— Kentin! — exclamei ao vê-lo parado na entrada do parque de diversões, com as mãos nos bolsos da calça.

Ele chamou o meu nome e me apertou num abraço, me erguendo do chão. Havia meses que eu não via mais o Kentin, pois agora estudava numa escola militar. Só nos encontrávamos na época das férias ou em alguns feriados, em que ele vinha ficar com a família.

E ele não deixava de me ver nesse pouco tempo que tinha quando voltava à cidade. E eu amava esses momentos. Sentia muita falta dele.

— Você cresceu. — Foi a primeira coisa que disse quando me colocou de volta no chão.

Kentin estava mais alto e musculoso. Deixou o corte de cabelo em formato de cuia pra trás e também trajava roupas diferentes, que combinavam com o ambiente militar que agora era tão comum a ele.

— Foi você que parece que andou comendo fermento.

Kentin soltou uma risada gostosa e bagunçou os meus cabelos. Passou o braço pelos meus ombros e eu enlacei sua cintura. Ele sorriu para mim mais uma vez, com os olhos verdes brilhando numa alegria contida ao me ver novamente. Nem óculos usava mais. Agora era adepto das lentes de contato. Mas seus olhos verdes esmeralda ainda eram os mesmos. Alegres, sorridentes, esperançosos. Me perdia neles, enquanto encarava meu próprio reflexo em seus olhos.

Retribui seu sorriso com meu olhar alegre e entramos no parque.

...

— Vai, Kentin! — gritei para ele em um incentivo. Kentin estava em um daqueles King of the Hammer, onde você tem que bater com um martelo e fazer o marcador chegar até o topo, pra conseguir ganhar o prêmio.

Kentin bateu e ganhou. Eu vibrei.

O rapaz foi até o senhor que coordenava a barraca e pegou o prêmio. Ele escolheu um dinossauro de pelúcia. Do mesmo verde de seus olhos.

Me entregou o bichinho e eu fiquei olhando pra ele. Pro brinquedo, digo.

— Me lembra você — confidenciei, enquanto observava os detalhes da pelúcia.

— Por quê? — questionou, me olhando curioso.

— Porque é da cor dos seus olhos. — Kentin corou e sorriu tímido. Sorri divertida, ao ver como era fofo em seu desconcerto.

— ... — Ele abriu e fechou a boca, com as mãos de volta ao bolso, parecendo meio perdido com as palavras. Continuava com as bochechas coradas e era uma visão encantadora. — Vamos pro próximo brinquedo?

...

Fomos em inúmeros brinquedos pelas últimas duas horas: pescaria, xícaras que rodavam, carrinhos de bate-bate, carrossel, tiro ao alvo... Infelizmente não conseguimos ganhar mais nada. Então apenas compramos dois algodões doces, que devoramos em pouco tempo, e fomos até nossa última atração naquela noite: a roda gigante.

Finalmente chegou nossa vez na fila e entramos em uma das cabines. Pouco depois, o brinquedo começou a funcionar. Logo, chegamos ao topo. Era extremamente alto. Olhei ao longe e vi a cidade toda iluminada, com as luzes acesas, como um sistema elétrico que não apagava.

Desviei o olhar de baixo para o céu. As estrelas também não deixavam a desejar, apesar de serem ofuscadas pelo brilho das luzes da cidade. Ambos competiam pela minha atenção com sua luz...

— Está com medo? — Kentin perguntou e entrelaçou seus dedos nos meus, que estavam sobre o banco.

Sorriu para mim. Com seus lábios e com seus olhos. Seus olhos que pareciam mais brilhantes que as estrelas acima e a cidade abaixo. Já sabia qual das luzes chamava mais a minha atenção: a que estava ao meu lado.

— Não sou eu que sempre tive medo de altura — respondi divertida e entrelacei meus dedos com os seus. Gostava de fazer isso. Gostava de observar como eles pareciam se encaixar tão bem. Como parecíamos nos encaixar tão bem.

— Eu não tenho medo de altura! — exclamou contrariado e ambos rimos. Ele tinha uma expressão bonita quando ria.

Nossas risadas cessaram, porém ainda sorriamos. Kentin ainda sorria. Era divertido ver como seus lábios se curvavam em um sorriso.

Ele levou a mão livre até meu cabelo e colocou uma mecha atrás da orelha. Porém, não adiantou, já que o vento voltou a tirá-la fora do lugar. Nos encaramos e rimos baixo.

Nos encaramos em um entendimento mútuo, os dois com as bochechas coradas, enquanto ambos sorríamos com os lábios e com os olhos. E para eles eu olhei, antes de fechar meus olhos e sentir seus lábios sobre os meus.

Em certos momentos, era melhor fechar os olhos e não me guiar apenas pela visão.