Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 65
CLARISSE - 1.102 estrofes e 8.816 versos


Notas iniciais do capítulo

#### AVISO IMPORTANTE ####

Os capítulos anteriores foram alterados para considerar as mudanças ocorridas em 'Provações de Apolo : Tumba do Tirano'. Esse capítulo especificamente não tem spoiler (mas esse aviso sim kkk). A partir daqui, em qualquer momento pode ser mencionado um spoiler do livro.

Coisas que foram mudadas:

* Foram alteradas as apresentações e menções pontuais da Reyna e da Hazel considerando que a Hazel é pretora e a Reyna não *

* Foi incluído o motivo que levou Reyna a não estar com as caçadoras no momento. A explicação inicial é apenas matar saudade, mas ela continuou lá por pedidos de Ártemis também. Situação vai ser mais explicada depois direitinho para vocês não terem que voltar para capítulo algum para saber o que está rolando. Apenas deixei mencionado nos capítulos anteriores que tem um motivo sim pra ela ter voltado. *



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CLARISSE

Uma pausa em toda aventura asteca e maia, sim? Vamos deixar as américas para trás e voltar alguns vários dias também. A gente também merece contar nosso lado da história e eu também mereço narrar um pouco dessa confusão toda que a gente se meteu. Se bem que confusões nem são tanta novidade mais para nós. A novidade era o tanto de gente envolvida. Acho que estamos quebrando um novo recorde de tanto de mitologia na mesma bagunça.

Sendo assim, a partir de agora, bem vindos à Lisboa.

Depois de sair dos Estados Unidos com um barco quase vazio, cruzamos o oceano com alguns vários problemas acontecendo ao nosso redor até nos juntarmos com o resto das caçadoras de Ártemis numa cidadezinha espanhola perto de Gibraltar. Desde então estivemos viajando juntas embora tenham surgido várias oportunidades e ideias de dividir o grupo em partes. No final, acabou decidido que nos dividiríamos depois de enfrentar o rio Lethe.

Tenho certeza que alguém, talvez algum filho de Atena, poderia lhe dar alguma explicação bem detalhada, cheia de referências históricas sobre os prédios que nos rodeavam em uma enorme praça cheia de turistas e com uma grande estátua no meio como marco. Eu só posso lhe dizer sobre ela que com certeza não aparentava ter sido feita nesse século e que se chamava Praça do Comércio. Eu teria escolhido um nome melhor. Talvez um dia ela tivesse mais cara de ser realmente um ponto de comércio intenso, mas o que eu via agora eram apenas alguns restaurantes caros nos prédios que a rodeava e alguns ambulantes tentando vender quinquilharias aos turistas que tentavam pegar o melhor ângulo de fotos para serem postadas em seus Instagrams.

Felizmente, nosso interesse estava no lado oposto da multidão irritante de turistas que tiravam fotos de um arco branco cheio de detalhes e frufru e levava para mais dentro da cidade. Tem coisa mais irritante do que as blogueirinhas? No lado oposto desse arco, ficava um cais que levava para um largo rio que banhava a cidade de Lisboa, o rio Tejo. O cais tinha uma divisão com a rua e então areia, como se fosse uma mini mini praia. Era nessa areia em que estávamos e, um pouco mais além, estava nosso barco, o Conte di Cavour, um belo exemplar de navio de guerra italiano da Primeira Guerra Mundial, que, naquele momento, provavelmente não passava de um iate ou um barco de turismo para os mortais que passavam.

— Algum sinal das ninfas? - perguntou Thalia para Ártemis que se aproximava de nós.

— Não. Nada. - disse Ártemis negando com a cabeça e soltando um pesado suspiro.

Já tínhamos parado em várias partes por ali do rio Tejo em busca das Tágides, as ninfas dele. Tentar falar com elas era o nosso primeiro passo antes de ir lutar contra o Lethe. Pegar mais informações e coisas do tipo. Até porque, um rio não é exatamente um ponto né? Ele é algo longo que continua e continua. Saber mais ou menos o ponto para onde ir ajuda bastante a deixar tudo mais rápido.

Eu bufei deixando minha irritação à mostra enquanto todas começavam a pensar em soluções para o problema.

— Tem uma fonte com estátuas delas numa parte da cidade. Será que deveríamos ir até lá? - perguntou Kowalski.

— Sei qual é. - disse Ártemis - Contudo, ela fica um pouco longe do rio. Podemos tentar se nada der certo, mas não acho que encontraremos uma ninfa tão longe assim das margens do rio.

— Vamos para outra parte do rio então? - sugeriu Mallory - Algo um pouco mais longe da cidade grande.

— Podemos tentar outras partes da tal reserva mais pra dentro. - sugeri - Ou até sem ser perto de borda alguma. No meio da água mesmo. O rio é tão grande aqui nessa parte que mais parece um lago.

— Eu voto em tentar o meio do rio. - disse uma das caçadoras que eu não havia ainda decorado o nome.

— Eu também. - concordam uma outra caçadora e Mallory ao mesmo tempo.

— Tentemos então. Não podemos perder muito mais tempo com isso. - decretou Ártemis - Se nada der certo, procuraremos o Lethe com a quantidade de informações que já temos.

Não tendo mais muitas ideias, voltamos para o navio e fomos lentamente até mais para o meio do rio, em sua provável parte mais funda. O que seguiu-se então foi a cena aparentemente ridícula e inútil de algumas garotas ficarem gritando pelas tágides pela murada do navio. Parecia um trabalho inútil, admito. E isso me deixava irritada. Eu, por outro lado, só fiquei encarando elas de braços cruzados enquanto ficava tentando pensar em jeitos melhores de fazer isso. Com o canto do olho, vi Artemis conversando em voz baixas com Thália. Me pergunto se a mesma conversa estava acontecendo ali também.

— Você tem sempre essa cara de irritada? - perguntou Mallory se aproximando de mim e se sentando em uma caixa esquecida logo ao lado.

— Porquê? - rebati - Quer que eu fique sorrindo como se estivesse num cruzeiro de luxo pelas Bahamas?

— Vish… Calma. - disse Mallory dando de ombros - Só ia falar que acho que só nos meus piores dias eu ganharia de você numa competição de cara emburrada.

— Caso algum dia quiser que essa competição seja de luta, estou aberta a desafios. - sugeri olhando ela de cima a baixo - Vi bem tudo que você fez quando nos atacaram lá no meio do mar.

— Você fala como meu namorado. - disse ela revirando o olhar e soltando um suspiro.

— Sabe… você me lembra muito uma garota lá do Acampamento. Se chama Rachel. - eu disse - Em aparência ao menos. Você talvez seja um pouco mais velha. Porque no resto vocês não tem nada a ver.

— Tem que me apresentar ela algum dia então. - disse Mallory abrindo um pequeno sorriso - Mas… mudando de assunto, acha que essa tentativa de achar as Tágides vai dar certo?

— Não tenho a menor ideia. - eu disse bufando de cansaço logo em seguida - Ártemis bem disse que podia ser um pouco mais complicado…

— Me pergunto porquê… - completou Mallory pensando a mesma coisa que eu.

— Vamos lá nos juntar com elas e descobrir. Não gosto muito de ficarmos só com parte das informações. - reclamei - Será que é porque somos só convidadas?

— Nem eu mas… as maioria também não está lá ouvido. - concordou Mallory olhando para as outras caçadoras que tentavam encontrar as ninfas na água com o olhar ou chamando com a voz - Vamos lá também.

Então, quer Ártemis e Thalia gostassem ou não, nos aproximamos de onde elas estavam conversando à sós. Não acho que não tenham notado nossa aproximação mas, como não fizeram nada, simplesmente seguimos até estarmos ao lado delas.

— Gostaria de não ter que seguir o rio até sua nascente… seria bem problemático. - dizia Ártemis.

— Se isso for necessário, talvez seja melhor irmos direto para o Lethe de vez. - sugeria Thalia.

— Sim. Afinal, preferencialmente, que seja apenas um rio que temos que percorrer toda sua extensão. - completou Ártemis.

— Não acham que vai dar certo então? - perguntei.

— Acho bem difícil. Ao menos desse jeito. - admitiu Ártemis - Mas, não se sinta mal, sua ideia de ir para o meio do rio tem seus lados bons. Mas as Tágides… bem… acho que elas evitam os gregos e mais ainda os romanos. Acho que não se sentem confortáveis.

— Ah? Como assim? - perguntou Mallory tão perdida quanto eu - Elas não são ninfas? Ninfas não são mitos greco-romanos?

— Sim… mas não… as Tágides são diferentes. - explicou Ártemis cruzando os braços - Elas não existiam até meados do século 15 ou 16. Não sei direito. Tudo que sei é que me lembro de Netuno mencionando com raiva uma vez que um mortal havia às criado em um poema e, de repente, elas existiam. Apolo ficou radiante de ver algo assim acontecendo por causa de um poema. Segundo ele, provavelmente não aconteceria se não fosse o tamanho e a importância do poema. Um poema enorme, pelo o que me lembro de Apolo falar. Milhares de estrofes e versos e coisas do tipo.

— Era bom ao menos? - perguntou Mallory.

— Lembro de Apolo ter adorado e recitado algumas várias vezes. Eu nunca tive paciência de ouvir até o final. - admitiu Ártemis - Ele tentou insistir em ler para mim algumas vezes. Quando ele começava, eu já me irritava. Não aguentava ouvir ele clamando aquele começo…

Uma pausa de alguns segundos interrompeu a fala de Ártemis. Não sei exatamente o porquê. Eu talvez até chutaria que ela estava tentando lembrar da estrofe. Mas ouvi dizer que deuses tem a memória perfeita. Então talvez não seja isso. De toda forma, ela logo de fato recitou o que provavelmente era o começo do tal poema. Era outro idioma que eu não entendi uma só palavra. Considerando a situação atual, chutaria que era português.

As armas e os Barões assinalados. Que da Ocidental praia Lusitana. Por mares nunca de antes navegados. Passaram ainda além da Taprobana. Em perigos e guerras esforçados Mais do que prometia a força humana. E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram. - proclamou Ártemis sem fazer toda aquela parafernalha que fazem as pessoas ao proclamar uma poesia. Recitou com a mesma calma e seriedade de alguém que corre os olhos pelas palavras de uma bula de remédio.

O silêncio voltou mais uma vez. Estávamos esperando por mais. Ártemis nos olhou brevemente ao sentir os olhares nela, mas acabou dando de ombros no final de tudo como se gesticulando que era óbvio que acabaria decorando algo depois de ouvir Apolo falando tantas vezes.

— O que esse cara fez exatamente de tão importante nesse texto para ter criado ninfas? - perguntei.

— Eram… personagens do poema ou algo do tipo? - perguntou Mallory.

— Ele as invocou como musas. - explicou Ártemis - Tal como muitos já fizeram com as musas gregas. Mas ele criou-as como musas do rio Tejo.

— Porquê elas saberiam onde está o Lethe? - disse uma caçadora qualquer que havia se aproximando. Eu revirei os olhos pela estupidez e lerdeza da guria, afinal, aquele ponto já havia sido dito uma ou duas vezes. Comecei a achar que, talvez, o critério de Ártemis de escolher caçadoras tinha deixado passar algumas que… não me pareciam muito capazes quanto outras. Será que se fosse uma prova aquela teria passado bem de raspão?

— O Rio Tejo é o mais extenso da Península Ibérica. - explicou Ártemis - Nasce na Espanha e percorre boa parte do país até desaguar no mar aqui, em Portugal. O Lethe é hoje em dia chamado de Rio Lima. Um pequeno rio comparado ao Tejo, mas ainda assim um rio com grande poder. Também nasce na Espanha e desagua no mar pelas praias portuguesas. As Tágides são nossa maior e melhor chance de informações sobre o Lethe. Não só sobre onde seu poder se concentra. Mas também sobre qualquer coisa que possa nos ajudar. Até porque, em 138 a.C, seu poder desapareceu. Estaria o Lethe dormindo ou algo pior? Acordou agora? Temos que saber o que esperar ao chegar lá.

— Quem foi esse mortal que conseguiu fazer isso? - perguntou Thalia com uma expressão de leve surpresa.

— Ahm… - disse Ártemis acho que tentando vasculhar sua memória milenar atrás desse pedacinho de informação - O nome dele era Camões.

Eu sinceramente não me importava muito para os detalhes da poesia, desse tal de Camões ou nada do tipo. Mas ao ouvir aquela explicação toda que mais me pareceu uma aula de literatura, eu acabei tendo uma ideia.

— Se ele as invocou como musas… - comecei - E se fizéssemos o mesmo?

— Usando o mesmo verso talvez? - disse Thalia completando a ideia.

— Não temos mais muitas ideias. Não custa tentar. - concordou uma caçadora aleatória.

— Nunca ouviu Apolo mencionar a parte específica onde elas foram criadas? - sugeriu Mallory olhando com uma esperança que parecia meio preocupada para Ártemis.

Ártemis suspirou e se sentou na amurada do navio. Me pareceu que estava olhando para o reflexo que o sol fazia na água do rio. Até me dói a língua pois parece bem poético dizer que ela parecia estar pensando no irmão e silenciosamente pedindo sua ajuda. Ou algo do tipo. Sei lá. O importante, é que, do nada, ela começou a falar calmamente.

...Grego e do Troiano…— dizia ela em português com pausas como se tivessem partes faltando em seja lá qual ou quais memórias ela usava para montar o texto - As navegações grandes que fizeram; Cale-se de Alexandro e de Trajano. A fama das vitórias que tiveram; Que eu canto o peito ilustre Lusitano, A quem Netuno e Marte obedeceram. Cesse tudo o que a Musa antiga canta, Que outro valor mais alto se levanta. E vós, Tágides… Tágides minhas… 

A pausa que se formou aí nasceu provavelmente não pela busca da próxima palavra, mas sim porque várias caçadoras começaram a mostrar algo na água. Na água, três pontos verdes brilhavam bem fundo e oscilando. Um bom sinal, diria eu.

— Acho que está funcionando… - comentou Thalia com expectativa.

Tágides minhas… pois criado Tendes em mi um novo engenho ardente… - continuava Ártemis parando mais uma vez por uns segundos mais - Às Musas agradeça o nosso Gama O muito amor da pátria, que as obriga A dar aos seus, na lira, nome e fama De toda a ilustre e bélica fadiga; Que ele, nem quem na estirpe seu se chama, Calíope não tem por tão amiga Nem as filhas do Tejo, que deixassem As telas d'ouro fino e que o cantassem…. Seu louvor, é somente o pressuposto Das Tágides gentis, e seu respeito. Porém não deixe, enfim, de ter disposto Ninguém a grandes obras sempre o peito: Que, por esta ou por outra qualquer via, Não perderá seu preço e sua valia.

Bem, aí que ganhamos o prêmio pelos nossos esforços. Os três pontos de luz haviam ficado mais fortes a cada palavra e então, quando Ártemis pareceu ter terminado, da água saíram três mulheres que ao mesmo tempo que pareciam fazer parte da água, também pareciam estar de pé sobre ela.

— … Não costumamos atender apelos de gregos e romanos... - disse uma delas.

— Sabe o que estão dizendo? - perguntou Mallory perdida e eu olhei para ela sem entender o motivo da pergunta.

— Não está entendendo? - questionei sem entender e ela negou com a cabeça.

— … Mas considerando que leu tantos trechos de nosso poema… - continuou a segunda.

— Não. - respondeu Mallory - Parecem falar em dois idiomas ao mesmo tempo, um por cima do outro.

— … Por mais que faltando umas partes aqui e ali.- disse a terceira enquanto eu chutava que esses dois idiomas eram grego e latim.

— Não muito surpreendente. Só em momentos de castigo e desespero lembram de nós. - disseram as três ao mesmo tempo numa atuação digna de filme de terror - Diga o que querem e veremos o resultado… e nosso posicionamento.

 


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Notas finais do capítulo

o título e o texto são pequenos easter eggs de um textão enorme. alguém conseguiu pegar qual foi? acho q tá meio óbvio kkk

no seguinte voltamos ao México.
Não se preocupem q n esqueci da galera q tá em El Dorado
e desculpe a demora. está difícil me reorganizar na agenda



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