abraçá-lo, mais forte ainda que antes, e ele gargalhou, ao vê-la de novo tão feliz.

Ao separarem-se novamente, Luisa propôs:

—Então...? “Só amigos”, de agora em diante? –ela estendeu o dedo mindinho para ele, num juramento.

—Só amigos. –ele aceitou. Tentou segurar o dedinho dela com o seu próprio, tornando o juramento oficial, mas quando ele deu um passo a frente, com o dedo esticado, ela recuou para trás, com um sorrisinho meigo no rosto.

Mas, antes de concretizarmos nossa amizade restaurada... –ela ponderou. –Será que podíamos nos despedir dos velhos tempos? Eu gostaria muito de suavizar o nosso “fim” o máximo possível. Daqui há uns vinte anos, não quero olhar para trás e lembrar do fim do nosso “relacionamento” como algo desastroso e triste.

O Doutor sorriu, radiante.

—Não vejo porque não –deu de ombros, bem contente. –Está pensando no que eu estou pensando?

—Um último beijo. –Luisa disse. -Para marcar nosso término...

—E fortificar nossa amizade. –o Doutor completou, satisfeito. –Pra mim está ótimo.

—Porque não é o fim de tudo –Luisa prosseguiu. –Geralmente, quando as pessoas terminam um relacionamento, sucessivamente, acabam afetando sua relação pessoal. E é difícil ver um casal que se separa e continuam sendo bons amigos como antes...

O Doutor assentiu.

—E nós pretendemos manter nossa amizade.

—É. –Luisa sorriu. –Afinal, ninguém saiu ferido... E, acima de tudo, não consigo imaginar minha vida sem você bagunçando as coisas... –ela riu, dando-lhe um soquinho de brincadeira no braço.

—Tudo bem –ele riu do jeito dela. –Vem cá—e puxou-a para si, envolvendo-a em seus braços, e beijou-a docemente, ao som de *Janeiro á Janeiro –Roberta Campos e Nando Reis. A menina retribuiu o gesto com delicadeza. Foi o beijo mais carinhoso que já deram um no outro. Geralmente, todos os outros ocorreriam com urgência, ou intensidade, mas esse, talvez por ser o último, foi o mais significativo de todos em questão de sentimento. Pois despertou neles o sentimento mais puro que poderia haver num relacionamento realmente fiel: a amizade.

Logo os dois separaram os lábios, mas ao invés de se soltarem, partiram para um abraço forte e intenso ao som de *Enquanto Houver Sol –Titãns. Os lábios dela esbarraram no ombro dele, e o rosto dele se encaixou por entre as mechas castanhas dos cabelos dela. Tudo pareceu se transformar ao seu redor. De repente, não havia mais problemas, não havia mais a árvore ao seu lado, nem a praia, a lua, ou o hospital. De repente, só os dois existiam, e a amizade deles era a coisa mais importante do universo.

O Doutor aproveitou para personalizar o abraço, puxando a amiga e tirando seus pés do chão, para depois rodopiarem juntos, pelo gramado, até ficarem tontos.

Separaram-se, ainda sentindo uma nostalgia incrível. A tontura nem teve vez. Naquele momento, eles eram só alegria...

—ISSO FOI INCRÍVEL! –Luisa gritou, animada.

—Amigos? –ele estendeu o dedo mindinho de novo.

—Para sempre. –desta vez ela encaixou seu dedo no dele, e ambos sorriram um para o outro, felizes. Depois correram juntos, apostando corrida até a TARDIS.

O último á chegar é um gato de saia!—propôs o Doutor, correndo meio metro na frente dela.

Me espera! Seu chato de All Stars!—ela apertou o passo para alcançá-lo.

A culpa não é minha se você é tão devagar!!!—ele provocou, de brincadeira.

Ah, é? Eu vou te mostrar “quem é devagar!”

Os dois refizeram o trajeto rindo, e sumiram por entre a colina.


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Notas finais do capítulo

Tá kkkk eu sei que foi uma montanha russa, mas enfim, as coisas se resolveram kkk

Custou, mas acabou tudo bem :) Luisa e Doc best friends forever! kkk Agora, a pergunta que não quer calar: Será que dessa vez eles sossegam sendo apenas dois bons amigos? Vamos esperar pra ver...

Quinta feira postarei o próximo capítulo! Até lá pessoal! :D



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