A Guerra Contra Meus Sentimentos escrita por teffy-chan


Capítulo 9
Capítulo 9 - Finalmente um Acerto




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"Se ficar em dúvida com as palavras dos outros,
Te empurrarei pelas costas, por isso olhe apenas para a frente
Você está pronto?"

 

~~~~~X~~~~~X~~~~~

 

 

Os garotos saíram da fenda já disparando contra os dois. É claro, como estavam atirando às cegas, não tinham muitas chances de acertar, mas conseguiram pegar Kiyoteru e Ryuto de surpresa. O homem recuou e colocou-se na frente de Ryuto para protegê-lo. Em seguida contra-atacou. Os disparos dele eram rápidos e precisos, quase tanto quanto os de Teto, que havia sido derrotada por Len. Dessa vez foram Piko e Len que recuaram e tiveram que se esconder atrás de uma rocha para não serem atingidos.

O som de tiros cessou por um instante e eles ouviram Kiyoteru gargalhar:

— O que foi, é só isso? Vocês dois passaram tanto tempo escondidos, pensei que tivessem ao menos pensado em algum plano.

De fato, essa era a intenção de Piko. Armar um plano para derrotar aqueles dois. No entanto, eles tinham feito de tudo, menos pensar em um plano de guerra. Ele encarou Len com o canto dos olhos e viu que o garoto exibia uma expressão culpada e o rosto estava levemente enrubescido. Piko respirou fundo. Quando decidiu invadir o território inimigo, não se importava de morrer em batalha depois do que havia descoberto sobre seus pais, mas as coisas eram diferentes agora. Depois do que Len tinha dito, do que tinha feito… era uma razão mais do que suficiente para ele sair vivo dali.

— Vamos, Len — ele chamou em voz baixa.
— O que? — o garoto falou. Parecia estar com os pensamentos muito distantes dali.
— Precisamos contra-atacar, ou eles vão realmente acabar conosco. Eu não quero morrer aqui — Piko respondeu — Não mais.
— Sim… você tem razão — Len se virou, colocando-se de joelhos, de frente para Kiyoteru e Ryuto, que ainda estavam em cima da ponte, sem sair de trás da rocha. Por um lado, estava feliz que Piko não tivesse ficado com raiva dele por tê-lo beijado, mas também não podia evitar de ficar triste por não ser correspondido — Piko, você pode atirar primeiro e errar de propósito? Finja que está tentando acertar o Kiyoteru para distraí-lo. Enquanto isso eu vou atirar nas estalactites acima dele, está vendo? — ele apontou — Se eu conseguir derrubá-las em cima daquele cara, elas farão o trabalho sujo por nós.
— Não se preocupe, errar é a minha especialidade — Piko deu um sorriso amargo — E quanto ao Ryuto?
— Cuidamos do menino depois. Na verdade estou torcendo para que ele fuja, ou para que uma estalactite acerte ele também, mas é mais provável que ele fuja… enfim, vamos cuidar do Kiyoteru primeiro.
— Vocês dois estão quietos demais… será que morreram? — a voz cruel e infantil de Ryuto perguntou — Acho que vou jogar isso no chão, só para garantir.
— Len, é uma granada!

Dessa vez foi Piko quem arrastou o outro garoto para longe assim que identificou o objeto. Eles correram o máximo que puderam, mas não conseguiram escapar completamente da explosão. Foram arremessados para alguns metros longe dali outra vez e aterrissaram no chão com um baque surdo. Piko tossiu sangue e colocou a mão na cabeça, que doía tanto que ele parecia estar sofrendo uma trepanação. Ela voltou vermelha, tingida com o sangue que maculava seus cabelos prateados e escorria pelo seu rosto, perto do olho esverdeado.

Perto dele, Len tentava se levantar, com certa dificuldade. Um filete de sangue escorria do canto da boca. A manga esquerda da camisa surrada que ele vestia estava arruinada, bem como seu braço. Estava ensanguentado e Len quase não conseguia movê-lo. Provavelmente estava quebrado.

Mas eles não podiam perder aquela chance. A fumaça causada pela granada ainda pairava no ar. Len e Piko trocaram olhares por um instante e em seguida Piko disparou às cegas contra Kiyoteru, enquanto Len atirava no teto acima dele. O homem recuou, novamente surpreso, dessa vez com o plano dos dois, que ele acabou percebendo. Kiyoteru desviou instantes antes de a estalactite cair no chão, no exato lugar onde ele estava.

— Impressionante! — ele aplaudiu — Vocês realmente se esforçaram dessa vez, devo admitir. É uma pena que a nossa brincadeira precise acabar. A senhora Luka é uma pessoa muito ocupada, entende, então eu não posso perder muito tempo com vocês. Ryuto, acabe com eles. Só tente deixar o garoto dos Shion vivo, talvez ele seja útil para a senhora Luka.
— Tudo bem, mas não garanto nada — Ryuto sorriu enquanto sacava os mais variados tipos de bombas. Piko só teve tempo de reconhecer gás lacrimogêneo, dinamites (que ele decidiu não usar, graças aos céus) e mais granadas, que parecia ser a preferida dele, e lançá-las contra os dois.

Eles gritaram e correram, mas é claro que não adiantou nada. A nova explosão os arremessou pelos ares mais uma vez. Piko sentiu seus olhos lacrimejarem e sua garganta arder, principalmente porque cuspia mais sangue por causa da explosão. Pelo menos não parecia ter quebrado nada. Ele olhou para os lados para verificar o atual estado de Len, mas não encontrou o amigo. Colocou-se de pé com uma velocidade impressionante para alguém que estava com a cabeça sangrando e fez um círculo completo, mas não o encontrou. Talvez fosse aquela poeira… sim, realmente não dava para enxergar nada com toda aquela poeira ao redor. Quando ela se dissipasse, com certeza Len iria…

— Você pegou o garoto errado?!

Piko foi atraído pela voz irritada de Ryuto. Ele olhou para o alto e viu que, de alguma maneira inexplicável, Kiyoteru tinha descido até onde eles estavam e trazido Len com ele até a ponte, provavelmente escalando aquela parede enorme, já que as escadas foram destruídas. E de fato, agora que a poeira havia baixado, ele podia ver Len perto deles. Kiyoteru o segurava com uma das mãos, ambos os braços do garoto às costas, enquanto apontava um revólver contra a cabeça dele com a outra.

— Não acredito que pegou o garoto errado! — Ryuto continuava reclamando — Francamente, eu fiz tanto esforço para não matar os dois só porque você queria o herdeiro dos Shion, então por que você não o pegou para levar até a senhora Luka?!
— Eu tentei! Mas é difícil de enxergar com toda aquela fumaça… — Kiyoteru tentou se defender.
— Não me interessa! — Ryuto rebateu — Esse garoto é inútil, então mate-o logo.
— Não! — Piko exclamou antes que pudesse se conter — Não o matem!
— Ora, e por que não? — Kyoteru perguntou, voltando-se para ele. Ryuto fez o mesmo — Ele não é útil para nós. Já você, por outro lado…
— Piko, nem ouse tentar fazer outra troca estúpida como aquela com a Teto… — Len tentou avisar, mas Kiyoteru interrompeu.
— Quietinho, garoto, estamos conversando aqui — Kiyoteru segurou os braços de Len com mais força, fazendo o garoto soltar uma exclamação de dor por causa do braço quebrado. Ele olhou para Piko com curiosidade — Está sugerindo uma troca? Levamos você e libertamos esse garoto. Não é má ideia.
— Em nenhum momento eu falei sobre troca. Eu disse para não matá-lo — Piko sacou seu revólver sem pensar e apontou para ele — Se tentar fazer isso, eu mato você.
— Ah, decisão errada, moço — Ryuto soou desapontado — Poderíamos ter barganhado, sabe? Desse jeito ninguém se machucaria.
— Eu com certeza me machucaria se fosse com vocês — Piko observou — Agora soltem ele antes que eu atire.
— Desculpa, moço, mas você não me dá medo — Ryuto deixou escapar uma risada — Todo mundo sabe que você tem uma mira horrível. Acho que é melhor você trocar de lugar com ele e vir com a gente mesmo.
— Já disse que não vou fazer isso!
— Tem certeza de que essa é a sua decisão, menino? Lembre-se de que eu estou com o seu amigo bem aqui. Você pode acabar acertando-o acidentalmente… — Kiyoteru cantarolou enquanto colocava-se mais atrás de Len, usando-o como um escudo humano.
Ele estava certo. Piko já tinha uma mira ruim por natureza e sua visão não ajudava muito. Se tentasse atirar nele, poderia acabar machucando Len por acidente. Mas ele não podia deixar que eles ficassem com Len. Se ficassem, iriam matá-lo, com certeza. Len já o tinha ajudado tantas vezes que ele já tinha até perdido a conta.
Ele sentia o revólver tremer em suas mãos. Estava com medo de novo. Droga, por que isso era tão difícil? Era por que ele não queria matar pessoas? Sim, era isso… ele não queria matar. Odiava guerras, odiava o mundo no qual tinha nascido. Mas amava Len. E Len fazia parte do mundo no qual ele tinha nascido. Piko não conseguia imaginar esse mundo sem ele. E era por isso que precisava parar de hesitar.

Respirou fundo e atirou.

Piko sentiu lágrimas escorrerem pelo seu rosto, limpando o sangue de um dos lados da face. Suas mãos ainda tremiam enquanto ele via o corpo de Ryuto, agora com um buraco no meio da testa de onde jorrava sangue, cair da ponte e aterrissar com um baque surdo no chão. Se o tiro não o tinha matado, a queda certamente o tinha feito.

Como ele tinha conseguido acertar um alvo tão pequeno? Ele nunca tinha conseguido atirar em uma pessoa em toda sua vida… aquela era a primeira vez que atirava em alguém e acertava. A primeira vez que matava alguém com tiros e não com doces envenenados. E tinha que ser justamente uma criança… que ironia cruel.

Mas não era hora de ficar se culpando. Ele voltou a olhar para cima, a tempo de ver Kiyoteru empurrar Len para longe e fugir pelo outro lado da ponte, que não estava destruído. Piko tinha acertado afinal. Mesmo sendo mais jovem, Ryuto era quem dava as ordens ali. Foi a melhor decisão ter matado ele ao invés de Kiyoteru.

Ele soluçou enquanto baixava a arma. Viu Len descer por uma rampa estreita, que ficava do mesmo lado por onde Kiyoteru havia fugido, que eles não tinham usado antes. Provavelmente foi por ali que Kiyoteru desceu para sequestrar Len. O garoto caminhou até Piko e o abraçou, meio sem jeito, como se temesse que o amigo fosse afastá-lo. Ao invés disso, Piko o abraçou de volta.

— Ei, está tudo bem — Len murmurou em seu ouvido. Ele retirou com cuidado o revólver das mãos do amigo — Fique calmo. Acabou.
— Não, não está. Eu o matei, Len — Piko soluçou — Era só uma criança. Quero dizer, eu já matei crianças antes, mas nunca atirei em uma…
— Podia ser uma criança, mas era um inimigo — o garoto lembrou e soltou Piko para poder encará-lo — Piko, você me salvou. Pode ter matado esse menino, mas salvou minha vida.
— É… acho que sim — Piko enxugou as lágrimas com as costas das mãos.
— E sabe de uma coisa? Você finalmente acertou o alvo, Piko — Len falou como se o parabenizasse, embora isso estivesse longe de deixar o garoto feliz — Seus pais ficariam orgulhosos.
— É, ficariam mesmo — ele concordou com amargura — Mas ainda é horrível. Por que eu sempre acabo matando crianças? Atirar em uma é ainda pior do que envenená-las — ele olhou com tristeza para o corpo imóvel de Ryuto — Atirar em pessoas é uma sensação horrível. Como você consegue fazer isso, Len?
— Eu sei o quanto é horrível. É doloroso. A culpa por estar tirando a vida de alguém nunca desaparece por completo. Mas eu preciso fazer isso para proteger as pessoas que são importantes para mim. Para proteger quem eu amo — ele passou os dedos pelas mechas dos cabelos do garoto.
— Len…
— Você está bem? — Len perguntou subitamente. Só então Piko percebeu que ele tocava as mechas tingidas de sangue.
— Ah… sim, na medida do possível — Piko fez o possível para disfarçar o embaraço — E você?
— Acho que quebrei um braço — ele informou — Mas, fora isso, estou bem.
— Tem certeza de que pode continuar? — Piko perguntou — Talvez seja melhor voltarmos.
— Nada disso. Agora que chegamos até aqui, vamos até o fim — Len respondeu com convicção — Vamos usar esse caminho para ir atrás do Kiyoteru, pode ser que encontremos alguma coisa de interessante indo por aqui — ele voltou a subir a rampa que levava até a ponte e Piko o seguiu, sem conseguir deixar de pensar se realmente tinha sido uma boa decisão matar Ryuto. Talvez devesse ter tentado atirar em Kiyoteru. Mas ele estava segurando Len, era muito arriscado… e ele estava certo sobre Ryuto ser o chefe. É, parece que ele tinha nascido mesmo para matar crianças afinal. Mas isso não importava mais. Len estava a salvo e ao lado dele. Isso era tudo o que importava no momento.


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Notas finais do capítulo

Olá meninos e meninas!
E finalmente o Piko conseguiu acertar um alvo! Eu não sei se fico feliz com isso ou se fico triste por ele ter matado alguém haushaushaha Mas ele salvou o Len, é isso que importa o/
E até aonde será que aquele caminho vai dar? Algum palpite?
Deixem reviews por favor e façam uma autora feliz! *o*



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