Acordei ouvindo o canto dos pássaros, o que não era comum. Senti um vento gelado passar pelo meu corpo e abri os olhos, percebendo que eu não estava mais na minha cama, nem no quarto! Eu estava deitada em grama.

— O que...? – Me levantei, confusa. – Onde eu estou?

Comecei a olhar ao redor e só haviam árvores e plantas por toda a parte. Eu estava perdida no meio de uma floresta, e nem sabia como havia chegado até lá, só me lembrava de ter ido dormir depois de ler aquele livro.

— Renko! Isso é alguma pegadinha sua?! Cadê você? – Gritei, mesmo sabendo que aquilo estava longe de ser uma brincadeira de mal gosto. – Estou sozinha?

“Calma, Maribel, respira...” pensei, tentando ficar calma. Comecei a me lembrar do livro que estava lendo e do sonho que tive na noite passada. Talvez o que está acontecendo seja um sonho e eu não acordei ainda. Preferi pensar que estava em Gensokyo, a terra mágica existente nos meus sonhos, e que logo iria acordar no mundo real.

— Já que é um sonho... Acho que vou explorar então, não vai adiantar nada ficar parada aqui. – Sussurrei para mim mesma, começando a andar.

Aquilo parecia ser uma floresta normal, não havia nada estranho ou inusitado lá. Andei por alguns minutos até ver uma pequena casinha ao longe. Fui me aproximando devagar e bati na porta três vezes, mas ninguém atendeu, então presumi que os moradores estavam fora. Decidi ir embora, pois eu sabia que não devia entrar na casa dos outros sem ser convidada, mesmo que aquilo pra mim fosse um sonho, eu sempre fui uma pessoa educada.

Depois de muito andar, finalmente saí daquela floresta imensa e cheguei à um santuário, localizado próximo à algumas montanhas. Me aproximei, e dessa vez eu vi alguém. Uma garota de cabelos pretos curtos, usando roupas de sacerdotisa e um laço vermelho na cabeça, segurando uma vassoura enquanto varria a entrada do templo, que estava cheia de folhas.

— Ei... – Resolvi me comunicar com ela, tentando conseguir alguma informação sobre esse lugar. – Estou meio perdida, você pode me dizer que lugar é ess...

— Yukari? – Ela me interrompeu e olhou pra mim de forma hostil, fazendo uma posição de luta. – O que está fazendo aqui? Veio para eu finalmente te exterminar?

Eu fiquei muda. Não sabia quem era Yukari, mas ela provavelmente havia me confundido com essa pessoa. Involuntariamente dei alguns passos para trás, enquanto pensava no que dizer.

— O que você quer, hein? – Perguntou, suspirando.

— E-Eu... Só queria falar com você... – As palavras saíram sozinhas da minha boca, não consegui pensar em nada para dizer. – E-Esse templo é seu?

— Hã? – Ela parecia um pouco confusa, mas logo depois ficou levemente irritada. – Exatamente! Esse é o meu templo! O templo Hakurei! Eu sou a Reimu Hakurei, a sacerdotisa desse templo! Você tem amnésia ou só está querendo tirar uma com a minha cara?

— N-Não! Eu não sei quem é Yukari, mas... – De repente, brotou uma ideia na minha cabeça e eu cortei a frase no meio. – Sim, sou eu, Yukari... E não, eu não vim aqui para você me exterminar, por favor não faça isso!

O olhar da garota estava mais calmo e ela andou lentamente na minha direção, mas ainda parecia um pouco desconfiada.

— Primeira vez que te vejo assustada assim, Yukari! – Ela riu e eu também, claro que minha risada foi forçada, mas eu não queria levantar nenhuma suspeita. – Bom, se você não quer lutar, então... Vamos tomar um chá?

— C-Claro, por que não? – Aceitei, pois assim poderia conseguir mais informações sobre o que era esse lugar, pois eu estava cada vez mais convencida de que aquilo não era um sonho.

A Reimu Hakurei me convidou para entrar no templo e ficamos tomando chá na sala de estar. A garota até que era bem simpática, parecia até outra pessoa. Ficamos horas conversando e eu consegui manter muito bem o disfarce, respondendo de forma vaga todas as perguntas que ela fazia, fingindo entender algumas coisas que ela me dizia, e mudando de assunto toda a vez que ela perguntava algo sobre mim.

— Nossa, conversamos bastante! Já está bem tarde. – Disse Reimu olhando para a janela, e de fato, já estava muito escuro, passamos a tarde inteira conversando e bebendo chá.

— Bom, eu sei que é meio repentino, mas... Posso passar a noite aqui? Está muito escuro lá fora, pode ser perigoso voltar pra casa à essa hora.

— Ué, isso é um problema para alguém tão poderoso quanto você? – Ela arqueou a sobrancelha e me olhou confusa.

Fiquei alguns segundos pensando no que dizer, não havia me passado pela cabeça de que essa tal de Yukari era forte.

— Não, mas eu quero ficar aqui, porque... Quero passar mais tempo com você! – Falei a primeira coisa que me veio à cabeça.

A sacerdotisa ficou com as bochechas coradas e desviou o olhar. Acho que ela não estava esperando aquela resposta. Depois de alguns estranhos segundos em silêncio, Reimu me olhou e falou meio sem jeito:

— T-Tá... Pode ser... Mas só essa noite!

— Certo!

Ela parecia um pouco envergonhada com o que eu disse antes, mas percebi que ela estava feliz também. Aparentemente era uma garota solitária que vivia sozinha no templo, então não a julgo. Reimu foi para o quarto e eu dormi em um colchão na sala. Ainda haviam muitas dúvidas em minha cabeça, se aquilo era real ou apenas um sonho, se eu estava realmente em Gensokyo, um mundo de fantasia, e se eu conseguiria ver a Renko novamente. Mesmo assim, eu sabia que amanhã seria um longo dia, então apenas fechei os olhos e adormeci.