A Colônia escrita por Débora Ribeiro


Capítulo 21
Capítulo 20




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Capítulo 20

Chester e Daemon me encaravam com seus olhos arregalados e por um lado, eu não os culpava, eu também havia ficado em estado de choque.

A coisa toda havia simplesmente explodido em meu rosto, como uma maldita bomba, e quando contei tudo aos meus amigos, eles apenas não conseguiram me dizer uma única palavra, eles apenas ficaram me olhando como se eu fosse de outro mundo.

Agora eu estava há poucas horas de ir para uma viagem.

Eu iria com Noah até seu clã, o clã em que minha mãe vivia. Não conseguia conter meu nervosismo e expectativa, mas ainda assim eu tinha que manter meu foco que era conseguir a ajuda dos Grãos-Fenwicks e Grãs-Sensis.

— Temos que te chamar de alteza? – Chester pergunta com uma expressão entranha.

— Por Luma, não, se me chamarem eu parto o rostinho lindo dos dois na porrada. – Digo rindo secamente. – Vamos deixar os títulos reais apenas para Phillip e o meu... para o rei.

— Graças aos Deuses! – Chester exala e então bufa sorrindo. – Só eu sei que não poderia te levar a sério se tivesse que te chamar de alteza, não depois do que aconteceu na cavern...

— Ok, entendi, nada de títulos nobres para mim. – A corto e Daemon nos olha intrigado, e odeio ter que bloquear minha mente perto dele, mas é o que eu faço.

Não tinha contado para ele o que havia acontecido na floresta, e apesar de tê-lo como amigo, ele poderia cometer um deslize ao pensar que estávamos escondendo algo sem motivos dele e nos obrigar a dizer. Daemon não tinha ideia que eu sabia desse seu poder, mas logo, logo, eu teria que contar a ele que sabia. Ele seria útil para o nosso plano, se tudo corresse bem.

— Do que você precisa, Ali? – Daemon pergunta com suavidade e eu quase me contorço de remorso por esconder coisas do meu amigo. – E só para contar, estou feliz por você escolher ser apenas você, e não algo que eles querem que você seja.

— Eu sei, obrigado por isso. – Falo apertando levemente sua mão. – E o que eu preciso, é que vocês mantenham seus preciosos olhos sobre uma pessoa.

— Quem? – Daemon pergunta tenso e Chester me olha de esguio.

Minha preciosa amiga ainda estava em processo de ‘’cura’’ depois do que aconteceu a ela, e tudo agora trazia desconfiança à Chester, algo que eu não culpava também. Ela realmente não deveria confiar em ninguém.

As pessoas são uma armadilha, mas pessoas com poderes eram armadilhas mortais.

— Ansel Brint. – Respondo com simplicidade.

Não tinha colocando meus ‘’parceiros’’ a par desta parte do meu plano. Eu ainda não tinha nada certeiro contra Ansel, mas desde que a vi, algo sobre ela me incomodava mais que o normal. Algo sobre ela não parecia certo ou bom.

— A que vive flertando com você? – Chester questiona um pouco confusa.

— Ela não flerta comigo, ela joga suas merdas sobre mim apenas para me irritar. – Retruco e minha amiga dá de ombros. – E ela mesmo, ela estava com Griel na primeira prova.

— Posso fazer isso – Daemon acena com a cabeça, afirmando. – Não vai ser muito difícil, agora que o Rei pausou abruptamente a competição, todos os que ainda ficaram estão no palácio.

— Eu sei, estamos tentando evitar que algo pior aconteça, e ter ela sobre nossa linha de visão é o mais sensato agora. Nunca se sabe quem é realmente cada um. – Digo e Chester estremece. – Você não precisa fazer nada, Chester.

Por um momento, Chester olha para mim, mas eu vejo quando seu olhar perde o foco e ela se perde em seus pensamentos. Eu queria poder conforta-la, dizer mais uma vez como sentia muito, mas sentia que se eu dissesse, minhas palavras apenas abririam suas feridas novamente.

— Eu posso fazer isso, Ali. – Ela diz quando o seu foco volta a mim. – Estou melhor.

Aperto meus lábios e olho para Daemon, mas ele não retribui meu olhar, pelo contrário, ele apenas olha para Chester com ternura e admiração, e isto quase me faz sorrir. Ele gostava dela.

— Sei que pode, apenas não se sinto obrigada a fazer nada apenas para provar algo. – Eu alcanço minhas botas e começa calça-las. – E tem mais uma coisa, algo que vocês terão que fazer sem alarde.

— Estamos ouvindo. – Daemon diz, com um sorriso de comedor de merda.

Ele me conhecia o suficiente para saber que quando eu dizia sem alarde, queria dizer que provavelmente tudo iria para os ares mais uma vez.

— Não é algo tão grande, pare de sorri assim. – Digo apontando um dedo em seu rosto.

— Apenas diga, princesa. – Chester fala rindo e eu a fulmino com meu olhar.

— Vai se arrepender disso, foguinho, mas antes que eu faço você engolir suas palavras, preciso que vocês recrutem algumas pessoas.

— O que nós somos agora? O grupo rebelde particular da coroa? – Daemon fala sarcasticamente.

— Algo assim. – Murmuro e pego o pedaço de papel com os nomes, entregando a ele. – Dois dias.

— Dois dias? Você não está pedindo muito? – Chester fala séria desta vez.

— Aposto 40 moedas de prata que vocês não conseguem. – Desafio e não deixo de sorrir quando os dois se encaram e acenam um para o outro. Como um time.

Eles eram realmente muito fofos!

— Aposto 80 que nós conseguimos. – Daemon retruca com um meio sorriso.

— Feito. – Concordo.

— 80 para cada. – Chester completa e eu faço uma careta. – Você quem apostou primeiro.

— Ok, seus merdinhas, vocês possuem isto! – Falo e eles sorriem triunfantes.

A porta do meu quarto se abre sem qualquer aviso ou batida e Noah e Phillip entram, a presença dos dois tomando conta do lugar. Eu ainda não tinha ficado a sós com nenhum dos dois desde o dia da nossa pequena reunião, mas precisava ter uma conversa séria com Phillip. Ele me devia algumas respostas e eu lhe devia um pedido de desculpas por ter sido tão grossa e idiota com ele quando supôs coisas que eu não tinha conhecimento.

— Está pronta? – Noah pergunta com uma expressão indiferente. Ele é bom em fingir que nada importava, mesmo quando eu sabia que suas emoções estavam a mil.

— Nasci pronta, Grão-Fenwick. – Respondo e antes de sair, abraço meus dois amigos que agora tinham semblantes tristes em seus rostos. – Fiquem vivos.

— Você também, bundona. – Chester diz beliscando meu braço.

— Ah, eu vou, ainda vou fazer com que paguem caro por atormentar minha vida. – Cantarolo divertida.

Pego minha mochila e a coloco em minhas costas, a apreensão em meu estomago estava crescendo, até mesmo podia sentir minhas mãos suando cada vez mais.  Só os Deuses sabiam como eu temia aquela viagem, eu me sentia um grande e suculento bife de carne, prestes a ser jogado aos leões selvagens.

— Você vai ficar bem? – Daemon me pergunta apertando de leve meu braço quando ele me segue até a porta.

— Sim, eles podem ser mais poderosos do que eu, mas eu sou mais esperta. – Respondo e sorrio o tranquilizando. – Cuide de Chester, ok?

— Eu vou, prometo. – Ele diz suavemente e me abraça mais uma vez. – Não destruam meu quarto.

— Não prometo nada. – Chester provoca sorrindo.

Reviro os olhos e aceno uma última vez, então sigo Noah e Phillip pelos corredores do palácio, nós três em um completo e constrangedor silêncio.

Quando entramos na sala do trono sinto Noah a bloquear mais uma vez. Meu tio Alfred estava meticuloso, o que era bom. Queria que os Leberianos tivessem seu devido reconhecimento, mas não por serem desertores e rebeldes. Muitos deles podiam não ser completamente bons, mas eles eram levados por suas emoções, e se pudéssemos impedir qualquer quebra de barreira para que eles não machucassem ninguém inocente enquanto estivessem sendo impulsionados por seus sentimentos, eu iria, assim como o Rei.

— Me diga mais uma vez porque eu não posso ir. – O príncipe Phillip pergunta, totalmente desgostoso.

— Foi permitido apenas duas pessoas em Bergânia. – Noah responde com tranquilidade, nada abalado pela birra do príncipe. – Eu e Alishia.

— Temos muito o que fazer aqui, Phillip, sabe disso. – O rei diz ao seu pupilo herdeiro.

— Sim, eu sei. – Phillip resmunga.

— Os registros estão prontos? – Pergunto a Vladimir.

— Sim, jovem prin... Alishia. – Ele responde e eu sorrio secamente. Vladimir apenas não conseguia segurar a vontade de me provocar. – Tudo sobre a Leber e sobre os Leberianos foi registrado.

Maldito mago velho!

— E o soro? – Noah questiona se referindo ao antidoto que era capaz de anular os poderes de qualquer um com a Leber.

— Aqui. – O Rei entrega um pequeno frasco para ele, que simplesmente o faz desaparecer - transpassando – no mesmo instante.

— Assim que voltarmos vamos testa-lo nos Tsunderes daqui. – Digo e todos me olham questionadores. – Confiem em mim.

— Seu histórico não é muito confiável. – Phillip brinca com a sombra de um sorriso em seus lábios, mas de certa forma isso me atinge mais do que deveria.

Mordo minha língua para não dizer o que sentia vontade. Phillip tinha seus próprios segredos, aos quais eu ainda não tinha conhecimento, então eu não poderia apenas julga-los. E todos eles podiam me ler como se eu fosse um maldito livro agora.

— Vocês possuem tudo que precisam? – O Rei diz, claramente me dando um voto de confiança.

— Sim. – Respondo estremecendo.

Noah se aproxima de mim e me oferece sua mão, e quando a pego, não posso deixar de comparar seu toque ao de Phillip. Quente e frio. Ambos eram completamente diferentes um do outro.

Ouso erguer meu olhar e encontro Noah me encarando pensativo.

— Temos que ir. – Ele fala ainda sem desviar o olhar.

— Proteja minha sobrinha, não quero que nada de ruim aconteça com ela. – Rei Alfred diz e eu sorrio levemente.

— Você tem que se preocupar é com os Grãos-Fenwicks e Grãs-Sensis, majestade. São eles que estarão em perigo. – Vladimir fala e os três ousam rir de mim.

— Você tem sorte de ser um velho, porque de contrário eu o desrespeitaria com um gesto muito obsceno. – Digo secamente.

— Alishia, você apenas provou seu ponto. – Phillip fala rindo e para ele sim eu faço o gesto que tanto queria.

— Bunda fria. – Resmungo e ele meneia a cabeça para mim, ainda sorrindo. – Podemos ir?

— Ansiosa? – Noah pergunta com aquele sorriso de gato que acabou de devorar um canário.

— Apenas para acabar com essa merda logo. – Respondo. – Vejo vocês em dois dias, não precisam sentir saudade.

Vladimir me abençoa e me abraça, então é a vez do meu tio, que agora me tratava como se eu fosse um cristal precioso.

— Tente não irritar alguns deles. – Ele diz com uma expressão séria quando para na minha frente.

— Apenas boa parte. – Respondo maliciosamente.

— Está é a Alishia que eu conheço. – Ele responde e me abraça forte.

Eu respiro fundo, sentindo o cheiro de pinho suave e natural do meu tio, o que me fazia pensar se ele corria na floresta em sua forma de leão. Metamorfose era simplesmente um dos poderes mais impressionantes para mim, um que eu invejava.

— Fique bem, tio. – Digo timidamente, o fazendo sorrir.

— Eu vou, querida, mas faça o mesmo. – Ele beija minha testa e se afasta em seguida.

Olho para Phillip, que permanecia no seu lugar, ele não sorria, mas podia ver o carinho em seus olhos enquanto ele me olhava, o que me fez engolir em seco.

Era sou definitivamente uma pessoa horrível.

— Se cuida, lartesir. – Ele fala para mim.

— O mesmo, principezinho. – Digo e aceno para ele.

— Dois dias. – Noah diz a eles e faz uma reverência.

No segundo seguinte, ele volta a pegar minha mão e então estamos no ar, ou melhor, dentro dele. É esta a sensação, e ela dura por mais tempo do que estou acostumada desta vez, porque quando paramos, eu simplesmente despejo todo o alimento que consumi no café da manhã no chão.

Não é nada bonito.

— Deuses, você está bem? – Noah pergunta preocupado, colocando uma mão em minhas costas quando por fim me ergo.

— Claro, Noah, eu apenas vomitei para passar o tempo. – Falo sarcasticamente. – Bergânia só pode se localizar no submundo!

— Não fica. – Noah sussurra. – Veja.

Eu olho para frente e o pouco ar que eu mantinha em meus pulmões são sugados pela visão em minha frente.

Bergânia não era como capital, nem mesmo como Volkarina, aonde tudo parecia triste e de certa forma, escuro. Não, Bergânia era certamente o estado de Níbia mais lindo que tive o prazer em colocar os meus olhos.

Tudo é tão verde, azul e brilhante!

A única coisa que se destacava mais que a vegetação, era a enorme fortaleza de pedras, que estava a poucos metros de um pequeno túnel.

— Apenas Grãos-Senhores e Senhoras moram aqui? – Pergunto engolindo em seco.

— E alguns Tsunderes, os que são partner. – Noah responde.

— Vocês não possuem nenhuma proteção. – Falo olhando o mais longe que conseguia. – Não há muros.

— Nós não precisamos. – Quase digo que ele está sendo convencido, mas então ele sorri e completa. – O túnel nos protege.

— O túnel? Aquele pequeno logo ali? – Questiono chocada.

— As armas pequenas são às vezes, as mais perigosas. – Ele diz com simplicidade. – Quando passamos por ele, você irá entender.

— Vamos atravessa-lo? – Agora eu estava nervosa.

— Nós temos que fazer isso, ou não entramos na fortaleza.

— Por quê?

Noah encontra meu olhar e percebo que ele hesita por um momento, mas ele por fim responde:

— Chamam o túnel de ‘’Túnel da purificação’’.

Apesar de ter uma ideia do que ele queria dizer, eu ainda pergunto:

— O que isso quer dizer?

— Quer dizer que quando passarmos por ele, vamos ser purificados. Toda dor, toda morte, será levada e você se sentirá livre. – Explica e eu ofego. – Mas você também descobrirá a verdade sobre algo que não sabe ou sobre algo que você não quer saber.

— Isto é bom ou ruim? – Pergunto nervosamente.

— Às vezes bom, às vezes, ruim. Não saber é o preço que magia do túnel cobra.

Ele dizer isto apenas aumentou meu nervosismo, mas eu não havia chegado até ali para dar meia volta. Nós precisávamos da ajuda do povo de Noah, e era isto que iriamos conseguir.

— Vamos. – Eu digo e o sigo quando ele nos guia pela trilha, rodeada pela a incrível vegetação de Bergânia.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem!



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