Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 145
LEO - Resgate com Tripas Para Fora


Notas iniciais do capítulo

desculpa a demora gente!! muita coisa aconteceu! mas aqui o cap novo direto do forno. alguns caps atrás eu fiz uma estimativa de qntos caps faltam pro confronto final. eu geralmente erro mto nas minhas estimativas (visto essa história já ter mais de 100 caps qndo eu n imaginava q ia dar tanta coisa kkk) mas até agora eu to acertando kk

no momento, estão nas Américas os grupinhos:
— Nova Roma: Frank, Lavínia, Hazel, Annabeth, Kayla, Grover, Percy, Piper,
— NY: Cléo, Paulo, Austin, Drew, Carter, Rachel e Zia
— Indo para o Peru: Meg e Apolo
— Indo para o Peru: Leo, Calipso,Magnus, Jacques, Alex, Festus, André (Brasileiro que tava na Nigéria e não sabe jogar futebol)
no momento, estão na África, os grupinhos:
— Nigéria : Olujime
no momento, os grupos que estão na EUROPA são:
— Indo para a Itália: Caçadoras de Ártemis (Thalia, Ártemis, etc), Clarisse, Reyna
— Inglaterra: Sam, Blitzen, Hearthstone, Anúbis, Sadie, Will, Nico, Mestiço, Mallory
— Alemanha: Maias-Astecas: Victoria, Micaela (a menina q parece Annabeth) e Eduardo (guri chato que o Mestiço deve estar querendo esganar), Ciara



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LEO

Eu não tinha a menor ideia de onde estava Calipso ou se sequer estava viva. Nossa única chance aparente de arrumar alguma resposta era através do Chullachaqui, o monstro metamorfo que agora estava preso na boca do Boitatá com Iara o encarando aparentemente pronta para o degolar ali mesmo. Festus até rugiu para deixar seu posicionamento na confusão bem claro também.

Enquanto isso, atrás de nós, Magnus continuava desesperadamente a tentar curar André. Eu notava o desespero dele com o canto do olho, suas mãos estavam sujas de sangue e ele estava tão pálido que parecia até um fantasma. André não estava com uma aparência muito melhor, na verdade estava indescritível. Se não fosse Magnus ainda tentando, eu até diria que ele já tinha morrido.

Ao lado de Iara, eu praticamente conseguia sentir o fogo queimando dentro de mim, ansioso por saber do paradeiro de Calipso. Encarei o Chullachaqui tal como Iara o encarava (ou eu assim imaginava), mas ele só olhava para Iara com um olhar de cachorro sem dono, até quando ele se transformou em seu marido, Jaraguari. 

— Puxe ele mais um pouco Boitatá. - pediu Iara - mas deixe ainda a cara pra fora. 

Boitatá fez exatamente o que ela mandou e o sugou mais um pouco, como se puxasse milkshake de um canudo fino demais. O Chullachaqui chorou de dor e fechou a cara quando ficou ainda mais dentro da boca do Boitatá.

— Para! para! - disse ele trocando de aparência novamente, dessa vez para a de um bicho azulado e pequeno, sua provável forma original.

— Cansou de imitar alguém? - zombou Angra. 

— Conte onde está Calipso! - exclamei e Festus resmungou junto comigo. 

— E aí vocês me soltam? - perguntou o Chullachaqui.

— Talvez. - disse Iara.

— Como quer que eu responda com um "talvez"?! - exclamou o Chullachaqui.

— Como vamos saber que não está mentindo? - perguntou Angra.

— Podemos levar ele para o lugar que ele dizer que ela está. - sugeriu Alex - Aí mesmo onde ele está, na boca do Boitatá. 

— COMO É? - gritou o Chullachaqui. 

— É isso ou virar comida do Boitatá agora. - disse Iara.

— Mais um pouco e não sobra mais nada de você pra fora. - disse Alex, claramente entrando facilmente nas ameaças - Se cobras normais digerem animais bem maiores do que ela com até alguma facilidade, imagina uma desse tamanho. Você não passa de um grão de milho.

O Chullachaqui fechou a cara e ficou pensando um pouco. Mas, no primeiro sinal de impaciência de Iara, ela fez um sinal para Boitatá, que por um milésimo de segundo começou a puxar o resto do Chullachaqui para dentro da sua barriga. 

—TA! TA! PARA! EU FALO! - gritou o Chullachaqui desesperado. 

— Fale então e é bom que não seja mentira! - ameacei. 

— Ela deve estar no nosso esconderijo nas montanhas do Peru. - disse o Chullachaqui - Perto do vilarejo de Gorgor. 

— Como sabemos que não é uma armadilha? - perguntou Alex e, atrás dela, Magnus desmaiou em cima de André. 

Isso interrompeu a conversa completamente, pois Alex e Jacques foram correndo para os dois (se é que posso dizer que Jacques correu), para checar se estavam bem. Eu nem desgrudei os olhos também, mas Angra e Iara não tiraram os olhos do Chullachaqui.

— Ah colé! - reclamou o Chullachaqui - Com algum nível de incerteza você tem que lidar. Eu também não tenho certeza que vão me tirar daqui. 

— ELES TÃO VIVOS! - declarou Alex - Super pálidos e mal respirando, mas vivos! 

— Você disse que ela "deve estar". - comentei enquanto Alex se concentrava em deixar André e Magnus numa posição mais confortável enquanto eu me perguntava o quão bem eles estavam, mas pelo menos eles estavam vivos - Você não parece ter certeza. 

— Olha, tudo o que eu sei é que o Kurupi pegou ela. - explicou o Chullachaqui - Estamos nos reunindo perto de Gorgor, então deve ter sido pra lá que ele levou ela. Pra dividir ela com o Pishtaco. Foi uma caça justa! 

— COMO ASSIM DIVIDIR ELA? - gritei sentindo meu sangue gelar e minha cara ficar branca. 

Festus também não gostou de ouvir aquilo, pois se aproximou tanto do Chullachaqui, rugindo tanto na cara dele, que o Chullachaqui fechou a cara e se encolheu. Devia até estar em dúvida se era melhor virar comida do Boitatá do que do Festus. Mas eu não estava afim de explicar que ele não fazia parte do cardápio de Festus.

— O Kurupi e o Pishtaco têm pessoas no seu cardápio às vezes. - disse Angra colocando a mão no meu ombro, me fazendo até ficar com dó de ter pensado em como Chullachaqui podia ou não fazer parte do cardápio do Boitatá e do Festus… odiei a ironia - Vamos achá-la o mais rápido possível. 

— Não temos tempo a perder. - disse Iara - mas é melhor termos mais certeza também que estamos indo para o lugar certo. 

— E o Magnus e o André conseguem viajar nesse estado? - questionou Alex, gritando preocupada ao lado de Magnus e André - Eles estão com caras bem ruins!!

— Fique de olho nele. - pediu Iara olhando para Angra enquanto se virava para checar a situação de Magnus e André.

— Pode deixar… - disse Angra com um sorriso ameaçador, e senti até que o fogo que a envolvia ficou mais quente.

— E porque você se disfarçou dela? - perguntei. 

— Nem vem. - reclamou o Chullachaqui - O combinado foi só falar onde ela estava. 

— Para alguém que está na boca de uma cobra flamejante gigante, você reclama demais. - disse Jacques, deixando o cantinho onde Magnus e André estavam desmaiados e juntando-se a discussão. 

— Espada idiota. Por sua culpa que não deu certo meu plano pra acabar com vocês. - reclamou Chullachaqui - Como eu ia saber que você tinha vida e tava enxergando tudo ainda por cima? 

— Viu? - perguntou Jacques - Reclama demais. 

— Não tente fugir do assunto. - insisti. 

— Pediram pra eu acabar com vocês..  - resmungou o Chullachaqui - Pra vocês não chegarem em…

— Onde? - perguntei quando o Chullachaqui parou de falar repentinamente. 

— Caral? - perguntou Iara. 

— Droga! Vocês tão informados demais! - reclamou o Chullachaqui - Porque ainda precisam de mim?

— Quem não queria que nós chegássemos em Caral?  - perguntou Angra. 

— Poxa, aí vocês tão querendo demais. - reclamou o Chullachaqui - Informação extra vai ter que me dar prêmio extra.

— Sua vida vale tão pouco assim pra você? - perguntou Angra e o Boitatá rugiu de leve.

— E depois nós que somos os malvados…PARA DE ESFREGAR ESSA LÍNGUA NOJENTA EM MIM AÍ DENTRO! EU JÁ ENTENDI QUE RAPIDINHO VOCÊ ME DEVORA! EU JÁ ESTOU NA SUA BOCA COM PRATICAMENTE SÓ A CARA PRA FORA, NÉ? - gritou o Chullachaqui para o Boitatá - Tá… foi o Supay… ele tá com sua amiga também.

— Merda. - reclamou Angra pisando forte no chão.

— Quem é Supay? - perguntei.

— É um deus inca. - explicou Angra - É tanto o deus da morte quanto o governante de Ukhu Pacha, o submundo inca. Foi provavelmente a figura que vimos na névoa mais cedo e quem fez a névoa.

— Ok… notícia ruim então? - perguntei.

— Bem ruim. - concordou Angra.

Eu me virei para onde Alex e Iara estavam rodeando Magnus e André, e vi cada uma cuidando de um deles, o que basicamente envolvia tentar fazê-los acordar o suficiente para comer uma… fruta meio roxa escura? Havia algo gosmento, como uma pomada natural, no pescoço de André, que estava bem vermelho e com uma cicatriz mas, fora isso, inteiro (o que era muito bom). Iara segurava a cabeça dele levemente e aproximava da boca dele o tal fruto que depois de um tempo lembrei da existência, era açaí. Mas acho que era a primeira vez que eu ia ao vivo.

Magnus estava com Alex numa situação melhor, pois ele estava abrindo os olhos lenta e fracamente, enquanto para André, Iara teve que espremer o açaí e deixar a gosma resultante entrar na boca dele.

— O que… é isso? - perguntou Magnus fracamente enquanto Alex tentava convencê-lo a comer a fruta.

— Uma fruta mágica aí. - disse Alex.

— É açaí… não é? - perguntei.

— Uma versão mágica dele. - disse Iara - Vai dar um pouco de cor para eles. Mas tem que ser usado com moderação. É muito forte a energia… mas como estão numa situação ruim mesmo…

— ECA! O QUE É ISSO! - gritou Magnus repentinamente cheio de energia e com a cor do rosto bem melhor depois de comer a fruta.

— Ah, agora acho que tá seguro pra eu voltar à ser pingente. - disse Jacques.

— Nossa…. Tô com sono, posso ter uma dessa também? - perguntei.

— Não. - respondeu Iara sem olhar pra mim enquanto via André lentamente abrindo os olhos, a diferença de energia entre ele e Magnus era prova o suficiente de quão perto André ficou de ir dessa pra melhor - Como disse, ela é mágica e é perigoso usar sem moderação. Você tem que estar mais ferrado para comer uma dessas.

— Sim senhora. - respondi enquanto ela ajudava André a se sentar - Estamos com pressa para achar a Calipso, né?

— Sim. Estamos. - disse Iara, só então olhando para mim - Mas você vai ter que dar um jeito do seu dragão ir no Boitatá também.

— Quê? - perguntei - Mas ele sabe voar! E não parece ser uma viagem muito tranquila.

— Não íamos tentar ter discrição? - perguntou Alex.

— A velocidade agora vai ser mais importante… - disse Iara deixando André lá sentado e indo até para o rio que havia feito companhia para nossa soneca - Já perdemos bastante tempo. Se demorarmos mais, podemos perder a amiga de vocês. Se aguentarem o estômago, tenho um jeito. Tem algumas curvas mas… deve dar certo. Só que todos têm que ir no Boitatá.

— Podemos tentar, né amigão? - perguntei para Festus, ele rugiu para mim afirmativamente.

Iara tocou a ponta dos dedos na água e começou a resmungar alguma coisa num idioma que eu não reconheci. Claramente não era português, senão eu teria notado pela semelhança com o espanhol. Uma estranha e bela luz prateada se refletiu por todo o rio por alguns segundos, como se a lua estivesse perto o suficiente para não deixar um centímetro do rio sem seu reflexo.

Ela então se levantou, e olhou para mim.

— Pedi ajuda de uma amiga para ficar de olho caso Calipso ainda esteja dentro da Amazônia brasileira e o Chullachaqui tenha mentido. - disse Iara - Não se preocupe. Vamos encontrá-la.

— Obrigado. - respondi, ainda com o peito pesado de preocupação, mas um pouquinho mais leve.

— Vamos indo. - disse Iara indo até André para ajudá-lo a se levantar.

— É tão… urgente assim? - perguntou André fracamente.

— Sim. - respondeu Iara - Desculpe, sei que gostaria de ter um momento para respirar e processar tudo que aconteceu. Mas infelizmente não temos tempo.

— Eu morri… não morri? - perguntou André, com a mão sobre o pescoço e o rosto apavorado.

— Quase… - disse Magnus.

— Magnus te curou. - explicou Alex.

— Valeu cara… - disse André, claramente aliviado e, mesmo que com ajuda de Iara, indo até Magnus para lhe dar um abraço.

— Que isso… - respondeu Magnus, meio sem graça - Agora você vai ficar bem.

Com o Chullachaqui ainda na boca, o Boitatá apenas olhou para nós. Eu não sabia bem como Festus ia se segurar nele, eu nem sequer sabia como o pessoal tinha se segurado nele. Não bastava o fato de o Boitatá pegar fogo, ele ainda era uma cobra! E cobras são escorregadias. Ou quem sabe eu estava pensando demais? E só tinha que aceitar a magia das coisas?

Acompanhei Festus para tentar achar uma forma dele se segurar no Boitatá, e notei que a cobra tinha alguns espinhos pelo corpo que talvez fossem úteis para se segurar. Além disso, ao tocar nela, ela parecia meio gosmenta e grudenta.

— Espero que isso seja mesmo suficiente… - comentei enquanto Festus voava para cima do Boitatá e se abraçava ao corpo dele.

— E eu vou aqui mesmo? - perguntou o Chullachaqui.

— VAI! - respondemos eu, Alex, Magnus e Jacques ao mesmo tempo.

Iara ajudava André a andar até o Boitatá e então a subir. Claramente ele ia ficar lá perto da cabeça do monstro com Iara ajudando ele a não cair, visto que ele não parecia forte o suficiente. Com todos os demais arrumando um lugar no Boitatá para ficar, a única pessoa atrás de mim e Festus era Angra, que nos deu uma piscadela.

— Vê se não cai em? - disse ela - Não garanto segurar.

— Não garanto também. - falei.

Eu olhei para Festus, me garantindo mais uma vez que ele estava realmente firme e que não precisaria fincar as garras no Boitatá para se segurar, mas quando eu mesmo sentei no Boitatá, senti que havia alguma coisa invisivel me puxando para continuar sentado nele. Decidi não questionar como a física mágica funcionava.

— Prontos? - perguntou Iara.

— Prontos. - respondemos com meu coração batendo forte ansioso para encontrar Calipso.

Eu me segurei mais fortemente e, de repente, o Boitatá começou a correr. Posso dizer correr para uma cobra? Rastejar rapidamente então. A velocidade era simplesmente absurda. Nada ao meu redor fazia sentido, meu estômago se embrulhava, minha cabeça chacoalhava. Não sei quanto tempo eu demorei pra perceber que as coisas ao meu redor estavam geladas, molhadas e azuladas demais para ser floresta. Foi então que notei que havíamos entrado no rio e o fogo do Boitatá havia se apagado. Mas então pareceu que tudo virou floresta novamente e logo uma curva terrivelmente brusca se seguiu. Eu quase caí do Boitatá, eu de fato vomitei nele e Festus reclamou atrás de mim quando parte do vômito foi para ele e eu não queria nem pensar o que era o líquido que sentia batendo na minha cabeça.

Repentinamente estamos na água de novo e toda a nojeira se lavava, mas meu estômago prometia parte dois de nojeira. Eu estava terrivelmente tonto. Fechei os olhos para tentar diminuir a tontura. Sentia que ia morrer a qualquer momento, seja por um chafariz de vômito ou por sair rolando pra fora do Boitatá, mas alguma coisa estava me segurando ali felizmente… ou talvez infelizmente… morrer não parecia uma opção tão ruim considerando o quão terrível era aquela viagem. Eu tinha quase certeza que ele estava indo mais rápido do que antes.

Eu tenho quase certeza que eu devo ter desmaiado no meio do caminho, ou na primeira metade. Sei lá. Foi facilmente a pior viagem da minha vida. Tentando pensar em outra coisa para distrair meu estômago da vontade de vomitar novamente, eu pensei que talvez o Chullachaqui estava numa situação pior do que nós. Qualquer fome que eu podia ter antes, rapidinho foi embora e foi trocada pela vontade de vomitar.

 Sei lá quanto tempo eu passei desmaiado, ou se desmaiei e acordei várias vezes, mas eventualmente notei que a velocidade tinha diminuído e não estávamos mais tão rápido e o dia também tinha nascido. Lentamente o Boitatá parou, nem tive tempo para processar onde ele havia parado, só sei que deixei meu corpo cair pro lado, caindo de qualquer jeito na grama e logo comecei a vomitar e logo caí no chão, fraco, provavelmente pálido, e vi que mais além, Magnus estava na mesma situação.

Tropeçando e andando engraçado, Festus ficou ao meu lado e lá deitou. Sei lá onde eu estava, estava acabado demais pra notar ou me preocupar com isso. Mesmo quando Angra chegou ao meu lado e deu uns tapinhas no meu rosto.

— Tudo bem por aqui? - perguntou ela.

— hmm… - resmunguei.

— Foi mal… estávamos com pressa né? - disse ela - Perdemos muito tempo com o Chullachaqui fingindo ser Calipso. 

 - Hm… - resmunguei de novo e logo voltei a vomitar.

— Toma… - disse Angra me estendendo uma garrafa d’água - Beba devagar. Aproveitamos tempo o suficiente. Pode ficar aqui largado por algum tempo. Vamos tentar rastrear Calipso enquanto isso. Não devem nem ter chegado em Gorgor ainda.

Sei lá quanto tempo eu fiquei lá largado antes de ter força o suficiente para tentar beber a água que Angra me deu. Só sei que não foi o suficiente, pois logo eu estava com ânsia de vômito. 

Decidi então respirar um pouco e olhar as coisas ao redor, a primeira coisa que notei foi um lago ali perto, então me arrastei para ele, com Festus como apoio, para conseguir me limpar um pouco pois estava bem suado (e quem sabe até pior, não queria pensar nisso). Dentro do lago de roupa e tudo, notei que não estávamos mais na Amazônia. Ali tinha bem menos árvores e mais montanhas. A terra era mais seca e o clima bem menos úmido.

Não muito longe dali, Magnus, Alex e André estavam numa situação igualmente deplorável. Principalmente André, que já não estava tão bem quando aquela corrida toda tinha começado, mas ele ao menos estava dormindo (ou desmaiado).

Olhando mais ao redor, notei Chullachaqui ainda na boca do Boitatá e Iara e Angra conversando com uma moça muito bonita, de cabelos longos e brancos. Ela usava roupas também brancas e era muito branca também, tudo nela era branco ou no máximo cinza, mas ainda assim dava para ver que ela era indígena, seja pelo traçado do rosto, ou os cabelos bem lisos, ou as roupas e pinturas no corpo dela.

Seja lá sobre o que as três conversavam, a moça de branco olhou para mim quando Iara apontou para mim. Achei então que talvez fosse melhor eu tentar me mostrar mais apresentável, especialmente quando a moça de branco começou a andar até mim, acompanhada por Iara. Por isso, me arrastei para o mais fora do lago que eu tinha forças de ir. Não tinha muito o que eu podia fazer com as minhas roupas molhadas, eu não era Percy que podia entrar na água sem se molhar, e eu não tinha forças para talvez gerar um foguinho para secá-las.

Usei o que eu tinha de forças para me levantar, mas sentia minhas pernas tremendo não gostando nem um pouco da ideia.

— Olá… - disse a moça de branco com uma voz doce e elegante - Eu sou Jaci, a deusa da lua.

— Olá… - respondi, torcendo pra minhas tripas não saírem pela boca de novo.

— Foi ela com quem entrei em contato antes de sairmos da Amazônia à noite. - explicou Iara.

— Não estamos mesmo na Amazônia então… - falei, minhas pernas reclamando para ela terminar de falar logo para que eu pudesse me jogar no chão novamente.

— Não, já estão no Peru. - respondeu Jaci - E sua namorada também. Ela deixou o Brasil algum tempo atrás. Eu e Guaraci tentamos ficar o máximo de olho nela, mesmo quando ela passou para o lado Peruano da Amazônia.

— Desculpa perguntar mas, não podiam ter tentado resgatá-la? - perguntei. 

— Não posso com Supay e os demais que estão com ele. Não sou uma deusa de luta. - lembrou Jaci - E Guaraci dormia quando ela ainda estava em território brasileiro.

— Porque raios ele dormia então? - perguntei, sentindo minha irritação aflorar pela típica inutilidade dos deuses de ajudar.

— Porque ele é o sol. - lembrou Jaci - Eu cuido do mundo da escuridão e ele cuida do mundo da luz. Sem falar que ela não é o único problema que temos que lidar. Temos problemas demais para lidar na verdade. Numa situação normal, geralmente já é mais do que temos gente para lidar.

— E quando estava de dia? - perguntei.

— Porquê acha que vim até aqui? - perguntou ela.

— Oh… - deixei escapar - Ok…

— Vamos fazer um ataque surpresa. - disse Iara - Por isso queria que nos adiantássemos bastante. Eles não vão esperar um ataque vindo da frente. E para isso precisávamos de toda a velocidade do Boitatá e escondê-lo através dos rios. Ainda bem que o Rio Amazonas começa perto daqui. Aproveitamos bastante o fluxo dele.

— Iara mencionou que Apolo está vindo… - disse Jaci - Imagino que não deva dar tempo dele ajudar, considerando que aparentemente ela entendeu que ele está vindo de Nova York.

— Sim… - respondi - Longe demais né? Guaraci vai nos ajudar então?

— Talvez… - respondeu Jaci e, pela expressão dela, notei que ela sabia que aquela resposta talvez não era bom o suficiente - Ele disse que ia tentar achar um espaço nas suas atribuições do dia… ou talvez enviar outra pessoa para ajudar. Então... se recuperem… mais uma ou duas horas e ela passará por aqui à caminho de Gorgor e Caral. E trago mais um alerta… tenham cuidado quando forem chegando perto de Caral. As coisas parecem tensas nas montanhas de lá.

— Anotado. - respondi. 

Jaci abriu um pequeno sorriso e sua imagem lentamente sumiu. Foi naquele ponto que eu também notei que a lua ainda estava no céu. Bem clara e provavelmente nos seus últimos suspiros do dia e, quando Jaci sumiu dali, a lua também foi embora.

— Ouviu… melhor preparar o estômago. - avisou Iara - Vou ficar de olho no André enquanto isso.

Exausto e com o estômago ainda nada bem, eu me joguei no chão ali mesmo novamente. Eu estava acabado o suficiente para dormir algumas horas, mas isso não era uma opção.

— Me acorda daqui 30 minutos ou se treta começar, Festus? - perguntei e ele rugiu em resposta - Valeu.

Não demorou muito para eu cair no sono, mesmo que fosse com a cara na grama e várias pedrinhas pequenas. Nossa, como foi confortável em comparação ao Boitatá. O ruim foi que tive a impressão de que tinha dormido só 5 minutos, pois logo Festus estava me cutucando com seu focinho para me acordar.

— Foi meia hora mesmo? - perguntei dando logo um grande bocejo enquanto Festus afirmava com a cabeça - Droga…

Eu me sentei lentamente e, ao esfregar a mão pela minha cara, senti ela toda marcada pela grama e pedrinhas que dormi em cima. Ao me ver acordado, Alex e Magnus foram andando até mim. Eles pareciam melhores do que antes, mas ainda não 100%. Provavelmente estavam com tanta cara de sono quanto eu.

— Viagem pesada né? - perguntou Alex ao sentar ao meu lado e me estendendo algumas frutas e um peixe assado sobre uma grande folha de alguma árvore, que não tinha certeza se iria querer encarar.

— Nem me fala. - respondi.

— Iara está rastreando Calipso num ponto mais alto que dá pra ver bastante do caminho até aqui. - disse Alex como se imaginasse que eu logo ia perguntar sobre novidades de Calipso - E a Angra tá de olho no Chullachaqui, que ainda está na boca do Boitatá, coitado.

— Então… a treta tá vindo e talvez seja melhor comer… - disse Magnus, parando alguns segundos para bocejar - Também achei que ia voltar tudo quando tentei, mas acho que já deu tempo pra barriga se recuperar mais. Só não vai muito rápido tá?

— Anotado… - respondi pegando o peixe e o encarando por um tempo antes de arriscar uma pequena mordida.

Fiquei aliviado de minha barriga realmente não reclamar da comida descendo até ela… ao menos se eu comesse devagar. Mesmo assim, o peixe não desceu com muito sabor. Eu estava preocupado com Calipso. Mas ao mesmo tempo, queria não pensar nisso.

— Cadê André? - perguntei, tomando para mim a vez de bocejar.

— Dormindo. - respondeu Alex, segurando um bocejo.

— Não acho que ele seja o espião, aliás… - disse Magnus - Vi memórias até demais quando tentei curar ele daquele corte horroroso. Acho que talvez tenha até que conversar com ele porque acho que ele notou que eu vi as memórias dele… né… não é legal invadir a privacidade dele assim.

— O que você viu? - perguntei.

— Acabei de dizer que não é legal invadir a privacidade dele assim. - reclamou Magnus - Mas foi basicamente uma longa história que se resume dele indo do Brasil até a Nigéria. Não achei que combina com ele ser um espião e não me pergunte mais também, ok? Tinha algumas coisas delicadas nas memórias mas, basicamente, ele só queria conhecer suas raízes. Não apareceu nenhum deus ou ser mágico ou qualquer coisa do tipo fora do normal até ele conhecer os orixás lá na Nigéria pelo o que eu entendi.

— Imagino que não tenha dado tão certo considerando que logo veio parar no Peru. - respondeu Alex, deitando-se no chão e fechando os olhos.

— Acho que ele vai acabar voltando pra Nigéria depois que tudo isso acabar. - falou Magnus.

— Tem como falarmos com o pessoal da Nigéria que ainda tem um espião por lá? - perguntou Alex.

— Posso tentar mandar alguma mensagem de Íris para Olujime… - falei.

— Ah, sobre isso… - disse Alex - Tentamos… não está funcionando não.

— Como?! - perguntei.

— Não tá funcionando não, cara… - insistiu Alex - Posso ter feito errado, claro. Mas não funcionou não.

— Não acho que fez errado. - disse Magnus - Não é como se tivesse muitos passos.

— Angra acha que é coisa da tal de Cuca… - sussurrou Alex - Seja lá quem for essa Cuca.

— Acho que vamos descobrir logo… - comentou Magnus - Você não sabe, Jacques? Quem é a Cuca.

— Eu não… - respondeu Jacques - Mania essa de vocês de achar que todos se conhecem!

— A Cuca é uma feiticeira, uma bruxa, que rapta crianças. - disse Angra de onde estava mesmo ao ouvir a conversa sem tirar o olho do Chullachaqui - Tem cabeça de jacaré, então é fácil de reconhecer.

— E eu aqui, achando que só os egípcios tinham seres com cabeça de bicho. - comentou Jacques.

— E eles tem mesmo? - perguntou Magnus - O Anúbis não tem..

— Que você tenha visto, né? - perguntou Jacques.

— Você já viu? - perguntou Magnus.

— Ouvi falar só. - respondeu Jacques.

— Cada Cuca é mais forte que a anterior… Elas nascem a cada 1000 anos novamente ou quando a anterior é morta. - disse Angra, continuando sua explicação - Então… é… essa deve nos dar bastante problema. 

— Muito legal… - disse Alex sarcasticamente - Pedir inimigo fácil é demais né?

Repentinamente uma flecha caiu onde nós estávamos. Angra olhou para ela e deu dois tapas leves no Boitatá antes de colocar André deitado sobre a cobra gigante.

— É o sinal de Iara. - explicou Angra - Eles estão vindo. Estão prontos para lutar?

— Alguma dica para a luta? - perguntei. 

— Tentem não morrer. - avisou ela enquanto o Boitatá se escondia com o corpão dentro da água e a cabeça, com o Chullachaqui na boca e André desmaiado no topo, bem longe, na outra margem do lago.

— Muito útil. Obrigado. - respondi.


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Notas finais do capítulo

até o prox cap! :)
leiam a fic do Anúbis tbm.
fiz uma outra fic tbm com cenas extras de encheção de linguiça dessa fic aqui. vão lá dar uma olhada tbm se quiserem ♥



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