Olhei pela janela, enquanto a chuva de veraneio desabava lá fora. Cada vez mais forte, enquanto o vento a impulsionava e fazia barulhos assustadores.

Esperava a tempestade passar para me encontrar com Nathaniel. A cada minuto, a chuva parecia diminuir e logo eu poderia sair sem me ensopar.

Esperei e esperei, até que a tempestade abrandou para uma pequena chuva. Caía lá fora e fazia barulhos. Barulhos ininterruptos da água caindo na calha do telhado. E escorria, em direção ao solo.

Criei ânimo e peguei meu guarda-chuva, saindo na rua. Fora de casa, era perceptível aquele cheiro de terra molhada. O aroma sempre está presente quando chove. E sempre me lembra dele. Do nosso primeiro beijo.

Um acampamento. Uma barraca. Nós dois. Lá fora, a chuva caía fraca, mas o cheiro de terra molhada era perceptível. Lá dentro, o aroma de uma tangerina, que Nathaniel saboreava. Eu apenas o observava, fingindo estar muito ocupada com meu celular. Porém, a cada minuto, eu olhava da tela para ele e dele para a tela de volta.

Nathaniel acabou iniciando uma conversa comigo, afinal, discrição não é uma das minhas características mais acentuadas.

Mas a memória mais marcante daquela noite foi uma combinação de aromas que até hoje me recordo: a terra molhada, a tangerina e o perfume de Nathaniel. Marcante e presente. Assim como ele, que sempre se fazia presente na minha vida. Assim como ele, forte e inebriante. E em nosso beijo me inebriei, nele e nos aromas que me cercavam naquele momento.

Saí das minhas memórias ao parar no semáforo. Os carros, motos e ônibus passaram, enquanto eu esperava o sinal verde. De alguma casa por perto, vinha um aroma de molho de tomate. Talvez a pessoa estivesse fazendo uma macarronada, já que logo seria a hora da janta.

Me lembrei dele. De novo. Eram tantos aromas associados a Nathaniel... Esse, no caso, me recorda de seu pedido de casamento. O restaurante de comida italiana, risadas, macarrão à bolonhesa, um pouco de molho no canto da sua boca e mais risadas. Até o tão esperado pedido.

Observo o discreto anel no meu dedo e sorrio. Era simples e belo.

O semáforo ficou verde e eu atravessei, continuando minha caminhada até o lugar combinado.

Perdida em pensamentos, andava debaixo do meu guarda-chuva, enquanto os grossos pingos faziam um barulho rítmico em contato com o tecido do objeto.

Parei em frente a uma floricultura e observei. Rosas, petúnias, violetas, lírios, margaridas e outras flores. Sorri, lembrando de outro dia.

Nathaniel é alérgico a pólen. E eu amo flores. Certa vez, enfeitei minha sala com um vaso que ganhara de minha mãe. O resultado: ele teve que ir embora direto para a farmácia, comprar um antialérgico, pois não parava de espirrar. Ri da sua desgraça, porém me desculpei mais tarde. No fim, acabei deixando o vaso de petúnias em outro canto da casa, onde não ofereceria riscos a ele.

Segui em frente, enquanto a chuva parava de cair. Fechei meu guarda-chuva e enrosquei o cabo no braço, enquanto caminhava pelo parque. As árvores úmidas balançavam com o vento e derrubavam a água da chuva que se acumulara nelas. Acabei me molhando um pouco nesse processo. Mas não me importei.

Continuei andando, enquanto era um pouco banhada pela água que caia das árvores. Até que o vi de longe. Nathaniel acenou e eu fui até ele.

Me joguei em seus braços e me perdi em seu abraço. Como sempre, seu perfume era inebriante e tomava-me os sentidos. Junto do cheiro de terra molhada que o solo exalava após a chuva.

Cheiros, aromas e mais memórias. Com Nathaniel, eu sempre experimentava novos cheiros e momentos.