Ela não poderia acreditar. Seria mandada para a França um ano antes só porque seu pai achava que ela era "amiga demais do filho da cozinheira". Pelo amor de Deus, conhecia Brandon desde que era um bebê, os dois sempre foram próximos e como irmãos; só porque ela estava ficando mocinha, eles não podiam mais ser amigos? Era ridículo, completamente ridículo!

— Nós somos amigos, Papai! - Sophie insistia, pela milésima vez, já estava cansada de ficar repetindo a mesma coisa há duas horas.

— Você vai para a França, e não adianta discutir.

— Dominic, querido, não acha que essa é uma decisão muito radical? - Grace tentava contornar o marido, sem muito sucesso.

— Se algo acontecer entre vocês dois, a afeição já é grande demais, não podemos nunca negar que pode existir um romance futuramente. - ele começou, cansado de ter que explicar suas decisões. - Uma ação mal pensada de dois adolescentes poderia dar fim a sua inocência e virtude! - disse a filha, que respondeu à altura.

— Não vai me convencer que está preocupado com isso. - rebateu. - Minha inocência, e minha virtude... O Senhor está preocupado com a aliança com a França!

— Também! - gritou de volta. - Sou Rei, além de seu pai, e me preocupo com as duas coisas. Sua proximidade com Brandon já está passando dos limites. E uma hora ou outra chegaria a hora de você ir para a França. Qual é a diferença?

— Um ano de diferença!

— Chega! - ele disse, em seu tom autoritário que indicava que o assunto estava encerrado. - As duas, eu não quero mais ouvir uma palavra sobre esse assunto. Sophie vai para a França, rever Charles, que será seu futuro marido e deixará Brandon para trás, tendo ou não algo acontecendo entre vocês.

As lágrimas caiam do rosto da menina, fazendo com que Grace olhasse zangada para o marido o repreendendo, mesmo que no fundo ela soubesse que ele só estava preocupado com a filha e o país, eram suas únicas preocupações, e isso sempre fez dele um homem honrável, tanto como marido, tanto como Rei.

— Eu vou conversar com ela. - anunciou Grace, e se aproximou segurando as mãos do marido. - Mas você também deveria. E se desculpar, por ter sido tão rude. - pediu calmamente.

— Eu vou, mas ainda mantenho minha decisão. Sophie vai para a França. - disse Dominic. - Enviei uma carta a Henry avisando, não tem como voltar atrás agora.

— Eu sei, vou conversar com ela sobre isso também. - ele assentiu, e ela depositou um beijo casto no marido. - Tente descansar, você está precisando, querido.

...

Sophie tinha ficado escondida atrás da porta - um péssimo hábito, mas não pôde evitar. E nada que ouviu lhe agradou. Sua mãe não convencerá seu pai no fim das contas, e ela seria obrigada a ir para a França. Ao menos teria uma semana para se despedir das coisas e de Brandon. Ele podia não ser seu romance secreto, como seu pai suspeitava, mas era um amigo e a ouvia e a entendia como ninguém, ia sentir saudades.

Sentada em seu quarto, com os olhos doendo de tanto chorar, Sophie abre a gavetinha da cômoda e pega seu diário para desabafar. Desabafar o quanto sentia uma raiva imensa de seu pai, e como queria que tudo acabasse. Nessas horas, ela queria ser uma garota comum, não a garota que um dia se tornará rainha.

Duas batidas na porta. Era sua mãe. Antes de perguntar e ouvir a resposta já sabia que era sua mãe. Sempre tentando ajeitar as coisas, e fazer todos felizes.

— Oh, Sophie. - correu para abraçar a filha, sem ter muito que dizer. - Nada do que eu fizer ou disser vai fazer com que seu pai mude de ideia. - lamentou-se.

— Eu sei.

— Pense pelo lado positivo. - Grace dizia, enquanto acariciava os cabelos da filha, agora deitada em seu colo. - Vai ser bom conhecer Charles, o rapaz que ele se tornou, antes do casamento. Muitas não têm essa sorte.

— Sim, é muita sorte. - zombou a menina. - E quanto a Brandon?

— Eu prometo que nenhum mal vai acontecer ao seu amigo.

— Você pode prometer pelo papai?

— Depois que você for para a França, ele vai se esquecer de Brandon.

— França! - explodiu a menina. - Eu não quero ir. E também tem esse Charles que eu mal conheço. Só o vi uma vez na vida, quando eu tinha seis anos!

— É o preço de ser uma Rainha, minha filha. - sorriu, sabendo que conhecia muito bem as dores de Sophie. - Mas se olharmos pela criação, esse Charles deve ter se tornado um bom rapaz. - tentou tranquilizá-la, mas o silêncio foi interrompido pelas lágrimas de Sophie. - Ah, minha filha, como eu queria que você fosse livre para casar-se com quem seu coração escolhesse.

— Acredite mãe, eu também. Eu também.

Depois que sua mãe saiu do quarto, pediu que a criada Dolores ajudasse com as malas para a viagem que faria a França. Uma viagem sem previsão de quando voltaria, se é que iria voltar algum dia. Voltou a escrever em seu diário, tentando conter as lágrimas, odiava chorar perto de outras pessoas que não fosse sua mãe.

A pena deslizava na folha, e os rabiscos formavam palavras, desabafos de uma futura Rainha da Escócia e França, uma união que poderia acabar custando sua felicidade. É o preço de ser uma Rainha, como sua mãe mesmo dissera.