Potestatem escrita por V M Muniz, Batman


Capítulo 5
Capítulo IV




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            O sol sumia no horizonte quando Hamfast anunciou que iriam acampar ali pela noite, desmontando de seu cavalo e dando ordens para os soldados. Reya desceu de War, puxando-o pela rédea para prendê-lo junto aos outros cavalos e, assim que se certificou de que ele estava bem alimentado e sem sede, voltou para o centro do acampamento, onde uma fogueira já havia sido acesa e um caldeirão fervia, preparando o jantar daquela noite.

Era a primeira vez que saía dos limites do castelo e estava sendo uma aventura espetacular para Reya, tirando o fato de que não estava acostumada com cavalgadas de horas e seu traseiro estava reclamando pelo ato.

Espreguiçou-se, ouvindo seus ossos estalarem, e uma sensação de prazer a consumiu. Mesmo com as dores no corpo, Reya sentia-se livre. Durante a cavalgada ela enturmou-se com os soldados escolhidos por Hamfast, permitiu-se esquecer de seus pesadelos e, o mais importante: esqueceu-se de seu sangue real. Hamfast era um ótimo Comandante, e assim que ela se juntou à pequena companhia, avisou a seus soldados que ali era não era a princesa, e sim uma soldada cumprindo as ordens do rei.

E eles estavam tratando-a assim: no começo, as piadas de baixo calão foram evitadas, mas, com o passar do tempo, Grimsan – um soldado de estatura baixa e troncudo, parecido com um anão – não conseguiu conter-se e soltou uma piada sobre um rapazote que teria sua primeira vez com uma rameira. Os soldados ficaram em silêncio assim que ele terminou a tal piada, olhando para a princesa com caras assustadiças e esperando pela bronca que viria do líder da companhia.

Mas a única coisa que Reya fez foi rir e dizer:

— O coitado do rapaz devia ter apenas experiências com sua digníssima mão, dê-lhe um desconto!

Hamfast gargalhou, engasgando-se com a água que tomava.

Desde aquele momento, ela era tratada como um igual. E isso enchia o peito de Reya com uma sensação boa.

— Reya? — Hamfast chamou, sentado em volta da fogueira e estendendo-lhe um caneco com cerveja ale.

Aproximou-se do velho amigo e sentou-se ao seu lado, pegando o caneco e dando um gole generoso. Já fazia um tempo desde a última vez que havia tomado cerveja, e o gosto amargo e forte quase a fez suspirar de prazer.

Tinha que admitir, com um tanto de vergonha: sempre fora dada a bebidas alcoólicas. Vinhos, cervejas, rum e outras bebidas eram seu fraco desde seus quinze anos, quando bebeu escondida e teve seu primeiro caso de embriaguez. Morn sabia que sua amiga era dada a esse tipo de bebida e, sempre que a visitava, trazia uma caixa secreta com os melhores vinhos que tinha.

— O ensopado está pronto! — Beoste, o cozinheiro da vez, anunciou ao dar uma olhada no caldeirão e começou a servir nas tigelas, entregando as porções para cada um dos soldados ali.

Não era o melhor ensopado que Reya comera em sua vida, mas deu fim aos murmúrios de seu estômago.

No dia seguinte, levantaram antes do sol nascer e desfizeram o acampamento, montando em seus cavalos e seguindo para o norte, onde ficava Warusean. Eram três dias de viagem, apenas parando para necessidades fisiológicas e para descanso, ao cair do sol.

Reya segurou firme nas rédeas de War e olhou para frente, vendo Hamfast cavalgando ao lado de um dos soldados que trouxera. Tristán era seu nome, pelo que Hamfast havia lhe dito. Lutou ao lado do Comandante durante anos e só não servia ao Rei no exército porque preferia a vida nômade, sem fixar-se em lugar algum, tendo o mundo como seu lar.

Ele era bonito, a princesa tinha que admitir. O cabelo curto e a barba por fazer, olhos escuros, alto, porte atlético. Pena que era um tremendo rabugento que só trocara palavras necessárias com ela. Reya estava tentando descobrir como um homem extrovertido igual a Hamfast fizera amizade com seu completo oposto, Tristán, que na maioria das vezes ficava calado longe do acampamento e sempre ficava com as vigias durante a noite, revezando um ou dois turnos, para que pudesse descansar.

Suspirou.

Mais um dia de viagem passou e, mesmo gostando da sensação de estar longe dos muros do castelo, o corpo de Reya encheu-se de alívio ao ver o vilarejo Warusean logo adiante. Vilarejo era uma palavra completamente diferente do que o lugar realmente era, estando mais para uma pequena cidade, com uma feira ao ar livre logo na entrada, muitas pessoas indo para lá e para cá, mulheres lavando roupas no rio que passava ao lado do lugar, crianças brincando, correndo e gritando. O lugar era vivo! Parecia com o centro de Guthbeorth, até.

Warusean era um vilarejo conhecido pelo comércio de bebidas e tecidos, um lugar relativamente rico, com uma grande população que só era vencida pela capital do Reino.

— Princesa — Hamfast chamou e Reya deu o comando para War, aumentando um pouco a velocidade do galope e parando ao lado do comandante. — Coloque sua tiara, eles vão querer saber que a princesa deles se importa com eles a ponto de visitá-los.

Reya revirou os olhos, mas retirou a pequena tiara que trouxera de dentro de sua bolsa. Era fina e com muitos arabescos e, ao invés de ficar acima da cabeça dela, a tiara ficava ao redor dela, com uma pequena pedra âmbar no meio de sua testa.

Queria poder se ver no espelho e ter a certeza do quão hilária ela estava, vestida com sua armadura, trança desarrumada e provavelmente fedendo, pois ainda não tivera chance de banhar-se num rio. E, contradizendo com sua aparência maltrapilha, a coroa prata em sua cabeça.

Metade soldado, metade princesa, então.

Assim que a pequena comitiva passou pelos aros de entrada do vilarejo, as pessoas passaram a observar quem estava chegando. Ao olharem quem vinha em frente aos soldados, começaram a cochichar e apontar discretamente, fazendo reverências. A Família Real havia dado a eles a honra de sua presença, era um evento que com toda certeza merecia ser comemorado com uma pequena festa, para a princesa aproveitar da boa comida e da hospitalidade de Warusean.

Tudo parecia estar normal para Reya, e a princesa perguntou-se se seu pai não havia se enganado acerca do tal grupo de rebeldes que vinha fazendo ataques constantes à cidade.

E este foi seu último pensamento antes de cair no sono, em um dos quartos cedidos com prazer, numa hospedaria de renome do vilarejo.

O lugar era diferente do outro, escuro e fétido, que sempre se passava seus pesadelos. Era escuro, ainda, mas o cheiro parecia mais fresco. Um aroma adocicado pairava no ar, e ela se viu respirando fundo, absorvendo mais daquele clima de paz.

“Será hoje o dia que esses malditos pesadelos vão me dar uma folga?” Foi o que a princesa pensou, entre aliviada e desconfiada. Não parecia certo estar ali, não parecia certo que ela finalmente fosse largada pelo maldito Sugador das Sombras.

Mas enquanto andava, seus passos ecoavam pelo local. O clap clap de suas botas no chão de, aparentemente, pedra. E, num último passo, seu pé encontrou o vazio e ela caiu num abismo sem fim.

Rodando, girando, morrendo no escuro, novamente.

Riu amarga enquanto caía, pensando em como ela se enganara direitinho ao sentir o cheiro bom e a calmaria. Riu até seu corpo se encontrar com o chão, um impacto profundo que ecoou pelo lugar.

Reya acordou suada, sentindo alguém sacudir seu corpo com desespero e, ao abrir os olhos, encontrou os orbes escuras de Tristán e seus lábios grossos falando sem parar. Parecia nervoso, tentando levantá-la a todo custo.

Um som irritante soava em seu ouvido, um pii constante que latejava em sua cabeça até que ela conseguiu entender alguma coisa do que o soldado estava dizendo.

— Ataque, estamos sendo atacados!


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Notas finais do capítulo

Oi meus amorecos! Aqui está mais um capítulo.

Falando em erro, gente, eu arranjei uma beta maravilhosa, então, se quiserem ler a nova versão sem errinhos de Potestatem, é só ir ler, os capítulos anteriores estão betados ♥

E, sobre o tumblr/site: eu ainda estou pensando em qual plataforma usar, mas logo logo ele vai estar pronto.

Acho que é isso, beijos e até o próximo! ♥

♛ Capítulo betado por Glenda Cortelletti.



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