MUTANTES & PODEROSOS I - O Segredo dos Poderosos escrita por André Drago B


Capítulo 22
Capítulo 21 - Novos Planos


Notas iniciais do capítulo

Se gostarem, comentem! Depois eu posto o outro.



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                                                          CAPÍTULO 21

                                                      NOVOS PLANOS

 Os quatro jovens caminhavam em silêncio. Isaac, segurando a tocha que iluminava o caminho com a sua cor amarelada, ia à frente, enquanto Taya ia ao seu lado. Ela era quem segurava o mapa fechado em suas mãos agora. Em cima do cavalo estavam Luke e Jessie. A mutante raposa mantinha as suas orelhas altas, escutando com os seus ouvidos apurados, cada pequeno som, estivesse ele longe ou perto. Luke deixava que suas asas ficassem a vontade em suas costas.

 Caminharam algumas horas, enquanto o muro de pedra da cidade ficava para trás. A frente deles, um campo enorme era ocupado apenas pela grama esverdeada que enchia o local. Ao longe, montanhas ocultadas pela escuridão da noite se acumulavam no horizonte. Se seguissem por alguns quilômetros, logo chegariam à floresta que separava as províncias de In-Hurelen e Preswenty, uma província de tamanho médio.

  O silêncio pairava no ar enquanto o ar frio da noite tomava conta de tudo. A grama balançou quando um vento passou por ali, fazendo com que os cabelos loiros de Taya balançassem, tal como com os cabelos ruivos de Jessie.

  Andaram por aquele campo por quase duas horas até que puderam ver algumas árvores da floresta logo a sua frente.  Uma coruja piou e o som fez Jessie balançar as suas orelhas.  O alto pinheiro a frente deles estava acompanhado por muitos outros que compunham a floresta. Eles puderam ver que a floresta estava logo embaixo de uma alta montanha, que ocultava o fraco brilho da lua com o seu pico. À medida que as árvores foram os cercando, a escuridão também se intensificou. Iluminados pela chama da tocha, podiam ver o chão ainda coberto de grama esverdeada. Andaram até chegar à um pequeno espaço entre as árvores, uma clareira pequenina.

—Acho melhor acamparmos aqui! – disse Isaac. –Temos espaço e...

—Não! Nós temos que seguir um pouco mais à frente. – interrompeu Jessie. –Ouço barulho de água, provavelmente um córrego.

 Isaac concordou com a cabeça, e eles seguiram um pouco até chegar, uns duzentos metros à frente, a um pequeno córrego, que vinha de uma cachoeira, originada na montanha.

—Bem, ela estava certa! – afirmou Luke com um sorriso no rosto.

—Minha audição é apurada, como a de uma raposa. – explicou a jovem.

—Então vamos acampar aqui esta noite. – disse Isaac. – Taya, procure alguns gravetos aqui por perto para montarmos a fogueira. Pedras também são úteis.

  Taya obedeceu. Isaac deu-lhe a tocha e ela começou a procurar.

  Luke desceu de Ajudante, pondo-se de pé. Isaac pegou algumas bagagens penduradas no cavalo e começou a leva-las para perto de uma arvore, bem ao lado do córrego, que devia ter pouco mais de um metro, tanto de largura quanto em profundidade.

  Mesmo escuro, eles podiam ver silhuetas, o que lhes ajudavam a identificar as coisas com dificuldade.  Luke virou-se para Jessie, que ainda estava montada no cavalo e disse:

—Quer ajuda?

—De que outra forma eu vou conseguir descer do animal se nem consigo andar?

—Coloque a sua mão em meu pescoço. Isso! – disse ele.

    Com o seu braço direito, ele segurou a cintura da jovem, e com o esquerdo, as suas pernas, atrofiadas pelo tempo sem andar. Ele puxou-a para fora do cavalo, ainda em seus braços. O frio fez a Mutante se encolher no colo do jovem, que a carregou para perto de uma árvore. Ele desceu-a e a colocou no chão, logo debaixo de uma arvore, onde ela pôde apoiar as suas costas.

—Se precisar de alguma coisa é só chamar! –disse o jovem, colocando-se de pé.

—Obrigada! – agradeceu a jovem, com uma mistura de seriedade e tristeza no semblante. Ele sorriu para ela.

 Depois, Luke seguiu até onde estava Taya. Ele se agachou ao seu lado e começou a pegar alguns gravetos, ajudando-a.

—Não! Deixe que eu pegue os gravetos. As pedras são mais pesadas. Você poderia me ajudar com elas?

—Claro! – respondeu ele. O jovem reparou que ela estava com um tom de voz diferente do normal, mais triste, mas ele ignorou.

    Ele já estava acostumado a carregar peso e ajudar o seu pai a construir coisas. Seu porte musculoso o ajudava ainda mais a catar pedras, apesar das feridas causadas pelo tigre mutante.

—Você acha que podemos confiar nela? – disse Taya, direcionando o seu olhar para Jessie.

  Luke olhou para trás e reparou que a jovem estava observando-os. Não demorou a responder.

—Sim, eu confio nela! – disse ele, ocultando um pequeno sorriso.

  Ele começou a recolher as pedras acinzentadas que se acumulavam na margem do córrego, levando-as para o centro do pequeno espaço que haviam escolhido para acampar. Ele formou um circulo de pedras e retirou a grama que havia no centro deste pequeno círculo, onde se acenderia a fogueira.

  Olhando para o lado, ele viu Jessie, que ainda o observava com seus olhos azulados. Ela o acompanhava trabalhar. Ele reparou que ela queria algo, mas não dizia o quê. E nem precisou. Ele se levantou e foi até a árvore que abrigava as bolsas. Puxando uma das bolsas, ele abriu-a e retirou de dentro uma simples pera esverdeada.

—Tome! Deve estar com fome.

 Ela balançou a cabeça afirmativamente.

—Vocês tem uma bolsa cheia de comida?

—Foi a mãe da Taya que preparou-a. Nesses dias que passamos na casa de Inimigo, nem precisamos abri-la. Tínhamos comida à vontade! – ele disse, sorrindo.

 Ela deu uma mordida na fruta, sentindo o sabor doce dela. Chegou a fechar os olhos, enquanto o prazeroso sabor inundava a sua boca. Luke riu disso e falou:

—Fazia tempo que você não comia uma fruta!

—Muito tempo! – concordou ela, com a boca cheia. Depois que engoliu o pedaço, percebeu a falta de educação. – Me desculpe!

—Não tem problema! – ele sorriu novamente. – Para alguém que passou tanto tempo comendo tão pouca comida, você foi educada demais. No seu lugar, acho que roeria essa fruta de uma só vez!

  Ela soltou um sorriso por entre os lábios. Depois, deu mais uma mordida.

  Atrás de Luke, Taya jogou todos os gravetos recolhidos no chão, bem no centro do circulo de pedras. Foi um alivio para ela. Ter que segurar vários gravetos e mais uma tocha na mão não foi fácil. Quando todos os gravetos já estavam arrumados dentro do círculo, ela tocou o amontoado de gravetos com a tocha e viu as chamas se suspenderem, iluminando-os. Ela colocou a tocha perto da fogueira, encravando-a no chão.

  Jessie pareceu se sentir melhor com o calor das chamas. Ela admirou o fogo crepitante a sua frente. O calor lhe acalmou um pouco, enquanto ela dava mais uma mordida na fruta saborosa.

  Luke se sentou ao lado da Mutante Raposa, que ainda mordiscava a fruta com suas enormes presas.

—Então Jessie...vejo que você tem presas enormes.

—Como as de uma raposa!

—E você tem família?

  A jovem parou de roer a fruta. Seus olhos encontraram a grama iluminada pela chama amarela. Ela ficou parada naquela posição, paralisada por alguns segundos. A tristeza lhe tomou quando ouviu o que Luke disse. Lágrimas vieram-lhe aos olhos, marejando-os. Ela tentou não chorar, mas não conseguiu. Sentiu uma pequena lágrima sair dos seus olhos, que ela limpou ligeiramente com as costas de sua mão.

   Luke pareceu perceber a tristeza da menina e sentiu que não deveria ter feito aquela pergunta. Não ainda. Então disse:

—Me desculpe! 

   Jessie mexeu a cabeça positivamente, aceitando as desculpas. Com dificuldade, disse:

—Eu...eu não quero falar sobre isso!

—Entendo. –respondeu ele.

    Isaac ajeitou o seu cabelo desgrenhado. Depois, foi até a fogueira, admirando-a.

—Estou com fome! O que há nessa bolsa?

—Tem algumas frutas. Você quer uma? – perguntou Luke.

—Claro! – respondeu. Luke retirou uma maçã da bolsa e jogou-a para Isaac, que a pegou e logo deu-lhe uma mordida.

  Taya andou até eles, e se deitou ao lado da fogueira. Aparentava estar triste com algo.

—Tudo bem Taya? – indagou Isaac.

—Sim! – respondeu ela.

—Quer alguma fruta, algo para comer? – indagou Luke.

—Não! – respondeu com mais uma palavra monossilábica.

—Tem certeza que está bem? – voltou a indagar Luke.

—Já disse que estou bem! – respondeu impaciente.

—Tudo bem! Calma!

  Seus olhos se fecharam enquanto ela buscou o sono. Não demorou muito para dormir.

  Aos poucos, Isaac também foi se ajeitando em volta da fogueira. Luke carregou Jessie para um pouco mais perto da chama, virando suas costas para o fogo e deixando o seu rosto ficasse protegido pela própria sombra, como os outros fizeram. E ele se deitou por último.

  O silêncio foi tomando conta do local, enquanto todos dormiam. Quase todos. Jessie ainda não havia dormido. Com lágrimas nos olhos, ela fechou-os e as sentiu escorrer pelo seu rosto e formar uma trilha molhada pelas suas bochechas até caírem no chão, em meio a grama. A tristeza ainda a tomava, e com os seus lábios, pronunciou palavras inaudíveis:

—Eu irei te encontrar e não te deixarei morrer! Eu prometo!

 

 O sol atravessou a copa das árvores atingindo o solo e esquentando o rosto de Jessie. Ela abriu os seus olhos quando a sensação de calor percorreu por seu corpo. Inspirando o ar fresco da manhã, se apoiou em seus cotovelos.

  Ela percorreu a sua visão para a calma floresta a sua volta. A alta montanha se erguia acima deles. Ao seu lado, a fogueira apagada deixava cinzas  como prova de que algumas horas antes havia fogo ali.

  Os outros três ainda dormiam a sua volta. Ela se assustou com um barulho vindo da árvore onde estavam as bolsas. Um pequeno esquilo mexia nas coisas tentando pegar a comida dentro da bolsa. Ela olhou para o animal e soltou um baixo rosnado. O pequeno animal balançou a sua calda peluda e subiu correndo a árvore, com medo.

  Apurando os seus ouvidos, ela fechou os olhos e ouviu os milhares de barulhos e ruídos que rondavam a floresta. Animais acordavam, o córrego fluía, as árvores balançavam, o vento corria pelo local... vários sons, vários barulhos.

  Atrás dela, Luke abriu os olhos lentamente, ainda tomado pelo sono. Direcionou-os para o rosto da jovem, que ao vê-la ali, soltou um pequeno sorriso.

—Bom dia! – sussurrou ela.

—Bom dia! – respondeu ele.

—Acho que acordei primeiro que todo mundo. – ela disse, sorrindo. Ele respondeu com um outro sorriso.

—Bom! Somos preguiçosos. Se acostume! – disse Luke. Ela riu.

  Isaac acordou logo atrás deles. Ele se pôs sentado.

—Bom dia para os dois!

—Bom dia! – responderam os dois em uníssono.

 Isaac pôs-se de pé e se espreguiçou. Luke se sentou. Acima dele, Taya ainda dormia. Ele olhou para ela por alguns segundo. Depois, levantando-se, foi até a jovem, e abaixando-se, tocou o seu braço levemente, fazendo-a abrir os olhos.

—Bom dia!

—Bom dia! – respondeu ela, secamente.

—Está tudo bem com você, Taya?  - ela respondeu, mexendo a cabeça positivamente.

 Luke se espreguiçou, como fez o seu amigo, enquanto Issac colocava algumas bagagens em Ajudante. De repente, ele veio com o mapa na mão.

—Gente, ainda não decidimos para onde iremos!

—Ótimo! Vamos decidir agora! – disse Taya, com um tom de voz ignorante.

   Isaac abaixou-se e colocou o mapa no chão, à frente de Jessie. Taya se levantou e andou até ele, enquanto os outros também se acumulavam em volta.

—Estamos aqui! – disse Taya, apontando para um desenho que representava uma floresta. – Acho que a melhor coisa é ir para Derwisty!

—Não! – interrompeu Jessie. – A melhor opção é irmos para Utynher. É o ultimo lugar que eles esperarão nos encontrar por ser mais perto da capital.

—Mas para isso nós teremos que ter muito cuidado! O número de soldados lá é bem maior. – observou Luke.

—Não vale a pena nos arriscarmos a irmos a um lugar cheio de guardas para fugir de apenas dois homens. É fugir de um grande perigo indo de encontro a um maior ainda! – disse Taya, discordando.

 Eles pensaram um pouco.

—E se nós formos para Reliar? – indagou Jessie.

—Ainda perto do norte! – disse Taya.

—Mas não tanto quanto Utynher. Não está tão perto da capital e os dois dificilmente pensariam que nós iriamos para lá!

—Concordo com Jessie! – disse Luke, enquanto a Mutante Raposa tentava esconder um sorrisinho.

—Exatamente! Essa cidade fica nos campos, que se encontram atrás dessa serra. Então, acho que é melhor irmos para lá. – disse Isaac.

  Taya expirou o ar dos pulmões em decepção, revirando os olhos. Ela ainda não estava de acordo, mas disse com raiva:

—Tudo bem, vamos para lá!

  Eles se levantaram. Isaac terminou de colocar as bagagens no animal, preparando a sela para Luke se sentar. Também estendeu o pano preto para Jessie.

  O Mutante chegou perto dela e se ajoelhou. Assim como fizeram para ela descer do cavalo, Jessie novamente colocou o seu braço esquerdo em volta do ombro dele, que segurando as pernas dela e também a sua cintura, puxou, levantando-a do chão. Ela não era muito pesada, e era fácil para Luke carrega-la, pois ele era forte e musculoso, ao contrario de Isaac.

  O jovem levou a Mutante Raposa para cima do cavalo, pondo-a em cima da sela.

—Deixe que desta vez eu sento atrás, no pano preto! – disse ele, deixando-a se acomodar na sela acolchoada. – O pano deve ser muito desconfortável, principalmente para você, que não pode andar.

—Obrigada! – agradeceu a jovem, realmente grata. Ela sentiu-se mais alegre, expressando o sentimento com um pequeno sorriso que marcava os seus lábios.

  Taya foi até o pequeno córrego e se abaixou ao lado de Isaac, que lavava as suas mãos.

—Teremos que atravessar este córrego gelado! – disse Taya, mais afirmando que perguntando.

—Sim, mas ele tem menos de um metro! – Isaac falou, nem se incomodando com o fato do córrego realmente estar frio.

  Taya tocou a água gelada com as suas mãos, cheias de escamas verdes. O frio fez seus pelos se eriçarem, enquanto uma sensação gelada percorreu por todo o seu corpo. Ao seu lado, Isaac fez o mesmo, limpando a sujeira de suas mãos.

  De repente, ele fechou seus olhos e viu uma coisa. “Árvores estavam sem folhas, e o chão, coberto de neve. O ar frio inundava tudo. Novamente o vulto veio correndo em direção dele, enquanto a sensação de frio percorreu por todo o seu corpo. Ele correu e se escondeu atrás de uma árvore, enquanto mãos o puxavam para trás, mas não havia ninguém ali. Ninguém além dele e do vulto.

 A pessoa que corria até ele era uma mulher. Ele pôde ver pelo formato do seu corpo e também pelos suspiros cansados dela, que expressavam ser de mulher. Quando ela passou a sua frente, ele novamente saiu correndo atrás dela.

—Isaac! – ele ouvia gritos, mas não sabia de quem vinham.

  Ele pôde ouvir o som dos passos do homem vindo atrás dele. Agora ele sabia que o perseguido era uma mulher. Mas por que aquele homem matava aquela mulher?

  Ele começou a correr ainda mais rápido atrás dela, mas nunca conseguia chegar nela. De repente, uma raio voou em sua direção, atingindo-a . O homem havia a matado novamente, explodindo-a com um raio que saía de sua mão. A mulher morreu de novo.

—Não! – gritou ele.

—Isaac! Isaac! – novamente vieram gritos, e mãos o balançando, mas ele não sabia de quem eram.

 De repente, ele abriu os olhos. Estava encharcado, enquanto uma sensação de frio percorria todo o seu corpo. Ele respirava ofegantemente, e acima dele, ele pôde ver Taya e Luke, que lhe olhavam com olhos assustados, como se estivessem com medo de algo.

—O que aconteceu?

—Aconteceu que você desmaiou, Isaac! – explicou Luke. – Desmaiado, caiu dentro do córrego. Se não tivéssemos puxado você, já estaria morto!

  “Por isso a sensação de frio e de mãos me puxando”, pensou ele.

—Começamos a gritar pelo seu nome, Isaac. O que aconteceu com você?

  Ele direcionou a sua visão para a grama esverdeada embaixo dele, pensando na visão. Não era apenas nos sonhos. Agora aquela mesma visão fizera-o desmaiar. Por quê?

—Vamos logo! – disse ele, tentando mudar de assunto. – Temos que chegar a Reliar.


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Notas finais do capítulo

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