Steal Your Heart AU escrita por MusaAnônima12345


Capítulo 27
Amigos no Passado & Inimigos no Presente


Notas iniciais do capítulo

Capitulo postado dia 26/01/2019, ás 18:38.



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Adrien

Minha sessão de fotos já havia acabado algumas horas e agora o dia já estava no seu final. Acho que convidar meus amigos e aquelas garotas para passarem alguns dias comigo na cabana de praia foi a melhor ideia que já tive em anos! Eu nunca tinha me divertido tanto antes como eu me diverti assistindo uma briga de galo entre o Nino e o Louis enquanto as meninas seguravam aqueles dois trastes nas costas. Cara, eles não duraram cinco minutos naquela posição: os dois caíram juntos no meio das ondas que nem dois bananas. Depois foi a vez da Kattie e da Alya com a Marinette narrando a disputa que nem um jogo de futebol e adivinhem? Nenhuma delas queria perder não. Quase saíram foi no tapa se a Dupain-Cheng não tivesse declarado um empate entre as duas melhores amigas. E quando os meninos foram dar uma de gostosões surfando nas maiores ondas? Foi simplesmente incrível quando a Kattie atravessou uma onda de ponta a ponta e deixou aqueles dois idiotas de boca aberta! Mas nada se compara a sereia da Cheng gravando o Alex sendo enterrado até a cabeça pelo Nino enquanto ele estava cochilando e as meninas jogando água na chapinha do Chloé com um baldinho de areia. Ah, a Cheng. Ela tinha conseguido deixar um sorriso bobo aquele dia inteiro no meu rosto e tenho quase certeza que o fotógrafo que estava na minha sessão de fotos estava mais que agradecido por ela estar ali. Estou me sentindo como há muito tempo não me sentia.

Feliz? Sim, muito do que antes, mas não era só isso.

Apaixonado? É... Não sei dizer ao certo.

Completo.

Aqui, saindo da cabana com meu short de praia e totalmente liberado da prisão na qual me submetia ao meu pai, eu posso ver todos os efeitos aquela baixinha irritante, marrenta, barraqueira e respondona causava em mim. Lhe avisto sentada embaixo da sombra de uma grande árvore a poucos passos do mar de vários tons de azul e uma lembrança de muito tempo volta a minha mente. Uma das vezes em que minha mãe e tia Margot estavam conversando entre si enquanto eu e Louis construíamos um forte de areia, exatamente ali, no mesmo lugar onde Marinette estava sentada. Então eu consigo entender. Ela fora a única pessoa que conseguira preencher o buraco vazio de onde minha mãe foi arrancada. Agora eu sabia de onde viera tanta admiração e paixão pelo seu sorriso. Era igualzinho ao da dona Emilie. Ela assiste Alya e Chloé disputando quem gritava mais com uma expressão ao mesmo tempo distraída e preocupada. Será que a namorada do Nino - ou quase isso - seria louca o suficiente para pular no pescoço da Bourgeios e arrancar seus cabelos?

— Eu aposto uma grana alta na Alya voando na Cholé antes que ela possa revidar, e você? - digo, me apoiando no grosso tronco da árvore e cruzando os braços. Ela se vira, surpresa ou talvez assustada. Dou um pequeno sorriso quando ela começa a corar.

— Bem, considerando que eu tinha quase certeza que você ia apostar na sua amiga Bourgeios, eu continuo firme na minha melhor amiga. - ela responde se virando para frente novamente para esconder seu rosto. - Mas desde quando apostar numa discussão é divertido?

— Ah, por favor - rebato, me sentando ao seu lado e apontando para ambas as garotas se encarando. - você precisa admitir que é engraçado ver o Louis, a Kattie e o Nino segurando a Alya pra não dar uns socos na loira mais vaidosa de Paris.

Ela revira os olhos com uma gargalhada e eu lhe acompanho, aceitando aquilo como um "sim". Ficamos um tempo em silêncio e nesse meio tempo aproveito para dar uma olhada na mestiça ao meu lado. Ela está usando um conjunto vermelho e branco com a estampa de gatinhos na parte de cima do biquíni, com o seu corpo sendo falhamente coberta por um daqueles casacos de saída de praia e com os cabelos amarrados em duas marias-chiquinhas. Simplesmente adorável. O céu estava se tornando alaranjado e o sol estava quase se pondo quando escutamos Félix nos chamar para comer alguma coisa com o Gorila nos seus calcanhares.

— Isso, nada melhor para acalmar os ânimos do que comida. - Nino incentivava a morena com cabelos ruivos que continuava encarando a minha melhor amiga de infância. - Vamos Alya, posso te garantir que vai ser melhor assim.

— Isso amiga, o Louis me disse que lá dentro tem uma sala de jogos com um Just Dance e um monte de coisa que podemos usar. - Kattie insistira, puxando a morena com um tranco e conduzindo a mesma na direção da cabana. Ao nos enxergar ela dá um sorrisinho nada discreto, cutucando a outra. - Hum, tá vendo? Vamos deixar os pombinhos conversarem a sós sua idiota.

— Agradecemos profundamente seu gesto senhorita O'Green. - brinco, com um aceno divertido.

— Ei! Vocês vão mesmo me deixar aqui? - escutamos Alex gritar, visivelmente assustado por descobrir que estava enterrado e a água começava a chegar perto de si. - Nino, foi você não é seu infeliz? Espera até eu colocar minhas mãos em você!

— E como você pretende fazer isso? - o mesmo rebate após uma crise de risadas com o meu primo. A Bourgeios revira os olhos e olha pra mim.

— Ao invés de ficar conversando com essazinha aí, porque você não faz alguma coisa Adrien? - me indaga, e cara, ela parecia muito revoltada com o namorado enterrado pra morrer. Dou uma gargalhada.

— Acho que o Louis já deu conta do recado. - digo, o indicando com a cabeça enquanto Alex parecia uma múmia desenterrada correndo atrás do Lahiffe.

— Lascou, corre negada! - ele grita entre risadas para os que ficaram para trás indo igual a um raio na direção da minha casa de praia.

— Juízo vocês dois! - Alya grita, acenando. Escuto Marinette dar uma risada fraca.

— Vocês também, senhoritas! - ela grita de volta, balançando a cabeça e acenando de volta.

Juntos observamos todo aquele bando de doidos voltarem para a cabana a poucos metros de distância dali. As luzes lá de dentro já começavam a se acender aos poucos e podia ver Gorila parado no deque do lado de fora, esperando que eu entrasse também. Suspiro. Grande liberdade. Bem... Não posso reclamar já que aquela tinha sido a condição que Nathalie havia achado para me liberar do tédio das minhas férias preso dentro daquela mansão empoeirada junto do Gabriel. No meio dos dois paredões de rochas o sol começava seu caminho rumo ao poente e nos fazia assistir um verdadeiro espetáculo na paisagem. Logo escureceria, mas ainda estava tão quente que não me importei com aquilo.

— Aqui é tão lindo. - ouço Marinette murmurar baixinho ao meu lado. Ela também encara o mesmo que eu. Desvio meus olhos rapidamente para fitá-la.

— Igual a você. - digo, com um sorriso de canto. Ela balança os ombros e vira o rosto na minha direção. - Você também é linda.

— O que você tanto vê em mim? - ela me questiona, parecendo pela primeira vez curiosa. - Quer dizer, você é o modelo mais conhecido de Paris por conta do seu pai. Conhece modelos muito mais bonitas do que eu. Anda com a Chloé e... Aquela tal de Jacqueline. - desvia o olhar de mim na direção do mar novamente. - Eu não sou nada em comparação a elas. Sou filha de dois padeiros. Estudo na François Dupont porque consegui uma bolsa. Fala sério, eu nem sou tão bonita assim. - a morena argumenta balançando as mãos, parecendo uma criança que não consegue encaixar uma peça de um quebra-cabeça. Nossos olhares se cruzam mais uma vez. - Então eu pergunto: por que eu?

Balanço a cabeça, estendendo minha mão para tocar a da garota. Toco com cuidado seus dedos e sinto a mesma me encarar mesmo sem levantar meus olhos na sua direção.

— No começo eu não sabia o porquê. - confesso, procurando palavras. As costas de sua mão é macia e tento focar meus pensamentos ali. - Achei que você seria apenas mais uma garota com quem eu poderia ficar e esquecer no dia seguinte, como todas as outras. Com o tempo eu percebi que não seria tão fácil assim e eu mesmo não sei o que aconteceu comigo para me fazer tomar a decisão de insistir em você, mas bem... Eu inisisti mesmo assim. Do nada você se tornou alguém tão importante que eu não conseguia mais ficar longe de você. Eu queria estar perto de você por mais que ainda me odiasse. - conto, deixando uma gargalhada escapar. - Tipo a vez que você me deu aquele chute.

— Céus, você nunca vai esquecer isso, vai? - Marinette indaga, parecendo envergonhada, mas também ri. Volto meus olhos para ela e dou ombros.

— É meio difícil esquecer alguém que te deixou sem andar três horas na enfermaria. - brinco, fazendo uma careta. Nós rimos. - Mas enfim, tudo mudou depois daquele maldito closet. Eu realmente vi que não era apenas a insistência de querer ficar com você. Era algo maior, e foi exatamente esse "algo" que me impediu de não desistir de você.

Ela me fita em silêncio, a brisa salgada balançando seu cabelo preso. Suspiro, me levantando com um pouco de esforço e tirando a areia do meu short, estendendo uma das mãos para a mesma. Ela aceita, ainda que eu perceba que está um pouco confusa.

— Vamos dar uma volta. - chamo, agarrando sua mão e lhe conduzindo para a orla da praia. Só depois que meus pés são tocados pela água gelada é que solto sua mão. - Mas então, não tem nada para me dizer?

Ela coloca o indicador sobre os lábios, pensativa. Travessa me encara com um sorriso. Aquele sorriso de anjo.

— Que tal "esse seu short verde parece um farol no meio da praia"? - Marinette brinca, apontando para minha roupa de banho com uma sobrancelha arqueada.

— Hum... - solto, encarando o mesmo. - Admito que estava esperando um "Oh Adrien, eu amo você! Você definitivamente é o amor da minha vida!". - respondo imitando uma voz extremamente aguda e fazendo a mestiça ter uma crise de risos.

— Eu não falo assim! - protesta, me dando um soquinho no ombro. Coloco meus braços para trás, encarando a água cristalina entre meus dedos indo e voltando para o mar. Ela chuta a água enquanto eu sorrio de lado. - Mas, falando sério agora, tenho sim algo a te perguntar.

— Diga. - devolvo, olhando para a praia no meu amplo campo de visão. - Sou todo seu Marinette.

Ela rapidamente se põe a minha frente. Sentia a brisa agora bagunçar o meu cabelo e olhava seu casaco de crochê branco balançar com o vento que vinha da maré. O sol iluminava seu olhos e mesmo em meio aos seus fios soltos das marias-chiquinhas ainda continuavam lindos. Parece hesitante.

— Eu posso confiar em você Adrien? - a Dupain-Cheng pergunta.

— É claro que pode. - respondo, franzindo a testa.

— Então me conte o que aconteceu de tão ruim entre você e o Diego. - Marrinete pede, dando mais um passo na minha direção, sem quebrar o contato visual comigo. - Se eu posso confiar em você então me prove que você também pode confiar em mim. Me prove que não estou cega no meio de um tiroteio por me arriscar por você.

Suspiro. Já imaginava que a mesma iria perguntar por isso algum dia. O silêncio se instala entre nós mais uma vez, longos minutos que se tornaram uma eternidade para mim.

— Está certo. - digo por fim, lhe agarrando com ambos os braços no estilo noiva e correndo para dentro d'água com uma Marinette aos berros. - Mas só depois de você dar um mergulho mocinha!

— Me larga seu... - ela grita enquanto eu ria e lhe jogava numa onda enorme. Dou risada e logo em seguida me jogo bem próximo de onde estava na água. - Seu estúpido! Filho da mãe! Vem aqui que eu vou te aplicar um golpe de judô que você nunca mais vai esquecer!

Ela levanta furiosa e começa a jogar água na minha direção, iniciando uma guerrinha de água naquelas águas de tons azuis mais variados que seus olhos. Finjo que a água salgada entrou nos meus olhos e me viro, resmungando que sua brutalidade me cegara. Quando vejo sua silhueta se aproximando me viro com uma careta. Ela dá um grito e começa a correr com um largo sorriso no rosto e o cabelo agora solto grudado no rosto. Lhe alcanço aos tropeços e quando a abraço por trás é que vejo que estamos encharcados. Seu casaco de crochê agora estava ensopado e marcando as curvas do seu corpo. As ondas se chocavam contra mim e eu me senti firme como uma rocha, ali, ao lado daquela garota. Não me julguem, eu não sou sentimental assim! É sério, agora vocês acreditam o motivo de ficar louco da vida sempre que estou perto dela?

— Adrien. - a ouço me chamar e volto a prestar atenção a minha realidade. De repente o sorriso desaparecera, e a mestiça parecia preocupada.

— O que foi? - questiono, lhe analisando com os olhos. Ela suspira, encontrando os meus olhos.

— Eu estou com medo. - Marinette parece confessar, desviando o olhar devagar. - Da última vez que me apaixonei por alguém, acabei de coração partido. Pode soar egoísta, mas é por isso que me sinto melhor só. É por isso que não dou esperanças a ninguém, para não machucar essas pessoas. - a morena parece distante, como se estivesse pensando em algo específico do passado. - Porque eu sei como dói.

— Só porque o coração se machucou uma vez não quer dizer que ele precise continuar sangrando para sempre. - respondo, segurando seu rosto com uma das mãos. Seu olhar é tão esperançoso... Como alguém teria coragem de magoá-la? Estreito os olhos com esse pensamento. - Não tenho medo de me machucar Mari. Assim como você eu tenho um coração estilhaçado, esperando alguém que me ajude a colar os cacos.

Ela fecha os olhos enquanto me aproximo, dividido. Minha mente grita: "Não faça isso seu idiota!". Já meu coração continua repetindo, já fraco: "Tente". Não sabia o que fazer com a escolha em minhas mãos, mas o meu impulso já estava dando as cartas por mim.

— Acha que - começo, balançando a cabeça. - nós... Poderíamos tentar? - pergunto incerto, olhando para o pôr-do-sol que se instalava no meio de ambas paredes rochosas que cercavam nossa praia.

Minha mãe era tão linda sob a luz desse horizonte. Talvez por isso aqui fosse seu lugar preferido em toda a França.

Uma risada fraca da mesma faz nossos olhares se cruzarem novamente. Ela passa os braços ao redor do meu pescoço e me abraça. Sua pele está fria por conta da água do mar em contraste com a minha que já começava a esquentar, porém não consigo conter um arrepio quando seus dedos frios deslizam pelas minhas costas. Sinto seu corpo tenso, aos poucos relaxando como as batidas do meu coração. Quando ela se afasta numa distância em que possa enxergar seu rosto, eu vejo o quanto a mestiça está perto.

— Acho que talvez, só talvez - pondera, inclinando a cabeça com um sorriso de canto. - nós possamos tentar sim.

Aquilo foi o suficiente para agarrar sua cintura e selar seus lábios nos meus novamente. Nossos corpos se encaixam com perfeição, como se fôssemos feitos um para o outro desde o começo. Eu não me lembro quanto tempo nós ficamos ali, só de sentir os últimos raios de sol queimando meu rosto e o da Cheng, de Gorila nos chamando para entrar e de quase todo mundo fingindo que não sabiam o que tinha acontecido na praia.

Ô povinho que não sabe mentir.

***

Diego

Eu estava trancado no meu quarto há dias, desde que havia discutido com a Marinette por conta daquelas malditas fotos dela agarradinha ao riquinho do Agreste. No começo eu queria que eles dois explodissem com tanto ódio que eu estava por conta da internet inteira me zuando com aquelas montagens de mau gosto que eu tinha mais que certeza que tinha sido ideia dele. Queria que a Marinette simplesmente fosse usada por aquele modelozinho ridículo e descartada como um lenço usado para que ela entendesse porque eu não queria que ela caísse na lábia do loiro. Beleza, eu estava totalmente enfurecido na hora. Porém... Cara, assim que eu vi que conseguira fazer a Marinette chorar ao telefone todo aquele ódio desapareceu. Jamais queria magoar a minha melhor amiga, mas tudo isso só aconteceu por conta do Adrien de novo. Grr, tudo sempre envolve o Adrien! Porquê isso? Porque ele sempre tinha que ter um dedo em tudo da minha vida?

Suspiro, enquanto termino de tirar o pó da bancada onde meus bonequinhos de ação ficavam. Vou colocando todos nos seus respectivos lugares, até ver as minhas figuras de ação favoritas: a Samantha e o do Homem de Titânio. Ela é uma personagem extremamente carismática. Seu jeito caladão encanta e impõe respeito, ao mesmo tempo. É durona e corajosa, mas ainda assim bela e feminina, sem descambar pro estereótipo da caminhoneira peluda. Extremamente encantadora, tanto em sua aparência quanto eu sua personalidade. Ele, por sua vez, é o sonho de consumo dos meros mortais: gênio, playboy, milionário, filantropo... mas só nas telonas, pois quem lê os gibis sabe que ele é um tremendo canalha, um desequilibrado e um beberrão. O que me faz pensar: as aparências enganam.

Mas que tipo de aparência eu ainda tenho depois das minhas primas - a Tuggi, no caso - terem estragado toda a minha imagem naquele desastre que foi o aniversário delas?

Uma batida na porta chama minha atenção. Ignoro, continuando a organizar minhas coisas como elas sempre ficaram. A batida soa outra vez, mais insistente, mas reviro os olhos. Uma hora a Tuggi cansa. Na terceira vez a porta do meu quarto realmente é esmurrada com força e então perco minha paciência.

Eu já falei pra ir embora Tuggi!— grito, irritado. Arrumo meus óculos no rosto e me viro novamente para minha bancada. - Que coisa mais insuportável. - murmuro para mim mesmo, balançando a cabeça.

Quando meu quarto é literalmente invadido e escancarado aos estrondos é que eu percebo que não eram as batidas insistentes de Tuggi. Com um pulo que quase me faz cair pela janela aberta tento reprimir um grito de assombro ao mirar a figura com cara de Hulk raivoso atacando os helicópteros militares.

— Sabe, se você realmente quer se isolar do mundo todo não deveria deixar uma cópia da sua chave por aí. - Laura comenta, girando a minha chave reserva em um dos dedos. Ela está encostada na ombreira da minha entrada com cara de quem acordou com pé esquerdo.

— O que raios você está fazendo aqui? - questiono, tentando acalmar meu coração com o susto que acabara de levar. - O Jacques sabe que você anda fugindo da casa dele? Ou melhor, ele sabe que você está aqui?

— Claro que sabe, ele que me trouxe até aqui. - a morena responde revirando os olhos e se jogando encima da minha cama, bagunçando meu cobertor recém-esticado. - Ei, sua cama é muito gostosa. Vou roubar ela pra mim, vigia não.

— Laura, quer me fazer o favor de explicar o que você tá fazendo aqui e ir embora? - peço, indicando minha porta arreganhada com impaciência. - Não vê que eu quero ficar sozinho?

— Ué, eu também quero ficar sozinha. - ela devolve, inclinando a cabeça como um cachorro fofinho. - Por isso vim pra cá. Porque, além de descobrir o motivo de tu estar enfurnado aqui em plenas férias e tentar te arrancar daqui pela orelha, também quero conversar com alguém que não me julgue. - de repente ela me encara com os olhos brilhando de um jeito esquisito. - Não é demais? Podemos ficar sozinhos juntos!

— Não, não é demais. - respondo, tirando meus óculos só para ter algo a olhar sem ser a brasileira. Por mais que a presença de Laura sempre fosse um pedaço do céu eu precisava de silêncio e solidão no momento. - Olha, não é nada pessoal, eu adoro você, mas eu realmente queria ficar longe das outras pessoas por um tempo.

A escuto suspirar e quando olho novamente em sua direção a assisto sentar na minha cama com as pernas cruzadas. Ela dá um tapinha no espaço ao seu lado, me chamando para me sentar com ela. Relutante, vou até lá e lhe fito com uma careta.

— Diego, eu não vim aqui só para te encher a paciência. - Laura diz, balançando as mãos. - Também. - admite e eu balanço a cabeça. - Mas eu vim pra você desabafar comigo. Sabe, não sei se você acredita nessas coisas, mas de onde eu venho dizem que desabafar tira um elefante das nossas costas.

— Não tenho nada para desabafar Laura. - respondo, dando um tapinha em sua mão. - Mas ei, obrigado pela sua consideração, seriozão. - bem, tirando o fato que você literalmente invadiu o meu quarto... - Quer alguma coisa? Uma bebida, um lanche? Talvez queira rachar uma partida de videogame?

— Não, obrigada. Só quero mesmo saber como você está. - repete, séria. Reviro os olhos. - Em pleno período de férias e você fica trancado aqui. O Jacques me falou que você costuma passar o tempo livre dentro de casa, trancafiado.

— E daí? - questiono, dando ombros.

— Ninguém, em sã consciência, passa as férias trancado em casa Diego! - ela exclama, exasperada. - O Jac disse que estava tudo bem, que você era assim mesmo, mas eu não...

— Bem, o Jac - lhe interrompo imitando o "apelido carinhoso" que aqueles dois tinham um com o outro. - é meu amigo desde que me conheço por gente. Você devia confiar na palavra dele. - me levanto da minha cama, passando a mão no cabelo. - Eu sei que pros rolezeiros como você ficar muito tempo trancado no quarto pode parecer um castigo, mas olhe pra esse lugar. - falo, indicando o cômodo com os braços. - Você realmente acha que é uma coisa ruim eu gostar de passar tanto tempo aqui?

A observo olhar meu quarto com mais atenção. Tudo bem que meu quarto não era lá tal coisa como provavelmente fosse considerado normal, mas posso garantir que era tudo menos desconfortável. Tinha de super-heróis, de personagens de animes, soldados de diferentes eras, pistoleiros do Velho Oeste, cavaleiros, entre mais um monte de tralhas de ouro. Ela demora o olhar entre minhas figuras de ação na escrivaninha e os pôsteres das minhas bandas de rock favoritas: Crush 40 e Sabaton. Balança a cabeça, pensativa.

— É, tenho que admitir... seu quarto parece ser um lugar bem divertido. - Laura comenta e eu consigo dar um sorriso.

— É, como eu disse, meu quarto é meu lugar favorito. O único lugar onde eu posso ser eu mesmo. - me jogo na minha cadeira de rodinhas e estendo os braços ainda sorridente. - Aqui dentro, eu não preciso me importar com o que pensam de mim! - agarro o meu sabre de luz azul de brinquedo jogado ao lado da minha escrivaninha. - Este lugar é o meu castelo de Grayskull!

De repente me sinto mal com o olhar desconfortável na cara da brasileira. Dou uma risada nervosa e jogo o sabre pra um canto qualquer do meu quarto.

— É, eu sei, esquisito um cara como eu gostar de um desenho infantil dos anos 80. Mas a verdade é que o reboot de 2002... - tento argumentar, girando a cadeira de rodinhas, sem dar muita atenção pra cara da Novaes rindo de mim.

— Não, não é isso Diego. - ela assegura, mas eu continuo girando minha cadeira com mais força agora.

— ... Eu até tentei procurar uma réplica da Espada do Poder, só que isso virou artigo de colecionador, e o preço é uma facada no... - continuo, sentindo minha cabeça girar também.

— Diego! - eu levo um susto quando eu paro com um ato brusco e Laura tá na minha frente... Umas três Lauras, na verdade... - Não é nada disso, eu só... fiquei pensando quando você disse que esse quarto é o único lugar onde você pode ser... você. - aos poucos consigo focar numa Laura só e a sensação de enjoo some. - Sabe, isso é muito...

— Esquisito? - sugiro, arqueando uma sobrancelha.

— Libertador. - a mesma solta, se afastando da minha cadeira e olhando ao redor mais uma vez. - Você tem um quarto inteiro como seu domínio. Um pedaço de você... Fora de você. É como um trabalho de um artista, onde ele se expressa livremente. - ela não sorri de verdade, posso notar pelos seus olhos. Eles não brilharam como há pouco. - Você tem muita sorte, sabia?

— É... muita gente diz isso. - comento, balançando meu pé e o encarando com um falso interesse. - Mas porque você diz isso?

— O único lugar onde eu posso ser eu mesma é no meu caderno de desenhos. - Laura responde, com um suspiro distante. - Sabe, é meio triste por não ter tanto espaço pra me soltar como seu quarto.

Dou uma risada fraca antes de um silêncio profundo se instalar entre nós. Odiava quando isso acontecia. Sabe, quando se tem uma prima maluca que nem a Tuggi você meio que se acostuma a levar tudo na piada e na brincadeira. Não estou nem um pouco acostumado com esses silêncios estranhos, ainda mais com uma amiga como a Laura que gosta de falar. Ajeito os óculos que insistiam em cair do meu rosto.

— Escuta, você tem falado ultimamente com a Marinette? - arrisco, um pouco curioso e nervoso. Ela se senta na beira da minha cama franzindo a testa.

— Na verdade não, a gente não se fala desde que ela viajou com as amigas para a praia. Parece que ela foi com o Adrien, se não me engano. - conta, dando ombros levemente.

— Ah é, o Adrien... - murmuro, com uma careta de desgosto.

Sempre tem que ter ele na história.

— Aconteceu alguma coisa? - Laura indaga, arqueando as sobrancelhas. Suspiro.

— Bom, eu... briguei com a Marinette, por causa do Adrien. - confesso, girando minha cadeira até perto da minha televisão onde meu videogame estava ligado.

— Ué, o que houve entre vocês dois? - ouço a morena questionar enquanto tento ligar minha televisão. Respiro fundo, e a tevê acende.

— Eu recebi um e-mail com umas fotos da Marinette beijando o Adrien. - revelo, me virando para a morena enquanto ela parecia horrorizada.

— O quê? - fala, indignada. - Mas isso é errado!

— Eu sei disso! - exclamo, cruzando os braços e fazendo uma careta. - Como é que a Marinette beijou aquele canalha, depois de tudo o que houve? Depois de todos os avisos que eu dei? Depois de ver todo o histórico e o jeito como ele se comporta?

— Não estou falando disso. - Laura me corta, parecendo incrédula. - Alguém invadiu a privacidade dos dois, bateu fotos e mandou pra você! Ela poderia ter espalhado isso nas redes!

— Você fala como se fosse ser algo ruim para ela. - murmuro lhe encarando com sarcasmo.

É algo ruim Diego! - ela argumenta, gesticulando com as mãos. - Expor alguém na internet, contra a vontade dessa pessoa, é sempre algo desagradável! Você devia saber disso melhor do que ninguém.

— Ah Laura, por favor, não vem querer comparar laranjas com maças! - respondo, perdendo a minha paciência. Ela me encara seriamente de novo. - O que a Tuggi espalhou pelo Facebook a fora foram fotos do meu quarto, meu santuário particular, o único lugar onde eu posso ser eu mesmo, e eu sou ridículo! O mundo lá fora vê o Diego aqui como o acadêmico de Medicina da universidade mais prestigiada de Paris, o cara intelectual, culto, inteligente, que sempre tem uma informação importante e uma pérola de sabedoria na ponta da língua. Ninguém quer saber do imbecil ridículo que gosta de jogar tempo fora jogando videogame, que gosta de montar maquetes de histórias que ele escreve, ou que tem uma queda por alienígenas de cristal em forma de mulheres, ou ainda que fica paquerando uma italiana que nem sabe que ele existe! - disparo, dando uma risada irônica. - Agora, o Adrien? Ele é o sonho de consumo de toda menina. Qualquer uma gostaria de ser fotografada beijando ele. Aposto que, se eu jogasse essas fotos na rede, em menos de 24 horas a Marinette seria a garota mais popular da escola e até mesmo a Chloé iria se roer de raiva. Eu estaria é fazendo um favor para ela, isso sim.

Quando olho na direção de Laura novamente sua expressão continua a mesma. Séria, sem nenhuma reação. Esfrego as mãos no rosto e respiro fundo.

— Olha, me desculpa. - peço, tentando me acalmar pra não despejar mais besteiras encima da mesma. - Estou fazendo o mesmo que fiz com a Mari, falando merda mais uma vez. É que sempre que tem o maldito do Agreste na história eu perco minha paciência, e agora é muito claro que nunca mais ela queira olhar na minha cara...

— O que foi que você disse pra ela? - a brasileira me indaga, incisiva. Desvio os olhos para meu pôster da minha banda favorita na parede.

— Eu não quero repetir palavra por palavra. - digo, arrependido. - Mas eu meio que chamei ela de "brinquedinho do Agreste"... Bem, numa versão mais educada, por aí.

— Porque raios você fez isso? - ela questiona, intrigada por ter feito tamanha burrice. - Ela é sua amiga Diego!

— Todo mundo é amigo antes de conhecer o Agreste. - rebato, amargo. - Depois disso, é amnésia. Você deixa de existir, a menos que faça parte do círculo deles.

— Do "círculo deles". - Laura repete, arqueando uma sobrancelha. Assinto, balançando a cabeça.

— Sim, você sabe. - comento, balançando a mão com um aceno. - Gente perfeita, acima dos meros mortais como nós. Gente como a Chloé, a Jacqueline, talvez até mesmo a Lila.

— A garota que tu tem uma queda? - a morena pergunta, com um pequeno sorriso.

— Isso - começo, mas arregalo os olhos assustado rapidamente indo arrumar meu videogame na TV ligada. - quer dizer, não! Eu não tenho uma queda por ela! Quem foi que te disse uma groselha dessas?

— Ninguém, eu tenho olhos ainda sabia? - minha amiga rebate, e mesmo sem encará-la posso sentir a mesma revirar os olhos. - Tá na cara que você tá afim dessa tal de Lila.

— Não, eu não tenho uma queda por ninguém. - asseguro com a voz o mais firme que consigo. - Gente como eu não pode se dar a esse luxo.

— Então porque está na defensiva se não tem culpa no cartório? - Laura indaga, e quando me viro lhe lanço um olhar gelado.

— Eu não estou na defensiva. - rebato, irritado. Ela faz bico e cruza os braços. - Laura, por favor, porque é que você é tão insistente assim?

— Eu é que pergunto porque raios você é assim, tão fechado Diego. - a mesma retruca, balançando os braços, irritada também. - Eu só quero conversar, mas que parece que quanto mais eu tento mais você se fecha e se isola. - a assisto se levantar da minha cama e parar na minha frente, parecendo cansada. - Diego. Eu sou sua amiga, eu só quero te ajudar.

Engulo em seco. Analiso sua expressão esperançosa e sensível de artista. Ela realmente estava querendo me fazer eu me sentir melhor, mas mesmo assim era como todos os outros: não iria entender. Me viro para meu Playstation 4 e seleciono um dos meus jogos para jogar, fazendo o melhor que sabia: me isolar dos outros. Fixo meu olhar na tela a minha frente enquanto ainda sinto a presença da brasileira nas minhas costas, se sentando num puffe gigante vermelho que Tuggi adorava se jogar pra ficar batendo papo comigo. O silêncio nos envolve com força até o jogo começar a rodar.

— É por isso que eu não converso com as pessoas Laura: ninguém entende e ninguém quer entender. Com os jogos, é mais fácil pois é só ir até o ponto A ou B, matar os inimigos e pegar os tesouros. Na vida real não é assim, você não tem nenhum controle sobre ela. - digo, sem desviar os olhos dos primeiros comandos do jogo. - Por mais que você se esforce, tudo acaba dando errado e a única coisa que você ganha com isso são traumas e cicatrizes, e não importa o quanto digam que "Isso faz parte da vida" pois qualquer um que pudesse escolher não escolheria passar por essas coisas.

Ela suspira.

— Que jogo é esse? - pergunta, baixinho.

"Call of Juarez - Bound in Blood". - respondo - Antes era um jogo de PS3, mas alguns fãs fizeram uma versão pirateada para PS4 e, bem, eu baixei. Digamos que eu consegui uma maneira de não estragar minha máquina fora da garantia.

— Você deve gostar muito de faroeste para fuçar tanto assim atrás de um jogo antigo. - a Novaes comenta e eu balanço a cabeça.

— É, modéstia à parte, sempre que eu miro em algo, eu consigo, independente do que seja. - digo, com um sorriso convencido.

Não ela, Diego. Você não conseguiu ela.

Fecho os olhos com força e tento me concentrar no jogo mais uma vez. A cena que rodava era o último ato do jogo, onde o foco era o encontro entre os personagens Ray e Thomas, irmãos, mas que agora apontavam armas na cara um do outro como se fossem inimigos mortais.

"(Ray) - Eu te avisei, Thomas! Eu disse o que aconteceria se você tentasse roubar outra mulher de mim!

(Thomas) - William? Ray? Eu pensei que vocês estivessem mortos!

(Marisa) - Foi o que Juan disse!

(Ray) - Eu disse o que eu faria... Eu não disse?"

Apertei com mais força o joystick na minha mão, tentando controlar a minha raiva. Estreito os olhos.

"(Ray) - Eu amava vocês e vocês mentiram pra mim! Os dois! Vocês me traíram!

(Thomas) - O que você quer de mim, Ray?

(Ray) - Eu quero justiça!"

Suspiro e corto toda aquela historinha que vem antes da jogatina de verdade. Mas... sei lá, alguma coisa ainda está me incomodando e é isso que me impede de continuar. Pauso o jogo e faço questão de desligar a máquina. Fico lhe encarando por um tempo até ouvir um pigarreio detrás de mim. Giro minha cadeira de rodinhas de volta para Laura que me encara de sobrancelha levantada.

— Acho que eu não estou com tanta vontade de jogar assim. - comento, arrastando minha cadeira para perto da janela onde a brasileira estava.

— Tem certeza que você não quer conversar? - ela me pergunta novamente e dessa vez eu paro para pensar. Dá ombros e pega o celular em uma das mãos. - Seja lá qual for sua desculpa, saiba que não vou ficar aqui pra sempre. Sei que não vim aqui pra perder meu tempo então se você quiser colaborar eu agradeço Diego.

Dou um grunhido e tiro meus óculos. Do nada meus olhos começam a coçar. Ou talvez fosse apenas meu corpo me empurrando para soltar tudo o que eu guardava pra mim há um tempão.

— Certo, você venceu. - digo, me rendendo com os olhos um pouco embaçados sem o óculos. Suspiro profundamente. - Vou desabafar com você o motivo de odiar tanto o Adrien.

***

Marinette

— Cuidado pra não cair. - Adrien alerta, do outro lado da sua janela e estendendo a mão para passar pela mesma. Agarro sua mão com força e ele me segura com força, sendo cuidadoso o suficiente para que eu não escorregue. - Agora vem comigo.

Está de noite, e a maioria estava na sala de jogos da cabana de praia ou conversando na sala de estar que tinha uma enorme janela de vidro com vista pro mar. Ninguém reparou quando o loiro e eu saímos de fininho para o segundo andar da cabana onde ficavam os aposentos da família Agreste. Um andar com cinco quartos reservados só para eles, dá pra acreditar? O Agreste me levou pro quarto dele e antes que você, mentes poluídas, pensem em alguma besteira, quero deixar claro que ele não me arrastou pra cama dele. Primeiro porque se ele imaginasse isso eu iria arrancar alguns dentes dele sem dó nenhum. Segundo porque ele disse que o único lugar confiável para conversarmos um assunto tão importante quanto aquele era onde nós estamos agora: o telhado da cabana. Apenas alguns passos para fora da janela do loiro tinha um espaço reservado com uma vista linda das estrelas, onde ninguém nos veria dali de cima.

— Uau. - é a única coisa que eu consigo dizer enquanto nos sentamos nas telhas escuras. Ao meu lado ele ri.

— Eu sempre vinha aqui encima quando era criança e todo mundo estava dormindo. - ele conta, olhando para o céu com diversos pontos cintilantes. Está usando uma regata escura e um short jeans, bem diferente do que usava agora pouco. - Minha mãe me contava histórias para dormir e assim que ela saía eu sentava aqui fora. Calanque é linda tanto de dia quanto de noite.

— Bem, preciso concordar com você. - digo, encarando o oceano que literalmente brilhava como as estrelas acima de nós. Respiro fundo, sentindo o vento salgado batendo no meu rosto. - Sua mãe não brigava com você por correr risco de cair daqui e se machucar?

Ele dá um sorriso triste e chega mais perto de onde eu estou sentada.

— Na verdade ninguém sabia. - o loiro conta, nostálgico. - Minha mãe era uma mulher maravilhosa Marinette. Acho que mesmo que soubesse que ficava aqui não me diria nada. - lhe fito enquanto ele segura minha mão e brinca com meus dedos, assim como no dia que nos beijamos na chuva. Sinto meu rosto corar sem minha vontade. - Ela era linda, bondosa, alegre, sempre presente na minha vida e a de Félix... e tinha o sorriso mais lindo que já vi em toda a minha vida. - ele volta o rosto para mim com um sorriso de canto. - Exatamente igual ao seu.

— Não acho justo me comparar a sua mãe. - respondo, desviando os olhos para o céu estrelado. - Pelo que diz, ela devia ser o centro da sua vida.

Ele abaixa a cabeça, assentindo em silêncio. Estou quase arrependida por ter o pressionado para falar de seu passado.

— Quando eu era pequeno, minha mãe me colocou numa escola pública para que eu fizesse amigos e não dependesse de governantas como a Nathalie para me educar. Naquela época, eu não conhecia ninguém e ficava sempre de lado, na minha. - Adrien revela, distante. Seu maxilar está tenso, como se estivesse irritado com alguma coisa. O observo com atenção. - Com o tempo, eu conheci duas pessoas que se tornaram meus melhores amigos. Me lembro até hoje, isso aconteceu no fundamental.

A aula de álgebra estava quase acabando e sinceramente? Eu só queria ir logo pra casa. Nunca imaginaria que o nono ano era tão difícil assim com equações e mais equações de primeiro grau. Fala sério, quem inventou isso não tinha nada pra fazer mesmo da vida. Quando o sinal tocou e eu já estava de saída, eu vi alguns brutamontes enchendo o saco de um garoto próximo da sala de música. Cara, eram três caras do ensino médio contra um do fundamental, até onde eu vi da mesma idade que eu. Não ia deixar uma injustiça acontecer bem na minha frente sendo que minha mãe me educara como um homem não um menino com condições que virava as costas para a comunidade mais pobre.

— Ei, deixem ele em paz! - grito pros três que pareciam estar dando uma surra no garoto. Eles olham na minha direção e dão risada.

— Ô filhinho de papai, porque não vai cuidar da sua vida de rico e deixa o resto da sociedade fora da sua conta? - um deles grita de volta enquanto os outros dois continuavam com a palhaçada de bater no garoto.

— Olha, eu adoraria fingir que a sua feiura e atitudes esdrúxulas são parte do pacote de cara do ensino médio arrombado, mas acho que faz parte de adolescentes sem caráter mesmo. - retruco com um sorriso sarcástico, do jeito que meu irmão acabara me ensinando com o tempo.

Dessa vez os três olharam na minha direção, enquanto eu ainda estava com as mãos no bolso da minha blusa. Eles largaram o menino no chão e vieram pra cima de mim, e por um momento eu morri de medo. Quis ser o herói e acabaria sem rosto. Bem, foi o que eu pensei antes de ouvir duas vozes aparecerem na mesma cena que eu estava metido.

— Viu senhor diretor? Eu disse que esses vândalos estavam acabando com a sua escola. - uma menina loira reclamava nos ouvidos do velho diretor da escola que eu estudava, tanto que o mesmo chegou rosnando. - Isso é ridículo, se o senhor não punir esses mal-feitores eu vou contar tudo para o meu pai e...

— Não será necessário senhorita Bourgeios. - o mesmo resmungara, indo na minha direção e na dos três caras do ensino médio. - Vocês três vêm comigo. - ele olha na minha direção, e aponta para o garoto ainda jogado no chão perto da sala de música. - Você, Agreste, leve o senhor Broussard para a enfermaria da escola enquanto eu telefono para os pais desses aqui.

— Sim senhor diretor. - respondo, acenando com a cabeça para o mesmo e mostrando a língua para os brutamontes uma última vez antes de ir socorrer a vítima daqueles três estúpidos. Era um garoto da minha idade, supus, e estava com um olho um pouco inchado. - Ei, você tá bem cara?

— É, acho que ainda estou respirando. - o mesmo responde e eu dou uma risada fraca enquanto estendo minha mão para o levantar. - Não precisava fazer isso.

— Eu que quis ajudar, não tem problema nenhum. - digo, o apoiando no meu ombro enquanto íamos na direção do corredor que levava a enfermaria. - Ah, a propósito, sou Adrien. Adrien...

— Agreste. - completa, e eu não fico surpreso. Minha cara tinha sido estampada na última coleção de inverno junto com a de Félix, então deveria me acostumar com aquilo mais cedo ou mais tarde. - Eu sei quem você é, minha mãe acompanha a linha Gabriel. Já te vi em algumas revistas das minhas primas também. - ele respira fundo e quase trombamos com um aluno qualquer do sexto ano que não nos viu no caminho. - Eu sou Diego Rodríguez Broussard. Você deve conhecer minha mãe...

— Camille Rodrígues Broussard. - complemento com um sorriso. Nós rimos, praticamente na porta da enfermaria. - É, eu conheço sim. Ouvi dizer que é a médica com mais prêmios daqui de Paris.

Uma enfermeira passa na nossa frente e olha pro Diego horrorizada.

— Misericórdia, foi atropelado por um caminhão garoto? - ela questiona, praticamente o arrancando de perto de mim e levando pra uma maca da enfermaria. Eu o acompanho, com as mãos no bolso de novo, sem chamar a atenção de ninguém. - Fique aqui. Preciso arrumar alguma coisa pra esse seu olho roxo e algum comprimido pra dor. - ela divide o olhar entre nós dois - Você tem sorte de ter um amigo como ele senhor Broussard. Se não fosse assim, poderia ter acontecido algo bem pior.

Quando ela sai, eu encaro Diego com um olhar confuso. Ele tira os óculos do rosto e vê que suas lentes estão trincadas. Murmura consigo mesmo e eu levo um susto quando meu alarme toca. Logo logo iria começar minha aula de esgrima. Faço uma careta, mas quando olho na direção do mesmo me assusto mais ainda.

— O seu toque é a abertura do Steven Universe? - ele indaga, surpreso e meio boquiaberto. Balanço a cabeça, um pouco constrangido. - Ei, o meu também. Eu adoro essa série!

— Mesmo? - questiono, contente. Meio confuso, mas contente. - Eu também! - exclamo, sentando na maca com o mesmo. - Os meus favoritos são a Garnet e a Rose.

— Hum, eu prefiro a Pérola e o Steven. - Diego responde, balançando a mão. - Puxa, nunca imaginei que você, um modelo de tamanho porte e popularidade que tem, praticamente um cara do círculo, gostasse de um desenho considerado tão bobo por alguns.

— Eu não sou do círculo, meus pais são. - respondo, coçando a nuca. - Pra falar a verdade eu só queria uma vida normal, não suporto toda essa atenção que tenho as vezes. Não há privacidade. - conto, distante. - Eu só queria uma família comum como todas as outras. Talvez assim nos aproveitássemos mais, sabe?

— Bem, não sei se isso resolveria. - o mesmo rebate, pensativo. - No meu caso não. Não tenho facilidade nenhuma em fazer amizades, talvez minha vida fosse diferente se fosse como você Adrien. Você parece ter tudo o que você quer.

— Não é bem verdade. - começo, o encarando. - As coisas são "fáceis" pra mim porque carrego uma marca nas costas escrito "Gabriel Agreste". Não tenho amigos também Diego, mas quando vejo algo errado eu nunca deixo pra lá. - respondo, enquanto ele remexe as mãos. - Pense comigo: se fosse tão mesquinho como esses caras cheios da grana, acha que eu teria me importado com você agora pouco?

Antes que ele pudesse dizer alguma coisa nós dois escutamos uma voz esganiçada discutindo com alguém na enfermaria. Lhe olho com uma sobrancelha pra cima e ele dá ombros, mais confuso que eu. Juntos, olhamos para a entrada e a vimos juntos. A mesma garota que chamara o diretor. Porque é que ela estava ali?

— Ah, aí está você. - ela diz, interrompendo uma bronca de uma enfermeira que não queria deixá-la entrar e invadindo o local até onde nós estávamos. - Você, garoto, o diretor quer falar com você depois que estiver liberado. São ordens dele, aquele hipócrita. - ela revira os olhos azuis, e volta a olhar na minha direção. - Espera aí... Eu conheço você. - ela arregala os olhos, boquiaberta. - Ah, meu Deus! Você é o Adrien Agreste! É você mesmo?

— Hã... - balbucio, olhando rapidamente para o Diego. Ele faz uma careta.

Antes que pudesse responder, ela simplesmente dá um gritinho histérico e se joga nos meus braços. Eu quase caí com uma garota loira praticamente pendurada no meu pescoço. Estava eufórica por me ver, eu acho.

— Eu sou Chloé. Chloé Bourgeios. - ela se apresenta para nós dois, sorridente. Quer dizer, faz uma careta quando olha na direção do cara ao meu lado. - Ui, eles fizeram um estrago mesmo hein?

— Dios, está tão ruim assim? - Diego questiona, olhando pra mim.

— Tá bem ruim. - concordo com a garota. - Mas tenho certeza que vão dar um jeito em você. - olho pro meu celular e dou um grunhido. - Bem, eu queria muito conversar mais com vocês, mas eu tô atrasado pra minha aula de esgrima. Então... Hã, até mais tarde.

É claro que depois da minha aula eu voltei pra enfermaria, mas nenhum dos dois estavam mais lá. No dia seguinte, eu não procurei ninguém, foram os dois que me acharam na hora do intervalo. A partir daí, todos os intervalos nós sentávamos juntos para conversar e comer nossos lanches como colegas. O Diego sempre vinha com assuntos sobre jogos, teorias malucas sobre as séries que nós acompanhávamos, piadas péssimas que faziam eu ter crises de risos. Já a Chloé era a parte bela da nossa amizade. Tentava sempre parecer a mais bonita entre todas as meninas e nos tornar os garotos mais bonitos que andavam com ela também. Com o passar dos anos, nos tornamos melhores amigos. Inseparáveis. Mas... depois da metade do primeiro ensino médio... Bem, as coisas começaram a mudar. Lila Rossi tinha entrado na escola naquele ano. Normal, apenas mais uma garota na nossa sala. Não, não tinha sido tão simples assim.

Nesse tempo o Diego tinha uma quedinha pela Chloé que ele julgava ser recíproca. Como eu conhecia um pouco mais o temperamento instável e forte da Bourgeios eu sabia que aquilo não daria muito certo. O Diego não sabia como chegar na Chloé, e mesmo com todas as minhas ideias e incentivos, ele nunca chegou a dizer pra ela o que sentia. Isso o deixava bem chateado, porque ele parecia realmente gostar dela e nunca conseguia se expressar direito na frente dela.

— Não adianta Adrien, eu sou um completo zero a esquerda. - ele me disse certa vez. - A Chloé deve preferir os caras que sabem se comportar por aí, como você. E eu nunca vou ser como você.

— Diego - o chamo, segurando seu ombro e dando um aperto. - você não precisa ser igual a mim. Você precisa agir como você mesmo. E se a Chloé não gostar de você do jeito que você é, ela vai gostar muito menos de alguém imitando outra pessoa. - aconselhei, encarando meu melhor amigo. - Cara, se valorize. Tenho certeza que vai encontrar a garota certa, ainda que não seja a Chloé.

— É... - ele solta, ainda com a expressão fechada, distante. - Talvez você tenha razão.

Bem, eu jamais iria dar chance nenhuma pra Chloé. Eu a via e sempre a vi como uma irmã, mas parecia que o Diego não acreditava nisso. Ele sempre se julgava menos importante do eu, até chegou a dizer que se parecia mais com uma amestista terráquea enquanto eu era um quartzo das Diamantes. Ele achava que era inferior. Deveria pensar que eu não valorizava a amizade dele, mas era mentira. O Diego foi o meu primeiro melhor amigo. É mais que claro que me importava com ele, não?

— Mas se vocês eram tão próximos porque foi que se separaram? - eu pergunto para um Adrien distante. Uma brisa gelada me faz estremecer de leve, abraçando meus braços.

— Por apenas um motivo. - ele responde mecanicamente. Engole em seco. - Jacqueline.

— A Jacqueline? - repito, estreitando os olhos.

Depois da entrada da Lila, Jacqueline Gagnon também havia entrado pra nossa escola. Nessa época o Diego já andava um pouco distante da gente, então muitas vezes eu e Chloé sentávamos com Kyoko. Ela era uma aluna das aulas de esgrima que não se dava muito bem com a Bourgeios, mas que fazia de tudo para disputar uma revanche de uma luta que eu havia ganhado dela. No fim, eu acabei ficando com a Kyoko. Ela foi a minha primeira "namorada", acho. Talvez esse tenha sido o meu grande erro, porque foi aí que a loira começou a andar com Jacqueline e ambas se tornaram amigas mais grudentas do que chiclete barato. Foi então que tudo começou a dar errado.

Um dia eu briguei com a Kyoko e nós acabamos terminando, por assim dizer. Eu estava correndo de meninas porque aquela tinha sido o meu primeiro relacionamento furado e não queria mais me machucar como tinha sido machucado. No mesmo dia eu fui procurar o Diego para conversarmos.

— Que bom que eu te achei cara. - digo, com um alívio na voz. Nós estávamos na biblioteca e ele tinha acabado de fechar um livro ao me avistar. - Eu acabei de terminar com a Kyoko e eu sinceramente queria conversar com alguém sobre isso, e bem achei que talvez você fosse...

Ele estava irritado com alguma coisa. Rapidamente calei minha boca e o encarei confuso, enquanto ele levantava o seu celular me mostrando uma conversa por mensagens. Ou melhor, um print. Pegando o celular da sua mão ele simplesmente despeja um monte de informações encima de mim.

— Adrien, porque você foi dizer pra Chloé que eu gostava dela? - o mexicano questionou, o mais controlado que parecia pra mim. As veias estavam visíveis em seu pescoço. - Cara, qual é o seu problema? Eu achei que nós fossêmos amigos! Que amigo em sã consciência fala pra garota que o outro tá aparentemente gostando dela?

— Mas cara, não fui eu que mandei essa mensagem pra Chloé, eu juro. - asseguro, passando os olhos sobre as mensagens que tinha o meu nome como contato. Ele dá uma risada irônica. - É sério Diego. Ontem eu fiz uma sessão de fotos até tarde, pode perguntar pra Félix ou quem quer que seja, eu nem mesmo peguei no meu celular. Foi por isso que eu terminei com a Kyoko, porque nós mal conseguíamos nos falar. - justifico, pegando o meu próprio celular para lhe comprovar o que estava dizendo.

— Ah, ótimo. Então quer dizer que você não é mais tão exclusivo assim na lista de contatinhos da Bourgeios. - solta, com um sorriso de escárnio. Fecho o rosto, tentando não me irritar como o mesmo queria. - Por favor, qual é o outro Adrien que a Chloé conhece sem ser você? Não existe mais nenhum além de você. É mais bonito dizer que "queria me ajudar despejando toda a merda no ventilador" do que insistir em dizer que não foi você Adrien.

— Não fui eu Diego. - repito, fechando as mãos com força. Ele suspira, balançando a cabeça. - Puta merda, não vê que isso pode ser apenas uma brincadeirinha de mal gosto que fizeram com o meu nome e que você foi idiota o suficiente para cair? - indago, irritado com sua postura mimada.

— Ah, eu sou o idiota então? - Diego retruca, se levantando da mesa e fazendo algumas pessoas olharem na nossa direção. - Escuta aqui modelinho de cristal, não fui eu que levei um fora de uma garota melhor que você na esgrima e saí chorando pelos cantos por causa desse "término", porque, convenhamos, logo logo chove mais uma no meio do seu caminho que você consegue pegar fácil, fácil. É a sua cara: rico, garanhão e galinha.

— Pelo menos eu posso dizer que as garotas gostam de mim, ao contrário de você, que só porque a garota que você tinha uma queda começou a andar com outra garota popular e encontrou um cara bacana como o Alex, que fica choramingando pelos cantos o quanto é ridículo e que ninguém te quer porque você se acha uma sombra que vive atrás de mim. - disparo, revoltado, sem medir as palavras. Ele bufa e aponta um dedo na minha direção.

— Você é sempre o perfeitinho sem culpa nenhuma não? - indaga, quase aos gritos. - Porque não ficou com a Rossi ainda? Pensa que eu não vi ela te secando outro dia, querendo te agarrar como se fosse feito de ouro?

— Eu não fiquei com ela só porque eu sabia que você também estava de olho nela. - respondo, e o observo emudecer. - Ah, você achou que não estava tão na cara assim? Pois é, todo mundo percebeu Dieguito.

— Então quer dizer que se não fosse por mim você também teria ficado com ela? - ele pergunta, por incrível que pareça baixo. Balanço a cabeça, mas antes que eu pudesse me justificar ele me interrompe de novo. - Eu... Eu realmente não acredito que eu confiei em você. Esse tempo todo, eu achei que fôssemos melhores amigos Adrien.

— Eu também pensei. - rebato, sem pensar. Rapidamente a tristeza tenta me invadir, afastada apenas pela adrenalina da nossa discussão. - Mas parece que me enganei.

Tão surpreso quanto eu, ele ajunta suas coisas e vai embora, sendo que a única coisa que eu posso fazer é o observar, paralisado pela crueldade das minhas palavras soltas sem pensar nas consequências.

***

Laura

— Mas vocês nunca chegaram a conversar sobre isso depois? - questiono o mexicano, enquanto ele parece desconfortável e enfiando meia barra de chocolate na boca. Balanço as mãos. - Tipo, discussão todo mundo tem, mas isso faz parte da amizade. Vocês deveriam ter conversado depois disso, pedido desculpas um pro outro, sei lá.

— Não sei quanto a vocês, garotas— Diego enfatiza, engolindo a massa de chocolate duo e eu reviro os olhos. - mas nós homens somos mais orgulhosos para olhar na cara um do outro depois de uma briga.

— Vocês são é muito estúpidos. - rebato, irritada. Ele me encara incrédulo. - Gente, qual o mistério em você dizer pro Adrien "desculpa cara, talvez você tenha razão, talvez realmente fosse uma montagem, vamos conversar"?

Ele respira fundo e encara a barra do doce em sua mão. Por um momento acho que ele vai simplesmente engolir o resto numa bocada só, mas ele parece desistir de comer. O observo afundar na cadeira de rodinhas e suspirar.

— Veja, já é difícil dividir o que acontece na minha vida com alguém, não ajuda muito você querer me esculachar no meio da minha história. - ele comenta, baixo e eu me repreendo mentalmente.
Se você quer saber o que aconteceu deve ficar de boca fechada Laura.

— Tá, me desculpa. - digo, mordendo o lábio para não assustar o mesmo com minha ansiedade. De repente o chocolate não parecia mais tão bem-vindo pra mim. - Continua. O que aconteceu depois dessa briga entre vocês dois?

— Bem... - o mexicano começa, mas nós somos interrompidos por uma batida na porta do quarto.

— Dieguito, sua mãe mandou avisar que daqui a pouco o tio da Laura e o Jacques vão vir buscar ela. - Tuggi avisa se pedurando na porta pela maçaneta e eu não seguro uma risada com a careta que faz quando vê o primo sujo de chocolate. - Eita, o negócio aqui deve tá bom se o gafanhoto aí tá sujo desse jeito. Posso participar da conversa e da sujeira também?

— Na verdade... - eu começo.

— Não Tuggi, você já fez o suficiente, obrigado. - Diego responde, encarando a ruiva seriamente e quando divido meu olhar entre os dois e vejo um silêncio desconfortável pego uma barra de chocolate.

— Eu prometo conversar com você depois ruiva, mas agora o Chapolin Colorado aqui tá me contando um negócio importante sobre como acabar com espinhas. - brinco, jogando a barra em sua direção e fingindo estar pensativa. - Sabe como é, o Jacques tem sérios problemas com acne. É horrível! Tu tem que ver o tamanho das espinhas nas costas dele, parecem vulcões prestes a explodir de tão grandes e...

— Não, não, não, não. - ela me interrompe, recuando rapidamente por onde havia entrado. - Tudo bem, já entendi que tô atrapalhando aqui, saindo. - Tuggi acena, dando um sorriso engraçado e fechando a porta.

Dou uma gargalhada e olho para o moreno a minha frente. Ele está boquiaberto. Mordo meu chocolate e balanço a mão para que continue logo com a história.

— Anda logo, daqui a pouco eu vou embora. - o apresso, com a boca cheia. Ele respira fundo e dá ombros de leve.

— Certo. - Diego diz, voltando com a expressão nostálgica. - Depois dessa nossa discussão, eu me afastei da companhia do Adrien e ainda mais da Chloé. Não queria que nenhum dos dois pensassem que eu estava sentindo falta da companhia deles, então minha rotina se resumiu em casa-escola e escola-casa por um longo tempo, até conhecer Jacques e nos tornarmos amigos. - conta, estalando os dedos e encarando o nada. - Nesse tempo o Adrien conheceu o Nino e... Bem, o Alex que desde o segundo que botou os olhos na Chloé parecia interessado nela. Nunca entendi como ele deixou aquele cara se envolver com ela sem dizer nada.

— Hum, isso quer dizer que você não gosta dele? - pergunto, incerta. Ele balança a cabeça com um bico.

— Não precisamente. - responde, mas dá pra ver que ele tava mentindo. - Só não entendo como o Adrien simplesmente entregou ela de bandeja pro Zuberg. - o mesmo comenta, pensativo. Suspira.

— Mas enfim, com a influência da Jacqueline e a mudança da mãe de Paris para Nova Iorque ela meio que mudou da noite pro dia. Antes ela era gente como a gente, sabe? Ela se misturava com gente mortal como eu e você. Depois ela começou a se tornar arrogante, metida, vaidosa... A verdadeira Rainha da Escola, como hoje todo mundo lhe chama. Totalmente outra pessoa.

— Até onde ouvi falar parece mesmo uma abelha-rainha no meio de meras abelhas operárias como nós. - comento, revirando os olhos. Ele apenas concorda.

— Como disse, tenho muitos motivos para odiar Jacqueline. - Diego solta, amargo. - Mas ela não é culpada pela minha discussão com o Adrien e nem o que ele se tornou depois. Talvez sobre o comportamento cafajeste dele, mas quem levou ele pra esse caminho primeiro foi o Zuberg. - ele desvia o olhar de onde estava e me encara. - Foi quando aconteceu.

— Aconteceu o que? - questiono, confusa. Pela primeira vez desde que ele começou a desabafar eu realmente posso vê-lo triste.

— Aconteceu o acidente com a mãe do Adrien. - ele responde me fitando profundamente.

Era um dia qualquer pra mim. Eu estava em casa quando o hospital ligou para minha mãe com um pedido de emergência no pronto socorro com uma vítima de acidente de carro. É claro que como uma ótima médica do jeito que minha era ela saiu praticamente voando da nossa casa, e como eu não tinha nem noção da gravidade do assunto eu continuei o que estava fazendo: estudando. Só quando Jacques me mandou uma mensagem para ligar a televisão e eu vi a notícia no jornal é que minha ficha caiu. Peguei a primeira blusa que eu achei e sai correndo pro trabalho da minha mãe. Na portaria estavam repórteres de todos os jornais locais e eu quase não consegui entrar.

Quando pisei no andar de pronto socorro eu ouvi pessoas gritando, mas antes que eu pudesse ver quem estava aos berros Adrien me encontrou. Ele estava pálido, angustiado e desde o dia que nós discutimos e ficamos brigados eu senti pena dele.

— Diego, a sua mãe precisa salvar a minha mãe! - ele gritou, desesperado. Segurei seus braços, sem saber ao certo o que fazer. - Por favor, você precisa fazer alguma coisa, é a minha mãe! Você não pode deixar ela morrer assim Diego!

— Adrien, se acalme. - pedi, tentando manter a calma que o loiro já havia perdido. Ele continuou falando, mas eu não dei a mínima importância. - Você precisa se acalmar. Não tem nada que eu possa fazer agora, porque nem entrar lá dentro eu posso, eu não sou médico. Só podemos acreditar que a sua mãe consiga se recuperar. - digo, procurando acreditar naquilo também. - Tenho certeza que os médicos vão fazer o melhor pra salvar sua mãe. Só tente... Manter a calma. - peço, enquanto o corredor subitamente fica em silêncio.

— Se alguma coisa acontecer com ela eu não sei como eu vou ficar Diego. - o Agreste dissera me abraçando, ainda perdido em tudo aquilo. Eu não sabia o que fazer. - Eu amo minha mãe. Por favor salve ela.

— Eu... - balbuciei, atônito.

Foi quando deram a notícia. A mãe dele não tinha resistido aos ferimentos do acidente.

— Meu Deus... - sussurro, colocando as mãos sobre minha boca. Ele gira a cadeira de rodinhas e fica de costas pra mim.

— Quando alguém morre as pessoas sempre acham que a culpa é de alguém. - o escuto dizer, distante, sombrio. - Adrien achou que minha mãe não quis salvar Emilie por causa de todos os nossos desentendimentos. Ele acha que minha mãe, uma verdadeira profissional, que está ali para salvar vidas, deixou a mãe dele morrer de propósito.

— Mas isso é ridículo. - solto, indignada. - Sua mãe deve ter feito o melhor que conseguiu, é lógico que uma médica não faria uma coisa dessas de propósito.

Quando ele se vira eu entendo o motivo dele nunca ter dividido nada com ninguém. Era um fardo que o machucava sempre que lembrava. Seu olhar me perturbaria por um longo tempo.

— Acreditando ou não, essa é a história. - Diego devolve, sério. - Agora você a conhece e entende o porque nós dois jamais voltaremos a ser amigos de novo. Ele me odeia e eu o odeio ainda mais. É assim que a banda toca.

— Isso não é justo Diego. - rebato, com um olhar suplicante. Ele dá um suspiro fraco.

— A vida não é justa Laura. - ele retruca, ácido.


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