Potestatem escrita por V M Muniz, Batman


Capítulo 4
Capítulo III




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            Reya inspirou o ar puro, sentada na grama, numa colina alta um tanto longe do castelo. Seus cabelos negros balançavam com a fina brisa da manhã que soprava, e seus olhos observavam com deleite a visão que se estendia a sua frente.

             Os vales verdejantes, os rios que serpenteavam entre os montes altos. Tudo parecia etéreo demais naquela hora, quando os primeiros raios de sol conseguiam sair por dentre as espessas nuvens brancas. War, o alazão negro da princesa, olhava para a garota atento, enquanto se fartava da pastagem do local.

            Tudo estava calmo, e Reya parecia estar desfrutando da plenitude do lugar. Mas, na verdade, em sua cabeça as cenas de seu pesadelo daquela noite rodavam e rodavam, a figura horrível daquela criatura de olhos vermelhos a apavorava e, sempre que pensava nas palavras ditas por ele, seus pelos arrepiavam e sentia seu corpo estremecer.

            Conhecia o passado de sua mãe, é claro. Sabia que a mulher abdicara da magia para casar-se com o Rei, num ato de entrega ao amor que sentiam. Theadael era descendente de uma das Nove Bruxas, Riswinea, a que se voltou contra suas irmãs e escolheu os humanos naquela antiga guerra que travavam. A mulher estava cansada de tantas mortes dos dois lados e, para refrear as irmãs, uniu-se aos humanos e os ajudou a derrotá-las.

             “Eu concedi um pedido a sua mãe, mas nada é de graça, Reya Theonan. Principalmente a vida”, as palavras da criatura rondaram sua mente. O que ele queria dizer com isso? Por que a atormentava todas as noites, visitando-a em pesadelos, transformando suas horas de sono em horas intermináveis de tortura que sempre acabavam com uma forma de morte diferente, com seu corpo agonizando, pedindo por ar, pedindo por socorro?

            Ela era malditamente humana, não sabia o que aquilo era, não sabia nada daquele mundo do qual fora privada após perder a mãe no parto. Passara noites na biblioteca privativa depois da primeira semana de pesadelos interruptos, buscando por respostas nos livros antigos e esquecidos, cobertos de pó.

            Não achara nada além de um pedaço de pergaminho entre um livro de ervas medicinais, com a letra cursiva da mãe, com palavras desconexas para a garota, que não faziam sentido algum.

            Respirou fundo, fechando seus olhos por incontáveis segundos e logo os abrindo, levantando-se e caminhando até War. Montou-o e deu uma última olhadela para a paisagem, logo tomando as rédeas e guiando o cavalo novamente para o castelo.

            Não foi surpresa alguma encontrar Madame Peah esperando-a logo na entrada, com suas mãos roliças em sua cintura larga e os olhos severos, olhando com desgosto para a calça e o gibão de pano leve que a garota vestia, ao invés do vestido bege claro que havia separado para a princesa usar antes de se recolher.

            — O que fazia fora tão cedo, menina? — Peah falou, andando até a princesa, que descia de seu cavalo. — Seu desejo é me enfartar, eu já percebi. Quase que meu pobre coração cede às suas tentativas de matar-me nesta manhã, quando fui acordá-la para o Café com o Rei e a única coisa que encontrei foi sua cama desarrumada.

            A garota olhou para sua dama de companhia e balançou a cabeça levemente, pegando sua espada e a bainha, que havia prendido junto à sela de War.

            — Não tive uma boa noite de sono, resolvi sair para cavalgar.

            — Precisava fazer isso de madrugada? — a mulher falou com desgosto, vendo o cabelo negro da garota totalmente revolto e cheio de folhas e outras sujeiras. — Sua cama estava fria quando fui olhar, o que indicava que você saiu antes do sol nascer.

            — Fui saudar Onidiel, Peah. — A garota revirou os olhos, sendo seguida pela mulher para dentro do castelo. — Estava sem sono, então resolvi caminhar junto com o nascer do sol.

            Sabia que a resposta religiosa calaria a senhora, que era devota dos deuses e não se negaria a uma forma tão pura de adoração à Deusa da Manhã.

             — O rei a aguarda em seu escritório, Reya. Vá trocar de roupa antes de encontrá-lo.

            — Se meu pai pede por minha presença, deve ser um assunto de importância. Não vou gastar tempo preocupando-me com coisas tão frívolas quanto vestidos e adornos.

            E subiu as escadas para o segundo piso, caminhando para a direita e empurrando as portas pesadas de madeira que davam entrada para o gabinete do rei. Lá, sentado em sua poltrona acolchoada, estava o rei vestido com roupas parecidas com as de sua filha. A única coisa que diferenciavam-nos era a pesada coroa na cabeça do rei e os anos a mais que o homem tinha.

            De pé, com braços cruzados e uma expressão pouco amistosa, estava Hamfast, o Comandante do Rei. O homem tinha facilmente dois metros de altura, barba farta e tatuagens espalhadas pelos braços, que estavam à mostra devido a sua roupa de treinamento. Devia ter a idade de seu pai, no mínimo, mas estava tão em forma quanto todos os outros soldados.

            Reya fez uma mesura para os dois homens, espalmando sua mão no peito e abaixando a cabeça em respeito, antes de dizer:

            — Chamou-me, meu pai?

            O rei levantou a cabeça dos papéis que estavam tomando toda a sua atenção para olhar sua filha, abrindo um sorriso zombeteiro nos lábios ao imaginar o surto de Madame Peah ao vê-la vestida com roupas masculinas.

            — Sim, querida. Sente-se.

            A garota sentou-se, encostando suas costas na cadeira e esquecendo-se das maneiras que Peah a ensinara desde sua infância, ao deixar as pernas parcialmente abertas.

            — Suponho que seja um assunto de importância? — a garota disse, passando seus dedos pelos fios rebeldes de seu cabelo e tentando ajeitá-los num rabo de cavalo alto, prendendo-os com uma fita que sempre deixava amarrada no pulso para ocasiões como aquela. — Já que Hans está aqui.

            Olhou rapidamente para o homenzarrão, que sorriu minimamente de lado para a garota. Hamfast gostava dela: ele fora seu treinador quando a menina batera o pé dizendo que queria aprender a manusear uma espada, espirituosa e teimosa desde muito nova. E quando a menina terminara seu treinamento com as espadas, ensinou-a a usar o arco e machados, assim como adagas e punhais.

            — Estou enviando uma tropa para Warusean. Alguns rebeldes têm atormentado a paz dos camponeses. Hamfast vai escolher a dedo seus homens para levar nessa pequena missão.

            — Oh, sim. — Parou por um momento, tombando sua cabeça para o lado e observando o pai com atenção. — Se me permite perguntar, onde isso me inclui?

            — Bem, — o rei riu levemente — como herdeira do trono, tem que mostrar para o povo que se importa com ele e que está apta para assumir a coroa.

            — Isso quer dizer que...

            — Sim. Você irá acompanhar Hamfast. Os rebeldes que enfrentarão não são perigosos, vocês apenas têm que mantê-los em seu lugar e, se for preciso, prendê-los.

            — Minha senhora Liathor!¹ — exclamou, levantando-se animada. — Meu pai, obrigada pelo voto de confiança!

            O rei e Hamfast riram, e o Comandante caminhou até a garota, dando dois tapinhas nas costas de Reya.

            — Vamos ver se você ainda se lembra do que eu te ensinei.


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Notas finais do capítulo

¹ Liathor - O Oráculo, Deusa da Profecia. É responsável pelo destino de todos os seres viventes.

Oi meu povinho! Pensei em segurar esse capítulo por uma semana, mas não me contive! Estamos caminhando para as coisas começarem a ficar agitadas, logo teremos batalhas, magia e vocês saberão mais sobre todo o universo que ronda Reya!

Então, meus abores: eu estava pensando em fazer um tumblr ou um site com as informações sobre Potestatem, tal qual seus deuses (que, até agora, são dez, mas eventualmente logo mais deuses aparecerão), seus vilarejos, mapas e essas informações. O que vocês acham, hein? Me digam!

Acho que é isso! Não se esqueçam de deixar um comentáriozinho para eu saber o que estão achando da história ♥

Beijinhos!

♛ Capítulo betado por Glenda Cortelletti.



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