Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 155
NICO - Pela Europa de Leste à Oeste


Notas iniciais do capítulo

bem vindos a mais um cap e desculpa a demora!
meu pc morreu e eu n tenho o menor pingo de paciência de escrever no celular.





no momento, estão nas AMÉRICAS os grupinhos:
— Nova Roma: Frank, Lavínia, Hazel, Annabeth, Kayla, Grover, Percy, Piper,
— NY: Cléo, Austin e, Rachel
— Indo pra Nigéria: Carter, Zia, Paulo, Drew
— Peru: Leo, Calipso,Magnus, Jacques, Alex, Festus, André (Brasileiro que tava na Nigéria e não sabe jogar futebol), Meg e Apolo


no momento, estão na AFRICA, os grupinhos:
— Nigéria : Olujime


no momento, os grupos que estão na EUROPA são:
— Indo para a Itália: Caçadoras de Ártemis (Thalia, Ártemis, etc), Clarisse, Reyna, Ciara
— Indo para Inglaterra: Blitzen, Hearthstone, Mestiço, Mallory
— França : Sam, Anúbis, Sadie, Will, Nico
— Alemanha: Maias-Astecas: Victoria, Micaela (a menina q parece Annabeth) e Eduardo (guri chato que o Mestiço deve estar querendo esganar)




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NICO

Nosso dia em Paris começou já bem agitado, a ligação do pessoal no Brasil praticamente nos acordou. O sol ainda estava decidindo se iria ou não iluminar Paris quando o pessoal por lá ligou contando as novidades. A maioria preocupante e triste, mas a recuperação do Livro de Thoth era uma boa notícia. Mas ficamos todos bem aliviados de ver que todos estavam bem, principalmente Sam, que estava bem preocupada.

Mesmo depois que desligamos a chamada com a América do Sul, Sadie continuou falando com o irmão enquanto Sam imediatamente ligava para Londres para informar Mestiço e os demais das novidades que tínhamos. Ela se afastou para o outro lado do restaurante para poder conversar com tranquilidade enquanto a nossa conversa com Carter continuava.

— Devíamos avisar todo mundo em Nova Roma também, né? - perguntou Will, olhando para mim.

— Tanta gente pra sair avisando de tudo… - falei.

— Talvez não seja uma boa avisar sobre o livro de Thoth… - disse Carter repentinamente, claramente ouvindo minha conversa com Will - Quanto menos gente souber que o temos, melhor.

— Acha que alguém em Nova Roma vai trair a gente? - perguntei, fechando a cara enquanto notava que Sam estava longe o suficiente para não ouvir isso.

— Não… Só acho que fica mais fácil de acabar escapando acidentalmente se muita gente souber. - disse Carter, levantando as mãos claramente tentando me tranquilizar um pouco - Vamos deixar só entre nós até o livro chegar até o Sudão e nós também. É um livro muito perigoso.

— Vou avisar Sam… - disse Will, se afastando de nós.

— Com aparentemente o Louvre sendo o próximo, mas não por agora, vão continuar a viagem? - perguntou Zia.

— Sim.. - respondeu Sadie - Sam deve estar agora pedindo pro pessoal que ficou em Londres ficar de olho também no Louvre. Afinal, Londres é pertinho de Paris. Dependendo do transporte que conseguirmos hoje, podemos ir para a Polônia para resolver o obelisco de lá e só então ir pra Turquia.

— Combinado então. - disse Carter até que Sam chegou apressada com Will.

— As pessoas estão começando a chegar para trabalhar no Louvre… - disse ela, claramente já tendo terminado sua ligação - Melhor irmos ou os trabalhadores desse restaurante vão acabar nos encontrando.

Dormir naquele restaurante foi melhor do que dormir entre as estantes da biblioteca, e apesar da opção de comer alguma coisa diferente do que o já enjoativo ensopado infinito de Dagda, dormir ali não era ainda tão confortável assim. Como o ensopado já estava enjoativo, pegamos algumas águas, pães e biscoitos do restaurante… Mas pelo preço absurdo que eles estavam cobrando por essas coisas, duvido que vá incomodar tanto assim nas finanças deles. Devem estar cobrando quatro vezes mais caro do que a coisa custa… sabe… preço de turista idiota já que está tão em cima do Louvre. Preciso incluir que roubar é errado? 

Ainda assim, eu estava começando a sentir falta de uma cama de verdade, não camas improvisadas com o que a gente tinha de fofinho e quentinho por perto. Quem sabe a carruagem do Ankou tem um compartimento para sonecas? Improvável, mas quis torcer por isso ainda assim.

Pegamos nossas coisas, desligamos qualquer ligação mágica ou não mágica, e começamos a sair do restaurante tentando deixá-lo o mais aproximadamente possível com como encontramos. Deixar as coisas como deixamos incluía deixar a fechadura do restaurante trancada. Estávamos já todos do lado de fora e Sadie estava fazendo a magia para trancar o restaurante mais uma vez, quando ouvimos um grito atrás de nós.

— HEI! Arrêté! - gritou a mulher - Voleur! Délinquant!

Não precisava ser fluente em francês pra entender que não estávamos numa situação que não pareciamos muito inocentes.

— CORRE! - gritou Will.

Ninguém estava muito afim de discutir a ideia, saímos todos correndo na direção oposta da mulher e para longe do Louvre enquanto ela gritava pela polícia. Não tínhamos tempo para incluir na lista de afazeres fugir da cadeia. Corremos completamente sem direção, perigosamente perto de nos perdermos pelas ruas de Paris, mas nos separamos rapidamente da mulher.

Paramos meio ofegantes numa rua apertada entre dois prédios um pouco antigos  com uma parte do muro pichado. Aqueles prédios claramente já viram dias melhores

— Não devem ter nos seguido até aqui, né? - perguntei, olhando para o começo da rua que tínhamos entrado.

— Acho que não.. - respondeu Sam, seguindo meu olhar.

— Não basta ter que salvar o mundo… ainda temos que ficar tomando cuidado com coisas do tipo! Francamente… - reclamou Sadie.

— Melhor sairmos daqui antes que viremos procurados da polícia… - disse Will.

— Vamos atrás do Ankou de novo então para ver se ele conseguiu nossa carruagem. - sugeriu Sadie, olhando para Anúbis - Acha que ele conseguiu?

— Meu chute é tão bom quanto o seu. - respondeu ele dando de ombros.

Tentando evitar ao máximo voltar para a direção do Louvre, tentamos ir até o metrô mais perto enquanto desviavamos das ondas de pessoas indo trabalhar. Quem olhasse rápido talvez achasse que nós éramos um grupo de turistas que havia acordado cedo demais para aproveitar o máximo possível da cidade. Quem dera.

Alguém que claramente não estava achando que éramos turistas, foi uma estranha coruja que começou a voar especificamente em cima da gente, em círculos. Até as pessoas passando apontavam para ela, achando o seu comportamento diferente.

— Longe de eu ser especialista em pássaro.. mas corujas não são noturnas? - perguntei.

— Aposto meu dinheiro que isso não é uma coruja normal. - respondeu Sadie.

Como se estivesse ouvindo e entendendo a nossa conversa, a coruja pousou em um dos prédios que ficavam na entrada de outra ruela esquecida. Ela ficou nos encarando como se dissesse “entrem aqui”. Não sabendo se estávamos indo para uma armadilha ou um convite, seguimos a coruja para a ruela.

Ela parou no meio da rua e, preparados para ambos os cenários, paramos na frente dela.

— Trago uma mensagem do meu mestre, Ankou… - disse a coruja, com uma voz bem grossa carregada de sotaque francês - Vão encontrá-lo no Pére Lachaise.

— Onde? - perguntou Sam.

— Um cemitério. - disse Anúbis.

— Ele está lá preparando a carruagem de vocês. - disse a coruja antes de sair voando.

— Onde fica esse cemitério? - perguntou Sam. 

— Do outro lado da cidade. - respondeu Anúbis.

— Tem metrô até lá. - disse Sadie, já procurando no celular.

Mudando nosso rumo das Catacumbas de Paris para o Cemitério de Pére Lachaise, um macabro pelo outro, continuamos nosso caminho até o metrô. Com o metrô cheio, não foi um caminho tão prazeroso, mas conforme nos afastamos do centro da cidade, a quantidade de pessoas ia diminuindo.

A nossa estação do metrô já era bem em uma das entradas do cemitério. Pelos muros que o rodeava, era claro que o cemitério era antigo. Na verdade, estava até me perguntando se tinha alguma coisa desse século ou no máximo do anterior em Paris… provavelmente… o metrô uma delas… mas de prédio talvez fosse só questão de ir em outras partes da cidade.

O cemitério era bem grande e cheio de árvores. As tumbas eram pequenas casinhas, do tamanho daqueles banheiros antigos que ficavam do lado de fora de casas ou de banheiros químicos, mas eram bem mais convidativas que esses tipo de banheiro. Eram elegantes, a maioria com um ar gótico e com o tempo marcando o nome das pessoas ou famílias que usavam aquelas tumbas.

Não havia nada de anormal no cemitério no momento. Nenhum sinal de que qualquer antigo deus bretão estava ali pegando uma carruagem para gente como se ali fosse um estacionamento macabro. Algumas pessoas iam visitar familiares, mas o cemitério estava, no geral, bem vazio.

— Ele está aqui mesmo? - perguntou Sadie, olhando para mim e Anúbis.

— Tô sentindo um arrepio estranho que pode muito bem ser ele ou o cemitério todo. - falei.

— Está… - disse Anúbis - O “onde” é que é o problema. É como se ele estivesse em toda parte. 

Em ruas menores do cemitério, as tumbas já não tinham mais casinhas góticas ao seu redor, mas sim estátuas dos mais diversos tamanhos ou simples lápides. Eu passava os olhos pelos nomes nas tumbas até Will dar um grito. 

— AH! I-Isso é? - gritou ele, encarando o túmulo com uma estátua de uma moça no topo e o busto em perfil de um homem esculpido na lápide.

— O quê? - perguntou Sam.

— Chopin! É o túmulo do Chopin! - disse Will - Né? Frederic Chopin, tá escrito! O músico, pianista.

— Sim… - respondeu Anúbis tranquilamente - É um cemitério com algumas pessoas famosas, pelo que sei..

— Tipo quem? - perguntou Will, curioso.

— Não garanto estar muito atualizado em quem é famoso ou não mas… - disse Anúbis inseguro - Ahm… Jean-François Champollion…

— Quem? - perguntei.

— Ah…não é famoso? Achei que fosse… ou ao menos torcia para que fosse… - respondeu Anúbis, dando de ombros - É o homem que traduziu a pedra rosetta… O primeiro mortal a conseguir ler os hieróglifos depois de … muitos séculos… mas… tem também… ahm… Oscar Wilde… esse é famoso né?

— Um escritor! - exclamou Sam - O Retrato de Dorian Gray.

— E de músico? - perguntou Will - Édith Piaf tá aqui?

— Tá… - respondeu Anúbis.

Foi nessa hora, com Will maravilhado por estar tão perto de seja lá quem fosse Édith Piaf, que uma coruja pousou sobre a cabeça da estátua do túmulo do Chopin.

— Você de novo! - exclamou Will.

— Não. - respondeu a coruja - Não sou a coruja que foi encontrar vocês antes. Aquele era meu irmão. 

— Ah.. sabia… tava só testando… - respondeu Will.

— Me sigam… meu mestre os espera. - disse a coruja.

A coruja saiu voando e nos apressamos para segui-la, passando por mais diversos túmulos até pararmos num ponto mais vazio, com uma grande estátua sobre um grande pedestal rodeada de uma calçada circular que reunia vários caminhos que cruzavam o cemitério. Ali estava estranhamente cheio de névoa, claramente uma névoa nada normal, até porque lá aos pés da estátua, estava Ankou.

Ao lado dele, estava uma carruagem elegante completamente negra e aos seus pés, estava um grande monte de ossos. A carruagem parecia com as carruagens dos filmes de romance de época que Will havia me forçado a assistir. Bem de época, elegante, e com uma porta pequena com uma janela com uma cortina, que estava aberta.

Ankou parecia ocupado remexendo a névoa, que se acumulava em suas mãos, até que um punhado dos ossos no monte começaram a flutuar, indo em direção às mãos dele. Era como se ele estivesse moldando alguma coisa usando a névoa como se fosse massinha. Mesmo com ele sendo só um esqueleto, dificultando identificar expressões no rosto dele, eu quase conseguia imaginar o quão focado ele deveria estar.

A coruja que nos guiou pousou numa tumba perto, e ficamos notando enquanto Ankou praticamente moldava a névoa e, com ajuda dos ossos, criava um cavalo mais negro do que a carruagem que também estava ali.

— Só um instante, falta só fazer o outro cavalo e um cocheiro. - avisou Ankou, sem olhar para nós. 

— Com todo respeito, Senhor Ankou… - disse Sam - Mas todos nós cabemos nessa carruagem? 

— Sim. Não se preocupem. - garantiu Ankou enquanto começava a moldar o segundo cavalo.

Sinceramente não via como a física ali fazia sentido. Pela janelinha da carruagem e julgando pelo tamanho dela, ali só deveria caber quatro pessoas, mas quatro pessoas muito bem espremidas numa lata de sardinha de forma nada confortável. Éramos cinco. Tinha até um banco do lado de fora para o cocheiro, mas imagino que ele não espera que nós sejamos o cocheiro, já que estava fazendo um. 

— As pessoas vão ver a carruagem ou outra coisa? - perguntei enquanto o segundo cavalo ficava pronto.

— Provavelmente vão ver um trailer… ou um ônibus… - explicou Ankou enquanto amarrava os cavalos a carruagem - A não ser que esteja perto da morte, então tem uma chance de verem uma carruagem de fato.

— Em quanto tempo deve conseguir chegar em Poznan, na Polônia? - perguntou Anúbis.

— Hmm… Umas 10 horas talvez… - disse Ankou - É um pouco mais rápido que um carro. Não irão para a Turquia?

— Estamos pensando em passar na Polônia no caminho para desfazer a magia em um obelisco egípcio que tem por lá. - explicou Sadie.

— Ah, sim… - disse Ankou enquanto começava a moldar a névoa mais uma vez - Não acho que vocês vão ter muitos problemas.. Os problemas pela Europa diminuíram bastante com todo o caos que vocês fizeram no Reino Unido. Mas… estava tentando pegar notícias para vocês e.. existe uma suspeita pelo submundo que talvez Hel ocupe o lugar de Hafgan.

— Hel? - perguntou Sam aparentando preocupada.

— A deusa nórdica da morte desonrosa. - explicou Ankou.

— Sim… sei… - disse Sam, não aparentando estar muito feliz com isso.

— É um problema muito grande? - perguntei.

— Ela é mais traiçoeira que Loki… - disse Sam - Quando passamos perto dela da última vez ela… ficou nos atormentando com as vozes de… falecidos queridos.

— Ok… categoria “evitar se possível”. - conclui Will.

Ankou continuou lá focado, moldado dessa vez uma pessoa, até terminar o cocheiro. O nosso cocheiro não tinha rosto, era como se fosse uma mera sombra, mas ainda assim, era aparentemente educado, pois se curvou para nós respeitosamente. Nosso cocheiro-sombra então subiu na carruagem e sentou no banquinho da frente do lado de fora.

Com o cocheiro já sentado, Ankou esticou o braço indicando a carruagem. Eu fui o primeiro a me aproximar, queria ver se realmente iria caber nós cinco, de forma preferencialmente confortável, lá dentro. Esperava algo bem apertado, pior do que  o espaço que tínhamos no trem até Paris, mas eu fiquei imediatamente surpreso quando abri a porta da carruagem.

Até tirei a cabeça da carruagem, e botei de novo, só pra confirmar se não estava maluco. Não era todo dia que se via uma carruagem que era bem maior por dentro do que parecia quando se olhava por fora.

— WOW! - exclamou Wil, se espremendo ao meu lado para ver também.

— Vejo que gostaram… - disse Ankou.

— Deixa eu ver! Deixe eu ver! - disse Sadie, se espremendo entre nós.

O interior era muito espaçoso e todo decorado de preto ou com detalhes que lembravam bastante a Notre Dame. Tinha seis cadeiras que pareciam uma mistura entre cadeira de ônibus e cadeiras góticas. Eram bem grandes, com bastante espaço entre elas e estavam organizadas em fileira como se aquele fosse o ônibus mais espaçoso e luxuoso do mundo. 

Eu entrei junto com Will, abrindo espaço para os demais entrarem enquanto nós exploramos o que mais havia ali, pois depois das cadeiras havia praticamente uma pequena sala de época. Tinha um grande sofá de época, um frigobar e uma grande cortina negra logo atrás. Eu abri a cortina e quase chorei de felicidade ao ver três beliches. 

Nossa que saudade de dormir numa cama.

— Você caprichou… - disse Anúbis da porta da carruagem enquanto a gente continuava a explorar - Não acho que tenha feito tudo isso só pra ir pegar almas por aí.

— A expansão de tamanho até que sim. - respondeu Ankou - Tinha mais cadeiras também para as almas ficarem… mas estava mais esquecido do que em uso. Fiz algumas mudanças durante a noite, nunca se sabe… Ter Anúbis me devendo uma é uma ideia interessante.

— Devia imaginar… - resmungou Anúbis, suspirando pesadamente - O que quer?

— Por agora, nada… - respondeu Ankou - Vou deixar de crédito. Mas a informação de Hel foi de graça.

— Ao menos isso. - reclamou Anúbis entrando na carruagem também e fechando a porta atrás de si já que todos já estávamos dentro.

Eu e Will já estávamos sentados nas cadeiras góticas-de-ônibus e Will passava a mão no tecido do braço delas distraidamente quando uma grande janela na nossa frente se abriu e nosso cocheiro-sombra apareceu por ela.

— Quelle est la destination ? - perguntou ele com uma voz sussurrante e distante.

— Musée archéologique de Poznan en Pologne. - respondeu Anúbis com o francês claramente em dia.

— Asseyez-vous s'il vous plaît et attachez les ceintures de sécurité. - disse o cocheiro - Tu préfères que je laisse la fenêtre ouverte pour que tu puisses voir la vue?

— Tradução, por favor. - disse Sam.

— Ele não parece falar inglês né? - perguntou Will, sussurrando para mim.

— Parece que não… - respondi aos sussurros também.

— Pediu pra nos sentarmos, colocar os cintos e se queremos que deixe a janela aberta para que possamos ver a vista. - traduziu Anúbis.

— Oui! - disse Sadie, com seu pouco francês, ao sentar-se praticamente se jogando na cadeira. 

Nos sentamos todos, colocamos os cintos, os cavalos relincharam e a gente partiu. Tal como prometido por Ankou, era como se estivéssemos num carro levemente mais rápido. O lado ruim da carruagem é que não tinha muitas opções de janelas para vermos Paris ficando para trás, mas tentamos aproveitar as poucas que tínhamos. 

Outro lado ruim, é que não tinha banheiro. Imagino que almas, as usuais passageiras daquela carruagem, não precisem de uma. Nem o deus que também a costumava usar. Então tivemos que parar aqui e ali no caminho para ir ao banheiro, o que obviamente aumentou o tempo da viagem.

Tal como Ankou havia previsto, o caminho foi tranquilo, o que era algo muito bem-vindo. Aproveitamos que boa parte do pessoal também estava viajando para conversamos e colocarmos toda a situação em dia para todos. Percy e os demais haviam acabado de começar sua longa viagem de submarino para a Ásia, Carter sua viagem de barco para o Sudão, Ártemis estava já quase na Itália para lidar com os vários obeliscos por lá, e o pessoal no Brasil estava dormindo um pouco antes de saírem fugindo para o Sudão também. Mestiço, Mallory, Blitzen e Hearthstone eram os sortudos que estavam bem no Reino Unido cuidando dos obeliscos por lá e ficando de prontidão perto de Paris para quando o Louvre for o centro do caos todo.

O sol já tinha se posto a pouco quando finalmente chegamos em Poznan. Então, como precisávamos do sol, acabamos dormindo por lá. Estava tudo bem tranquilo considerando nossa média e seria bom se tudo continuasse assim, mas bem sei que seria pedir demais. 

O pessoal no Brasil era claramente o mais azarado no momento. Eles ainda estavam claramente ainda bem cansados e abalados por todas as mortes que aconteceram no Peru antes mesmo deles chegarem e por não conseguirem salvar a pirâmide de Caral, mas já tinham que sair fugindo para o Sudão com o livro de Thoth. Eles deixaram o Brasil para trás no carro de Apolo antes mesmo de chegarmos na Polônia. Apolo até mostrou para Will que tentou deixar a sua carruagem do sol mais confortável, parecendo um elegante ônibus leito, mas a verdade era que o ânimo estava bem pra baixo por lá. A única saída era esperar que as várias horas de viagem até a primeira parada, a Nigéria, fossem ajudar um pouco.

Quando o dia amanheceu em Poznan, chovendo levemente sem parar, entramos no museu como mais um grupo de turistas na pequena cidade, e fizemos apressadamente a magia no obelisco bem acabado e sofrido que estava em exibição na praça central do museu. Claro que os seguranças não gostaram e suspeitaram que tínhamos más intenções, então tivemos que sair correndo de lá depois de terminar, acrescentando Poznan na lista junto com Paris de cidades que tivemos que sair correndo de pessoas.

Já tendo deixado o museu para longe e com um obelisco a menos para nos preocuparmos, aproveitamos que as coisas na Polônia são MUITO mais baratas que Londres e Paris e resolvemos comer como pessoas normais num restaurante enquanto o cocheiro e a carruagem nos esperavam do lado de fora na chuva rala. Nossa trilha de destruição claramente nos perseguia quando na televisão do restaurante vimos uma matéria sobre um artefato hitita, a parte de uma maça, ter sido roubada do British Museum.

— Opa… - disse Sam baixinho enquanto dava uns goles no seu chá.

— Se eles soubessem que está aqui na sua mochila… - sussurrou Will olhando para as pouquíssimas pessoas no restaurante que estavam olhando para a televisão.

— Carter mandou uma mensagem falando que Ártemis chegou a pouco na Sicília.. - disse Sadie olhando para o seu celular enquanto mudava de assunto - Provavelmente enquanto estávamos correndo do museu. Pela cara o Mar Mediterrâneo não está tão tranquilo quanto aqui. Elas foram atacadas.

— Não me surpreenderia se as coisas começarem a ficar mais complicadas chegando mais perto de Istambul… - disse Anúbis se esticando para ver no celular de Sadie exatamente o que Carter disse - ou depois de lá… 

— Nossa vida boa está com dias contados. - disse Will, com um suspiro - Já estava me sentindo um turista que por acaso ocasionalmente salva o dia.

— E invade museus… - falei - Ou restaurantes de museus…

— É… e isso… - concordou Will.

— Quanto tempo até Istambul agora? - perguntou Sam.

— Bem.. se é um pouco mais rápido que um carro… - disse Sadie, começando a pesquisar no celular dela - Devemos chegar mais ou menos a essa hora de amanhã se nada nos atrapalhar. É bem longe. 

— Tempo mais do que suficiente para Ártemis terminar o obelisco na Sicília e seguir para Roma… - opinou Anúbis - E Hearthstone…

— Ele já fez o outro obelisco em Londres e estava indo para Dorset… Não é muito longe. - explicou Sam - Com isso ficará faltando no Reino Unido só o que fica lá pro norte.

— Então… com o dos Estados Unidos também já resolvido pelo pessoal lá… - listou Sadie - Reino Unido com Hearthstone, os meio milhão na Itália com Ártemis, o de Paris e Poznan, nós resolvemos. Chegando em Istambul vemos o que fica por lá também. Então fica faltando…

— Os do Egito, e os dois no Levante. - disse Anúbis - Esses dois podem na verdade ser só um se o pequeno no Líbano não contar.

— E o outro no Levante é o que o TJ… - disse Sam, engasgando no meio da frase - Na Palestina… ou Israel… 

— Podemos deixar ele para Carter… - disse Sadie, segurando a mão de Sam - Não precisa se forçar a voltar lá. É caminho para ele também.

— Obrigada… mas não sei o que responder para isso no momento… - admitiu Sam - Me sinto na obrigação de certa forma. Mas também não quero voltar lá.

— Não precisa decidir agora. - disse Sadie - Tem ainda bastante tempo até Istambul e também Carter nem chegou no Mediterrâneo ainda. E nem sabemos quanto tempo vamos ter que ficar em Istambul já que além do obeslisco temos que achar o gênio.

— Sim… - concordou Sam, bem cabisbaixa - Por hora, só quero pensar em terminar de comer essa comida, que está uma delícia.

— Então vamos dar toda nossa atenção para a comida, pois ela merece. - disse Will, terminando de levantar um pouco o humor das coisas ali.

  Seguindo o super sábio conselho de Will, continuamos a comer e, depois disso, seguimos a viagem. Foi uma viagem longa e demorada, com a chuva rala caindo sem parar, mas quanto mais perto de Istambul ficávamos, mais tensos a gente ficava, com medo de descobrir onde os problemas começariam. Várias horas de viagem depois e sem muitas novidades do resto do pessoal além de nossas previsões sobre o estado dos obeliscos se concretizarem, nós chegamos em Istambul. 

Toda vez que entrávamos numa cidade grande durante o caminho, nós olhávamos pela janela como era a cidade. Depois de tantas cidades tão tipicamente europeias, foi uma diferença legal ver uma que, além de traços europeus, tinha claramente uma influência muçulmana também.

— Aquelas torres… - disse Sam em certo ponto apontando pela janela - São mesquitas.

— Bem que a gente poderia ter tempo para turistar por aqui também né? - perguntou Will.

— Concordo. - disse Sadie - Tem uma grande e famosa aqui né?

— A Hagia Sofia. - respondeu Sam.

— Tiens-toi. - disse repentinamente o cocheiro numa tranquilidade de uma conversa comum.

— O qu- ? - comecei a perguntar.

— Se segurem?! - traduziu Anúbis bem sem saber se estranhava a tradução ou se exclamava com urgência.

Todos nós estávamos em alguma das duas das janelas nas laterais e tivemos só um milésimo de segundo para processar aquela ordem que o cocheiro havia dado com tanta monotonicidade na voz apesar da tradução preocupante. Quer tivéssemos reagido rápido ou não, não foi o suficiente. 

Repentinamente algo pesado e forte bateu contra a traseira da carruagem e nós, que muito erradamente estávamos de pé e sem cinto, fomos empurrados para frente. Caímos um em cima do outro de forma dolorosa. Eu caí em cima de Will, Will bateu a cabeça no chão e eu bati meu braço em algum lugar no caminho entre a humilhação do chão e a janela.

Na outra janela, os segundos extras garantidos pela fluência em francês renderam um pouco de diferença. Lá também estava um dominó de pessoas com Sam, Sadie e Anúbis, nessa ordem de baixo pra cima. A diferença é que, ao contrário de mim, transformando Will em panqueca, Anúbis conseguiu não esmagar as garotas ao se segurar na quina da janela com uma mão e segurar Sadie com a outra. Não impediu nenhum dos dois de cair feito dominó, mas ao menos ele não esmagou elas e conseguiu impedir que todo o peso de Sadie esmagasse Sam.

Apesar do impacto, a carruagem começou a correr apressadamente, só que agora, provavelmente sem um destino definido.

— Que s'est passé?! - gritou Anúbis para o cocheiro enquanto nos arrumamos desesperadamente.

— Nous sommes attaqués par un monstre de roche. - respondeu o cocheiro no mesmo tom monótono de antes.

— Então? - perguntei, fechando meu cinto desesperadamente.

— Estamos sendo atacados por um monstro de pedra. - traduziu Anúbis.

— Claro que iríamos ter uma recepção bem calorosa. - falei, revirando os olhos.

— Par-derrière. - completou o cocheiro.

— Por trás. - disse nosso tradutor oficial, que ao contrário de nós, reles mortais, não tinha ido para a cadeira.

Anúbis colocou a cabeça pra fora da janela para tentar ver o monstro que nos perseguia, e não gostei da cara que ele fez. Ele ficou boquiaberto e começou a olhar cada vez mais pra cima.

— É muito ruim? Você sabe que monstro é? - perguntou Sam apressadamente.

— É hitita… e muito grande… muito grande… - respondeu ele - Se chama Ullikummi.

— Maior do que como você consegue ficar? - perguntou Sadie preocupada.

— Sim… e por muito… - respondeu ele, olhando para nós, preocupado - Se servir de algum consolo, ele parece incompleto e, até onde eu sei, ele é surdo e cego.

— Então como está seguindo a gente?!? - perguntou Will exasperado enquanto o chão tremia, provavelmente com uma pisada perigosamente próxima do bicho.

— Não sei… mágica talvez… - sugeriu Anúbis.

— Me diz que tem algum mito de alguém que derrotou ele que a gente pode imitar! - exclamou Sadie.

— Cortaram os pés dele. - respondeu Anúbis.

— Então é isso que a gente vai fazer! - declarou Sadie se erguendo e indo até a janela para ver qual era o tamanho do problema.

Eu fiz a mesma coisa. E não foi algo fácil pois a carruagem estava balançando demais e qualquer coisa parecia que a gente ia cair de novo. Quando eu consegui olhar pro Ullikummi, cheguei a conclusão que o problema era grande mesmo. Ele era mais alto que todos os prédios que estavam por perto, e inclusive estava destruindo os prédios que esbarrava ou pisoteava. A gritaria era generalizada do lado de fora. Pobre Istambul.

Ele não tinha olhos, nem ouvidos… mas também tinha um pé faltando. Talvez por isso a parte do “incompleto”? Não sei. Mas ele também era lento, bem lento. Ele se abaixava tentando nos agarrar, ou tentava nos chutar com o toco que um dia terminou no seu pé esquerdo, mas a carruagem conseguia sair a tempo ou ele simplesmente errava a mira.

— Precisamos de um plano. - falei, desesperado por um para lidar com um monstro daquele tamanho.

— S-Sim… - gaguejou Will que se juntou ao meu lado.

— Alguma ideia, gente? - perguntou Sadie desesperada na janela oposta a nossa se segurando desesperadamente à janela quando o Ullikummi conseguiu nos chutar.

Nossa conversa foi interrompida por nossos próprios gritos após o chute enquanto nos sentíamos dentro de um liquidificador ou sei lá. Eu já estava todo dolorido de tanta pancada nas paredes da carruagem. Com plano ou sem plano, não iriamos conseguir lutar se ficássemos colecionando machucados ainda dentro da carruagem. Já estávamos com clara sorte da carruagem estar nos protegendo de alguma lesão bem pior.

— N-Não… Ainda não tenho um plano… - disse Sam, se levantando tonta e com cuidado para ver a situação pela janela enquanto o resto de nós continuava no chão.

— Vão pensando em alguma coisa que eu vou atrasar ele! - disse Anúbis apressadamente indo até uma das janelas e abrindo-a.

— QUÊ? - gritou Sadie - OLHA O TAMANHO DELE, E SE ELE TE MATAR?

— Se ele me matar eu volto depois… - respondeu Anúbis tranquilamente, dando de ombros - Talvez não a tempo para ajudar na batalha final mas… não se preocupe tanto. Não pretendo também deixar ele me matar. Se cortarmos o pé que tem sobrando, ele vai perder sua força. Mas não temos garantia que as suas armas vão conseguir perfurar tanto a pele de pedra dele.

E assim, ele pulou da carruagem que corria sem parar. Sadie correu para a janela, e pelo pequeno brilho que consegui ver pela fresta da porta, imagino que ele tenha ficado naquela forma gigante dele e brilhosa. 

— FECHA ESSA PORTA ANTES QUE VOCÊ CAIA! - gritou Will e Sadie fez imediatamente isso.

— PRECISAMOS DE UM PLANO! - gritou ela desesperada.

— Só precisamos cortar o pé, se alguém distrair ele o suficiente, a gente pode, na pior das hipóteses, ficar atacando até cortar… - sugeri, sem muita confiança - Não acho que seja fácil de cortar.

— Nada nunca é fácil. - resmungou Sam, mas, pela cara dela, ela claramente estava pensando em todo cenário. 


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Notas finais do capítulo

por hj é só, até a proxima!



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