OverTime - The Overwatch untold escrita por AllBlueSeeker


Capítulo 3
Ich bin euer schild




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Quartel-General da Overwatch, localização confidencial. As portas da oficina se abriram a tempo de um alemão dançante passar por ela no ritmo de uma salsa que ouvira enquanto trabalhava na mecânica com seu melhor amigo sueco. A pausa feita por Reinhardt era com o objetivo de tomar uma cerveja e descansar do esforço de solda de uma das naves oficiais danificadas em uma missão nos Emirados Árabes. Passou pelo Comandante de Ataque, que bebia quieto uma caneca de café enquanto analisava uma série de arquivos exigidos pela Organização das Nações Unidas:

   -Comandante Morrison! Você parrece atarrefado... Cerrveja?

   -Obrigado Tenente, mas agora eu só preciso de cafeína. Já ouvi muita chateação da Angela por causa das minhas recentes aventuras com álcool... -ele sorriu, tirando os óculos do rosto - Mas que alegria toda é essa?

    -O Falcão não é mais um caso perrdido! Eu e Torby conseguimos colocarr aquele motorr de volta em funcionamento. Poderr  100% alemão! -ele balançava os braços, fazendo poses enquanto falava - E esses documentos todos são seus?

    -Ah... É um pouco complicado falar sobre isso. A Ana não está se sentindo disposta hoje, então eu resolvi tomar o lugar dela na diplomacia disso tudo. 

    -O que há com a Capitã?

    -Eu lá vou entender mulheres? Já me basta a Angela...

    -Sabe que posso te ouvir daqui do consultório, né Jack? Aliás, Reinhardt, pode comparecer aqui um instantinho? Vou precisar de assistência. -bradou a Dra. Ziegler Morrison, nos canais de comunicação do recinto

   Reinhardt terminou a cerveja, despediu-se do atarefado Morrison e seguiu o pedido de Angela:

    -Entschuldigung, Angela.

    -Bitte, bitte. —ela respondeu, em tom preocupado

    -Você também está com carra de prreocupação. Alguma coisa não vai bem... -ele coçou a barba

     -O Jack já deve ter comentado sobre a Capitã Amari, imagino. Ela não sai da própria sala há mais de três horas, até mesmo para o horário do almoço dela... Estou deveras preocupada. Acho que você podia, sei lá, tentar conversar com ela. Sei que vocês têm uma boa sinergia durante as missões. Pode fazer isso por mim?

    -Oh sim, clarro. Devo levarr alguma coisa, tipo um lanche? Wurst und bier?

    -Nein, nein. Hier. —Angela pôs sobre a mesa uma garrafa térmica branca com desenhos de flores rosadas e caules bem verdinhos - Isso aqui é infalível.

    -Chá de carrqueja? Ela bebe isso o tempo todo.

    -Parece que você a conhece até bem... -a doutora apoiou o queixo sobre a palma da mão, fitando o alemão nos olhos - Pedi à pessoa certa pra me ajudar.

    -N-não é o que parrece! E-eu só vejo ela bebendo, e nada mais.

    -Tenente... Eu tenho mestrado em psicologia. Quer mesmo me enganar? -ela mudou o olhar para o próprio diploma exibido no holoscreen acima de sua cadeira  

    -Aposto que o Torby quem te disse isso. Aquele anão bocudo! 

    -Não irei condenar ninguém, mas fique tranquilo que também não direi a mais ninguém sobre isso. Agora vá até lá, ela pode estar precisando.

Ele saiu do consultório com a garrafa pendurada nos dedos, tomando o rumo da sala afastada da Capitã e do Outro Comandante, Gabriel Reyes. No caminho, ouviu um soluço surdo vindo dos quartos à diante. Ao dobrar a esquina, acabou colidindo com Jesse McCree, um garoto tutelado por Reyes:

    -Ai! Olha por onde... Ah, e aí senhor! -o jovem estendeu a mão

    -McCree? O que está fazendo aqui? -questionou o germânico, vendo que ele estava sem seu lenço vermelho e seu chapéu

    -Ah... Eu tava tentando ajudar. Mas acho que não estou sendo suficiente. -ele deu de ombros

    -Não me diga que é a...

    -A Fareeha? É. Ela quer ver o pai dela, e é só o que sabe dizer. Nem meu nome ela chamou, só pegou minhas coisas e se enrolou no cobertor. Ela está no quarto 18.

Aquela mesma menina que costumava se enfiar na oficina para "aprender" com Reinhardt e Torbjörn estava mal. Aquilo causou uma reação de preocupação tão grande quanto quando sua sobrinha Brigitte se machucava. Ele apertou o passo depois de ajudar Jesse a se levantar. Não precisou nem abrir a porta, que estava entreaberta. Os soluços surdos de uma menina egípcia trajada de bandido do Velho Oeste eram cada vez mais constantes:

   -Fareeha?

   -Vai embora, eu quero o meu pai.

   -Mas... Seu pai está longe daqui, e você está na Overwatch. -ele pôs o corpo para dentro da porta

As luzes se acenderam, e uma jovem Fareeha segurava uma almofada no ar bastante furiosa. Mas, ao ver o rosto de Reinhardt, sua expressão mudou e estilhaçou como vidro em um berro de choro. O alemão agachou quase automaticamente, bem a tempo da garota correr para seus braços:

   -VOCÊ TÁ AQUI!!!!! 

   -E-eu? -ele não entendeu - Mas o que tem eu?

   -Você! Você! Eu tô com medo! Ele é malvado, e quis bater em mim e na mamãe... -a garota puxou as mangas do moletom que usava, exibindo marcas vermelhas e bolhas de sangue nos braços - Tá doendo, papai! Socorro!

   "Papai"... A palavra parecia uma bala de rifle em alta velocidade, cortando o ar diretamente para dentro do cérebro de Reinhardt. Ele largou a garrafa num canto e a envolveu nos braços:

    -Mas o seu pai é o....

    -NÃO! -ela gritou, batendo nas costas do alemão - Aquele monstro não é meu pai! Você! Você me protege e cuida de mim! Você é meu pai, e não ele! Eu odeio ele, odeio, odeio, odeio!

   -Mas eu...

   -Mas nada! Eu quero que seja você, e ninguém mais! Socorro, papai!

Ele sentiu-se vazio como uma rocha oca, fitando o nada e sentindo as lágrimas da pequena correrem por sua camiseta e pele. Uma de suas mãos tomou a cabeça dela e trouxe até seu rosto:

   -Olhe prra mim, Fareeha. Eu estou aqui prra prroteger você. Guarrde essas lágrrimas, tá?

   -Eu sabia que você viria me proteger. Eu sonhei com isso!

   -Você sonhou com...

    -Com você sendo o meu pai e me fazendo sorrir de orgulho por ser a filha mais feliz e amada de todas! Agora, será que você me leva pra Angela, pai?

    -É prra já!

Reinhardt catou a garrafa como pôde e voltou ao consultório da dra. Morrison com uma adolescente dormindo em seu pescoço. Angela quase derrubou a mesa quando viu aquilo:

   -O que houve?

As marcas foram mostradas. A médica entrou em desespero:

   -Vou cuidar disso agora mesmo, Reinhardt. Obrigada por trazê-la até aqui.

   -Ela me chamou de pai... -seu olhar fitava Fareeha

   -Pai? Ah meu Deus... Então isso...

   -Angela... É norrmal esse sentimento?

Ela pensou um pouco, e em sua mente veio Hana e sua carinha de criança hiperativa. Pensou em como Jack ficava quando ela adoecia. E respondeu, com um sorriso materno:

    -É sim. Você aceitou a proposta dela. E você a ama como parte de si. 

    -Eu me sinto tão frraco...

    -Não se preocupe, vou deixá-la novinha em folha. Prometo, como mãe e médica. -ela sorriu com a mão no ombro do alemão

Ele voltou para fora, pensativo e com a garrafa na mão. Talvez ele tivesse desenvolvido algo pela Capitã com a convivência e o carisma dela. E agora, a garotinha que sempre esteve perto dele o pediu para protegê-la de um monstro. Aquilo era culpa dela? Era melhor nem pensar nessa opção. Mas ele sentiu que precisava estar cara a cara com Sam, o dito marido de Ana e pai biológico de Fareeha. 

Já na porta da sala de Ana, ele hesitou em bater e entrar. Aquela preocupação toda tinha saturado seu bom humor para que entrasse fazendo uma das piadinhas que ela tanto gostava de ouvir. Tocou a campainha para ouvir xingamentos em árabe. Ele insistiu, e mais uma vez uma série de palavras roucas foram ditas como uma ordem de despejo:

   -Estou aqui pela Fareeha. E me disserram que você não está nada bem. Pode abrrir porrta um pouco?

Lá dentro o silêncio imperou. A trava da porta foi liberada e ele entrou. Ana estava jogada sobre o sofá, sem suas botas e a boina jogada sobre o vaso de flores. Reinhardt fez menção para ligar as luzes, mas ouviu um "Não" abafado pelo travesseiro. Sobre a mesa, o porta-retratos holográfico estava quebrado exatamente sobre a cabeça de Sam, com a aliança dourada dela atravessando a estrutura:

   -Ana?

   -Não quero que você me veja assim. E quero ficar sozinha.

   -Sinto muito, mas são orrdens da Angela e do Comandante Morrison. Eu trrouxe uma garrafa bem grande de chá prra você. Achei que fosse melhorrar seu humorr.

A luz de fora iluminou o olho de Ana quando ela se virou. Estavam vermelhos de chorar e ela tinha olheiras profundas. Em árabe, ela mandou que a porta se fechasse e que meia-luz fosse ativada. Puxou um tecido sobre o rosto e envolveu a cabeça para se virar ao Tenente:

   -Você me trouxe chá de carqueja?

   -Uma garrafa inteirrinha. Onde está sua xícarra?

Ana apontou para a mesa, ao lado da foto destruída. Enquanto o alemão a servia, ela cruzou as pernas sobre o sofá. Mas antes de dar-lhe o pires e a xícara, ele removeu o pano que escondia seu rosto:

   -Não! O que está fazendo?

   -Você não pode beberr chá com pano na boca. 

   -Mas ele está aqui pra que você não olhe pro rosto de derrota da sua Capitã. Devolva! 

    -A título de curriosidade... Numa escala de zerro a dez, qual o númerro que indica a prrobabilidade de você e o Torby terrem se falado?

   -Zero. 

   -Ah, bom. 

   -Agora, me dê o chá e o lenço. 

Ele os devolveu e sentou-se no sofá ao lado, aguardando a degustação da egípcia. Num momento, ela depositou a xícara vazia sobre a mesinha de café:

   -Onde está a minha filha?

   -Com a Angela. Ela tinha uns machucados e...

   -Eu não queria que vocês soubessem dos meus problemas... Devia ter cuidado disso eu mesma. Mas ela estava de moletom, como foi que...

   -Ela quis que eu visse. -ele fitou a boina sobre as flores amarelas - e me disse o que aconteceu. E eu me sinto esquisito depois disso... Fareeha me chamou de pai e quis chorrar nos meus brraços

   -Ela me pediu permissão antes de chegarmos aqui. Perguntei porquê escolher você, e ela simplesmente respondeu que vê em você o pai dela. 

   -Mas e o...

   -Não pronuncie aquele nome. Por um descuido meu, aquele homem machucou a mim e à... sua filha. Um descuido meu ter guardado aquela foto nossa em King's Row, que eu estava nos seus ombros. Sam criou uma tempestade, me chamou das piores coisas e disse que se sente impuro por ter amado uma vadia incapaz de respeitar o amor que ele sentia. E eu tentei dizer que não temos nenhuma relação, mas ele não quis ouvir... -ela levou as mãos ao rosto - E Fareeha é culpa minha. Ela tentou me proteger quando ele me pegou de surpresa... Eu sou uma mãe horrível. 

   -Ana.

   -Você não está me vendo chorar, Reinhardt. 

   -Ana.

Antes que ela levantasse a cabeça, ele a envolveu num abraço caloroso. A culpa caía sobre seus ombros em incontáveis toneladas:

    -A culpa é minha. Eu é que quis porr você nos ombrros... E agorra, acabei com o seu casamento. Não sei porr onde começo a me desculparr... 

   -A culpa não é sua. O Sam se revelou um animal grosseiro e irracional. Me sinto culpada por não proteger a Fareeha da raiva dele.

   -Você querr chorrar.

   —Não, eu já chorei demais. Obrigada. -ela sorriu

   -Você vai chorrar.

   —Do que está falando, Reinhardt? E-eu estou bem...

Mas aquela proteção não era o bastante para seu estado devastado. Ela o abraçou e fez como Fareeha: berrou de chorar. Reinhardt respirava fundo enquanto afagava os cabelos negros da egípcia. Aquele momento durou longos minutos, até que ela parou e olhou-o nos olhos:

   -Ich bin euer schild, meinen kapitän. 

   —Reinhardt... Você está se aproveitando do meu estado frágil. -ela sorriu, com os olhos mareados

    -Me aprroveitarr de um momento de frraqueza  da minha superrior? Meu orrgulho alemão impede que isso seja assim. 

Ele sabia o que ia acontecer, mas não tentou impedir. Era um desejo dela, talvez reprimido, talvez oportuno. Seus lábios se encontraram e ele sentiu o coração arder em chamas, como se ele tivesse ganhado energia ilimitada. A expressão de Ana, antes triste e recuada, mudara para alguém mais calma depois do beijo. Ela o fitava com uma expressão de agradecimento:

   -Eu não devia ter feito isso numa hora como essas...

   -Se não tivesse feito, eu mesmo terria me atrrevido. —ele sorriu, olhando o rosto dela corar - Então você já sabia?

    -Você não é muito prudente com disfarçar, sabia? A base inteira já sabe, até mesmo Gabe. Obrigada por isso, Reinhardt. E obrigada por me dar a mão pra fugir dessa escuridão que me cercava.

   -Eu preciso darr uma voltinha, se não se imporrtarr...

   —Espere, você não está dizendo que vai ao Canadá para... 

   -Dies ist nur ein weg, um zurückzahlen, was er meiner familie angetan hat. 

   -Reinhardt, por favor, não tome essas dores...

   -Um alemão que se prreza JAMAIS deixarria alguém machucarr sua família. Balderich terrá de me perrdoarr.

Ela consentiu, servindo mais chá e assoprando o vapor quente que emergia da xícara:

   -Fique bem, e volte antes do jantar.

   —Ja, meinen kapitän. 

Voltando à oficina, o baque da porta fez o anão sueco despencar de seu andaime. Reinhardt abriu o armário e desceu as escadas:

   -Amigão, o que está procurando? 

   -Cadê o prrotótipo? 

   -O que pretende fazer, Reinhardt?

   -Um teste. -ele sorriu, olhando o melhor amigo por cima dos ombros

   -Santa Mãe da Engenharia, esse homem enlouqueceu! Ela está aqui em cima, no pedestal. Eu consegui adiantar bastante o funcionamento mecânico.

    -Wünderbar, Torby!

    -Vai precisar de uma nave? Vá com o Falcão. 

    -Danke, mein freunde. E você ganhou uma afilhada, vê se dá um pouco de atenção. 

    -Espera aí, o que tá querendo dizer com isso?

    -Você entendeu. Agora, se me permite, prreciso chegarr ao Canadá. 

O alemão vestiu a couraça com um leão encrustado e subiu a bordo do Falcão reparado pelos dois. Antes que pudesse decolar, o rosto de Jack Morrison surgiu no painel com uma expressão severa:

   -Tenente Wilhelm, o que significa isso? 

   -Prreciso resolverr um assunto de família, Comandante. Vou trazerr de volta.

   -Precisa de reforços?

   Nein, nein, nein. 

   Muito bem então... Boa missão, Tenente. A Overwatch está a postos para resguardá-lo, caso precise de nós.

    -Senhor! Deixe-me ir com você. -o jovem cowboy apareceu

    —Não Jesse, é um assunto meu. Além do mais, du bist eine kinder. 

    Eu quero ajudar, pela Fareeha. É um pedido sincero.

     -Comandante?

     -Deixo a decisão com você, Tenente. Morrison desligando. 

      -2 minutos prra você estar aqui, McCree. 

      -Sério? Beleza! 

E foram realmente dois minutos, até que o moleque de uniforme improvisado aparecesse, com um poncho preto, um revólver e botas novas:

    -Vamo nessa!

As coordenadas foram postas no computador e a nave decolou da Base de Operações da Overwatch. A previsão de chegada era de pouco mais de 6 horas, e aquela noite estava bonita e limpa. Reinhardt deixou a couraça num dos armários dos fundos e abriu uma bebida com dois copos sobre a mesa. Apontou para McCree, convidando-o:

   -Ué, mas você mesmo disse que eu era uma criança agora há pouco. Está me oferecendo álcool?

   -Somos companheirros de luta agorra, Jesse. E tudo isso, ocorrendo tão rrepentinamente, necessita de uma boa dose prra pasarr. 

   —Eu achei que você fosse, sei lá, me matar primeiro. Mas uísque sempre é bom.

   -Eu prrecisarria? —o alemão ergueu a sobrancelha do olho cego - O que está querrendo dizer, carro amigo?

   -Então... -ele riu, tirando o chapéu e colocando frente ao peito - É um caso bem engraçado. O senhor sabe que eu me dou muito bem com a Fareeha e tal... E passamos muito tempo juntos. Sei das nossas idades, mas ela me faz ficar tão perto dela. E nós já... meio que... cê sabe.

   -Você... 

   -Não! Não! Não ESSA parte aí, nãããããão. Eu juro. Palavra de escoteiro! -ele fez o sinal com a mão esquerda e deu um sorriso nervoso - Foi só um beijo. Que se repetiu várias vezes. Várias... 

    -Está, num momento como esse, pedindo parra o pai da Fareeha perrmitir que vocês dois namorem? 

    -Eu sei, não tá na hora. Mas vai saber o que vai acontecer quando acertarmos as contas com o outro cara. Eu preciso da bênção, sabe como é. 

    -Jesse.

    -Opa. 

Reinhardt bateu forte na mesa e começou a gargalhar, bebendo a dose de álcool em um tapa só. O americano recuou alguns passos, enquanto o outro se divertia rindo:

   -Então... 

   -Isso só pode serr uma piada daqueles filmes clichês de amorr. Mas tudo bem por mim, você pode se juntarr aos Wilhelm. Minha filha deve gostarr mesmo de você! -e continuou a rir

O jovem catou sua dose e começou a servir mais uma para o Tenente. Eles beberam e riram até as garrafas acabarem, para depois cambalearem aos seus assentos. Rapidamente, o computador preparou o ambiente para a noite de sono e os dois caíram no sono. A mente conturbada do Tenente Wilhelm o fez sonhar aquela noite com uma porta que se abriu com uma luz forte:

   -Reinhardt? Reinhardt, você está bem? 

   -Hmm... Argh! Alguma coisa me acerrtou na cabeça? -ele tentava tocar, ainda cego, a própria cabeça

    -Mas é claro que sim, o seu martelo. -reconehceu a voz impaciente de Torbjörn - Eu disse pra me deixar calibrar a potência dos foguetes, mas eu sou levado em conta?

    -Consegue ficar de pé? -ele não podia ouvir, mas sabia o que a voz estava dizendo - Está tudo bem?

    -Eu vou sentirr isso amanhã... -balançou a cabeça freneticamente até recuperar a visão

Virou a cabeça para um lado e viu Torby limpando sua torreta. Virou para a frente, e alguns soldados da Overwatch recarregavam as armas e ajudavam os colegas feridos. Virou-se para o outro lado, ficando cara a cara com a Capitã Ana Amari em uma expressão de preocupação, que tornara-se um sorriso no momento em que seus olhos se encontraram:

    -Eu estava preocupada com você, rapazinho. Sabe que não deve sair por aí com o equipamento fora da regulagem só porque "é mais divertido e mais rápido" para abater ômnicos. Você se machucou. 

    -Entschuldigen, bitte.

Ana mexia onde a cabeça do alemão doía. Ele reclamava, mas a médica dava tapas em sua mão sempre que tentava tocar o ferimento:

    -Calma que a dor passa. Você vai ficar bem, foi só um arranhão. 

    -Não vai me mandarr colocarr o capacete como da última vez?

    -Não precisa. Tô aqui pra cuidar disso, e você já aprendeu a ter prudência. Ou é o que eu achava. 

Mais uma vez seus olhos se encontraram. Ele sabia que aquele rosto fazia seu coração pulsar fora do compasso normal. Ana tinha um brilho diferente nos olhos quando olhava para Reinhardt, e o mesmo valia para ele. Até que Torbjörn interveio:

    -Eu não queria acabar com o clima do casalzinho em potencial, mas a imprensa tá ali. Vamos lá tirar esse pessoal das nossas botas e voltar para a Base. 

O pessoal da Overwatch avançou em direção aos flashes e câmeras. Antes que pudesse ir com eles, Reinhardt foi segurado pelo braço:

    -Hmm? 

    -Até que é legal ficar na batalha diretamente quando estou neste esquadrão. Você faz tudo ser bem seguro. Estou orgulhosa, Tenente.

    -E deixarr a minha família se machucar? Somos todos um só. Somos a Overwatch, e eu sou o seu escudo. Além do mais, devo prrotegerr a Líder em Campo. 

Um abraço espontâneo surgiu. O alemão teve uma ideia, um pouco atrevida: Tomou Ana nos braços e a pôs sentada em seus ombros, indo em direção à equipe. Aquilo rendeu uma foto para a capa do jornal daquela cidade. E aquela foi a foto que causou todos os problemas. Ele viu a foto queimar pouco a pouco, até acordar assustado com o barulho do tilintar das esporas de McCree:

   -Bom dia, sogrão. Já chegamos. 

    -Dia?

    -Ah, são tipo 3 horas da manhã. Então, é, dia. 

    -Nós dorrmimos demais. Onde está o leão?

    -Bem ali. Quer café? -disse, oferecendo a xícara fumegante

    -Nein, danke. Vamos nos atrrasar até chegarrmos onde ele está.

    -Pfff... Já estamos aqui. Eu cuidei de tudo.

    -Como é que... Ah, Fareeha. Sehr gut, eh? 

Os dois se aprontaram e desceram da nave, ativando o dispositivo de camuflagem que era padrão para as Naves de Reconhecimento da Overwatch. No meio do mato havia um chalé com alguns adereços indígenas bastante disfarçados. Jesse parou e passou a mão no cabo do revólver:

    -Senhor. Temos visitas. 

Mas antes que pudesse reagir, um grupo de projéteis tomou a direção de McCree. Ele se abaixou a tempo de ser salvo pelo escudo de energia projetado pela couraça do Tenente:

   -Explosivos. Que recepção calorrosa. 

   -Bela armadura você tem aí. Mas cadê o resto?

   -Você vai saberr logo logo. 

Um batuque indígena começou, seguido de uma explosão de pilares de fogo para o alto. As folhas das árvores se mexeram, exibindo guerreiros em roupas tecnológicas e luzes simbolizando pinturas de guerra. Da casa surgiu Sam, em roupas de chefe sioux:

   -Olha só, se não é o homem que teve a audácia de induzir a minha mulher à traição. Não achei que você viria até mim.

   -Eu vim aqui prra saberr o que você tem nessa cabeça, a ponto de ferrir até uma menina inocente. -o olhar de Reinhardt estava fixo no homem dos penachos

   -Ela quis se intrometer no assunto dos adultos, e me agrediu com uma faca. Só ensinei ela o seu devido lugar e uma pequena lição do que acontece com quem desrespeita o próprio pai e chefe da tribo.

Jesse ergueu a mão, tirando o poncho do rosto e aliviando um pouco a mão sobre o coldre:

   -Olha só, seu... Sam. É, o Papa Capim das penas. O negócio é o seguinte: Não viemos aqui pra discursinhos e blá blá blá. Estamos aqui pra uma entrega especial.

Reinhardt reparou que aquela frase soara idêntica a um típico discurso de Gabriel Reyes, e logo percebeu que McCree recebera um treinamento ligeiramente frio e objetivo. O indígena bateu palmas e soltou uma risada irônica, com algumas palavras no idioma deles. Os guerreiros mudaram de posição e aprontaram suas armas de pulso: 

   -Peço desculpas, mas isso é um procedimento padrão da Blackwatch. -sacou o revólver, girando-o pelo gatilho na mão direita

   -B-B-Blackwatch?! Então você...

   -É, mas eu vim porque quis. O Comandante Reyes autorizou. -Jesse exibiu um sorriso - Podemos deixar fora do relatório da missão. Isso é, se você quiser. 

   -Desde que você não se meta na converrsa dos adultos...

   -Relaxa. Vou cuidar desses caras num piscar de olhos, e você pega o Tupã sem dó. 

    -Perfekt. o alemão sorriu, batendo os punhos

Os homens foram ordenados a descer e cuidar do jovem cowboy. Eles o cercaram e Jesse ergueu as mãos:

   -Olha rapazes, eu teria mais cuidado com essas atitudes impetuosas. Não posso dizer que vou me segurar. Vamos dançar uma quadrilha?

Os soldados avançaram e, sem o revólver, McCree entrou em combate corporal com três deles. Um joelho quebrado, cotoveladas e até mesmo usar o golpe alheio contra quem estava restringindo: Técnicas de combate de Reyes. Dois dos três foram liquidados, com seus pescoços quebrados, restando os outros oito. Jesse apontou o revólver para o nada, fazendo graça:

   -Se a bala ricochetear ali, e ali, ela vai atravessar a cabeça de todos vocês. É claro, se isso fosse um filme de cowboy. -ele deu de ombros

Os homens mais uma vez avançaram, dessa vez com golpes rasteiros. McCree saltou e abriu as pernas, saltando e retornando com um forte chute no rosto de um deles. Ele tomou impulso com as mãos no chão, fez um rolamento, e acertou mais quatro com uma bala em cada cabeça: 

   -Meninos, meninos, meninos... Cadê a luta? Eu tô ficando com sono com esses fracotes que vocês estão me mostrando. Cadê a luta?

Um dos homens mexeu no que trazia no braço esquerdo e sua armadura de luz surgiu, defletindo as balas atiradas pelo americano. Ele riu e sacou um laço do cinto, fazendo graça:

   -Agora esse rodeio ficou divertido. Deixa eu testar uma coisa.

O algoz avançou enquanto Jesse girava o laço no ar. Recebeu um golpe direto para o alto no peito, tirando boa parte do seu ar. Quando recobrou a respiração, perdera o laço nos galhos da árvore em que fora atirado. Buscou seu inimigo com o olhar enquanto tentava passar os dedos pelas folhagens e alcançar a corda. Assim que a tocou, o guarda apareceu em sua frente desferindo um chute que o jogou para fora da árvore:

   -Já vi que esse é o boi bandido da viagem. Muito bem, hora de arregaçar as mangas, como o Comandante disse. 

O homem surgiu agachado num galho e rapidamente saltou. Jesse teve tempo de girar o laço, jogá-lo cegamente e tentar fazer o que estava pensando. Subiu na árvore e puxou a corda por um galho, fazendo força com as botas contra o tronco.... Até que ela se prendeu em cheio no pescoço do algoz. Rapidamente o homem fora puxado para seu fim e o som do sufocamento era a única coisa audível naquele momento, fora o crepitar das chamas mais abaixo. Apanhou seu revólver e, de costas, dirigiu-se aos últimos inimigos:

   -Vocês me lembram alguns caras... Já não matei vocês antes?

Numa rápida jogada de corpo, McCree sacou o revólver e acertou-os com uma bala na cabeça cada. Assoprou o cano fumegante, girou a arma no dedo e guardou:

   -E agora, cavalheiros, eu vou tomar um trago. 

Reinhardt assistiu, boquiaberto, aquela cena. Certamente o treinamento da Blackwatch transformara Jesse McCree em um homem que era melhor ter como aliado. Voltou sua atenção para Sam, apreensivo, mas ainda exibindo uma aura hostil:

   -Você sabe que eu não vou perrdoarr você, não é?

   -Então estamos quites. O garoto vai interferir nessa luta? 

   -Nein. Es sind nur wir zwei. 

   Sam não hesitou em partir pro ataque. Seus olhos, em contato com a luz das labaredas, brilhavam como os olhos de um lobo. Um golpe com a mão em forma de garra foi desferido e desviado por Reinhardt:

   -Acho que não vou prrecisarr da minha arrmadurra. Você está facilitando bastan--

Mais uma vez o algoz apareceu, agora com uma sessão de ataque fervorosos contra os braços nus do alemão. Sua velocidade era inferior à do indígena, mas ainda sim os ataques dele não eram muita coisa pra se preocupar. Sam teve tempo de perceber que atacá-lo por fora não adiantaria muito, então decidiu parar onde estava:

   -Sabe, sr. Wilhelm... Eu andei pensando bastante. Talvez o meu desejo pelo seu sangue seja algo um pouco excessivo. Eu deveria me preocupar mesmo é com o meu sangue... -ele lançou um olhar de desdém - que foi manchado ao conceber a Fareeha. Ela, uma mistura imunda vinda de uma mãe imunda e traidora. Eu me rebaixei a um nível que não imaginava ser possível para um homem como eu. Com uma vida boa e diretamente ligado à minha tribo sioux, enraizado em seus costumes... 

    -Feche essa boca agorra mesmo. E McCree, nem mais meio passo. 

O americano fechou a cara e apoiou-se numa árvore, ainda encarando Sam com plena raiva:

   -O que foi? Será que algumas palavrinhas conseguiram machucar você e essa sua pele dura? Oh, desculpe... Acho que você deve se tornado um fracote por dentro por causa das palavras de amor que trocou com a Ana. Típico dela, mas não funcionou comigo. Veja só, aquela vagabunda queria um pouco de amor de um homem que não estava nem aí pras palavras vagas del--

   -Ich sagste dir. Halt den mund. GERADE JETZT! 

   -Ora ora ora, parece que você não consegue nem mesmo falar a mesma língua que eu quando perde as estribeiras. Interessante isso... Agora, a pergunta que não quer calar: O que você espera ganhar, acabando comigo, daquela ímpia egípcia? Ela pode estar, agora mesmo, deitada na cama de outro homem fingindo uma felicidade que nem eu tive e que nem você teria. 

   -Genug zu lügen, Sam. Ich habe deine stimme satt.

O leão do peito de Reinhardt começou a emitir luz. Pouco a pouco, seu corpo foi recoberto em placas de titânio e embebidas com um tipo de energia azul que potencializava seu armamento. Seu olhar esbanjava uma fúria incontrolável, e Sam percebera que tinha tocado o ponto certo. O alemão deu um impulso em si mesmo com o punho travado:

   -Ha, você sabe que a minha velocidade é superior à sua! O qu--

O punho transformou-se em um martelo de energia, que cravou a cabeça do indígena contra a parede da própria casa. Com a mão aberta, ele agarrou a cabeça do inimigo e a bateu contra a parede várias vezes até que ela se reduzisse a escombros e Sam fosse atirado a um piano. Reinhardt foi se aproximando aos poucos do "desacordado", que o acertou no rosto com um abajur de vidro. Seu rosto ficou semi-pintado de vermelho vivo:

   -Für meinen kapitän.

Ele juntou os dois punhos e cravou um golpe poderoso para baixo, que destruiu o piano sem pensar duas vezes. Sam abriu os olhos a tempo de ver a bota de titânio pairando sobre seu peito:

   -Für meine tochter Fareeha Wilhelm.

Reinhardt o ergueu contra a parede:

   -Muita prressão, filhote

   -Ch-chega... Por favor...

   -Hmm? Está querrendo que eu parre de te bater? Desculpe... Não tem jeito. 

   -Mas... -ele fez sinal de deglutição

   -Esperra aí, o que você acabou de engolirr? 

   —Veneno. Você não sentiu o cheiro estranho? -o americano se aproximou

   -É melhorr assim. Acho que eu terria deixado ele aí no chão.

   -Imagino que deva estar se sentindo mal, senhor. -McCree ajeitou o chapéu - Mas infelizmente, ele teve o que mereceu. Pela Fareeha e pela Capitã Amari... Ou é Capitã Wilhelm? -ele riu

   -Gostarria que fosse... Mas não é horra de pensarr em sobrrenomes. Prrecisamos dar um jeito nessa bagunça toda.

   -Tsh... Volta pra nave e vai limpar o rosto. Deixa que o Jesse cuida disso, com os cumprimentos da Divisão Reyes. 

   -Você não vai só incendiarr a casa com os corrpos dentrro, né? -Reinhardt o encarou

   -Não, que é isso... Isso nunca me passou pela cabeça. Eu ia explodir mesmo, com cargas de termita. Acho que eu trouxe umas duas ou três...

   -Nada de bombas. Use o fogo mesmo. 

   -Que bom, era o que eu pretendia desde o começo! -Jesse deu de ombros do mesmo jeito que Reyes fazia - Vamos comemorar com um belo churrasco!

O Tenente voltou para a nave e digitou os comandos necessários. Cerca de 15 minutos depois, a cabana ardeu em chamas e McCree voltou limpando as luvas:

   -Tinha um monte de coisas legais lá dentro. Ele devia ser bem rico mesmo. 

    -Eu me sinto estrranho com tudo isso. 

    -Chama-se "peso do remorso", sogrão. Relaxa. Isso passa. 

    -Acabei de matarr alguém por merra raiva... Isso ferre meu orgulho alemão. 

    -Ah, bobagem. Ó, bebe isso aqui que rapidinho você esquece de hoje. 

Uma bebida estranha e clara foi oferecida por Jesse. Cheirava a álcool, mas não era uísque e nem cerveja. Era algo doce:

   -Blargh! Was ist das denn? 

   -Cachaça brasileira. E da boa. Peguei isso aqui num trabalhinho com o Comandante Reyes. Eu guardo nesse cantil só pra momentos de vitória pessoal, e veja só, nós vencemos! 

   -Você tem um jeito diverrtido de fazer as coisas, apesarr de usarr o nome da Blackwatch. Podemos começarr uma nova vida com as meninas, agorra que esta questão foi resolvida...

   -Tirou as palavras da minha boca! Agora a gente só tem que casar você e a Capitã e...

    -C-C-Casar?! -por sorte, o manche estava no modo automático, senão um acidente teria ocorrido - Mas, mas, mas, mas....

   -Ah, fala aí. Uma gatinha daquela, todo dia com o senhor, juntinhos e aquilo tudo... Hein? Hein? -McCree mexia os braços em forma de um abraço enquanto esbanjava um sorriso de riso

    -Não é assim que as coisas funcionavam na minha época. Levava tempo até o casamento. -Reinhardt coçou a barba, olhando para o extintor de incêndio

   -Ah, mas os tempos mudaram. E eu tenho certeza que logo logo vocês vão ter um cantinho pra morar. 

    -Está tentando me fazerr querrerr pedirr a Ana em casamento? -o alemão encarou o americano

      -Pense consigo mesmo. Agora eu vou voltar a dormir, essa missão esgotou minha energia. 

O Sol brotava sobre o mar naquela hora. Reinhardt estava sentado na cadeira "do piloto", observando tudo e pensando nas sugestões dadas por McCree. Talvez fosse rápido demais para ele, e até mesmo para Ana, que era contemporânea. Mas o mal que Sam causou ainda existia no coração e na memória das duas Amari. E a chance dada a ele pela vida em se fazer presente para elas não tinha terminado. Tentou se perguntar o que Balderich von Adler, seu velho amigo e Mestre, teria para dizer e sanar sua dúvida. Provavelmente o Mestre alemão sorriria, colocaria a mão no ombro esquerdo de Reinhardt e diria: "Não imporrta como você vai se sair. Faça o que seu corração julgarr correto. E nunca se esqueça: Viva com honra, e morra com glórria.".  

Ele deu um cochilo. Os sensores apitaram, momentos depois, a aproximação do QG da Overwatch. No hangar, Morrison e Reyes discutiam qualquer coisa com seus cafés fumegantes. Assim que o Falcão se magnetizou à estação de pouso e os motores foram desligados, a porta de descarga se abriu. Os dois adentraram o pássaro de metal. Gabe foi acordar McCree com um balão de água e Jack foi atrás do Tenente Wilhelm:

   -Hm?! Comandante?! Nós já chegamos?

   -Acabaram de chegar, Reinhardt. E como foi a missão? -ele sorriu, sincero

   -Ah... Demos um jeito. 

O sorriso de Morrison continuava lá, como um letreiro brilhante. Funcionou como o famigerado "soro da verdade", fazendo o alemão suspirar e contar o verdadeiro acontecido com a ajuda de McCree, inclusive a parte da fúria germânica. Jack Morrison fitou a expressão de seu tenente, bebericou de seu café, mexeu os lábios e riu:

   -É... Esse aí não passaria nem do treinamento. Como não é um problema direto da Overwatch, eu farei vista grossa e darei um jeito de limpar a nossa participação nisso. Se bem que vocês dois já fizeram bastante em não usarem nenhum dos escudos que poderiam ligar o incidente a esta organização. E agora... Acho que você tem uma reunião marcada. -ele riu

   -U-Uma reunião? 

   -Siga para a sala Gama-37. Setor amarelo. Ah e... Vista-se adequadamente. Para qualquer coisa, passe lá na Angela antes de ir: É de extrema importância que você esteja apresentável.

   -Mas o que significa isso? Eu vou serr demitido por causa de minha missão? 

Morrison riu mais alto e bebeu o resto de seu café:

   -Você é parte da Família Overwatch, Tenente. Nem a pau que eu deixaria a minha equipe desmontar como se fosse um brinquedo. Agora vai lá, antes que fique atrasado.

Ele seguiu até o seu dormitório, passou pelo chuveiro e vestiu seu terno de gala para encontros governamentais. Passou o pente no cabelo e na barba, minimizando quaisquer pelos rebeldes. Saiu na porta de cara com a Dra. Morrison, bebendo suco numa garrafinha fosca:

   -Oi! Ah, você vai pra reunião? -ela riu

   -É... Foi o que o Morrison disse prra fazerr. E disse prra prrocurrar você se prrecisasse. Estou bem, mas nervoso

    -Relaxa. Você vai se divertir bastante.

    -Vamos ter lutas? É inaprroprriado lutarr assim, mas eu não fujo de uma boa luta!

A suíça o encarou, ainda sorridente, bebendo o suco como se dissesse: "Vai logo, você está atrasado". Ou foi o que Reinhardt entendeu. Ele seguiu até o local e, na porta, estava Torbjörn também bem vestido. De longe, o alemão começou a rir:

   -Não gosto de ficar parado fazendo nada. Você está atrasado, Rein. Está me devendo uma cerveja gelada.

    -Erra você a tal reunião? Você parrece um pinguim com brraço de metal. -ele continuava rindo

    -Você está com sorte que hoje eu não posso descontar. Anda logo e entra, só está faltando você.

    -Garrçom, trraga cerrveja! —ele ria enquanto escaneava a palma da mão na porta - E ande logo, estou com prressa! 

Assim que virou seu rosto para frente, sua expressão mudou. Ana, Fareeha e até mesmo Jesse McCree - ainda sonolento - sentados à mesa. Uma bela mesa que recebia iluminação direta da janela e valorizava a pintura clara do cômodo. Sobre a mesa, várias comidas para o desjejum. Os três à mesa estavam tão bem vestidos quanto Reinhardt. A primeira a ajudá-lo foi Fareeha: 

   -Hallo, vater! Willkommen. 

   -Agora tá certo! Boa garota! -McCree riu, de braços cruzados e olhar fixo na jovem de pele morena - Eu disse que você ia conseguir.

   -Eu estava nervosa, Jesse. Me deixa. -ela sorriu para ele

   -McCree, o que significa isso?!

   -Então né, sogrão... Desculpa aí. Eu também fiquei sabendo agora, graças ao Comandante Reyes e... -ele apontou para a placa sobre a porta:

   "A OVERWATCH SAÚDA A FAMÍLIA WILHELM E DESEJA UM FUTURO BRILHANTE E PRÓSPERO A TODOS."

   -F-F-Família Wilhelm?! Meine familie?! Ana, você...

Ela não disse nada, apenas pôs o cabelo para trás da orelha a fim de exibir seu sorriso e seu olhar para o alemão:

   —Ei Fa, é melhor segurar seu pai. Ele vai acabar caindo. -McCree riu

   —Reinhardt. Foram tantos meses de convivência, e momentos tão incríveis onde eu me senti tão bem ao seu lado. E você esteve ao meu lado em quase todos os momentos em que você poderia. Eu estive conversando com todo mundo, e mais ainda com a... nossa filha. Não sei o que você e o Jesse foram fazer, e também não me importa. Aquele homem era um grilhão que me prendia a uma vida que não me pertencia. Mas mesmo presa, eu pude ver a sua luz. O brilho do sol. De um sol animado, brincalhão e respeitoso. E eu me apaixonei por você. Nunca disse, mas eu sempre gostei de liderar o esquadrão com você na equipe. E você não sabia muito esconder que gostava de mim. Por isso, eu e Fareeha decidimos dar uma chance a você: A chance de preencher o vazio que nos assola. Tudo bem, se não for algo tão assim que você estej---

   -MEIN GOTT! DAS IST SEHR GUT! MEINE FAMILIE! DIE WILHELM FAMILIEN. WÜNDERBAR!—a voz dele ecoava como o rugido alto de um leão na savana - Vocês vão matarr esse homem desse jeito, meninas. Estou me sentindo imbatível agorra! Minha família!  

    —Papai, acho melhor você se sentar, antes que o Jesse coma todos os bolinhos que eu fiz pra você. 

    -Eu não tenho culpa se foram feitos com mel. -McCree deu de ombros 

    -Não toque nos meus bolinhos, cowboy. 

Nenhum deles percebeu, mas o Tenente chorava por dentro. Suas lágrimas eram de puro orgulho. E aquilo devia ser coisa de Balderich, com seu sorriso e seu jeito de gerar confiança. Por fora, ele esbanjava um largo sorriso enquanto ficava de mãos dadas com Ana e, pela primeira vez em muitos anos, a Família Wilhelm voltava a ser numerosa como uma boa família germânica. Pouco antes do fim do café-da-manhã, Ana acariciou o dorso da mão de Reinhardt e, com um olhar, disse muita coisa. Ele não hesitou e a beijou ali mesmo. Um beijo que fez o coração da Capitã acelerar:

   -Obrrigado por devolverr a este alemão o maiorr prrazerr da vida de um homem: Deine familie. 

   —Não me agradeça, querido. Agradeça a si mesmo por ser o meu protetor e ter me conquistado com jeitinho aos poucos. Agradeça a si mesmo por fazer a Fareeha ser maluca por você, isso foi considerável na nossa decisão. Agora, esqueça esses agradecimentos todos e aproveite a vida com a gente. -ela sorriu, agora com a mão sobre a barba do Tenente. 

 


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