Steal Your Heart AU escrita por MusaAnônima12345


Capítulo 28
Coragem & Culpa


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, tudo belê?

Desculpem a demora para atualizar SYH, de verdade. As coisas andam bem corridas e eu mal tenho tempo para escrever mais, é bem difícil pegar no computador para estar aqui com mais frequência, porém eu sei que a culpa não é de vocês. Eu gostaria de compartilhar algo com vocês: uma colega muito querida daqui do Nyah, que eu conheci aqui e conversava bastante, faleceu já há algum tempo e só fiquei sabendo alguns dias atrás. Não sei se alguém a conhece (nós até escrevíamos juntas e por causa disso paramos), mas irei deixar o link do usuário dela daqui do Nyah para quem for curioso dar uma xeretada lá em memória dela. Foi realmente uma perda bem... Triste, mas eu creio que ela ficaria feliz em ver leitores novos admirando o trabalho árduo que ela fazia e publicava com tanto carinho. Agradeço a todos que vão tirar um tempinho e ir lá dar uma fuçada de leve, e para os que não forem lá também (não são obrigados), beleza?

Bem... É isso. Obrigada por terem lido até aqui, boa leitura e vou deixar o link dela nas notas finais. Tamo junto meus leitores. :/

Capítulo postado dia: 26/02/2019, ás 22:53



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Louis

O relógio estava marcando quinze para as duas da madrugada e eu, Kattie, Bridgette, Nino e Alya estávamos assistindo uma maratona dos filmes do Sherek na sala de estar até Alex e Chloé dizerem que já iam se retirar, sendo acompanhados por Bridgette logo em seguida, parecendo bem indisposta por algum motivo estranho. Nunca vi a irmã mais velha de Marinette tão chateada como estava e prometi para mim mesmo tentar descobrir o que acontecia no dia seguinte. Olho para a bacia de pipoca entre mim e Kat, enchendo minha boca com um movimento rápido. Por mais incrível que pareça a ruiva ainda está totalmente ligada e nem sequer pisca enquanto o terceiro filme estava praticamente chegando ao seu clímax. Já tanto Nino quanto Alya estão praticamente dormindo amontoados um encima do outro na outra ponta do grande e confortável sofá em forma de "L". Dou uma risada baixa e cutuco a garota de olhos azuis esverdeados ao meu lado.

— Dá uma olhada naqueles dois. - cochicho, apontando para ambos os morenos adormecidos. Ela segue a direção e cobre a boca para não rir. - Você ainda acha que não foram feitos um para o outro?

— Louis, para de ser tão maldoso. - ela cochicha de volta, divertida. - Por mais tentador que seja tirar uma foto e publicar na internet com a legenda "In Love Forever ", temos que levar em conta que é quase manhã daqui a pouco. Nem nós deveríamos estar acordados a essa hora, na verdade.

— Ah Kat, por favor. - retruco, com um sorriso de lado e pegando meu celular. - Você vai me agradecer por isso mais tarde. - asseguro, posicionando minha câmera num bom ângulo que pudesse pegar os dois no pulo.

Ela me dá um tapa no braço, mas já tirei a foto. Era hilário: da posição onde estávamos parecia que os dois estavam caindo no chão, bêbados enquanto a baba escorria pelos cantos da boca. Mandei imediatamente o flagra para o número da ruiva e guardei meu celular, indo acordar meu amigo e a melhor amiga de Kattie para irem dormir no quarto deles. Ambos realmente pareciam acabados de sono e só murmuraram um "boa noite", desaparecendo nas escadas escuras que levavam para o segundo andar. Balanço a cabeça e com um pequeno bocejo me achego onde estava antes. A brisa salgada que vinha do mar e entrava pelas janelas deixava um ar agradável na sala onde estávamos a sós. Encaro a canadense de soslaio e vejo que aos poucos o cansaço daquele dia tão agitado começa a lhe dominar.

Como pode ficar tão linda até com sono?

— Ei. - a chamo, quase num sussurro. Ela pisca algumas vezes e se vira pra mim. - Não acha melhor irmos dormir também?

— Mas o filme ainda não acabou. - protesta, choramingando. Arqueio uma sobrancelha.

— Você está ficando com sono também. - observo, e ela dá um suspiro esfregando os olhos.

— Não estou não. - rebate, fazendo uma careta. Teimosa.

— Está sim passarinho teimoso. - repito, me sentando ao seu lado e tirando o controle remoto e a bacia de pipoca de suas mãos. A mesma não me impede e posso ver o esforço para se manter acordada estampado em sua face. - Veja, se você insiste tanto, podemos ver esse filme amanhã de novo, só pra registrar. - argumento, me levantando e indo até a cozinha aberta poucos passos dali. Deixo a bacia com o fundo cheio de pipocas encima da ilha daquele cômodo e volto para o sofá, largando o controle remoto sob a pequena mesa de centro da sala de estar. - Vamos, você precisa dormir. - insisto, lhe estendendo uma das mãos.

— Não vou conseguir dormir. - Kattie responde de cabeça baixa. Estreito os olhos, sem entender. Ela parece meio sem graça, agarrando uma mecha de cabelo freneticamente. - Ultimamente venho tendo alguns... Pesadelos. Digamos que minhas noites de sono não foram muito produtivas nesses últimos dias.

— Bem... - começo, parando um pequeno instante para pensar. Ela me encara do sofá com aqueles de olhos ora de criança e outrora de alguém provocante. Tento me manter imparcial. - Se você quiser nós podemos ficar aqui na sala até você pegar no sono. Posso te fazer companhia até conseguir dormir. - sugiro, tentando não parecer nada mais que um ombro amigo. Lhe observo pensativa por longos instantes.

— Tem certeza que não vai causar problemas para você? - a ruiva me pergunta, indecisa. Dou ombros.

— Não ligo pro que os outros podem dizer. Eu ligo pra você, e saber que posso ajudar em alguma coisa é mais do que uma honra poder fazer isso. - afirmo, sem deixar minha voz vacilar. Ele cora levemente e antes que a mesma me visse do mesmo jeito vou rapidamente até as escadas. - Vou pegar alguns travesseiros e um cobertor pra gente, já volto.

Antes que Ferrugem pudesse dizer mais alguma coisa já estou correndo o mais silenciosamente que consigo pelos degraus rumo ao meu quarto no segundo andar da cabana, onde ficava o quarto de Adrien e do resto da família Agreste. É difícil entrar naquele quarto sem me lembrar de todas as lembranças da minha infância naquela praia. Todos os motivos de risada, de alegria, de família. De tudo o que ficou para trás. Trinco os dentes e pegando o primeiro cobertor que enxerguei na minha vista, saio de lá me escorando na porta atrás de mim. Estou ofegante. Sinto como se aquele simples cômodo tivesse arrancado todo o ar dos meus pulmões como um peixe fora d'água. Com o coração aos pulos e respirando fundo, desço as escadas ao encontro de Kattie novamente. Tento com todas as forças resistir a vontade de chorar com tamanha saudade que sentia dos meus pais, mas por mais que me esforçasse ela ainda conseguiria ver que tem algo de errado comigo a quilômetros de distância.

— Louis, você está bem? - a ouço me indagar enquanto arrumava - ou tentava, porque não parecia que iria dar muito certo - o sofá para virar um sofá-cama. Balanço a cabeça, um pouco nervoso.

— Estou. - digo, hesitante. - É só que... Entrar naquele quarto depois de tanto tempo é um pouco sufocante. - confesso, desistindo de tentar aumentar o espaço no sofá e me sentando no móvel. - Parece que vamos ter que dividir o sofá. - comento, desconversando, e ela dá um sorriso encabulado. - Tem algum problema pra você?

— Não. Nenhum problema. - ela responde, e para a minha surpresa, convicta, sem nenhuma hesitação na voz. Enrugo a testa. - Olhe: Marinette e Adrien podem achar que ninguém os viu saindo de fininho mais cedo, mas eu vi. Não quero ficar sozinha naquele quarto enorme tendo pesadelos enquanto ela tá em algum outro lugar dessa casa com o seu primo, fazendo sabe-se lá o que. - se justificou, balançando as mãos e olhando ao redor. - Não gosto de ficar sozinha em situações assim, se é que você me entende.

— Sim, eu entendo. - afirmo, lhe lançando um sorriso compreensivo. - Bem, se vamos dormir juntos aqui então vou colocar o próximo filme. Assim, se qualquer um de nós por acaso não conseguir dormir ainda dá pra distrair as ideias no meio da madrugada.

Ela balança a cabeça, ainda um pouco deslocada. Dou mais um bocejo e procuro algum filme para rodar no DVD. Por fim decido colocar "Os Incríveis" para tentar me manter acordado se Kat dormisse no meio da madrugada. Quando me viro a mesma está sentada no sofá com meu cobertor enrolado no corpo, encarando a televisão com uma cara pensativa enquanto eu me sento ao seu lado, me cobrindo com a outra banda do pano azul escuro confortável. Kattie deixa sua cabeça encostar no meu ombro e eu ajeito a minha na sua com um movimento leve. O silêncio nos envolve até certo ponto do filme onde a ruiva ao meu lado solta um suspiro exagerado, chamando minha atenção. Arqueio as sobrancelhas, expulsando o sono que ameaçava me dominar.

— O que foi? - pergunto com a voz meio rouca de sono, esfregando um dos olhos. Me afasto devagar da garota e a fito com o olho que não coça.

— Louis, posso fazer uma pergunta? - indaga, sem me encarar de volta. Murmuro o que devia ser um "sim" com um bocejo. Ela fica calada durante longos e suspira, o filme rodando na sala escura onde estávamos sozinhos. - Você... Você já sentiu algo por alguém, que você se sentia tão bem perto dela e que essa pessoa fazia o seu dia mais completo de tudo, e que você morria de medo de dizer o que você sentia com medo de assustá-la e ela se afastar, sendo que os seus sentimentos talvez só fossem coisa da sua cabeça?

— Já. - respondo quase que automaticamente. Seus olhos encontram os meus, parecendo surpresos. - Eu prefiro manter essa pessoa por perto e guardar o que sinto pra mim, do que perdê-la pra sempre com um ato impulsivo. - me justifico, lhe analisando com os olhos.

— Mas o que seria da vida se nós não nos arriscássemos por ela? - Kattie questiona, se ajeitando mais perto de mim no sofá. Continuo em silêncio. - Sentimentos não devem ser apenas protegidos Louis. As vezes devemos ter coragem de colocá-los para fora. - complementa, os tons de azul e verde em seus olhos cintilando com a luz que vinha da nossa janela.

— Eu não sou uma pessoa corajosa como você. - rebato com um sorriso de canto. Ela balança a cabeça e me encara com uma cara marota. Arqueio uma sobrancelha. - Prefiro proteger o que tenho para que ninguém roube de mim, mas... Talvez você possa mudar isso.

— Como? - a ruiva pergunta, tentando esconder um meio sorriso e uma meia risada. Sua voz sai quase num sussurro de tão perto que estamos um do outro.

— Me mostre como ter coragem - sussurro de volta, sentindo meu coração acelerar.

Mal posso acreditar quando Kattie simplesmente se estica mais um pouco na minha direção e encosta seus lábios nos meus. Seus dedos estão trêmulos enquanto seguram meu rosto com delicadeza. Parece nervosa porque eu não fiz nada até ali, mas eu estava tão feliz, surpreso e assustado ao mesmo tempo que não conseguia nem mesmo me mexer. Gente, qualquer um no meu lugar ficaria sem reação se a garota que você gostasse há um tempão simplesmente gostasse de você também e te lascasse um beijo do nada. Pisco duas vezes e então fecho os olhos, segurando sua nuca e retribuindo aquele gesto da maneira que ela merecia: com ternura. A puxo para mim mais um pouco e sinto seus braços abraçarem o meu pescoço, seus dedos desesperados entre os meus fios castanhos quase negros, me bagunçando por completo. De repente ela se afasta de mim, me encarando com um sorriso estranho. Levo um susto quando aquela maluca simplesmente pula encima de mim e me joga pra trás como se fosse um saco de batatas. Vagamente lhe comparo a uma leoa pulando encima de uma presa, pronta para lhe enfiar os dentes no pescoço e matar a mesma. Não consigo controlar minhas risadas e logo nós dois estamos rindo da situação que estávamos enrolados: um sofá minúsculo comigo embaixo de uma ruiva louca me agarrando em altas horas da noite.

— Por favor, me diga que não estou sonhando. - murmuro, parando para respirar e encostando minha testa na da mesma. Ela dá uma gargalhada fraca.

— Se isso é um sonho, então eu não quero acordar nunca mais. - Kat afirma, escondendo o rosto na minha clavícula e roçando seu nariz na minha pele, me fazendo estremcer.

Suspiro, sem conseguir evitar um sorriso brotar em minha cara. Posso sentir seu coração batendo devagar, como se ela estivesse quase dormindo. Acaricio seus cabelos longos e agora desalinhados por longos minutos enquanto o senhor Incrível fazia seu primeiro contato visual com Mirage.

— Como você sabia que estava falando sobre nós? - Kattie indaga subitamente.

— Bem, eu não sabia. - confesso, deslizando uma das mãos em sua cabeça. Passo meus dedos entre os fios fazendo círculos em seu couro cabeludo. - Mas eu sabia que estava apaixonado por você há muito tempo. Como disse, não queria te perder caso não sentisse o mesmo por mim então preferi continuar perto de você apenas como seu melhor amigo. - me calo subitamente, arregalando os olhos. - Nós ainda vamos ser melhores amigos não vamos?

Ela se levanta, apoiando-se no meu tórax e me encara com os olhos azuis sérios, mas cintilando de um jeito que só conseguia enxergar nela. Seu cabelo comprido cai para os lados, destacando sua beleza ainda que esteja cansada e despenteada. Analiso seu rosto, ansioso.

— Eu não sei, nunca cheguei na parte que o garoto diz que gosta de mim. - revela, um pouco sem graça e minha ansiedade desaparece. Dou um suspiro e acaricio seu rosto com as costas da mão. - Acho que nós podemos continuar sendo amigos... Quer dizer, é claro que vai ter uma diferença agora que... Bem, depois disto que aconteceu e... hã...

— Ei. - lhe interrompo e ela imediatamente se cala. - Entendo que ainda esteja um pouco desorientada. Não estou diferente. Vamos apenas dormir um pouco e a partir de amanhã nós decidimos o que vamos fazer em respeito disso, tudo bem? - lhe pergunto segurando um lado de seu rosto.

Lentamente ela assente, e eu dou um suspiro cansado. Abro meus braços um pouco mais e lhe abraço com força, sentindo seu coração quase na mesma posição do meu. Juntos nos ajeitamos no sofá enquanto puxo o cobertor para nos protegermos do frio que entrava pelas janelas abertas. A ruiva se aninha no meu peito e eu apoio minha cabeça em sua testa, depositando um beijo ali. Continuei fazendo cafuné em seu cabelo por um bom tempo, até observar sua respiração se tornar profunda e lenta. Kattie dormira, então não teria problema algum desfrutar daquele prazer imenso que era ter a mulher da minha vida ao meu lado, ali, dividindo o mesmo lugar para dormir comigo. Passo meus braços ao seu redor e a puxo para perto para ter certeza de que não desaparecesse quando acordasse na manhã seguinte. Aos poucos, o calor do seu corpo no meu, o cansaço e todas as noite mal-dormidas que tivera desde que meus pais haviam morrido colaboraram para que o sono me dominasse. Em nenhum momento a larguei de meus braços, pelo contrário. Aquela foi a primeira vez em anos que consegui dormir sem nenhum pesadelo me atormentando.

Eu tinha perdido meus pais. Não iria deixar ninguém tirar Kattie de mim também. Nunca.

Estou disposto a lutar por ela. Sem medir esforços.

***

Alex

Chloé está dormindo na cama a minha frente, uma das vistas mais belas que já presenciara em toda a minha vida. Lhe encaro, tentando absorver cada vez mais sua face para não me esquecer de nenhum detalhe. Eu estou acordado há horas, sem conseguir dormir, porém é impressionante a diferença que a mesma me faz sentir estando por perto. Sua presença me dava motivos para continuar ali, vivo, sem abandoná-la por qualquer outra coisa. Nunca vou me cansar de ver como sua beleza é grande. Me levanto da poltrona do canto do quarto em que estávamos e vou até a mesma, lhe depositando um beijo no topo de sua cabeça. Ela nem mesmo se move: devia estar bem longe dali.

É melhor que ela fique bem longe dessa loucura mesmo. O que os olhos não veem, o coração não sente.

Suspiro e me levanto, indo na direção da janela. O quarto que dividia com Chloé tinha vista para a paisagem oposta para o mar, deixando à vista apenas a pequena trilha que o ônibus pegara para nos trazer até a cabana cercada por várias árvores de vários tipos e com flores de várias cores diferente. O vento balançava os galhos e espalhava as pétalas da árvore mais próxima da casa para dentro do jardim, pintando-o de um amarelo prateado pela lua e as estrelas no céu. Com o menor barulho possível abro o vidro da mesma fazendo aquela brisa entrar e bagunçar meu cabelo. Resmungo mentalmente por não tê-lo cortado ainda: está quase na altura dos meus ombros. Quando olho meu reflexo na janela me dou conta de como estou péssimo. Mesmo debaixo da maquiagem feita por corretivos e mais corretivos, minhas olheiras continuavam bem aparentes debaixo dos meus olhos.

Mas o que fazer? Nada. Por isso você continua nesse estado.

Pendurado em meu pescoço estava o pingente de cristal dourado que cintilava como uma estrela no quarto coberto pela escuridão da noite. É difícil coordenar meus pensamentos, a maior parte me assombra e me assusta. De repente meu cérebro me leva até aquele dia específico que nunca deixara de me rondar por mais que tentasse esquecê-lo. O dia que minha vida virou radicalmente de cabeça para baixo.

O despertador tocou no mesmo horário de costume: seis da manhã. Me levanto da minha cama e me arrumo como todos os dias para ir a escola, comemorando que logo toda aquela loucura estudantil iria acabar. Olho no espelho e esfrego o rosto cansado de ficar estudando até tarde.

— Alex, você vai se atrasar! - ouço a voz da minha mãe no andar debaixo, provavelmente vindo da cozinha.

— Estou indo! - grito de volta, agarrando minha mochila e enfiando minhas coisas lá dentro de qualquer jeito. Se perdesse minha carona com minha mãe chegaria muito atrasado na aula e minha apresentação era justo naquele horário.

Desço as escadas de casa correndo, indo em direção a cozinha onde meus pais estavam terminando de tomar café da manhã. Dou um beijo na bochecha de minha mãe e um "bom dia" para meu pai que dobrava o jornal para continuar lendo alguma matéria importante. Incrível como ele nunca se deixara abalar por quase ninguém mais ler esse tipo de coisa hoje em dia. Duas torradas e um copão de café param na minha frente e me apresso para comer logo.

— Seu pai lhe disse que aquela descoberta no sítio arqueológico foi um sucesso? - minha mãe pergunta, lavando os pratos que provavelmente ambos usaram. Balanço a cabeça, com a boca cheia.

— Jean, não acredito que não contou pra ele. - ela o repreende com uma careta.

— Eu estava esperando o momento certo. - o mesmo se defende, com uma risada. Arqueio uma sobrancelha. Meu pai é muito parecido comigo em várias áreas da minha personalidade, então não esperava coisa diferente vindo dele. - Há dois dias atrás nós encontramos vestígios arqueológicos de uma população primitiva com culturas muito semelhantes a cultura chinesa. Meus colegas de trabalho e eu concordamos que pode ser da mesma época que essa civilização surgiu na Terra, talvez até mais antiga.

— Uau. - solto, engolindo um pedaço de torrada aos engasgos. - Mas é algum objeto específico ou também são só vestígios? - questiono bebendo um pouco do meu café.

— Essa é a melhor parte. - ele se apruma na cadeira, entusiasmado por compartilhar com mais alguém seus conhecimentos sobre sua profissão favorita: arqueologia. - O que encontramos foram três vasos intactos filho, totalmente inteiros, em cores e estilos totalmente distintos um do outro. - estreito os olhos prestando atenção. - Não sabemos ao certo o que significa exatamente, mas há uma possibilidade de ser uma espécie de mapa para mais pistas dessa civilização totalmente nova.

— Isso quer dizer que o senhor acha que pode haver um tesouro ou algo do tipo escondido em algum lugar? - brinco com um sorriso irônico. - Achei que estivesse um pouco velho para histórias de piratas pai.

— Alex. - minha mãe diz, irritada. Me viro para encará-la secando suas mãos num pano de prato enquanto termino de tomar meu café apressado. Todas minhas características físicas vinham dela: a cor dos olhos, do cabelo, as mãos delicadas e firmes, o sorriso, entre muitas outras coisas. - Você noção do quão importante isso pode ser pra História? Podemos estar falando de inúmeras hipóteses para a evolução da sociedade desde os tempos da Antiguidade. - ela está visivelmente animada com aquela descoberta do meu pai. - Meu Deus, fiz questão de marcar uma reunião depois da escola para ver pessoalmente esses vasos. Talvez eu consiga descobrir alguma coisa e possa contribuir com os diretores do Museu do Louvre futuramente.

— Menos Lorena, não se esqueça que quem os encontrou fui eu. - meu pai a lembra com um sorriso e uma arqueada de sobrancelha própria dele. - Parece que está mais radiante do que eu com essa última escavação.

— Querido, você sabe como a História é importante. - rebate, cruzando os braços e lhe encarando desafiadora. - Já se esqueceu como nós terminamos uma discussão assim na última vez?

— Com vocês dois quase presos pela polícia. - respondo, me levantando e esticando as mãos rapidamente. - E antes que vocês discordem e comecem outra dessas, hã... Estamos atrasados. - digo, apontando para o relógio da sala acima da porta de entrada.
No caminho ainda consigo ouvir um "na volta conversamos sobre isso" e reprimo uma risada. Só meus pais mesmo.

Mordo o lábio inferior com força para tentar evitar a tristeza de me atingir e me preocupar com a dor. Logo sinto gosto de sangue e então a dor ocupa meus pensamentos. Me lembraria daquilo para sempre. Nesse tempo eu cheguei a namorar Jacqueline. Ela tinha sido o que muitos tolos chamam de "amor a primeira vista": uma menina linda, com um corpo escultural, olhos que tanto me controlavam quando chegavam a me levar a fazer loucuras e uma lábia dos infernos. Aquele dia era exatamente o dia que nós completaríamos dois meses de "namoro", porém, eu havia descobrido que a espanhola estava metida em coisas além dos meus limites. Ficara sabendo que começara a sair com gente barra pesada e era lógico que não queria me envolver naquilo de jeito nenhum. Assim que cheguei na escola naquela manhã lhe procurei. Nós terminamos.

Dois dias depois, quando era a data marcada pelos representantes do Museu do Louvre para que minha mãe fosse averiguar a origem dos tais três vasos e tentar descobrir alguma coisa, meus pais sofreram um acidente. Um carro desgovernado havia perdido os freios numa descida que dava para o atalho que meu pai sempre usava para chegar na Museu e ambos se chocaram com violência. Uma família de três estava no veículo que bateu no carro do meu pai.

Eu estava no segundo andar do hospital, onde haviam me mandado esperar até que pudessem me liberar para ver meus pais. Eu tinha saído que nem um verdadeiro louco da minha escola assim que meu celular tocou com um policial dizendo sobre o que tinha acontecido. Os médicos e enfermeiros não me diziam absolutamente nada e eu estava quase arrancando meus cabelos de tanto nervoso. O corredor estava pouco movimentado, mas mesmo assim parecia que ninguém parecia me notar ali, nas cadeiras, de cabeça baixa e batucando os pés com ansiedade a espera de alguma notícia, uma qualquer, mas que me disse algo do estado dos meus pais. Era quase como se eu fosse invisível.

Quase.

— Senhor Alex Zuberg? - alguém chamou e eu rapidamente levantei minha cabeça. Era uma mulher de mais de cinquenta anos de uniforme branco. Enfermeira. Balanço a cabeça freneticamente. - Seus pais estão internados na Unidade de Terapia Intensiva. Eles sofreram um acidente gravíssimo, perderam muito sangue e seu pai foi submetido a uma cirurgia de última hora.

— Tem alguma coisa que eu possa fazer? - pergunto, me levantando, nervoso. - Qualquer coisa, que seja, por favor, vocês precisam salvar os meus pais.

— Estamos fazendo o possível senhor Zuberg. - a mulher responde, com uma calma que me deu nos nervos. Ela ajeita os óculos com um suspiro. - Entretanto a cirurgia que está prevista é complicada e tem baixíssimas chances de recuperação, sem falar no custo por estar se tratando de um hospital renomado como esse em que estamos. - respiro fundo, para tentar manter a calma.

— Isso quer dizer que vocês não vão ajudar meu pai? - questiono, exaltado. A enfermeira franze a testa.

— Pelo contrário, não pouparemos esforços. - responde, enfiando as mãos nos bolsos. - Quando estiverem fora de risco, então falaremos desse custo. - acrescenta, virando as costas e me deixando ali no meio do corredor, impotente do futuro da vida dos meus pais.

Desabo na cadeira atrás de mim, sentindo meu coração na boca. Como iríamos pagar um tratamento dessa proporção? O emprego dos dois não ajudava nem nossa casa direito, quem dirá pagar uma hospedagem no hospital mais importante da França? Esfrego meu rosto, repetindo para mim mesmo para não chorar. Precisava me manter firme, pois se caísse, não iria me levantar mais. Sinto a cadeira ao meu lado balançar levemente, mas não me importo. A vida da minha família estava em jogo.

— Existem várias maneiras de garantir a sobrevivência de nossos familiares, não apenas através do sistema capitalista que está dentro até mesmo dos hospitais. - uma voz feminina solta, calma e decididamente. Tento ignorar, pensar que não era comigo, mas tal pessoa insiste. - Não pense que não estou vendo você me ignorar. Sabe que estou falando com você mesmo.

Viro minha cabeça lentamente para o lado e a observo. Era uma mulher alta, muito bem vestida com um cabelo acima dos ombros, loiro, usando óculos escuros que cobriam boa parte do seu rosto. Enrugo minha testa, sem entender. A mulher dá um suspiro, encarando a tela de um pequeno tablet, sem dar muita importância.

— Do que está falando? - indago, confuso com aquela conversa.

— Depender de um órgão do Estado nem sempre nos confere o melhor resultado, na verdade é 1 em 1 milhão. - ela diz, balançando a cabeça com descaso. - Olhe ao redor. Quantas pessoas que precisam de atendimento continuam na fila de espera? Quantas pessoas precisam pagar por uma consulta para não morrer? Para checar o que acontece com ela? - a mesma argumenta, e eu deixo meus olhos vagarem. - Estou aqui para lhe propor um acordo.

— Que tipo de acordo? - rebato.

— Ora, simples. - a loira responde, esticando a mão livre com um aceno. - Eu me responsabilizaria por todos os gastos que seus pais necessitarem pelo tempo que permanecerem aqui e, em troca, você me fará um favor. - abaixa o tablet de suas mãos lentamente. - Não é isso que você quer? Seus pais livres de perigo, não importa o que seja, você faz?

— Sim. - respondo, um pouco hesitante. - Eu faria qualquer coisa por eles.

Ela sorri. Não um sorriso reconfortante. Nem um sorriso empático. Mas um sorriso frio, quase calculando algo diante de seus olhos. Sem dizer mais uma palavra a mesma se levanta e vai embora, indo pro final do corredor onde um brutamontes estava parado feito uma estátua aparentemente a sua espera. Ela simplesmente vai embora.

Respiro fundo. Não passava um dia sequer que eu não me culpava por ter me metido em toda aquela roubada, ainda que fosse por um motivo nobre como o que eu tinha. Talvez se eu não tivesse dito aquilo poderia ter me livrado de toda essa armação da Stella. Poderia arrumar dinheiro de algum outro lugar, não dependeria do seu dinheiro sujo para pagar a recuperação dos meus pais no hospital.

Agora eu mal consigo ver meus pais e nada me tira da cabeça que eu sou o culpado por tudo o que aconteceu a eles. Tudo começou a dar errado depois que terminara com Jacqueline, ironicamente.

Estreito os olhos ao pensar nisso. Atrás de mim a Bourgeios se remexe debaixo do cobertor e eu fecho um pouco a janela, cobrindo-a levemente com a cortina fina do quarto. Bagunço meu cabelo e me deito ao lado da loira, sendo finalmente invadido pelo sono. São quase cinco da manhã. Agarro a garota por suas costas e a envolvo com meus braços, sentindo seu calor se espalhar rapidamente pelo meu corpo, me aquecendo rapidamente do frio da madrugada do qual estava exposto. Afasto seus fios loiros da nuca e lhe beijo ali, descansando meu rosto em seu pescoço com um pensamento teimoso que persistia em colocar dúvida dentro da minha cabeça depois de tanto tempo.

Será que Jacqueline e a Rainha do Estilo têm algo em comum? Não pode ser apenas uma coincidência tão absurda, ou pode?

E se elas realmente tiverem algo a ver com a outra, a pergunta seria: por quê?


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Notas finais do capítulo

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