Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 66
HAZEL - Lembre de mim


Notas iniciais do capítulo

olá!!! me perdi nos dias. n sei mais se demorei ou n kkk mas eis o capítulo novo :)



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HAZEL

Numa batalha é bem comum nos encontrarmos em situações não muito confortáveis ou práticas. Assim, por motivos óbvios, quero dizer que não recomendo a experiência de ficar pendurada nas costas de um deus asteca com apenas a espada fincada nele para me segurar. O deus se sacudindo e se contorcendo tentando me pegar deixava as coisas bem piores. Mas, felizmente, eu aparentemente acertei aquele exato lugar das costas que quando dá vontade de coçar, temos que pedir pra alguém ajudar. 

Eu sentia que embaixo dos nossos pés havia algo. Bem, bem embaixo. Conseguia sentir o que pareciam túneis provavelmente escondidos há séculos já que aqui e ali podia sentir também pedras preciosas e ouro largados em sua extensão e provavelmente fazendo parte de algum objeto qualquer. Isso me deu uma ideia e, por isso, olhei ao redor e vi Nico se afastando de Will e se aproximando de mim para me ajudar enquanto Percy terminava de ajudar Rosa.

— NICO, PARE! NÃO CHEGUE MAIS PERTO! POR FAVOR! - gritei para Nico e ele parou de repente sem entender o porquê.

— O QUE VAI FAZER? - gritou Nico de volta.

Tentei concentrar a força que ainda restava em mim (ainda não havia me recuperado totalmente de meu breve momento de idosa) para abrir o chão sob os pés do deus. Derrubar ele no que me parecia um pequeno labirinto cheio de artefatos de valores financeiros e históricos largados aqui e ali. Mas, antes que eu pudesse fazer isso, a batalha tomou um rumo completamente diferente.

— Minha paciência está acabando. - disse o deus suspirando pesadamente - Fui legal por tempo o suficiente. Tenho coisas para fazer sabe?

Bem, foi aí que algo bem ruim aconteceu. Tentei me apressar para abrir o chão e engolir o deus, até tinha começado a fazer as coisas tremer. Mas tive que parar apressadamente pois tive apenas alguns milésimos de segundo para perceber que a pele dele começou a irradiar uma luz muito forte. 

Meus reflexos gritavam para eu pular dali, mas minha espada estava presa e eu não tinha apoio direito para tentar puxá-la. Então, quando aquela luz explodiu ao meu redor, eu também fiz a terra tremer. Torcendo para que ninguém estivesse muito perto, abri um buraco no chão poucos segundos depois da luz forte chegar em meus olhos. Por instinto, fechei os olhos enquanto caía presa ao deus.

Não foi uma queda muito agradável (como se tivessem muitas quedas que o fossem) mas, quando o deus caiu no chão, senti minha espada se mexer. Outra coisa que senti, foi eu me machucando. Por mais que saber cair faça parte de uma luta de combate, não importou muito, o óbvio aconteceu. Com a queda, eu acabei caindo de um jeito nada confortável por mais que o deus tenha servido de almofada para minha queda. Mas ele era feito de ossos… então ainda era bem desconfortável. Senti, entre outras dores menores, uma dor na minha coxa, no meu pobre cotovelo que ingenuamente tentou diminuir os efeitos da queda e na lateral da testa. 

Não tinha tempo para me dar alguns segundos para sentir os danos, tinha que me levantar novamente. Respirei fundo enquanto ouvia os característicos sons de ossos batendo em pedras quando os esqueletos ou suas partes foram engolidas pelo buraco no chão e logo em seguida, abri os olhos por fim. Ao fazer isso que notei que as coisas estavam piores do que imaginava pois, quando abri os olhos, apenas a escuridão me rodeava. Estava tão profundo assim?

Olhei para cima em busca do buraco por onde tinha caído, e não vi nenhum ponto de luz, nada. Então, para deixar as coisas ainda mais estranhas na minha cabeça, ouvi a voz de Will gritando para Nico não muito longe dali.

— Você tá bem, Nico?! Impressão minha ou teve um baita clarão agora a pouco? - falava Will apressadamente - Vem! Pega minha mão que eu te puxo!

— Gente, porque ficou escuro de repente? Alguém desligou o sol? - ouvi Percy perguntando bem alto para que todos ouvíssemos.

Com um pouco de dificuldade e pensando preocupada em como minha tentativa de derrubar o deus havia aparentemente engolido Nico também, puxei por fim minha espada das costas do deus que, para meu estranhamento e preocupação, soltou uma leve risada.

— Não bem desligar o sol… mas tenho certeza que vocês estão sentindo como se assim o fosse. - disse ele.

— Ahm… gente… - disse Will com insegurança na voz - Tirando o novo buraco no chão… tá tudo normal...

Foi então que, com medo no coração, entendi o que aquilo significava. Nada, não via nada. A luz havia me cegado. Não importa o tanto que esforçasse minha visão, era tudo escuridão. Aquilo me deixou com medo. Com muito medo. Não sabia se era permanente ou não. Esperava que não fosse. A incerteza e o medo pesaram no meu peito. Era como se algo forte estivesse esmagando meu coração até que, aflita, concluí que Percy provavelmente estaria na mesma situação. E quanto à Rosa? E Rosa? Ao menos Will havia se salvado.

Controlei minha preocupação para assuntos mais urgentes mas não tive tempo para isso pois o deus, que estava caído aos meus pés, logo se levantou e acabou me derrubando de costas. 

— Alguém além do Will está conseguindo ver alguma c- - ouvi Percy perguntar quando o deus impediu que eu caísse completamente no chão ao me agarrar bruscamente com sua mão ossuda pela garganta.

— Sei que estão lutando pelos seus, mas também luto pelos meus. - disse o deus com sua voz arrastada e arranhada - Sem reconhecimento, caímos no esquecimento. Caindo no esquecimento, podemos num piscar de olhos simplesmente desaparecer ou cair num ciclo provavelmente eterno de sofreguidão. 

 - E de que se vingar em nós o ajuda? - ouvi a voz de Rosa dizer - Não somos os descendentes dos astecas? Semideuses ou não.

— Eu estaria razoavelmente satisfeito em apenas me livrar de todo o território da Espanha… - admitiu o deus - Mas…. Somos uma união de forças… e os demais também tem suas demandas.

— Nós também. - disse Will e pude ouvir rapidamente o barulho de seu arco atirando uma flecha que atingiu o deus em certeiro e bem perto de mim.

O deus me soltou e eu caí no chão meio desengonçada. Talvez até tivesse caído em pé se não fosse uma pedra torta logo abaixo de mim. Assim, caí de joelhos no chão e uma pontada de dor comprovou que eles provavelmente não gostaram disso. Ao mesmo tempo, ouvi os passos apressados de alguém desafiando os obstáculos causados pelas pedras aglomeradas de qualquer jeito até onde eu estava e em seguida agarrando meu braço.

— Vem. Vem. - disse Will me puxando apressadamente.

Eu estava terrivelmente confusa com o que estava acontecendo. Só sei que algo mais estava fazendo barulho entre as pedras perto de mim e do deus e, seja lá o que era isso, ele não estava gostando ou estava ao menos considerando aquilo mais importante do que ir atrás de mim e de Will.

— Seu dia é o feriado mais importante e famoso do México. Como pode dizer que é esquecido? - perguntou Rosa.

— Quantos sabem que esse dia nasceu graças à mim e minha esposa? - reclamou o deus fazendo tudo tremer com um grande tapa no chão. 

Eu teria caído se não fosse Will logo ao meu lado. Era bem irritante não poder ver nada. Não conseguia entender direito o que estava acontecendo. Toda a adrenalina da batalha me poupava de ficar mais desesperada e triste com a minha situação atual. 

Pelo nivelamento do chão, eu percebi quando eu e Will saímos do buraco. Imediatamente uma mão segurou meu outro braço e a voz logo dedurou que era Nico.

— Vocês estão bem? - perguntou ele preocupado.

— Você está conseguindo enxergar? - perguntei.

— ...Sombras apenas… vultos… - respondeu Nico com a voz pesada.

— Melhor do que eu. - respondi de volta tentando não deixar qualquer tristeza transparecer na minha voz, mas acho que falhei, pois senti a mão dele apertando-se em meu braço e logo fomos ambos engolidos num abraço de Will. Um em cada braço.

— Vamos dar um jeito! Vamos dar um jeito! Pensamento positivo! - incentivou Will.

No meio de tudo isso, eu podia ouvir Rosa dialogando, ou tentando dialogar, com o deus. Apesar de tudo, ele realmente parecia parar para ouvir ao menos brevemente o que ela tinha à dizer. E, no meio de tudo isso, ainda tinha outro problema, não sabia mais ou menos onde estava Percy. Mas acho que Will pensou o mesmo que eu naquele momento.

— Percy, tá tudo bem aí? - perguntou Will em alta voz.

— Tirando que não tô conseguindo ver nada? Claro. Ótimo. - respondeu Percy com sarcasmo na voz.

— Fique aí. - alertou Will enquanto nos soltava e preparava seu arco e flecha novamente - Ainda tá cheio dos buracos sem fim que o Mick abriu.

— Acha que conseguimos ir até ele? Para ficarmos ao menos juntos. - sugeri.

— Talvez… - disse Will com uma leve insegurança - O Mick tá bem distraído discutindo com a Rosa. Por incrível que pareça.

— Impressão minha ou você tá chamando o deus de Mick? - perguntou Nico.

— Não é impressão… - confirmou Will e… bem… acho que vou aderir ao apelido.

— … Podemos fazer todos lembrar de você e dos outros deuses também… - dizia Rosa - Tem vários jeitos de fazer isso… É uma alternativa melhor para ambos os lados.

— Acho que ela quer ajuda… -  disse Will - Primeiro por estar falando em inglês. Mas principalmente por estar olhando toda hora para cá com cara de desespero.

— Já ouvi esses discursos várias e várias vezes garota. - dizia Mick para Rosa - Humanos e suas relações com deuses não mudam nunca, mas agora está muito muito pior que antes. 

— Vocês estão mesmo pensando em derrotar um deus asteca desses na base do papo? - perguntou Nico.

Eu estava concentrada demais em ignorar as dores que se acumulavam no meu corpo, mas quanto antes aquilo acabasse, logo poderíamos relaxar e nos preocupar com outras coisas… como uma tentativa de curar os olhos. Eu já estava torcendo para que Will conseguisse fazer isso.

— Mas pode mudar. - eu disse - Nós construímos mais templos para lembrar dos outros deuses romanos.

— Também fizemos mais chalés para os deuses gregos no acampamento. - completou Percy - Se tudo o que você quer é ter mais atenção, ler lembrado e essas coisas, tem jeitos melhores do que simplesmente sair matando e causando uma bagunça enorme.

Nessa hora, o chão tremeu depois de um forte barulho. Como se Mick tivesse socado o chão com força… e talvez tenha o feito mesmo. Acompanhado do barulho típico de quando alguém dá um soco de força não humana no chão, também veio o som de pedras caindo e um pequeno grito feminino junto com as pedras. 

— Rosa! - exclamei preocupada apertando a espada em minha mão e ameaçando dar um passo para frente para proteger nossa amiga. Mas fui impedida por Will que colocou o braço em minha frente e acho que Percy fez o mesmo, pois Will gritou:

— Não! Percy! Espera! Vocês também… Calma. Ela tá bem. Só deve ter alguns arranhões novos. - explicou ele - Não tentem, por favor, fazerem nada. Mais fácil é acabarem rolando buraco abaixo.

— Espera que fiquemos sem ajudar? - perguntou Nico.

— Que garantia tenho de qualquer coisa que possa pensar?! - perguntou Mick enquanto discutíamos - Mortais tem palavras vazias. Você, garota, é a mais próxima de nós. Que garantia eu tenho de sua palavra?

— Não. - disse Will e senti ele segurando meu pulso e encaixou uma outra mão, provavelmente de Nico, nela - Não se soltem. Vamos até o Percy. Não estou gostando dele lá sozinho.

Segurei a mão de Nico firmemente e ele também segurou na minha. Por eliminação, presumi que Nico estivesse segurando na mão de Will. Mal havíamos dado três passos em direção à Percy quando aparentemente Mick bateu com força no chão novamente. Ouvi pedras caindo antes de acabar sendo puxada parcialmente.

— Pegou o Will! - avisou Nico desesperado.

— Peguei na borda! Aqui! Me dá a mão! Esse buraco é daqueles sem fundo não tem fundo! - disse Will desesperado.

Meu coração começou a bater rápido tal como esperado em situações preocupantes. De um jeito meio desengonçado, eu e Nico começamos a tentar puxar Will para cima de novo. As mãos dele estavam suadas o que atrapalhava o processo. Se eu estava preocupada, aposto que isso não era nem metade do que Nico sentia.

— Vão ficar onde estão. - Mick disse - Não quero vocês saindo do lugar e, se saírem, vão passar o resto de suas frágeis vidas no Mictlan.

Não estava com cabeça para me concentrar nas ameaças. As tentativas de puxar Will do buraco continuavam. Quer estivéssemos com as mãos escorregadias ou não. Para me deixar ainda mais desesperada, eu conseguia ouvir os pés dele tentando inutilmente achar algum apoio para se puxar para cima. 

— Tá quase! - incentivei.

Agarrando até a camisa de Will para ajudar, eu e Nico conseguimos puxar ele. Me pergunto se em situações em que estivéssemos menos cansados isso teria demorado menos. Apesar de Will estar claramente ofegante, acho que ouvi ele dando um pequeno beijo em Nico.

— Valeu gente. - disse ele.

— Tudo bem aí galera? - perguntou Percy.

— Tudo bem. - respondi para ele soltando em seguida um enorme suspiro de alívio.

— Então… como ía dizendo… - disse Mick - Garantia garotas. Garantias! Quais que você me dá? 

— Nem sei o q-que quer que façamos… - disse ela com a voz de um jeito meio estranha. Como se ele estivesse segurando-a na garganta ou algo do tipo - Podemos fazer templos para você… pode aparecer e fazer parte das festas do Dia de Los Muertos para que todos lembrem… isso já nem depende de mim. Pode ir nas mais populares como em San Miguel de Allende ou em Michoacan.

— Huitzilopochtli não aceitaria tal interferência tão direta com os assuntos e cotidianos dos mortais. - disse Mick.

— Ah e destruir tudo e fazer essa bagunça toda não é interferir diretamente? - provocou Percy.

— Não se meta não que não é chamado, grego. -  disse Mick bufando - Pff… Europeus…

— Eu sou de Nova Iorque! - rebateu Percy.

— Americanos… igualmente irritantes. - disse Mick.

— Dane-se Huitzi-sei-lá-o-que! - exclamou Nico - A droga da festa é sua né? Então vá nela! 

— Seria interessante também ter um templo em El Dorado… - disse Mick como se para testar se a ideia era válida.

— El Dorado é dos maias… - lembrou Rosa - Você não tem uma forma maia. Você e Yum Cimil são separados.

— Não precisa me lembrar disso, garota. - disse Mick com uma voz bem fria - Mas, infelizmente para você, eu gosto da ideia de um templo completamente feito de ouro.

— I-Isso já envolve outras pessoas além de mim… - disse Rosa insegura - No tengo como… te prometer isso.

— Pois dê um jeito! - disse Mick - Quero um templo de ouro em El Dorado. Quero festas para mim na Base del Quinto Sol.

— Mas também comemoramos o Dia de Los Muertos lá. - defendeu-se Rosa - Vamos até ver “Viva, a vida é uma festa” esse ano se for depender do Miguel.

— Miguel é o irmão dela né? - cochichou Will para gente.

— É sim… - afirmei.

— Boa escolha. Aquele filme tem músicas lindas. - disse Will.

— Melhorem-no. Me incluam mais nele. Eu e minha esposa. - disse Mick - E não acabei. Quero uma estátua em Michoacan. Minha e de minha esposa também.

— Ahm… e-eu não moro lá… - disse Rosa insegura.

— Mas sei que muitos semideuses e seus descendentes moram lá. - disse Mick - Fale com os seus contatos. 

— Se tentarmos dar um jeito nisso, deixará a gente passar e parará de nos atacar? - perguntei.

— Faça e pararei de perturbá-los. Têm um mês. - disse MIck - Deixarei-os passar por hora. Se não cumprirem, usarei minha garantia.

— Que garantia é essa? - perguntou Nico.

— Aviso-os já… Não cumpra a promessa e terão todo o foco de minha parte desse exército focando na Base Del Quinto Sol e  El Dorado e sofrerão um golpe pior do que esse orquestrado por Quetzalcoatl e Naunet. - avisou Mick - E, de bônus, sacrificarei aqueles que não estiverem em nenhum dos dois. Eis minha garantia. O perecer dos seus está na suas mãos. 

— Pera, pera, tem como você também…. - disse Will apressadamente enquanto eu ouvia o barulho de pedras e terra novamente e o chão tremia levemente. A pressa da fala dele logo trocou para um tom desanimado - … curar os olhos deles…

Meu coração começou a bater mais rápido numa mistura de medo e esperança, mas Nico falou logo o que eu também estava achando.

— Ele foi embora já né? - perguntou Nico.

— Foi. - afirmou Will com um suspiro pesado - Relaxa, vamos dar um jeito nisso. 

 

 


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Notas finais do capítulo

feliz Carnaval para quem ainda estiver aí ;)



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