A Guerra Contra Meus Sentimentos escrita por teffy-chan


Capítulo 8
Capítulo 8 - Pego de Surpresa




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"Se eu abrir as portas do meu coração,
Cancelarei as instalações de dispositivos e extras"

 

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Os dois acabaram seguindo pela rota 3, a mesma que utilizaram na última missão. Len sabia que Rin também tinha sido convocada, mas ouviu Gumi conversando com a garota sobre precisar de ajuda no hospital, e também sabia que a irmã iria querer ficar junto de Oliver agora que ele tinha acordado, então podia se concentrar completamente na missão sem se preocupar com a segurança dela dessa vez.

Os garotos seguiram por uma fenda longa e estreita que já conheciam bem e que desembocava no território inimigo. Não havia ninguém lá dessa vez. Eles escutavam barulhos de tiros e explosões ao longe, mas não havia nenhum sinal de vida por perto.

— Bem, e agora? — Len perguntou — Não recebemos nenhuma ordem específica. Para onde vamos?
— Para onde estiver acontecendo a batalha mais próxima — Piko respondeu, seguindo o barulho de explosões que vinha da direita. Len suspirou e foi atrás dele.

Caminharam durante alguns minutos e o único som que se escutava era o barulho das explosões, que se tornava cada vez mais alto conforme eles se aproximavam. Até que de repente parou. Len e Piko também pararam de caminhar e ficaram em estado de alerta, prestando atenção em qualquer movimento suspeito por perto. Instantes depois, viram algo cair a alguns metros dali. Len se aproximou com cautela e se ajoelhou no chão para verificar do que se tratava. Depois que o fez, recuou quase que instantaneamente.

Um corpo. Completamente irreconhecível de tão carbonizado que estava. Len só sabia dizer que era um corpo masculino de um adulto, e nada mais. Ele olhou para trás, para onde Piko tinha ficado escondido, mas o garoto não estava mais ali. Len olhou em volta, preocupado, e viu o amigo subir uma escadaria de pedra com degraus irregulares que ele não tinha notado até então. Elas levavam até o que parecia ser uma espécie de ponte. No centro dela, havia um menino abaixado choramingando, abraçando os joelhos em posição fetal. Os cabelos eram esverdeados e ele parecia ter uns seis ou sete anos…
Era ele.
Ryuto.

Isso era péssimo. Por causa de tudo o que aconteceu com os pais de Piko, o garoto estava atordoado demais para assimilar alguma informação sobre qualquer outro assunto, então Len não havia tido chance de alertá-lo sobre aquele menino. Que Ryuto era o especialista em bombas, e não Meiko. E ele era o responsável pela perda da visão de um dos olhos de Oliver.

Ele teve vontade de gritar para Piko se afastar dele, mas de nada adiantaria. Ryuto estava interpretando o papel de uma criança indefesa, o alvo que Piko costumava atacar. E ele ainda não parecia ter notado a presença de Len. Se ele gritasse agora, Piko não entenderia o motivo de precisar se afastar de uma criança, Ryuto notaria sua presença e Len perderia a vantagem do "elemento surpresa". Precisava bolar algum plano, e depressa.

— Ei — Piko chamou, abaixando-se ao lado do menino — Você está bem? O que aconteceu?
— Explosões… tiros para todos os lados… estou com medo… — o menino choramingou com a voz abafada, pois cobria o rosto com as mãos — Mamãe e papai me mandaram ficar aqui e me esconder, mas estão demorando muito para voltar.
— Para onde os seus pais foram? — Piko perguntou.
— Disseram que iam ajudar a vencer a luta… eles foram por ali — o garoto apontou na direção contrária às escadas. Ouviu-se uma nova enxurrada de tiroteios e ele se encolheu de novo.
— Não se preocupe. A batalha logo vai acabar, não precisa ficar com medo — Piko afagou as costas dele. Sentiu uma dor no peito por estar tentando consolar um garoto que estava prestes a matar. Como ele podia ser tão falso? Bem, talvez fosse consequência das mentiras que lhe contaram a vida toda. Era isso… uma família de mentirosos — Vai ficar tudo bem.
— E como você pode saber? Por acaso está lutando na guerra também? — o garoto tirou as mãos do rosto para encará-lo. Seus olhos verdes brilhavam enquanto encarava Piko — Não me lembro de já ter te visto antes, moço… você é daqui?
— Não me lembro. Sofri um acidente há alguns meses durante uma das batalhas. Parece que bati a cabeça e perdi a memória — Piko mentiu com uma naturalidade impressionante. O menino não pareceu muito convencido e ia fazer mais perguntas, quando ouviu-se o som de mais tiros e ele se encolheu — Calma. Vai ficar tudo bem. Vou ficar aqui com você até essa batalha acabar, está bem? — ele retirou um chocolate da cesta que carregava — Está com fome? Eu estava guardando para depois, mas pode ficar com ele.
— Obrigado — o menino falou, segurando o chocolate com as mãos pequenas enquanto o encarava — Vai mesmo ficar aqui comigo? Promete?
— Prometo — Piko repetiu. Ao menos uma vez na vida ficaria para ver o estrago que os chocolates envenenados causava nas crianças que ele matava. Afinal, de que adiantava não gostar de atirar nas pessoas se ele simplesmente estava matando-as de uma forma diferente? No fim das contas, dá no mesmo. Ao menos deveria ter a decência de vê-las morrer — Vou ficar com você até o final.
— Que bom… porque eu não ia deixar você sair daqui vivo de qualquer jeito.

A expressão facial do menino mudou drasticamente. Seus lábios se contorceram em um sorriso, um enorme e sádico sorriso, e Piko se afastou dele instintivamente assim que percebeu isso.

— Ah, é mesmo. Que falta de educação a minha — o menino colocou-se de pé e começou a caminhar lentamente na direção de Piko, que recuava na direção dos degraus — Deixe eu te dar um presente, moço. Como retribuição ao seu chocolate envenenado — Ele retirou algo pequeno e oval do bolso da bermuda e jogou na direção de Piko.
— Piko, cuidado!

Len, que tinha subido a escadaria irregular sabe-se lá quando, o empurrou para baixo, para trás de uma pedra particularmente maior que lembrava um corrimão, momentos antes da granada que o garoto jogou contra Piko explodir. O impacto destruiu a escada e fez com que o garotos voassem para metros longe dali. Len abraçou Piko instintivamente e os dois rolaram no chão, indo parar perto de uma parede rochosa. Os dois estavam cheios de arranhões, os joelhos e cotovelos ralados e sangrando, mas, fora isso, estavam bem. Quando colocaram-se de pé, viram o garoto rindo lá do alto.

— Achou mesmo que eu não perceberia que o doce estava envenenado, herdeiro dos Shion? Ora, por favor! Reconheço cheio de veneno de longe!
— Mas o que…?! — Piko olhou boquiaberto para o menino, com a personalidade tão diferente da que demonstrava segundos atrás — Do que está falando? E como sabe quem eu sou?
— Que pergunta boba, moço. Pensei que o único herdeiro dos Shion fosse mais inteligente — o garoto balançou o dedo em sinal de reprovação — Todo mundo sabe que o herdeiro do clã Shion tem heterocromia.
— Piko, esse menino não é como as crianças que você costuma envenenar — Len murmurou para ele, sem desgrudar os olhos do garoto - Ele é o tal do Ryuto, que lutou contra a minha irmã e com o Oliver. Ele é o especialista em bombas.
— Esse pirralho?! — Piko exclamou incrédulo — Tem certeza de que não era a Meiko?
— Não, é ele mesmo. O Oliver me contou pouco antes de eu sair — Len respondeu — Disse que foi por causa desse menino que ele perdeu um dos olhos.
— Parece que você está bem informado, meu jovem — uma voz diferente, mais adulta, pronunciou-se.

Do outro lado da ponte um homem se aproximou até parar ao lado de Ryuto. Ele era alto e esguio, tinha cabelos castanhos e usava óculos sob seus olhos frios.

— Graças ao olho do seu amigo vocês conseguiram ótimas informações. Um ótimo preço, não acha? — o homem disse como quem fala do tempo — Ele estava certo, nosso Ryuto aqui pode ser jovem, mas é o nosso melhor soldado. Ninguém ganhou dele até hoje, e não são dois pirralhos que vão ganhar. Nem mesmo o herdeiro do clã Shion.
— Todo mundo só fica me chamando de "herdeiro do clã Shion", mas eu tenho nome, sabia? — Piko falou incomodado. Isso já incomodava antes, agora que sabia que era adotado então, incomodava muito mais — E nós nem sabemos o seu, aliás.
— Ora, onde estão meus modos? Preciso dar um bom exemplo para as crianças afinal — ele ergueu as mãos como quem se desculpa — Sou Hiyama Kiyoteru, prazer. Mas vocês não precisam se dar ao trabalho de decorá-lo, já que vão morrer daqui a pouco de qualquer jeito. Ryuto?
— Deixa comigo! — o menino sacou outro objeto de uma bolsa que Kiyoteru havia entregado a ele e mirou no chão dessa vez, alguns metros à frente dos dois. E então ouviu-se uma explosão, seguida por uma nuvem de fumaça que se espalhou por todo o local, impossibilitando-os de enxergar um palmo a sua frente. Os garotos tossiam e respiravam com dificuldade, e recuaram alguns passos, até que Len ouviu um barulho.
— Piko, ele vai atirar outra coisa — ele avisou.
— O que?! Mas como ele pode atirar com toda essa fumaça? — o garoto perguntou perplexo — Eu nem consigo ver você direito, duvido que ele possa nos enxergar!
— Eles devem estar usando algum tipo de máscara que permite que nos enxerguem — Len respondeu. Em seguida segurou a mão do amigo para certificar-se de que não se perderia dele e o arrastou para o lado — Cuidado!

Instantes depois de ter sido arrastado por Len, uma bala passou raspado no lugar onde Piko estava parado antes. O garoto concluiu que era Kiyoteru quem estava atirando, visto que Ryuto foi chamado de especialista em bombas. Não que isso fizesse diferença. Len o arrastou às cegas no meio da fumaça, meio que abaixados para fugir das balas, até que depararam-se com uma fenda comprida em uma parede. Era muito estreita, mas, se eles se espremessem, caberiam os dois ali.

Piko ainda tossia um pouco por causa da fumaça e sentia seus olhos lacrimejarem. Ele tentou colocar seus pensamentos em ordem. Precisava planejar o que fariam a seguir, como iriam se livrar daqueles dois para continuar avançando. Ir até lá foi ideia dele afinal. Mas fazer isso com a respiração de Len em seu pescoço era simplesmente impossível.

A fenda onde haviam se escondido era menor do que imaginaram. Seus corpos estavam colados um no outro e não havia espaço para se mexer a não se que pretendesse sair da greta onde tinham se escondido. Piko podia sentir o hálito quente do garoto em seu rosto, os batimentos cardíacos descompassados junto ao seu peito.
E então o inevitável aconteceu:

— Piko — Len chamou — Se nós morrermos aqui… tem uma coisa que eu quero fazer primeiro.

De alguma forma Len conseguiu mover a mão para puxar o rosto do garoto para perto do seu, acabando com a curta distância que havia entre eles e o beijou. Piko arregalou os olhos bicolores diante daquele ato. Não foi nada como imaginou que seria seu primeiro beijo. Primeiro, nunca imaginou que seria com Len, apesar de desejar isso. Segundo que o garoto parecia um tanto afobado. Ele pressionou Piko contra a parede com o próprio corpo, embora não fosse necessário, pois já estavam espremidos naquele espaço apertado, e o puxou para mais perto pelos cabelos prateados enquanto movia seus lábios de forma desajeitada. Piko deixou escapar um ruído rouco quando sentiu a mão de Len deslizar pelo seu corpo até enlaçar sua cintura, enquanto se esforçava para tentar aprofundar o beijo, como se ele fosse o oxigênio do qual Len precisava para sobreviver.
No entanto, o verdadeiro oxigênio logo se fez necessário, ou Len percebeu que estava indo longe demais, e então o soltou. Ele apoiou as mãos na parede às suas costas e apoiou a testa na de Piko, fechando os olhos.

— Len… — Piko chamou com a voz fraca, o rosto terrivelmente corado — O que foi isso?
— Desculpe. Sei que não devia ter agido assim do nada. Sei que deveria ter te contado antes, e que pedir desculpas não vai mudar o que eu fiz, mas… eu precisava fazer — Len murmurou ainda de olhos fechados. Não tinha coragem para encará-lo depois do que havia feito, mas também não parecia arrependido — Quero dizer, esta situação… sinceramente, eu não vejo como podemos sair vivos dela. Então, se morrermos aqui hoje, eu… bem, eu simplesmente não queria morrer antes de ter te… bem, de fazer o que eu acabei de fazer.
— É, você me pareceu bastante experiente — Piko observou — Andou praticando com alguém, foi?
— Até parece — Len riu sem graça e enfim conseguiu encará-lo — Ah. Acaba de me ocorrer… por acaso esse foi o seu primeiro beijo? — ele perguntou e Piko acenou com a cabeça timidamente. Len desencostou a testa da dele, subitamente alarmado — Ah meu Deus, sinto muito. Não queria roubar seu primeiro beijo assim… em um lugar desses…
— Realmente esse não é o melhor lugar para se fazer esse tipo de coisa — Piko concordou — Mas, Len… se você fez isso, significa… que você gosta de mim?

Aquela era uma pergunta um tanto tola depois do que tinha acontecido, mas Piko queria confirmar mesmo assim. Não era possível que Len sentisse o mesmo por ele. O garoto nunca tinha demonstrado o menor interesse nele… bom, se bem que ele também sempre fez de tudo para não demonstrar, então talvez Len estivesse na mesma situação. E ele pareceu chateado quando descobriu sobre o seu casamento arranjado com Rin. Ele pensou que era apenas ciúme de irmão, mas… será que tinha se enganado?

— Preciso mesmo dizer o óbvio? — Len virou o rosto para o lado, desconcertado.
— Depois de roubar meu primeiro beijo dentro da fresta de uma parede imunda no meio do território inimigo? Precisa sim — Piko respondeu.
— Já que você faz questão — Len suspirou, como se isso lhe desse coragem, e voltou a encarar o garoto — Sim, eu gosto de você, Piko. Gosto há tanto tempo que nem lembro mais quando foi que comecei a te amar. Gosto das cores diferentes dos seus olhos, do seu cheiro, do seu cabelo macio… por que acha que eu vivo mexendo nele? — Len afagou os cabelos prateados do garoto e Piko finalmente entendeu o motivo desse hábito — Gosto da sua perseverança em continuar se esforçando e dando o máximo de si mesmo com os pais terrivelmente exigentes que você tem, e gosto de ser o amigo mais próximo de você. Mesmo que seja só um… amigo — ele baixou a cabeça ao terminar a frase — Já tem outra pessoa que você gosta afinal, certo? Eu levei um fora antes mesmo de me declarar…
— Hã, Len… sobre isso…

A frase de Piko foi interrompida pelo som de novos disparos. A fumaça lá fora já tinha se dissipado sem que eles percebessem.

— Vamos, crianças, saiam para brincar! Parem de se esconder e lutem como homens! — ouviu-se a voz de Kiyoteru, seguido por mais disparos.

— Eu realmente escolhi um péssimo momento para fazer isso — Len murmurou, sacando um revólver — Piko, me prometa uma coisa: Se sairmos vivos daqui, me prometa que vai se declarar para a pessoa que você ama. Pelo menos um de nós merece ser feliz.
— Pode ter certeza de que eu vou fazer isso — Piko respondeu. Em seguida saíram da fenda juntos.


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Notas finais do capítulo

Boa noite meninos e meninas!
Então... por favor, não me matem! Eu si que fui um pouco má nesse capítulo, talvez o Len tenha exagerado, mas as coisas vão se ajeitar mais pra frente, eu prometo! Por enquanto vamos focar na batalha e torcer para eles saírem vivos dessa!
E aqui estão as imagens dos novos vilões!
Ryuto:
http://s1151.photobucket.com/user/teffy-chan88/media/Ryuto.full.321542_zps7yyaxzf1.jpg.html

Kiyoteru:
http://s1151.photobucket.com/user/teffy-chan88/media/Hiyama.Kiyoteru.full.223603_zpsb3f5fxdm.jpg.html

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