Stranger Things 3: Rising Darkness escrita por Liv


Capítulo 2
Capítulo 1: Novos Começos


Notas iniciais do capítulo

Esse primeiro capítulo é para situar como alguns personagens estão indo um ano após o término da segunda temporada e, é claro, com uma surpresinha extra no final.
Espero que gostem e boa leitura!!!



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HAWKINS, INDIANA

1985

—–— Cadernos?

—–— Aqui.

—–— Livros?

—–— Aqui.

—–— Estojo?

—–— Aqui.

—–— Com os lápis todos?

—–— Sim. Tudo aqui.

—–— E o lan...

—–— Aqui.

O homem baixou o papel que estava em frente aos olhos, encarando a pessoa menor que si com uma faceta desconfiada. Colocou ambas as mãos na cintura, apontando o dedo indicador em sua direção.

—–— Você nem está checando! Reclamou, ranzinza. Ele sempre era ranzinza, mas às manhãs era pior.

—–— Porque já conferimos tudo. A garota explicou, com paciência após um sutil rolar dos olhos castanhos. —–— Seis vezes em apenas três dias. Sua resposta gerou uma expressão ainda mais irritada, com o rosto se deformando em uma careta não satisfeita.

—–— Algo me diz que você vai ser irritantemente boa em matemática. Murmurou, mas não tão irritado quanto seu rosto deixava a desejar, principalmente após soltar um riso nasal em frustração, desistindo de argumentar com a criança. —–— Tudo bem, vamos andando então. Já estava perto o suficiente da porta para poder apenas esticar o braço e alcançar a maçaneta, porém, ao puxá-la, a mesma sequer abriu. Sabia que não estava trancada. O homem soltou um suspiro, virando-se para trás para encarar a menina. —–— O que foi agora?

—–— Temos um combinado. Ainda que ele soubesse que ela agora tinha ciência de grande parte das palavras, a pirralha continuava falando pouco, o que era menos irritante que a maioria das crianças tagarelas. Contudo, também era irritante porque ele era um maldito velho e não tinha uma lembrança tão boa assim, ou seja, tinha de ficar raciocinando em plena matina para entender onde ela queria chegar. Por sorte, ela quis poupar seu cérebro de ter uma dor de cabeça, esclarecendo o assunto. —–— Vou com meus amigos. Nós combinamos que eu iria.

—–— Não quer que eu te leve para a escola, garota? Ele comentou, exagerando no drama com uma expressão horrorizada. —–— E eu pensando que sua fase de vergonha dos pais só viria daqui uns anos. Ainda era um pouco estranho se referir como ‘pai’, mas não um estranho ruim, apenas diferente. Não podia negar também que estava sendo uma experiência boa, muito boa. Claro que irritante e desgastante também, visto que a criaturinha tinha a personalidade de um dragão, assim como ele, porém, não havia nada que mudaria na relação que possuía com ela. Nada. Com sutileza, os lábios se curvaram para cima em um sorriso torto digno dele. —–— Malditos pré-adolescentes!

A discussão basicamente ganhou fim quando ouviram um bando de buzinas chatas do lado de fora. Os dois foram até a janela, encarando o grupinho de pivetes ansiosos para o primeiro dia de aula de seu último ano antes do High School. Se começassem a pensar que eram adultos e independentes faria questão de dar-lhes um bom tapa para aprenderem uma lição decente. Os olhos analisadores pararam numa criança em especial, de pele absurdamente clara, cabelos negros e olhos quase tão escuros quanto. Definitivamente a discussão estava findada. Não havia muito o que argumentar quando Michael Wheeler era o assunto em pauta. Virou-se para os olhos castanhos ao seu lado, que o encaravam com expectativa. Ainda que tentasse bancar o durão, sempre acabava falhando em algum momento. Tomou a garota nos braços por alguns segundos, beijando o topo de sua cabeça antes de bagunçar os cabelos castanhos da mesma.

—–— Não faça nada que eu não faria... Iniciou a frase que falara na cabeça dela durante todos os meses do ano que se findara, gerando uma risadinha da menor, que assentiu, ajeitando a mochila nas costas e andando até a porta.

—–— E nada que você faria também. Completou, com um aceno antes de deixar a casa.

***

Nunca vira tanta gente junta na vida, principalmente de sua idade. No baile de inverno não notara muito as pessoas por conta do local ser grande, todavia, tendo apenas um corredor, ainda que extenso, era impossível andar sem esbarrar em alguém. Ou talvez fosse ela quem estivesse mal acostumada, seus amigos pareciam sequer notar. Os olhos se arregalaram quando Mike apareceu em sua frente, segurando seus ombros.

—–— El! A voz dele a retirou de seus devaneios, fazendo-a sacudir a cabeça e olhar em volta.

—–— O que? Questionou, um pouco confusa. Não que houvesse comentado com qualquer pessoa, mas ultimamente, quando se fechava em seus pensamentos, parecia realmente se desligar do mundo ao redor. Como se ficasse presa em sua própria cabeça. Talvez fosse apenas o fato de que tudo estivesse mudando. Não havia nada errado realmente. Nada que devesse incomodar Mike ou Hopper a respeito.

—–— Você está bem?

—–— Estou. Assentiu, com um sorriso sem mostrar os dentes. —–— Só é... muita gente.

—–— Não se preocupa, não. Disse Dustin, com um sorriso largo. Ela pensava que ele já sorria antes, mas agora que possuía todos os dentes parecia que aquela era a única expressão de seu rosto o tempo todo. —–— Você se acostuma com a manada.

—–— Manada? Eleven ecoou.

—–— É. Sabe, aquele grupo gigante de bichos barulhentos. Tipo elefantes! O súbito ânimo dele sobre o assunto em questão a deixou completamente confusa e perdida. Do que ele estava falando, afinal?

—–— Tem elefantes aqui? E os olhos da garota se arregalaram ainda mais, começando a olhar em volta com mais atenção. Mike, para variar, rolou os olhos enquanto Lucas soltava uma risada.

—–— Não. É uma comparação. A Middle School é como uma manada, cheia e agitada. Entendeu?

—–— Mas seria bem legal se tivessem elefantes aqui... O Sinclair murmurou, pensativo.

—–— Que diabos isso tem a ver com o assunto? Dustin reclamou, virando-se para o amigo.

—–— Você citou os elefantes, seu imbecil! O grito de Lucas certamente chamou a atenção dos outros alunos no corredor, mas nada que ele ou Dustin houvessem notado, já que pareciam ocupado demais discutindo.

—–— Foi um exemplo, Lucas! Um maldito exemplo! Se não fosse Mike a entrar no meio dos dois, El podia jurar que eles começariam a se atacar ali mesmo.

—–— Calem a boca! Esbravejou, com os braços erguidos para impedir que os amigos se aproximassem mais. —–— Primeiro dia da El, lembram? — Dustin e Lucas logo viraram o rosto para ela, que não planejava ser usada como argumento, principalmente pelo claro desconforto que se instalou ali. —–— Foco!

—–— Foi mal, El. Dustin murmurou, com os ombros escolhidos e um sorrisinho torto.

—–— É, foi mal. Ecoou Lucas.

—–— Se vocês não brigassem não seriam vocês. Tentou amenizar a situação, soltando uma risada com o que acabara de ver. Os amigos haviam prometido dar a ela o melhor primeiro dia de aula possível e isso era bastante reconfortante visto que ela jamais estudara em uma escola na vida. Estava apavorada!

—–— Viu, só? Ela tá com a gente. Disse Dustin, com um sorrisinho exibido para Mike, que gerou uma careta no Wheeler.

—–— Ela tá com a gente... Mike ecoou, distorcendo a voz numa imitação horrenda do amigo. O Henderson estava prestes a atacar o outro quando foi impedido.

—–— Oi, pessoal! Os quatro se viraram ao ouvirem as vozes em uníssono, encarando Will e Max. Por morarem perto, haviam vezes que Joyce Byers levava a ruiva para a escola junto ao meio irmão. Nos últimos meses tais coisas eram mais frequentes visto que o carro de Billy havia quebrado num acidente. Sendo assim, enquanto estava no concerto, Joyce se oferecera para ajudar. Não que Billy estivesse nem um pouco feliz com o fato.

Lucas sequer demorou para se posicionar ao lado de Max no segundo seguinte, sorrindo para a mesma. Sem ao menos notar, El acabou sorrindo também com a cena. Demorara certo tempo para entender que Maxine não era exatamente uma ameaça para o que tinha com Mike. Fora criada entre adultos por quase toda a vida e quando começara a conviver com pessoas da sua idade, eram apenas garotos. Max era algo novo, diferente, e El não costumava aceitar bem o diferente. Fosse por medo ou insegurança do mesmo. Todavia, Max gostava de Lucas e Lucas claramente gostava de Max. As duas ainda não eram bem amigas, mas tampouco tinham uma relação ruim ou complicada, apenas um pouco distante.

—–— Oi, El. A ruiva cumprimentou, um pouco receosa, como sempre ficava quando conversavam. Eleven realmente se sentia mal pelo jeito que a tratara antes, principalmente após Mike ter ensinado pela primeira vez a palavra ‘rude’. O problema era, El não sabia bem como compensá-la pelo ocorrido.

—–— Oi, Max. Cumprimentou-a de volta. Abriu a boca para falar algo, mas acabou sendo interrompida.

—–— Ei, ei, vamos logo que não quero me atrasar. Dustin disse, com animação notável na voz.

—–— Está querendo chegar cedo na aula, Dustin? Will pareceu perplexo.

—–— Ficou doente? Mike questionou.

—–— Não! Só que tenho uma coisa nova para mostrar ao sr. Clarke. Vamos logo, suas lesmas! Apressou, já andando pelo corredor.

—–— É, você entende muito de lesmas, não? Provocou Lucas, gerando uma gargalhada nos amigos em volta enquanto os cinco andavam ao encontro de um Dustin apressado.

***

Já fazia quase um ano, mas ainda era estranho andar de mãos dadas com Jonathan Byers pelos corredores. Não que fosse ruim. Não era! Apenas estranho, mas um tipo muito bom de estranho. Nem mesmo os olhares tortos a incomodavam, não mais. Nancy tentara por muito tempo ser quem não era e agir de formas incomuns para si, porém, o Byers, de alguma forma, a fez ver quem ela realmente era e, acima de tudo, entender que não havia nada de errado naquilo. Claro que ver Steve nos corredores ainda era desconfortável, mas o Harrington parecia de fato estar com o intuito de respeitar a relação dos dois e ela sentia-se imensamente grata por aquilo.

—–— Ei, Nance...? A Wheeler virou a cabeça para o namorado. ‘Namorado’, outra palavra estranha para se referir a ele. —–— Preciso ir na biblioteca pegar alguns livros para o...

—–— Tudo bem! Vou falar com a Lexi enquanto isso e nos vemos na aula, pode ser? Considerou a opção assim que viu a garota mexendo no próprio armário.

—–— Claro. Jonathan acompanhou o olhar da mais baixa, dando um sorriso discreto. —–— Nos vemos depois. O ligeiro selar dos lábios separou os dois e Nancy logo caminhou até a garota que citara segundos antes.

Alexandra Zehn havia se juntado à escola poucos meses antes quando se mudara para Hawkins. Lexi era prima de Dustin e o próprio havia pedido que ela ajudasse a garota a se enturmar no Ensino Médio e fora exatamente o que fizera. Contudo, para a sua surpresa, Lexi havia se tornado sua amiga, provavelmente por ser a única que não falasse mal de si pelas costas ou a julgasse a respeito de seu passado. Após Barb Nancy pensou que jamais arrumaria outra amizade de novo, por medo de ser novamente uma idiota irresponsável que deixou a amiga de lado. Mas com Lexi viu a oportunidade de ser melhor, de uma segunda chance.

—–— Hey, Lex. Cumprimentou-a, apoiando o ombro no armário anterior. O rosto alheio surgiu detrás da porta aberta, com os olhos caramelados a encarando, curiosos. Vez ou outra era assustador como ela parecia capaz de enxergar a alma das pessoas.

—–— Oi, Nance. A garota sorriu, retirando dois cadernos do armário e ajeitando a bolsa pendurada num dos ombros.

—–— O que vai fazer mais tarde? Pensei que podíamos assistir algum filme. Estreou faz uns meses um tal de Breakfast alguma coisa e Jo...

—–— The Breakfast Club. A morena corrigiu.

—–— Isso! Esse mesmo. Jonathan conseguiu e estamos querendo assistir. Apesar da empolgação em sua voz, Lexi não pareceu compartilhar do sentimento.

—–— Ugh... sério? Eu, você e Jonathan? Nancy!

—–— O que? Você gosta dele!

—–— Ele é ótimo, mas não é como se eu quisesse ficar de vela para vocês.

—–— Isso não vai acontecer. Nós já saímos juntos várias vezes. Tentou lembrar-se de algum exemplo que pudesse citar no momento, mas nenhum veio à mente.

—–— Tudo bem, tudo bem. Só aviso que se ficar esquisito vou acabar fugindo pro seu porão.

—–— Boa sorte então. Mike vai reunir a gangue dele lá também. Seria a primeira ida de Eleven até sua casa após dois anos, era até engraçado como a garota era tão conhecida por eles e seus pais não sabiam de sua mera existência. Muito menos que El ficou em seu porão por uma semana inteira sem sequer ser notada. Não podia esquecer nada daquilo, afinal, Mike falara em seu ouvido por semanas sobre aquele dia em especial e quão ansioso ele estava.

—–— Assistir um filme com um casal ou apodrecer com os nerds. Titubeou, cutucando o próprio queixo. —–— Que noite maravilhosa será essa minha!

—–— Como se você não fosse como eles, Lexi. Ou pior! Provavelmente pior, bem pior. Lexi era como uma versão crescida das crianças, só que bem menos irritante. Ela até participara algumas vezes do que diabos era o que eles jogavam lá em baixo. Nancy tentou entender, mas só parecia reviver as esquisitices do Upside Down e suas criaturas.

—–— Wheeler, você viu o merda do seu ex-namoradinho por aí? A mera voz de Billy Hargrove já foi o suficiente para lhe causar arrepios. Tinha quase absoluta certeza de que ninguém no mundo conseguiria ser mais idiota do que ele. Billy tinha o dom de incomodar, principalmente a ela e Jonathan quando começaram a namorar. Se alguém havia começado as piadinhas sobre o término de Steve, esse alguém era Billy.

—–— Você não cansa de ridículo? Questionou Nancy, com uma risada seca, gerando um riso debochado no loiro.

—–— Procura na sua cama, Hargrove. Ao menos é onde você queria que ele estivesse, não é? Lexi retrucou, fechando o armário e causando um barulho alto. Os olhos de Billy pareceram cintilar, Nancy só não sabia se era de raiva ou divertimento. Mas no caso dele, talvez ambos. Lexi dizia sempre o que pensava, um dos motivos por ela e Nancy se darem bem, o problema é que as outras garotas na sua idade não costumavam fazer aquilo, o que resultou nela ser uma das pessoas mais odiadas ali numa questão de poucas semanas.

—–— Você tem uma língua afiada demais, Zehn. Billy andou com lentos passos até ela, curvando-se em sua direção, mas Lexi sequer se intimidou com o fato. —–— Vou acabar tendo que dar um jeito em você para te ensinar uma lição.

—–— Quero ver você tentar. Estreitando os olhos, ela encarou-o de volta, com o queixo erguido.

Nancy acompanhou quando os punhos dela se fecharam. Com os olhos arregalados, imediatamente a puxou para longe de Billy antes que a garota tentasse lhe dar uma surra. Lexi sempre dizia que, de onde viera, fosse garoto ou garota, todos resolviam suas questões pelo punho. Todavia, ali era Hawkins, não queria que a amiga fosse exposta de uma maneira daquelas, principalmente com Billy em sua cola.

—–— Pode continuar fugindo, mas vou acabar pegando você, Zehn! O grito de Billu com certeza pôde ser ouvido por todo o corredor, o que gerou uma careta em Nancy. Ele era muito desnecessário.

—–— Não sei porque você vive me impedindo de quebrar a cara dele. Lexi reclamou no momento que chegaram do lado de fora.

—–— É uma cidade pequena, Lex. Se vocês resolverem se atacar não duvida que isso vai sair nos jornais por um bom tempo. Faz quase um ano que você chegou, não queira se envolver nas fofocas desse lugar. Vai por mim, o Will é zoado até hoje, sabe disso. Lexi, que segundos antes a olhava de modo irritadiço e uma carranca, acabou por mudar totalmente de expressão, com o canto do lábio direito se curvando para cima antes de soltar um riso anasalado. —–— O que foi?

—–— Você pode não concordar comigo, mas é uma boa amiga. Murmurou. Foram poucas as vezes que ouvira ela fazendo um comentário voltado para o lado simpático e isso realmente a fez sorrir, agradecida. Teria a abraçado se não soubesse que Lexi desviaria, sendo assim, acabou por rir, cutucando-a nos braços.

—–— E você é uma amiga péssima e suicida! A reclamação ganhou um revirar de olhos vindo da outra, que parecia frustrada e decepcionada com o que ouvia de Nancy.

—–— Não acredito que não me acha capaz de acabar com aquele panaca.

—–— Ah, Lexi, ele... Tentou amenizar a situação. Não que duvidasse da força de Lexi, mas tampouco duvidava da de Billy. Mike lhe contara sobre como ele atacara Steve e teria matado cada um deles caso Max não o houvesse dopado.

—–— Nada de ‘Ah, Lexi’! Eu poderia sim.

—–— Poderia o que? A voz de Jonathan vinda de trás fez as duas virarem a cabeça em sua direção.

—–— Quebrar a cara do Billy. Jonathan a encarou por alguns segundos para se certificar de que ela falava sério antes de remexer a cabeça positivamente.

—–— Eu pagaria para ver isso.

—–— Jonathan, não ajuda. Nancy pediu, afagando as próprias têmporas. Já mal se lembrava de como a conversa havia parado naquele lugar.

—–— Seria épico, Nance. Sabia que ele não estava acreditando realmente, mas Lexi não tinha essa noção. Não queria encorajá-la, por mais que Billy merecesse.

—–— Ele vai acabar quebrando a cara dela. E o Dustin iria reclamar por anos na minha cabeça.

—–— Duvido. Ele iria adorar, isso sim. Lexi afirmou e Nancy não viu como discutir com aquilo.

—–— Podemos mudar de assunto? Pediu. Ou melhor, implorou. Não queria começar uma discussão inútil em pleno primeiro dia. Virou-se então para o namorado, esperançosa. —–— Jonathan, me ajude a convencer a Lexi de ver filme com a gente hoje.

—–— Mas ela já não ia? Questionou o Byers, encarando ambas com completa confusão, fazendo Nancy encolher os ombros.

—–— Eu esqueci de perguntar à ela.

—–— Eu vou se vocês dois não ficarem melosos e se agarrando no sofá. Já era um começo, ainda que soubesse que Lexi acabaria cedendo em algum momento.

—–— Não faríamos isso nem com você lá. Meus pais vão estar em casa. A Wheeler tentou explicar.

—–— Nancy, o mundo poderia explodir e seus pais não iriam notar. Verdade.

—–— É, ele tem razão. Lexi concordou.

—–— Não há quem discorde disso. Nancy se rendeu, erguendo ambas as mãos no ar ao mesmo segundo que o sinal anunciou que estava na hora da aula.

***

O corredor estava silencioso. Todas as luzes acesas e todas as portas fechadas. A única alma viva passando por ali sequer emitia qualquer som, parecendo um mero fantasma. As mãos estavam juntas atrás das cotas e o olhar sereno apenas encarava uma porta em específico, que de nada se divergia de qualquer outra, mas possuía algo diferente em seu interior. Algo especial. Quase imperceptível, um sorriso estava estampado em seus lábios, numa mistura de satisfação e orgulho.

A mão se ergueu, girando a maçaneta e encarando a sala muito bem iluminada. Era de tamanho mediano, lotada de monitores, máquinas, fios, tubos e botões. Usualmente ficava bem mais cheia, mas ele requisitara somente a própria presença naquele andar em questão. Desviou de algumas cadeiras, indo até uma porta de metal, que somente era aberta para pessoas específicas e esse obviamente era o caso atual. Assim que a porta foi destrancada, a empurrou usando a ponta dos dedos, baixando os olhos para o único móvel do novo ambiente que entrava, uma cadeira. Em cima, havia um indivíduo. Uma garota. Os cabelos negros tão rebeldes quanto sua personalidade estavam ainda mais emaranhados e armados que o normal, contrastando contra a roupa clara que usava. A maquiagem escura, completamente borrada, manchava a área abaixo dos olhos e as bochechas. E as orbes negras e profundas encaravam um ponto aleatório, quase que de um jeito morto, sem qualquer lapso de vida restante em seu interior. Ela sequer se moveu com a aproximação de outra pessoa ali, puxando uma cadeira para sua frente e encarando-a por longos segundos. Os olhos vazios da garota pareciam não notar sua presença, mas sabia que ela tinha completa noção de quem ele era.

—–— É um prazer vê-la novamente após tantos anos. Creio que tenhamos muito o que conversar, principalmente sobre Eleven. Ou Jane, como você preferir. Nesse segundo, a vida pareceu subitamente voltar a seu corpo, tendo os olhos escuros agora o encarando com completa ira. Ele sabia bem que ela o destruiria das piores maneiras possíveis caso pudesse. Contudo, sequer se incomodou, apenas alargou o sorriso. —–— Após semanas conosco finalmente uma resposta. Se teme pela vida dela então sugiro que comece a colaborar comigo, Eight. Ou devo chama-la de... Kali?


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