—Acho que devíamos fazer um seguro de vida. -Jack comentou, depois de levantar de uma queda feia na TARDIS.

—Como se você precisasse. -O Doutor retrucou. -E eu avisei pra se segurar. Nem Joanne caiu dessa vez.

—Estou intacta. -Avisou. -Acho que comecei a pegar o jeito da coisa.

—Viu?-Jack revirou os olhos.

—Onde estamos?-Perguntou.

—Eu não sei. Vamos descobrir.

Fora da TARDIS, a terra era vermelha, assim como o céu. O ar quente e abafado saudou o trio quando saíram da caixa azul.

—Estamos em Marte?-Jo questionou, olhando em volta.

—Não estaríamos respirando se estivéssemos. -Jack disse. -Precisaríamos de roupas espaciais.

—Então... Onde estamos?

—Por que não perguntamos pras moças bem ali?

Joanne não tinha notado, mas estavam cercados por mulheres altas, muito bem armadas e com expressões nada amigáveis.

—Hã... Eu sou o Doutor. -O Senhor do Tempo disse, sem se abalar.

—Rendam-se, ou vamos atirar!-Uma das mulheres avisou. O trio ergueu as mãos.

Algumas das atiradoras se aproximaram e prenderam Jack e o Doutor. Enquanto isso, a primeira a falar, uma mulher negra que não estava armada, se aproximou de Joanne e estendeu a mão.

—Deirini. E você é...?

—Espera. Espera. Por que não estão me prendendo? E por que algemaram eles?

—Por quê? Por que eles são homens, invasores. Bem vinda à Marte 002, irmã. O Planeta das Mulheres.

***

—É um mau entendido!-Jo insistiu, seguindo Deirini para uma das tendas. -Nós não somos invasores.

—Eu não disse que você é uma invasora, irmã. Disse que eles são. -Apontou para fora, onde Jack e o Doutor estavam sendo amarrados à pilares de madeira.

—Não estou entendendo. Por que eu não sou uma invasora e eles são?

—Mulheres são bem vindas à Marte 002. Homens, não. Eles são proibidos. Aqueles dois vão enfrentar nossa justiça.

—O que isso quer dizer? O que vai fazer com eles?

—Eu? Nada. Mas minhas irmãs, as Executoras, vão enforcá-los.

—O QUE?

***

—De zero à dez, quão ruim é a nossa situação?-Jack perguntou, tentando se soltar.

—Onze. Elas não parecem felizes.

—Mas quem diabos são elas? Amazonas do espaço?

—É, exatamente. E elas tem políticas bem rígidas quanto à homens entrando em seu planeta sem permissão.

—Então elas vão nos matar por que supostamente invadimos?

—Nah. Não com Joanne aqui. Ela com certeza vai explicar a situação e...

—Péssimas notícias!-Jo interrompeu, surgindo na frente deles. -Elas vão matar vocês.

—Você pode convencê-las a não fazer isso.

—Não, eu não posso. Você é quem faz aqueles discursos e faz as pessoas mudarem de ideia!

—Você pode fazer isso.

—Não posso...

—Jo, me escuta...

—Eu não consigo!

—Jo!

—Eu sou um desastre!

—Jo!

—Não sei o que dizer...

—Joanne, me escuta!-A garota se calou. -Elas não vão me ouvir. Mas vão ouvir você. Você é uma delas.

—Doutor...

—Essas mulheres não são más. Só estão aqui para se protegerem. Foram feridas e estão com medo. Fale com elas, entenda-as. Você consegue, Joanne Watson. No momento em que te encontrei, eu sabia que você ia ser a companheira perfeita. -Joanne sorriu, emocionada. Jack limpou a garganta de forma exagerada.

—Não quero interromper o clima. -Avisou. -Mas acho que alguém tem uma missão.

—Ele está certo. Vá até lá. As nossas vidas estão nas suas mãos. -A garota assentiu e começou a se afastar, voltando para a tenda.

—Por que não contou a ela que sou imortal?

—Um pouco de pressão às vezes resolve as coisas. E você e sua imortalidade é uma história longa que pode ficar pra outro dia.

***

—Falei com minhas irmãs. -Deirini disse, sentada na frente de Jo. -Você pode ficar aqui conosco. Seria muito bem vinda. Marte 002 é para todas as mulheres. Nosso refúgio. -Joanne lembrou do que o Doutor havia dito. Ela tinha que entender as Amazonas de Marte.

—Qual é a história daqui?

—Sempre foi um planeta vazio, mas perfeito para ser habitado. No começo, apenas mulheres da Terra vieram para cá. Agora temos irmãs de todo canto do espaço.

—Mas por que vir pra cá? Por que um planeta apenas para mulheres?

—Para fugir do terror dos homens, é claro. Cansamos de pedir socorro para o nada. Sempre esperando que acreditem em nós, que nos ajudem. Cansamos da violência deles, de seu ódio. Estamos seguras aqui. Longe deles. Com nossas próprias regras e leis. Com igualdade. -Ficou de pé. -Vamos ver o Conselho. É hora de decidir o destino dos homens lá fora.

Seguiram para uma tenda maior, onde quase todas as mulheres de Marte 002 estavam sentadas em arquibancadas de pedra. Diante delas, lado a lado, doze mulheres que formavam o Conselho, junto com Deirini.

Joanne se sentou de frente para elas, sozinha, pensando e repensando num discurso pelo menos aceitável.

Os destinos de Jack e do Doutor estavam em suas mãos.

—Você, irmã Joanne, tem algo a declarar?-Deirini perguntou, se sentando. Jo respirou fundo e assentiu. -Então sinta-se livre para se pronunciar.

—Eu entendo vocês e seus motivos para estarem aqui. Entendo realmente. De onde eu venho... Do tempo de onde eu venho, as coisas não são tão diferentes. Mas sabe o que eu tenho? Esperança. Esperança de pessoas melhores aparecerem. Os dois homens lá fora não são maus. São bons. São meus amigos. Conheço Jack há pouco tempo, mas sei que ele é bom. E o Doutor... O Doutor é fantástico! O encontrei acidentalmente, e foi uma das melhores coisas que aconteceu comigo. São homens leais, justos... E há outros por aí. Eu sei que sim. Fui criada por um. E por mais que ele diga coisas que deixam eu, uma feminista, irritada, sei que posso fazê-lo pensar diferente. E eu fiz. E ainda posso fazer. Há homens bons, e homens maus. Assim como há mulheres boas e mulheres más. E é nosso dever, as pessoas boas, fazer com que o mundo e o espaço sejam cada vez melhor, para que não existam mais pessoas más.

Se calou. O silêncio reinou na tenda. Jo não sabia se isso era um bom ou um mau sinal. E se essas mulheres achassem que ela estava “contaminada” pelas ideias dos homens maus e a executassem com o Doutor e Jack?

De repente, o burburinho começou. Atrás dela, as mulheres começaram a falar umas com as outras, apontando e assentindo. Lá na frente, as conselheiras também conversavam entre si. Enquanto ouvia o que uma de suas irmãs tinha a dizer, Deirini encarava Joanne.

Por favor, que isso seja bom, a garota pensou.

—Bom, pelo que posso ver, nós todas já chegamos à algumas conclusões. -Deirini disse, ficando de pé. -Todas aquelas que concordam com Joanne Watson, filha da Terra, em poupar os homens lá fora, ergam a mão.

Uma a uma, as conselheiras, e a própria Deirini, ergueram as mãos. Jo se virou, e atrás dela, todas as mulheres na arquibancada tinham as mãos levantadas.

—Vocês vão mesmo deixá-los viver?-Jo perguntou. -De verdade?

—Você está certa no que disse, Joanne. Nós não devemos deixar o medo nos cegar, nem mesmo nos calar. Seus amigos estão livres.

***

—Então elas votaram e concordaram em libertá-los. -Jo concluiu, animada.

Após soltarem Jack e o Doutor, o trio foi convidado para uma celebração que ocorria toda semana no planeta.

Enquanto Jack estava cercado por algumas mulheres interessadas, o Doutor e Joanne estavam sentados lado a lado perto da fogueira, apenas observando.

—O que acha que vai acontecer agora?-A garota perguntou. -Marte 002 ainda vai estar proibida para homens?

—Não. Mas ainda será habitado apenas por mulheres. Aqui será montado o primeiro Instituto do planeta. O Instituto Joanne Watson.

—Você está brincando!

—Não. -Sorriu. -É sério. Aqui vai continuar um refúgio. Um refúgio para todas as mulheres que precisam. Homens serão permitidos apenas com permissão das líderes. Graças à uma garota da Terra, cujo nome foi colocado no Instituto. Você está fazendo história, Joanne Watson.

—Assim faz parecer que sou especial.

—Você é especial. Acho que está na hora de perceber isso.

—Obrigada, Doutor. Obrigada por me ajudar a encontrar a mim mesma.