A Colônia escrita por Débora Ribeiro


Capítulo 20
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Olá meu amores!
Desde já, peço desculpas por não estar revisando 100% os capítulos, mas a questão é que estou muito sem tempo :(
Espero que gostem e façam boa leitura do capítulo.
Beijos e até o próximo!



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Capítulo 19


Estava tentando manter minha atenção no som que meus passos e os de Phillip faziam enquanto caminhávamos para a sala do trono.
Não conseguia me lembrar do momento exato em que tudo havia ficado tão insano. Passei a maior parte da minha vida tentando ser forte o suficiente para lutar pelas pessoas que amo, mas no momento, apesar de em boa parte, ter conseguido o que queria, eu me sentia mais fraca do que nunca. Sentia como se o controle não fosse mais meu, talvez nunca tenha tido um, mas agora era diferente. Eu tinha laços de sangue com duas pessoas, e uma delas tinha consciência da minha existência, o que me tornava ainda mais miserável. Sempre soube que não era importante, a ideia de que todos os pais haviam abandonado seus filhos nas colônias sempre me deixava destruída e machucada. E isto não acontecia apenas comigo. Afinal, os Liberianos estavam se revoltando porque nunca se sentiram importantes, assim como eu, e agora eles estavam cansados de serem esquecidos e injustiçados. Eu não os culpava por querer uma rebelião.
— Pronta? – Phillip pergunta com delicadeza, como se eu fosse algo frágil.
Eu aceno e entro ao lado dele na sala do trono, pela primeira vez desde que cheguei, de cabeça baixa.
— Alishia – Príncipe Phillip me chama e eu ergo a cabeça para encara-lo. – Está tudo bem.
Mas não estava.
Olho para todo aquele lugar, que apesar de não ter muito tempo, já conhecia tão bem. O salão real, aonde tudo era em homenagem à Luma, minha Deusa protetora, assim como a de meu pai. Um pai que não tive a chance de conhecer.
— Alishia. – Desta vez é o Rei quem me chama. Aperto meus lábios, tentando não sucumbir as lágrimas mais uma vez. – Querida, venha até aqui.
Não era desta forma que imaginei que as coisas aconteceriam, pensei que chegaria até o Rei e simplesmente colocaria as cartas sobre a mesa, diria a ele sobre o motivo pelo qual eu estava ali, e o que eu queria. Sabia que aquela marca entre meus seios significava que eu tinha algum laço com a realeza, mas nunca pensei que meu parente mais próximo seria o próprio Rei de Níbia.
Frida costumava dizer que a verdade nem sempre era a melhor saída, que ela muitas das vezes mais fazia mal do que bem. Eu deveria ter dado ouvidos à aquela governanta ranzinza quando pude.
Mesmo sentindo uma súbita fraqueza nas pernas – o que era ridículo -, vou até o Rei, parando quando estava na frente do trono.
— Tem algo para me contar? – Ele pergunta com uma expressão séria.
— Não sei, eu tenho, majestade? – Questiono na defensiva.
— Apenas fale com ele, Alishia. – Ouço Noah dizer, pela primeira vez noto sua presença.
O Grão-Fenwick estava no fundo da sala, encostado na parede com os braços fortes cruzados contra o peito. Seu rosto era uma tela gélida e sem expressão, eu tinha plena consciência que ele havia tentado falar comigo mais de duas vezes, mas desde o dia em que descobri toda a verdade, eu apenas quis ficar sozinha.
Sentia falta dos meus amigos, tanto dos que fiz aqui no palácio, quanto os da Colônia, mas antes de ir atrás de qualquer um deles, eu tinha que descobrir de uma vez por todas quem eu era.
— Dizer o que, Grão Senhor? – Pergunto rispidamente. – Não estou afim de qualquer jogo, o Rei sabe muito bem o motivo pelo qual estou aqui, afinal ele me convocou. Não é verdade, Rei Alfred?
Sinto a mão de Phillip contra minhas costas e o rosto de Noah fica ainda mais duro.
Olho para o Rei novamente, e logo me sinto uma cadela ao ver a expressão triste no rosto do próprio. Tinha que me lembrar que não fui a única a perder alguém desde que o Rei Bacco morreu.
— Sim, Alishia, você está certa. – O Rei fala e pega o pergaminho que Vladimir, que estava ao seu lado, entrega. – Você não foi oficialmente registrada, pelo o que vejo, e desde que ouvi sobre você, não foi difícil entender o motivo.
Fecho minhas mãos em punho e dou um passo para trás quando o Rei de levanta.
— Seu pai, um Tsundere, antigo Rei de Níbia, Bacco Leopold, morreu no dia em que você nasceu e isto aconteceu no fim do inverno daquele ano. – O Rei diz sem desviar seus olhos dos meus. – Sua mãe, uma Grã-Sensi chamada Zemina, ainda viva, que por escolha própria se isolou e virou arquivista das bibliotecas do seu clã desde o dia em que você nasceu.
— Que conveniente! – Digo com os dentes cerrados. – Tudo seria mais fácil do que criar a própria filha.
— Você sabe que não foi isso que aconteceu. – Phillip fala e eu me afasto do seu toque.
— Claro que sei, principezinho! – Afirmo com um sorriso falso. – Ela escolheu a si mesma, me abandonou em uma Colônia. Não há argumento contra isto, e você, melhor que ninguém deveria entender.
— Por que diz isto? – Phillip pergunta com o maxilar trincado.
— Você foi abandonado assim como eu, não teve escolha a não ser aceitar as únicas migalhas que te jogaram. – Respondo secamente. – Não fomos importantes o suficiente para ter alguém lutando por nós.
— Alishia – O Rei me chama mais uma vez e eu quase reviro os olhos. – Sei que está ferida e com raiva, mas não precisa tentar ferir seus amigos com suas palavras apenas para aliviar sua dor.
Eu solto uma risada e ergo uma mão, parando Noah quando ele tenta se aproximar de mim.
— Você acha que eu estou ferida, Rei Alfred Leopold? – Questiono rispidamente. – Sua majestade não sabe de nada!
— Então me conte. – Ele pede suavemente, finalmente chegando até mim e colocando uma mão sobre meu ombro.
— Melhor pedir que seus soldados saiam, Alfred. – Noah fala, e por um momento penso em agradece-lo por isto.
E assim o Rei faz.
Depois que todos os soldados saem, apenas eu, Noah, Phillip, o Rei e Vladimir, ficamos na sala do trono, aonde tenho certeza que Noah coloca algum tipo de bloqueio. Eu queria poder me sentar naquele momento, mas sob o os quatro, pares de olhos não seria possível, eles queriam que eu falasse, então era melhor acabar logo com aquilo.
— Em todas as lembranças que eu tenho do lugar aonde cresci, na Colônia de Volkarina, são de algum deles fazendo algo comigo, desde testes, tortura e treinamento. – Começo e o Rei começa a andar de um lado para o outro. – Eles sabiam que eu não era amaldiçoada como todos os Leberianos de lá, mas queriam entender por que alguém da realeza, mesmo que abandonada, era imune aos poderes dos que afetados pela a Leber. – Noah e Phillip me encaram, ambos tensos. Eu não tinha contado tudo á eles afinal. – Eles injetavam o soro em mim para descobrirem se aconteceria alguma reação, mas tudo o que eu sentia era dores de cabeça. O ponto é que eles queriam ser iguais a mim, e o soro tinha um efeito colateral diferente neles, e estavam cansados de serem subjugados apenas porque tinham que manter os Leberianos sob controle.
— E eles conseguiram o que queriam, os testes que fizeram em você trouxe resultados? – Noah pergunta completamente atento aos detalhes.
— Não, não conseguiram, mas por alguns anos eles me usaram para ajuda-los com os piores Kasnias afetados pela maldição.
— Por que você se refere a Leber como uma ‘’maldição’’? – O Rei pergunta nervosamente.
— Sem ofensa, Rei Alfred, mas para alguém que tem como lei, a própria palavra, você não sabe da metade das coisas que acontece no país. – Falo voltando a ficar irritada. – Se vocês, reis, governadores ou qualquer uma pessoa da realeza, parassem para ouvir a voz do povo, vocês saberiam que a Leber não é uma doença, nunca foi.
— Ela está certa, majestade. – Vladimir fala com um semblante triste.
— E você sabia disto? – O Rei pergunta com agressividade a seu escrivão. – E por que eu, a autoridade deste lugar, não foi informado sobre isto?
— Não se pode falar sobre algo que ninguém acredita, meu rei. – Vladimir fala e me encara. – Desde sempre, quando foi decretado que ir até as colônias, ou ao menos falar sobre o assunto era proibido, o povo simplesmente esqueceu do problema, e acho que eles estão felizes assim.
— Não só o povo, devo acrescentar. – Alfineto e o Rei Alfred encolhe os ombros com pesar. – A questão é que aquelas pessoas, não são doentes, pelo contrário, elas são poderosas. Algumas tão poderosas ao ponto de poder duelar contra um Grão-Fenwick e ainda assim ganhar.
— O quê? – Rei Alfred murmura abalado. – Pelos os Deuses, do que está falando, Alishia?
— Eu mostro. – Noah fala para mim e eu assinto totalmente grata. – Não precisa reviver tudo mais uma vez.
Já estava cansada de tudo aquilo e a pior parte nem mesmo havia chegado. Phillip e eu esperamos enquanto Noah mostra tudo para o Rei e Vladimir, apenas encostando um único dedo na testa de cada um. Observo o rosto do Rei perder toda a cor conforme Noah se afasta e ele abre os olhos.
— Deuses, o que nós fizemos? – Ele pergunta não diretamente para nenhum de nós.
— É o que vocês não fizeram. – Digo tristemente. – Eu vivi ao lado deles, sofri o que eles sofreram, fiz amigos na colônia e acabei me tornando um deles apesar de não ser, e por toda a minha vida, nenhum de vocês pisou um único pé naquele lugar, às vezes eu me perguntava se vocês ao menos sabiam sobre nós.
Pelo rubor no rosto do Rei, eu sabia que ele e nem ninguém da sua corte se lembrava ou fazia questão dos Leberianos, e isto me faz soltar uma risada amargurada.
— Eu não sei o que dizer, Alishia, estou horrorizado depois de tudo isso.
— Você é uma boa pessoa, Rei Alfred, apesar de ser egoísta também...
— Alishia... – Noah tentando me fazer calar.
— Deixe que ela fale. – Rei Alfred diz.
Phillip apenas observava tudo em silêncio, parecendo estar perdido em pensamentos.
— Você se importa com seu reino, mas não o bastante, eu tenho ouvido o bastante para poder afirmar isso. – Desta vez sou eu quem coloca uma mão sobre o ombro do rei, meu tio. – Sei que perdeu sua partner e não consigo nem mesmo imaginar sua dor, mas o seu reinado ainda não acabou, Rei Alfred, ele está apenas começando e os Leberianos estão cansados de não serem reconhecidos, eles querem existir, e vão batalhar por isso ser for necessário.
— Você está falando de uma guerra civil. – Vladimir aponta e eu aceno. – Assim como Sesmi e Herben batalhavam por território.
— Sim, exatamente como isso. – Concordo e respiro fundo. – Está na hora de mudar as regras, majestade, está na hora de dizer ao povo a verdade, eles devem ter conhecimento antes que isto exploda.
— Você está certa, querida, eu não gosto de onde estou, mas ainda assim é onde devo estar. – Tristeza e arrependimento brotam nos olhos do Rei. – Nós podemos dar um jeito nisso.
— Tem certeza, tio? – Phillip pergunta seriamente.
Rei Alfred volta a se sentar em seu trono, voltando a sua postura de governante, mas agora ele estava diferente, ele realmente estava convicto.
— Tenho motivos para mudar as coisas agora, tenho motivos para lutar. – O rei me oferece um olhar carinhoso e eu estremeço. – Não é todo dia que eu descubro que tenho uma sobrinha. Uma que em poucos minutos me colocou em meu devido lugar.
Noah ri baixinho e eu seguro a vontade de afundar meu cotovelo em seu estomago, isso provavelmente o faria gargalhar alto.
— Sobre isto, eu sinto que lhe devo uma explicação, mesmo não sabendo por onde começar. – Rei Alfred diz para mim e eu prendo a respiração. – Um Grão-Fenwick ou uma Grã-Sensi só pode formar laços com um Tsundere se ele ou ela for seu partner, e também se um dos dois for livre. Não estou dizendo que te abandonar foi certo, nunca direi isto, pois quando penso que eu poderia ter lhe criado e me foi tirado isso por um erro do meu irmão e de sua mãe, eu fico muito irritado, Alishia, mas havia muitas coisas em jogo quando você nasceu. No tempo de reinado do me irmão, os rebeldes estavam fora de controle, se o trono ficasse sem um rei, Níbia teria sido puro caos.
— Isso realmente não justifica nada. – Phillip fala nervoso. – Ela era uma criança.
— Eu sei, mas se Zemina e Bacco não tivessem deixando Alishia na Colônia, ela provavelmente teria sido morta. – O Rei explica e eu finalmente entendo. – Eles traíram a rainha, e mesmo sendo um Rei e uma Grã-Sensi, uma traição sempre foi motivo de execução quando se tratava da coroa real.
— Então está dizendo que se eles tivessem me mantido, nós três seriamos executados? – Falo chocada e meu tio, Rei Alfred, acena concordando.
— Seu pai, meu querido irmão, apenas se sacrificou para que você, sua filha, e sua partner pudessem sobreviver, mesmo que longe uma da outra. Naquela noite, um grupo de rebelde entrou em seu quarto e matou ele e a rainha.
Eu nem mesmo me importo quando as lágrimas começam a descer pelo meu rosto, e não afasto Noah e Phillip quando eles se colocam ao meu lado, tentando me passar algum conforto.
— Não consigo nem mesmo pensar pelo o que passou, minha menina, sei que sofreu e que ainda sofre, eu te admiro por ser tão forte e guerreira. – O Rei não tentou me confortar com palavras suaves e doces, mas ele me olhava com tanto amor e carinho que eu não tive dúvidas que ele estava sendo sincero. – Hoje, aqui e agora, eu posso te prometer que sempre cuidarei de você, para sempre, até o último dia em que eu viver.
Um soluço escapa pelos meus lábios e eu rapidamente cubro minha boca, me sentindo exposta ao mostrar tantas emoções.
— Você não está mais sozinha, você tem a mim agora. – Rei Alfred fica em pé e abre seus braços em convite, e eu não penso duas vezes antes de ir até ele e o abraçar. – Você tem uma casa agora, mas preciso me responder uma coisa.
Me afasto o suficiente para olhar para meu tio, e o encontro com um pequeno sorriso em seu rosto.
— Qual é o seu nome? – Ele pergunta e um arrepio passa por todo meu corpo.
Olho para Vladimir que já segurava uma pena e tinta, pronto para preencher meu registro, então olho para os dois homens que ainda estavam parados um ao lado do outro, os dois homens que tanto me fascinavam, e ambos sorriem para mim.
— Meu nome é Alishia Xadae Leopold. – Falo sentindo várias emoções em meu peito. – Filha de Bacco e Zemina, da Colônia de Volkarina, princesa de Níbia.
— Princesa herdeira? – Vladimir me pergunta com um sorriso orgulhoso.
— Não, Vladimir, apenas uma princesa que quer acabar com uma possível guerra antes que ela comece. – Falo e os quatro gargalham quando continuo. – Eu não tenho uma bunda dourada igual Phillip, ele sim será um bom rei.
— Que seja feita a sua vontade, minha sobrinha. – Diz Alfred, rei e meu tio, e então um sorriso tão largo e brilhante surge em seus lábios que eu não posso fazer nada a não ser sorrir também.
— Não nasci para governar. – Afirmo mais uma última vez. – Eu nasci para lutar.
E com essas palavras, na sala do trono, com aqueles quatro homens, comecei a formar um plano para impedir que os Leberianos se rebelassem.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem!



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