MUTANTES & PODEROSOS I - O Segredo dos Poderosos escrita por André Drago B
Notas iniciais do capítulo
E os mistérios continuam...
CAPÍTULO 20
PISTAS
Muitas pessoas já invadiam as ruas da cidade. Homens com animais, mulheres com crianças, vendedores, entre outros. A movimentação do dia já estava se iniciando. O sol subia preguiçosamente até o topo do céu, enquanto o ar frio da manhã se esvairia pelo calor, que tomava o seu lugar.
Kira seguia a velha senhora a sua frente, que andava rápido o suficiente para mostrar que os anos de trabalho apenas lhe fizeram bem. A jovem estava ansiosa para que a idosa contasse o que aconteceu com o seu irmão, pois ela firmava tê-lo visto.
A rua se afunilou até tomar um tamanho menor, não impedindo o fluxo de uma quantidade excessiva de pessoas. A velha a guiou até chegar à um estabelecimento de porta de madeira. A senhora subiu os três longos degraus e empurrou a porta. Do lado de dentro, o local era revestido de madeira. Várias pequenas mesas com cadeiras de madeira em volta denunciavam que o local era um restaurante que se preparava para abrir as portas. Um balcão enorme de ocupava quase toda a parede oposta a parede em que havia a porta de entrada. No canto do balcão, uma escadaria levava até um patamar de madeira, provavelmente também ocupado por mais cadeiras e mesas. Atrás do balcão, uma porta simples levava para a cozinha. O sol da manhã adentrava o local pelas janelas, iluminando tudo, e dando um aspecto ainda mais bonito para o estabelecimento.
A senhora se dirigiu a uma mesa. Puxando uma cadeira desta mesa, assentou e fez um sinal para que Kira se assentasse em outra. A jovem o fez, se acomodando no banco de madeira e retirando o bastão de Mestre das costas para poder se acomodar.
—Então! A senhora afirma ter visto um menino como o meu irmão! Como ele era, exatamente? – começou Kira, sem conseguir esperar mais.
—Ele era um menino novo, por volta de uns dez ou onze anos! – a velha disse, com sua voz prejudicada pela idade.
—Onze! – afirmou Kira.
—Ele tinha os olhos castanhos e o cabelo também, apesar daquele tucho branco...
—Espere! A senhora disse tucho branco?
—Sim, em meio aos cabelos castanhos!
—Não, não! Esse não é o meu irmão. – disse Kira, decepcionada. Ela se levantou da cadeira e virou as costas para a velha senhora.
—Espere! Para onde você está indo? – perguntou a senhora.
—Me desculpe e obrigada pela ajuda, mas este não é o meu irmão!
—Calma!
—Não senhora! Eu tenho que ir!
Kira chegou à porta e tocou a maçaneta, mas antes que pudesse puxá-la, a velha disse:
—O seu irmão tem uma cicatriz no queixo?
Kira largou a maçaneta, e virando-se para trás, disse:
—Sim! Ele ganhou essa cicatriz quando era menor, enquanto brincávamos no jardim.
—Então é o seu irmão mesmo! – disse a senhora.
Kira se aproximou dela lentamente. A expressão em seu rosto mostrava que ela estava confusa, mas pensativa.
—Mas o meu irmão não tem nenhum tucho de cabelo branco.
—Bem, agora ele tem! – a senhora voltou a dizer. – Também não parecia muito satisfeito com aquilo! Ele estava meio assustado e as marcas em seu braço sangravam!
Ao dizer aquilo, Kira se recordou das marcas de um ataque de leão-da-montanha, ao qual estavam acompanhadas por pingos de sangue. “Jackie se feriu! Aquela criatura o machucou.”, pensou ela.
—E quando a senhora viu ele?
—Na noite de anteontem!
“O dia em que Jackie sumiu! O que mais essa senhora sabe?”
—E como ele estava quando ele chegou aqui? – indagou Kira, obedecendo a senhora, que com um sinal, mandou-a se sentar novamente.
—Ele estava molhado pela chuva. O sangue que lhe escorria pelo braço me chamou a atenção, e confesso que me assustei um pouco com aquilo! Ele parecia esfomeado e me pediu para hospedá-lo naquela noite. Eu não podia recusar, e acabei o deixando no quarto do meu neto, na minha casa logo aqui ao lado. Dei-lhe comida, que comeu rapidamente, esfomeado. Parecia até um leão, saboreando a sua presa! – disse ela, com um sorrisinho no rosto. –Cuidei dos seus ferimentos, deixei-lhe se banhar e depois ele foi dormir. O meu neto dormiu comigo no meu quarto!
—Compreendo! – disse Kira, imaginando cada coisa descrita pela mulher.
—Na manhã seguinte ele se levantou bem cedo. Por pouco não o vejo ir embora. Ele se levantou, arrumou a cama, mas antes de sair, eu ofereci um pequeno lanche para ele. Ele comeu, agradeceu, e foi embora, sem me contar para onde iria! Apenas o vi seguindo pelo caminho para o portão leste, logo o que você estava usando!
Kira olhou para o chão, pensando.
—Ele não disse nada?
—Quase não prenunciou nenhuma palavra. Trocou poucas frases comigo, e ignorou quase todas as perguntas que fiz, principalmente sobre a ferida.
—As vestes dele?
—Eram como as suas! Roupas de treinamentos feitas de material caro. – descreveu ela. – Bem, isso é tudo o que sei!
Kira se levantou da sua cadeira, enquanto sua mente tentava encontrar respostas sobre a fuga de Jackie.
—Obrigada senhora!
—Não há de quê, minha jovem! Apenas senti que deveria lhes contar. – disse ela, em um tom simpático, expondo um sorrisinho. – Não quer comer algo?
—Não senhora! Tenho que achar o meu irmão o mais rápido possível.
—Uma maçã, pelo menos!
Kira pensou um pouco, mas vendo que iria precisar mais de energia do que tempo, disse:
—Uma maçã apenas!
A mulher foi até a porta atrás do balcão e depois voltou com três maçãs extremamente vermelhas na mão.
—Uma para comer agora, as outras para a viagem! – ela sorriu. Kira aceitou, puxando as frutas e as jogando em sua aljava, que estava pendurada em suas costas. Depois, colocou o bastão na fivela, o que foi difícil fazer sem ver onde ela estava. Não estava totalmente apertada, mas podia segurar o bastão por algum tempo.
Kira andou até a porta de madeira do restaurante. Parando, ela virou para trás e voltou a focar o rosto da senhora.
—Obrigada novamente. Sua ajuda é muito importante!
—Não tem problema! – disse ela. – è ótimo ajudar as pessoas. Boa sorte para encontrar o seu amigo.
—Ele é meu irmão, na verdade, mas tudo bem! – respondeu a jovem com um sorriso.
—Ah, me desculpe! – ela soltou uma risada. – Mas ainda assim, sei que você vai achar o seu irmão!
—Obrigada!
Kira tocou a maçaneta e puxou a porta. Deu logo de cara com a rua, que já estava bem movimentada.
Então, ela seguiu naquela mesma direção em que estava alguns minutos antes. E ela tinha que cumprir o seu objetivo. Ela tinha que encontrar Jackie.
***
A flecha deslizou pelo ar e se encravou bem no meio do alvo, pintado com um circulo vermelho. Palmas puderam ser escutadas, enquanto Dylan, com um sorriso satisfeito no rosto, foi até o seu mestre e entregou o arco.
O mestre, importante cavaleiro do reino chamado Horuan, um tanto quanto orgulhoso do príncipe, direcionou a sua visão para a turma. Procurou alguém que pudesse atirar a outra flecha. Não demorou muito até escolher um.
—Você – disse o mestre, apontando para um jovem - venha testar as suas habilidades!
Um jovem veio andando lentamente até ele, abrindo espaço entre a turma com os braços. Ele andava com a cabeça baixa, envergonhado. Suas bochechas coradas mostravam o quanto desejava não ter sido chamado por Horuan. Esticando o braço esquerdo, pegou a arma da mão do mestre, que tirou uma flecha de dentro da aljava e deu para o aluno.
O jovem foi andando até a reta do alvo, que se encontrava quarenta metros a sua frente. Ele balançou a cabeça no objetivo de afastar dos olhos os longos cabelos que lhe batiam no ombro. Ele colocou a flecha no arco e mirou o alvo. Soltou o ar dos pulmões enquanto sentia o peso de vários olhares sobre ele. Ele fechou os olhos e se preparou para largar a flecha. E então, afastando os dedos, deixou que a flecha deslizasse pelo ar, não conseguindo alcançar o alvo e caindo bem na grama esverdeada do campo de treinamento.
Ele abaixou o arco, decepcionado. O som de risadas vinha da turma. O jovem, envergonhado, foi até Horuan e lhe entregou o arco com a flecha. Depois, entrou novamente no meio do grupo de alunos e foi bem para o fundo.
À sua frente, ele pôde escutar algumas pessoas falando dele, entre elas, Edward, um dos meninos mais chatos do grupo.
—Ele é péssimo! Nem dá para acreditar que ainda há filhos de lordes assim. – alguns dos amigos de Edward concordaram com a cabeça, rindo dele.
—Silêncio! – gritou o mestre. Ele novamente deslizou o seu olhar pela turma de alunos e logo encontrou outra pessoa para atirar a flecha. – Molly, venha tentar!
A jovem, filha de Lorde Lafter, mexeu a cabeça negativamente.
—Me desculpe, mestre Horuan! Eu não estou me sentindo muito bem hoje. – ela disse.
—Vamos lá, Molly! Tente!
A jovem hesitou um pouco, mas foi convencida pelo mestre. Andou até ele e pegou a aljava de sua mão. Andou até a reta do alvo e se preparou para largar a flecha. Seus cabelos castanhos balançaram quando um vento percorreu o local. Então ela soltou a flecha, que deslizou pelo ar e alcançou o alvo, mas a quinta linha. Decepcionada com o resultado, voltou até Horuan e lhe entregou o arco, mas, em vez de voltar para a turma, ele seguiu até uma arvore distante.
Dylan, o príncipe, saiu do grupo e seguiu-a. Quando chegou perto dela, tocou o seu ombro.
—O que foi, Molly?
—Eu...eu não consigo esquecer a cena do meu pai morto! Ele, envolto naquela poça de sangue avermelhado, atingido por aquela flecha! – ela disse, com voz chorosa. Lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. – Eu não consigo mais me concentrar em nada!
—Calma! – disse o príncipe. – Meu pai também foi morto. Eu sei como é difícil, mas vai passar, basta ser forte!
—Molly! – disse outra voz. Quando Dylan olhou para trás, se deparou com Edward, que era o melhor amigo de Molly. –Está tudo bem?
A jovem apenas se entregou mais ainda as lágrimas.
—Vou deixa-los sozinhos! – disse Dylan. Ele voltou para o grupo, deixando os amigos. Os dois puderam ouvir ele falando que o professor poderia continuar a sua aula.
Edward abraçou a amiga. Isso a fez se entregar mais ainda as lágrimas.
—Eu não consigo Ed! Tudo o que eu faço me faz relembrar o meu pai! – a menina deixou mais lágrimas saírem.
—Calma! Vai passar, calma! – ele disse, enquanto acariciava os cabelos castanhos da amiga.
Depois de um tempo assim, ele disse:
—Olha, e se amanhã nós fizermos um passeio? Só você e eu? Um passeio de amigos! O que acha?
—Edward, eu não sei...
—Então está marcado! Nós faremos este passeio amanhã à tarde. Agora, vamos voltar para o grupo!
A menina assentiu, seguindo-o calmamente até a turma.
Quando entrou no grupo, um dos amigos de Edward perguntou para ele:
—O que você fez para a convencer a voltar?
—Simplesmente a convidei para um passeio à tarde!
—E ela aceitou? É bom tomar cuidado, pois há um assassino à solta por ai! – disse alguém atrás dele. Edward se virou e se assustou ao ver quem dissera aquilo: era o jovem que havia errado o alvo minutos antes. Os seus cabelos negros e compridos, que batiam em seu ombro, fazia um bom contraste com seus olhos castanhos claros e sua pele branca.
—Ninguém te deu autorização para entrar na conversa, estranho. Eu nem te conheço! – exclamou Edward, ignorante.
—É bom que não me conheça mesmo! – disse ele.
—Ora seu...
—Algum problema ai atrás? – perguntou mestre Horuan.
—Não! – respondeu Edward, virando-se para frente e esperando a próxima escolha do mestre.
—Ótimo!
Envergonhado, o jovem se encolheu, enquanto Horuan escolhia mais uma pessoa para atirar a flecha.
***
Jamesie, Antony e Roff se prostraram diante da rainha. A soberana, que usava uma coroa brilhante na cabeça, se assentou em seu trono confortável. Naquele horário, a sala do trono era iluminada pela luz do sol, então tudo estava claro.
—Vocês fizeram o que eu ordenei? –indagou a rainha.
—É claro, senhora! Investigamos as mortes. – respondeu Jamesie por todos.
—E o que descobriram?
—Descobrimos que Lorde Lafter e o bibliotecário Suber tinham uma questão inacabada com uma pessoa!
—Quem? – indagou ela, curiosa.
—Lorde Mut. Dankgan, o lorde mutante governador da Província Mutante! – respondeu Antony, fazendo questão de destacar com um tom de voz mais alto a palavra “Mut.”, ao qual todos os lordes mutantes tinham que receber. – Ao que nos parece, Lorde Lafter e sua mulher tinham a responsabilidade de tomar conta do filho de Lorde Mut. Dankgan enquanto ele estivesse aqui na capital, e Suber, seu amigo, os ajudava. Isso devido a um trato que eles fizeram de que Lorde Lafter ganharia uma quantia boa em barras de prata e ouro se tomasse conta do jovem, por que Lorde Mut. Dankgan quase nunca sai da capital da Província Mutante. Mas o jovem desapareceu no ataque dos encapuzados ao castelo, dezessete anos atrás, quando o respeitado rei Ricard II foi morto, e ninguém nunca mais viu ele. O Lorde Mut. Dankgan os culpa até hoje.
A rainha se levantou do seu trono, pondo-se de pé. Ficou pensativa, permanecendo naquela posição por alguns segundos. Aquilo queria dizer que Lorde Mut. Dankgan era suspeito de assassinato.
—Mas espere! Por que ele mataria Lorde Haland também? – indagou a rainha.
—Lorde Haland também se dispôs a tomar conta do garoto, se recebesse a mesma quantia que Lorde Lafter. Então, o jovem ficava hospedado alguns dias no castelo de Lorde Haland, e outros no castelo de Lorde Lafter! – concluiu Antony.
A rainha parou e começou a pensar. Depois disse:
—Se preparem, pois quero que vocês viajem amanhã para a capital da Província Mutante e investiguem ele, pois ele é suspeito!
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