Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 154
IARA - Os Passos da Derrota


Notas iniciais do capítulo

então, um dia por aqui pediram algum deus narrando e... não era bem a Iara que eu tava pensando na hora mas... ela encaixava perfeitamente nesse cap. mas n se acostumem kkk e nem se chateiem se preferirem algum dos personagens canon narrando.
desculpa pela demora e bem vindos ao cap novo :)



no momento, estão nas AMÉRICAS os grupinhos:
— Nova Roma: Frank, Lavínia, Hazel, Annabeth, Kayla, Grover, Percy, Piper,
— NY: Cléo, Austin e, Rachel
— Indo pra Nigéria: Carter, Zia, Paulo, Drew
— Peru: Leo, Calipso,Magnus, Jacques, Alex, Festus, André (Brasileiro que tava na Nigéria e não sabe jogar futebol), Meg e Apolo

no momento, estão na AFRICA, os grupinhos:
— Nigéria : Olujime

no momento, os grupos que estão na EUROPA são:
— Indo para a Itália: Caçadoras de Ártemis (Thalia, Ártemis, etc), Clarisse, Reyna, Ciara
— Indo para Inglaterra: Blitzen, Hearthstone, Mestiço, Mallory
— França : Sam, Anúbis, Sadie, Will, Nico
— Alemanha: Maias-Astecas: Victoria, Micaela (a menina q parece Annabeth) e Eduardo (guri chato que o Mestiço deve estar querendo esganar)



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IARA

Viajar no ônibus escolar de Apolo era sem dúvida mais confortável do que viajar com o Boitatá… mas eles não irão me escutar falando isso. Nem Boitatá, nem Apolo. As crianças todas dormiam, exaustos. Eu mesma tirei uma boa soneca na primeira parte da viagem. Quando acordei, só Angra, Illapa e Apolo estavam acordados. O clima era de total silêncio. Eu sei lá que horas eram, tudo estava escuro e chuvoso desde Caral… eu sentia que as coisas não estavam mais tão estáveis e ‘normais’

Angra estava de braços cruzados sem tirar os olhos de Illapa, que estava quietinho encolhido logo ao lado dele. Alex estava no último banco do ônibus, rodeada do resto do pessoal, abraçando o Livro de Thoth com cuidado enquanto roncava e babava. Quando me ergui e fui até Angra, vi a cauda de Festus balançando inocentemente pela janela, provando que a soneca no teto também ia bem. Alcançando Angra, parei de braços cruzados na frente de Illapa.

— Então… vai aproveitar que já estamos bem longe para dar algumas explicações para a gente? - perguntei para Illapa.

— Não quer esperar eles acordarem? - perguntou Apolo, indicando o resto do pessoal rapidamente com um gesto de cabeça.

— Você passa tudo pra eles depois. - disse Angra - Deixe eles descansarem. 

— Sabe que você vai ficar sob intensa observação para caso decidir se voltar contra nós, certo? - perguntei - Acabar com homem é minha especialidade.

— Sim… já ouvi falar da sua fama. - respondeu Illapa - Não sei o que posso falar para te convencer que não estou do lado da Cuca.

— Que tal contar a história de como você ficou nessa bagunça? - pediu Angra.

— Supay veio falar comigo como se fosse um dia qualquer uns meses atrás… - explicou Illapa - Começou com uma conversa não muito incomum de como nossa situação e valorização não é muito boa… seja com os peruanos ou fora do Peru e da América Latina…

— De fato é uma reclamação muito comum por aqui. - disse Angra - Eurocentrismo dando dor de cabeça à séculos…

— Então ele falou que um pessoal do Egito e do México tinha se juntado para criar um plano para mudar tudo isso. - explicou Illapa - Depois eu descobri que se referia à Naunet e Quetzalcoatl. No começo, antes de eu saber exatamente como eles queriam fazer isso, parecia uma ideia muito boa e tentadora.

— Quando mais ou menos foi isso? - perguntou Apolo.

— Ah, bem antes de atacarem qualquer pirâmide. Meses atrás. - disse Illapa - Eles estavam primeiro juntando aliados e conhecimento… Naunet sabia que devia ter alguma magia ou magias antigas que poderia ajudar, mas ela não tinha todos os detalhes. Quando o grupo estava forte e confiante o suficiente, decidiram roubar o Livro de Thoth para conseguir o resto das informações que precisavam. 

— Que foi quando atacaram a casa lá em Nova York dos egípcios né?… - disse Apolo - Fiquei sabendo de fofocas que o livro estava lá e foi roubado.

— Provavelmente. - respondeu Illapa dando de ombros - Esse nível de informação poucos tinham então não sei dizer com certeza. Eu tentei subir na hierarquia para ficar sabendo mais coisas… nesse momento estava realmente interessado e curioso no que eles estavam querendo fazer. Mas admito que deveria ter sido mais precavido também. A magia para fazer nos obeliscos ela já tinha conseguido de alguma forma. Nos disseram que era para preparar a magia do mundo para uma magia maior… mas depois entendi que foi para dificultar a vida daqueles que pudessem impedir os planos.

— Depois que roubaram o livro de Thoth… o que aconteceu? - perguntou Apolo.

— Naunet ficou um tempo estudando ele até onde eu sei. - disse Illapa, dando de ombros - Foi nesse ponto que Nyx se juntou… é difícil colocar ela no ranking de todos os envolvidos. Ela certamente se comporta como se fosse a líder e idealizadora de tudo e ao mesmo tempo como se estivesse trabalhando sozinha. Depois de Nyx, conforme foram entendendo que precisávamos de mais especialistas em magia, a Cuca se juntou junto com outros deuses da magia ou bruxos ou coisas do tipo.

— E os rios? - perguntou Apolo - Minha irmã está indo atrás de rios se rebelando tem um tempo também.

— O pouco que Naunet já sabia da magia era que ia precisar de muita água, então começou a recrutar espíritos do rio também. - disse Illapa - Quando começaram a atacar as pirâmides, o nível dos rios começou a aumentar também… Não sei até que ponto a aliança de espíritos do rio é uma ajuda ou uma obrigatoriedade para a magia… mas pode ter certeza que é um problema. Foi quando eu fui entendendo isso que fui passando a trocar de lado.

— Eles vão afogar todo mundo? - perguntou Meg repentinamente, acordando sem ninguém ter notado e logo se juntando à conversa. 

— Não todo mundo. - respondeu Illapa, negando com a cabeça e soltando um pesado suspiro - Aumentar o nível dos rios e mares com certeza vai matar muita gente… mas não estão pensando em nenhum dilúvio para matar todo mundo. A magia que encontraram no livro de Thoth tem potencial para isso. A ideia é fazer ela quase até o final… matar uma boa parte do pessoal, e usar tanto o caos que vai acontecer, como a magia intensa e distorcida do momento, para se colocarem como grandes deuses… talvez até como os únicos deuses.

— Todos os envolvidos vão ser os únicos deuses? - perguntou Meg confusa - Me parece que tem bastante gente…

— É uma ideia estranha né? - perguntou Illapa - Todo mundo quer ser o único deus mas se todos forem o único, então ninguém é. Sinceramente, acho que não estão contando toda a verdade para aqueles que não são tão importantes e grandes no plano… 

— Estão apenas usando eles… - disse Angra, falando o que eu pensava.

— Exatamente. - concordou Illapa - Mas isso já não passa de uma teoria minha.

— Agora que a gente pegou o Livro de Thoth… - disse Meg lentamente - Significa que eles não podem mais então atacar demais pirâmides né?

— Não… alguns tem o feitiço decorado ou anotado em outro lugar … como Naunet, por exemplo. - disse Illapa - Só estava com a Cuca para ela ser a próxima a aprender o feitiço e tentar descobrir algo mais de útil do livro… afinal é muito grande.

— Não parece tão grande assim… - comentou Meg.

— É um rolo de papiro… tenta abrir ele pra você ver… - desafiou Illapa - Parece que nunca termina. A quantidade de conhecimento lá é muito grande.

— Perigosíssimo de cair em mãos erradas. - completou Apolo - … como já aconteceu outras vezes, até onde sei.

— Porque não destroem logo? - perguntei.

— Aposto que é indestrutível… - sugeriu Apolo - Ou os egípcios são acumuladores… sei lá… 

Ficamos todos em silêncio por alguns segundos. Não posso dizer no que cada um estava pensando. Eu estava pensando nos próximos passos que poderíamos fazer e próximas perguntas, Meg acho que estava com outras questões na cabeça, já que deixou um grande bocejo escapar da sua boca.

— Pelo menos não conseguem aprontar com o Livro de Thoth mais. - disse Angra.

— E onde exatamente vamos deixar ele? - perguntou Apolo - Agora está obviamente com a gente e vão vir atrás da gente por isso.

— Vamos pensar nisso… - respondi - Mas acho melhor levarem para um lugar melhor e mais seguro. Não temos muitas pessoas para cuidar de tantos problemas… os humanos já causam problemas demais pra gente na floresta, imagina tendo que proteger um livro importante desses.

— Como descobriu que a pirâmide na Europa é a do Louvre? - perguntou Angra.

— O bom e velho ouvir escondido. - respondeu Illapa, dando de ombros.

— Certeza que não te notaram? - perguntei.

— Certeza. - falou Illapa - Eu ouvi como chuva… Não tem muitos que sabem que posso fazer isso e duvido que eles estejam na lista. Nunca se interessaram tanto assim com nós. Tudo o que queriam era que a Cuca fizesse a magia em Caral. Também é do mesmo jeito que sei que o único plano piramidal que eles têm na África é o Egito. As três faltantes, além da do Egito, então são o Louvre e duas na Ásia que não sei quais são.

— Interessante que lembrou de Caral… porque não impediu a Cuca? - perguntei.

— Eu precisava de garantia de que iria conseguir sair dali ou iriam me matar por me revelar um traidor… - disse Illapa - Com a Cuca, Supay, Pishtaco e os Jarjachas ali, vocês deram sorte de terem saído vivos. Tudo o que precisavam era usar os Jarjachas para controlar alguém como Apolo, você Iara, ou você Angra e os mortais já eram.

— Bem tentaram… - respondi, olhando para Apolo - Ainda bem que o velho truque da música ainda funciona… 

— Não vá achando que vamos relaxar com você só porque explicou tudo… - falei, ameaçando Illapa.

— Entendo e não julgo… - disse Illapa, afirmando serenamente com a cabeça.

Lentamente o resto do pessoal começou a acordar e fomos atualizando eles de toda a conversa que aconteceu.  Novos questionamentos surgiram, mas logo estavam todos sentados cansados novamente, esperando a longa viagem continuar. Todos pareciam bem cansados e desanimados, mesmo comendo as comidas que Meg havia juntado pelo caminho até aqui para eles, e não os culpo. 

Fui até eles por um momento e sentei lá. Olhei para cada rosto, jovens demais para estarem lidando com tantos problemas. Alex e Magnus tentavam mandar uma mensagem de Íris para o resto dos amigos, mas por boa parte do caminho, nenhuma comunicação conectava. Não tinha certeza se isso era coisa da Cuca ou da Amazônica… a floresta ainda tem muitos segredos que não entendemos. Eu sabia que estávamos cada vez mais perto de Pindorama e de Manaus também, mas com aquela chuva e escuridão da noite, era difícil realmente acreditar que o tempo estava passando. 

— Tirando o cansaço, estão bem? - perguntei.

— Só se for pra tirar o desânimo também. - disse Calipso deitada no ombro de Leo.

— Tá que ao menos conseguimos o Livro de Thoth… mas poderia ter sido bem melhor… - disse Leo - Tinha tanta gente já morta quando chegamos lá.

— Vamos nos vingar deles, não se preocupe. - falei.

— Não vai trazer eles de volta. - respondeu Leo.

— Mas nada vai. - respondi, suspirando pesadamente - Então nos resta acertar as contas e impedir que isso se repita.

— Estamos do lado errado do mundo para impedir que isso se repita. - disse Meg.

— Não tem só vocês e a gente no meio dessa confusão. - lembrei - Quando chegarmos em Pindorama, vou fazer o que for necessário para juntarmos um exército, pequeno talvez… mas ainda assim um exército da América do Sul para enviarmos para o Egito se a situação chegar a esse ponto. Se não, iremos para a Ásia.

— Obrigada por toda a ajuda. - falou André.

— Vocês que são a ajuda aqui. - lembrei - Não teríamos como sair de Pindorama para checar as coisas no Peru. Consequentemente, o livro de Thoth ainda estaria em mãos erradas.

— Quanto tempo falta para Pindorama? - perguntou Magnus após mais uma tentativa de fazer uma mensagem de Íris.

— Horas. - respondeu Apolo lá do volante - Eu acharia um jeito de matar o tempo se fosse vocês… aliás, aceito trocar o dever de motorista com alguém por um tempo pois minha bunda está quadrada desde da metade do caminho de Nova York pra cá.

— Eu dirijo um pouco pra você. - me ofereci - Só me ensinar qual a diferença entre um carro normal.

— Quase nenhuma se você não fizer algumas coisas… - disse ele.

Depois de um curso rápido, troquei de lugar com Apolo e ele de fato ficou aliviado. Ele se esticou, apalpou a bunda e logo foi conversar com as crianças, claramente se dando muito bem com eles. Ainda assim, a animação estava bem baixa mesmo quando eles começaram a jogar Uno para passar o tempo.

Depois de várias horas entediantes com ninguém tendo energia para muita coisa e qualquer conversa morria rapidamente enquanto continuávamos tentando criar distância o mais rápido possível da Cuca, eu troquei de lugar com Apolo de novo e Alex repentinamente soltou um berro. Todos nos assustamos, mas o motivo foi que sua mensagem de Íris finalmente deu certo.

— CONSEGUI! - gritou Alex.

— FINALMENTE! - comemorou Magnus.

— ALEX! - gritou uma garota de hijab na mensagem dela, claramente aliviada - EU TENTEI ENTRAR EM CONTATO TANTAS VEZES COM VOCÊS! ESTÁVAMOS PREOCUPADOS!

— Foi mal… eu também tentei mas não estava dando certo. - disse Alex enquanto outras pessoas apareciam na mensagem - Nós estamos bem… cansados, exaustos, derrotados, mas bem… e vocês?

— Estamos bem. - respondeu a garota.

— E Blitzen e Hearthstone? - perguntou Magnus - E Mestiço e Mallory.

— Estão bem… ou ao menos até onde eu sei. A memória da Mallory ainda não está de volta, mas está melhorando gradualmente pelo o que Mestiço falou. - respondeu a garota de hijab - O que vocês fizeram tanto por aí? Estão com a cara horrível mesmo.

— Temos muitas novidades… - disse Alex - Muuuuuuuitas mesmo…  

Fiquei observando de longe, junto com André que também não parecia muito interessado em se juntar demais à conversa, quando Alex ergueu o livro de Thoth. Foi nesse momento que a garota loira de mechas coloridas que estava logo atrás da de hijab, ficou de olhos arregalados e logo deu um berro.

— VOCÊS CONSEGUIRAM PEGAR O LIVRO DE THOTH?! - gritou a loira.

— Isso e descobrimos muitas coisas… - disse Alex.

— Mas não temos a menor ideia de onde guardar o livro… - disse Calipso - Certeza que estão atrás da gente.

— Então se tiverem alguma ideia de algum lugar legal pra levar… - disse Leo - Estamos aceitando. E por “legal” eu quero dizer “seguro”. Caso não tenha ficado óbvio.

— Vou ligar pro meu irmão. - disse a loira - Acho que tenho uma ideia. 

— O Will e o Nico tão bem também? - perguntou Apolo em voz alta lá do volante - Não ouvi a voz deles.

— Estamos aqui! - respondeu um garoto loiro, seja lá se ele era o Will ou o Nico.

— Meu filho… - disse Apolo, olhando pra mim, com um sorriso de pai coruja.

— Qual dos dois? - perguntei baixinho, tentando conhecer as pessoas da mensagem enquanto elas conversavam entre si e atualizavam cada grupo das complicações de cada lado.

— Will. É o que me respondeu. Conheço a voz muito bem. - explicou Apolo - Nico é o namorado dele… ele é o de cabelo preto, meio gótico e pálido.

— Tem dois. - falei.

— O mais novo. - explicou Apolo - O outro é o Anúbis.

— O deus? Ou… ? - perguntei, levemente surpresa - Ou alguém tem o gosto muito esquisito pra nome de filho.

— Primeira opção. - respondeu Apolo, confirmando que minha surpresa tinha razão. 

— Não imaginava que Anúbis fosse um adolescente… - falei.

— Pois é, que coisa né? - falou Apolo - Claro, obviamente ele não tem menos de 20 anos… ao menos não literalmente. Por exemplo, a garota loira de cabelo colorido é a namorada dele, Sadie. O irmão dela, pra quem eles estão ligando, Carter, é o atual faraó da casa da vida.

— Hmm… - resmunguei enquanto vi o provável Carter atender uma ligação de celular mesmo na imagem da mensagem de ìris.

Carter (ou quem eu esperava que fosse Carter) apareceu na tela do celular de Sadie e ela virou o celular para a mensagem de Íris enquanto ele fala:

— Sadie? Tudo bem? - perguntou ele claramente bem cansado.

— Olha só o que Alex e os outros acharam. - disse Sadie enquanto Alex erguia mais uma vez o papiro.

— O LIVRO DE THOTH? - exclamou Carter.

Era difícil ver o que acontecia no telefone, então me aproximei mais para conseguir ver o que acontecia. Vi que o grito de Carter atraiu mais três pessoas para atrás dele. Duas garotas e um cara.

— COMO? ONDE? - exclamou Carter.

— Estava com uma bruxa jacaré chamada Cuca. - explicou Magnus.

— P-PERA! CUCA? tipo… a Cuca? - perguntou o garoto atrás do Carter e logo ali senti cheiro de brasileiro, não só pela combinação rosto e sotaque, mas também por conhecer a Cuca.

— Conhece? - perguntou Will.

— Sítio do Picapau amarelo. - disse o garoto no perfeito português como se eu precisasse ter mais um nível de certeza de que ele era brasileiro.

— SIM! - gritou André em português do meio do ônibus, longe da conversa, repentinamente correndo para se juntar a conversa - E AQUELA ALI É A IARA!

André apontou para mim e isso atraiu o olhar de todos para mim mesmo que pouquíssimos ali soubessem português. Vendo todos os olhos se voltarem contra mim, apenas abri um pequeno sorriso e acenei. Acho que estava sendo claramente muita coisa para André processar em poucos dias.

— E-E EU CONHECI A IEMANJÁ TAMBÉM! - continuou exclamando André ainda em português.

— Me lembrou um pouco o momento que Cleo conheceu o Paulo… - disse Carter, em inglês, rindo de leve - Mas falando do livro… 

— Estão com certeza atrás de nós e provavelmente sabem pra onde estamos indo agora. - explicou Calipso - Não tem muitos lugares por perto para fugirmos…

— Acha que conseguem me encontrar no Sudão com o livro? - perguntou Carter.

— Depende… - disse Leo - Temos Festus e o carro de Apolo para viajar, mas também temos outras pirâmides para nos preocupar.

— Pelo o que nosso recém-conhecido de honestidade e lealdade duvidosa estava explicando, o Louvre de fato é um alvo. - explicou Alex.

— Estamos nele agora! - exclamou Will - Dormimos aqui para ficar de olho na pirâmide.

— Ela é a próxima mas talvez não seja atacada assim tão rápido. - expliquei - Vocês conseguiram desestabilizar bastante os planos deles pela Europa. É mais provável que estejam indo para Ásia… 

— Percy e Annabeth estavam se planejando para ir para lá. - respondeu uma garota ao lado de Carter - Sabemos qual pirâmide vai ser atacada por lá?

— Não… - falei enquanto olhava para Illapa em busca de algo que ele não tinha nos contado, mas ele negou com a cabeça confirmando que não sabíamos qual seria a pirâmide asiática a ser atacada.

— A Ásia é do outro lado do mundo de qualquer jeito… - disse Sadie - Se chegarem na África ou até mesmo antes disso, e notarem que precisam ir para a Ásia, é só continuar. Não vai fazer uma diferença tão grande ir pelo outro lado do mundo.

— Onde te encontramos no Sudão? - perguntou Meg.

— Hm.. boa pergunta… - disse Carter.

— É provavelmente bastante tempo… vamos talvez precisar de uns lugares para parar em segurança ou em emergências… - teorizou Leo - Ou muita comida…

— Vocês discutem isso quando estiverem já no caminho, sem tantas companhias. - sugeri - Se esse livro é tão perigoso quanto dizem, melhor restringirem quantas pessoas sabem desse plano de vocês.

— Boa ideia. - falou Alex.

— Mas agora já notei que muita coisa aconteceu e vocês tem bastante para compartilhar com a gente… - disse Carter - Conseguiram salvar a pirâmide do Peru?

— Não… - respondeu Magnus apesar de todos terem ficado bem cabisbaixos.

— Nosso único feito foi recuperar o Livro de Thoth. - disse Alex, com raiva e fechando a mão com muita força.

— Tudo está estranho desde que fizeram a magia lá na pirâmide de Caral… - disse Meg - Ficou tudo escuro e começou a chover… Sem relógio não dá nem para saber que horas são.

— Acho que podemos esperar que a cada pirâmide que a magia for completada, o tempo vai ficar cada vez mais estranho. - disse Illapa, ainda sentado de castigo ao lado de Angra - Os mortais já devem estar notando que algo está estranho… 

— Angra… - disse Apolo repentinamente - Tô chegando no limite do caminho que você disse pra eu seguir… 

— Estamos chegando então… - eu disse, deixando a conversa das crianças para trás e indo ajudar Apolo a chegar em Pindorama depois de tantas horas ali voando.

Falei para ele começar a descer e foi exatamente isso que ele fez. No escuro, a copa das árvores parecia um grande e infinito buraco negro embaixo de nós, talvez por isso que ele ficou tenso ao meu lado. Era como se eu tivesse pedido para ele mergulhar no meio da escuridão sem fim. A conversa atrás de nós não combinava em nada com a tensão que Apolo parecia estar, sem nem respirar direito e com a coluna toda ereta e ombros duros.

Eventualmente, o farol do ônibus começou a iluminar a copa das árvores, tão volumosas que pareciam um grande tapete verde. As folhas se mexiam lentamente mesmo antes de passarem por baixo do ônibus, podia simplesmente ser o vento, mas eu sabia que não era.

— Continua a descer. - falei.

— Tem certeza? - perguntou ele, duvidando de minha instrução com a voz e com o olhar.

— Tenho. - garanti.

Ele demorou um pouco, respirou fundo e começou a descer mais. Ele desceu bem devagar, mais do que eu queria, mas não tinha problema. As árvores começaram a se mexer ainda mais, fazendo tanto barulho que as conversas atrás de nós acabaram. Qualquer ligação acabou naquele momento e todos ficaram olhando pelas janelas, principalmente a da frente, enquanto as árvores começaram a nos engolir. Não porque estávamos baixo demais, mas mais porque elas estavam se esticando e nos engolindo, nos puxando calmamente para dentro da floresta como se nos engolisse.

— Iara… - falou Apolo, tenso.

— Mantenha o ônibus firme. - falei - E continue descendo.

— T-Tá… - gaguejou ele.

Continuamos a descer e as árvores saíam da nossa frente magicamente. Andando ou se contorcendo para dar espaço para o ônibus. Com a pouca luz que tinha, quando o chão finalmente chegou, ele apareceu repentinamente demais para o pouso ser delicado. Meg caiu no chão, eu (e vários mais) quase caí, Magnus bateu de leve a cabeça no vidro da janela. 

Ninguém se machucou demais. No máximo algumas pancadas e um roxo aqui e ali, mas estávamos todos bem e, com a luz dos farois, vi algumas das cabanas que tanto gostava na nossa frente. Estávamos em Pindorama e, pra confirmar, vi Tupã se aproximando de nós no meio da escuridão.

Com um pouso tão brusco, imaginei que as crianças iriam preferir respirar antes de sair do ônibus. Deixei Illapa para Angra lidar e as crianças para Apolo, e fui falar com Tupã, saindo do ônibus e deixando a chuva me abraçar. 

— Então? - perguntou ele - Devo entender que as coisas não foram tão boas… já que o sol sumiu.

— A chuva também é culpa nossa. - respondi.

— Vocês apareceram no jornal… de certa forma. - revelou Tupã.

— No jornal? - perguntei, estranhando aquilo.

— Falaram de um eclipse solar anômalo que escapou das previsões dos astrônomos. - disse Tupã dando de ombros, olhando para o ônibus e notando Illapa com Angra saindo dele - Sabe dizer se isso vai durar até amanhã? Agora que passou da hora do pôr do sol, os mortais não devem se perguntar demais…. ao menos por enquanto.

— Infelizmente não sei dizer… - respondi.

— Temos muito a conversar. - disse Angra para Tupã.

— Percebi. - respondeu ele.

— As crianças estão dormindo? - perguntou Angra.

— Sim… - respondeu ele - E imagino pela cara horrível dessas crianças que elas não querer se juntar à soneca.

— Adivinhou certo. - respondi - Posso deixar eles com vocês?

— Claro. - respondeu Angra.

Eu deixei o pessoal lá e segui sozinha. Passei pelas cabanas e, pelos roncos, realmente confirmei que os poucos semideuses de Pindorama estavam dormindo muito que bem. As árvores que antes abriam uma clareira para que o sol pudesse entrar, agora tinham magicamente fechado usando suas densas copas para nos proteger da chuva. Ainda assim, uma ou outra gota chegava até o chão. 

Passei na cozinha, peguei uma pequena vasilha azul qualquer, uma ameixa e juntei uma variedade de flores de um arbusto ali perto, principalmente as que estavam no chão e não danificadas. Segui então para o nosso pedacinho de água. Não vi nenhum sinal do boto, o que era tranquilizador, queria ter uma conversa privada.

— Hey… - disse uma voz atrás de mim que logo reconheci como sendo Jaguarari.

— Hey… - respondi desanimada enquanto ele passava os braços ao redor da minha cintura, por trás, acabando por me abraçar.

Respirei fundo e me derreti no abraço dele, relaxando meu corpo no dele enquanto segurava minha vasilha, ameixa e flores e as gotas de chuva que conseguiam passar pela copa densa das árvores chegavam até nós e batiam no meu rosto.

— Longo dia? - perguntou ele.

— Longos dias… - respondi - Já até perdi a conta de quanto tempo faz desde que saímos daqui… e foi tudo tão corrido… e aqueles peruanos mortos… e o fiasco da pirâmide…

— Não foi fácil então. - falou ele.

— Dei o nosso contato para uma garota peruana… espero que eles tenham ficado bem… - respondi - Estávamos com pressa pra sair de lá.

— Ah, por isso que ligaram de Brasília falando que alguém ligou pedindo abrigo lá do Peru… - disse Jaguarari, fazendo eu me virar rapidamente para ele.

— Sério? - perguntei. 

— Sério. - respondeu ele, me soltando e logo me dando um leve beijo na testa, me deixando corada e quase me fazendo esquecer o que eu ia fazer.

— Vamos dar um jeito de trazer eles pra cá então… mas, por agora… - falei, olhando para a vasilha.

Ele me soltou e eu coloquei as flores e a ameixa na vasilha, cuidadosamente coloquei a vasilha sobre a água e a empurrei. A vasilha flutuou tranquilamente na água escura que apenas refletia as estrelas, até que foi subitamente engolida pela água, tal como eu esperava. A água começou a se mexer, e de dentro dela, como se fosse literalmente uma escultura de água, apareceu Iemanjá.

— Já estava me perguntando como as coisas foram por aí… - disse Iemanjá.

— Ai miga… - disse suspirando e sentando no chão de terra cheio de folhas secas caídas e agora molhadas pela chuva, que felizmente tinha dificuldade em passar pela copa das árvores - Não conseguimos impedir o ataque no Peru, mas temos um prêmio de consolação. Mas obrigada pela força extra.

— O quê? - perguntou Iemanjá.

— Provavelmente é melhor você não saber pois iria pedir para você deixar os garotos descansarem por aí no meio do caminho deles. - falei - Mas sem ninguém saber… Ninguém mesmo. 

— Claro… - disse Iemanjá - Vou encontrar um lugar que ninguém mais irá notar.

— Alguma sorte com achar o espião? - perguntei.

— Tem certeza que foi uma boa ideia contar para mim isso? - perguntou ela.

— Eu te conheço… - respondi - Impossível ser você e sei que posso confiar em você.

— Queria que mais confiassem assim em mim… ao invés de terem que usar uma estrangeira para contar disso. - disse Iemanjá - Mas... falando sobre isso, pode tirar as suas suspeitas dos que estão com você. O espião parece de fato ter ficado por aqui.

— Algo aconteceu? - perguntei.

— Vários ataques que só alguém com conhecimento das coisas recentes por aqui poderia ter ajudado. - respondeu Iemanjá - E o que aconteceu por aí?

— Perdemos a pirâmide do Peru… - respondi - Resumindo tudo extremamente.

— Alguma na África que eu possa ajudar? - perguntou Iemanjá.

— Só as do Egito… que as coisas tem que estar muito ruins para serem as próximas que temos que nos preocupar. - respondi - Está de noite por aí?

— Não.. aqui já amanheceu. - respondeu Iemanjá, claramente estranhando a pergunta.

— Ah… não é porque aqui está de noite desde que ainda era de dia, por causa da magia… - expliquei, massageando as têmporas em meio ao cansaço.

 


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Notas finais do capítulo

até o prox cap!



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