Mais que uma escolha escrita por nanacfabreti


Capítulo 3
Flores, doces e champanhe...




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/747576/chapter/3

 Acabamos com os trabalhos por volta das onze da noite, antes das cinco da manhã de sábado já estávamos em pé, carregando o caminhão com todo o material que usaríamos.

—Meu Deus! É flor que não acaba mais —reclamei enquanto pela milésima vez eu entregava arranjos enormes para meu pai.

—É Maria Cecília, essa festa vai ser uma vitrine e tanto para nossa floricultura — ele afirmou com orgulho, depois, travou a porta do caminhão para que seguíssemos a viagem.

 Cochilei pelo curto trajeto, mais para fugir de perguntas sobre Marcus do que propriamente por estar com sono.

Fazia um dia bonito e ensolarado, isso era bom, afinal, seria uma cerimonia ao ar livre.

—É aqui...chegamos —minha mãe afirmou assim que entramos em uma rua sem saída.

 A casa onde aconteceria o casamento estava mais para uma mansão, ocupava meio quarteirão, era a última da rua.

—Agora entendo o porquê de tantas flores, esse lugar é enorme! — Surpreendi-me já cansada por antecipação. Sabia que teríamos muito trabalho pela frente.

 Meus pais haviam contratado cinco outras pessoas para trabalhar naquele evento e mesmo assim, em alguns momentos cheguei a pensar que não daríamos conta do recado.

 Perto das dez da manhã começou a movimentação na casa que parecia ser a principal. Um sobrado branco com sacadas que davam para a área onde aconteceria a festa. Um grupo de rapazes e garotas na faixa dos seus vinte anos, passeava por entre nós vestindo apenas trajes de banho e revezavam-se entre momentos na enorme piscina da casa e partidas de golfe.

—Daqui á pouco eles vão ter que desocupar toda aquela área —minha mãe comentou comigo enquanto eu finalizava mais um arranjo de orquídeas, o centésimo, pelas minhas contas.

 —Vamos decorar a piscina também? —indaguei correndo os olhos por onde dois rapazes acabavam de passar antes de saltar dentro d’agua.

 —Somente com velas flutuantes e aqueles vasos altos — ela apontou para onde minhas costas davam —,vamos colocar um em cada canto da piscina.

—Entendi... —cometei imaginando se eu tinha separado velas o bastante.

 Ela olhou para o relógio em seu pulso e depois voltou-se  para mim.

—Vá até lá Lia, avise-os que dentro de uma hora precisaremos que eles desocupem aquele espaço.

 —Sério mãe? Justo eu? —Olhei para onde estavam três rapazes que ainda se divertiam ali.

—Seja profissional, Lia. —Ela fez uma carranca. —Vá até lá e avise-os.

Eu sabia que não podia contrariar minha mãe. Respirei fundo e caminhei até os rapazes. Antes mesmo que eu dissesse alguma coisa, um deles cutucou o outro com o cotovelo.

—Bom dia —cumprimentei-os formalmente correndo os olhos pelos três belos rapazes.

 O primeiro que notou minha aproximação era moreno, não muito alto e tinha braços fortes e musculosos, certamente era adepto á academia. Ele saiu da água e sentou-se em uma das espreguiçadeiras de ratam que ladeavam todo o entorno da piscina, depois fixou os olhos em mim, encarando-me de forma intimidadora.

 Os outros dois tinham a pele clarinha e poderiam ser irmãos, os olhos verdes claros eram iguais, o tom dos cabelos também era bem parecido, deviam ter dois ou três anos de diferença. Eles permaneceram dentro da piscina e assim como o moreno, voltaram suas atenções para mim.

 —Estamos atrapalhando o trabalho de vocês? — o mais velho perguntou-me gentilmente.

 —Não —balancei a cabeça negativamente —, na verdade eu apenas vim avisar que dentro de uma hora começaremos os trabalhos aqui.

—Dentro de uma hora? —o moreno indagou com um sorriso no canto dos lábios.

—Isso mesmo. —Virei-me para ele.

 O mais novo soltou um risinho malicioso.

—Denis...olha lá cara! —ele repreendeu o amigo, e eu fiquei sem entender.

—Bom, é só isso... —avisei toda sem jeito, já me preparando para sair dali. —Obrigada!

 Ainda pude ouvir as piadinhas vindas de algum dos três enquanto voltava ao meu posto. Algo do tipo: “ Vamos gastar essa hora de um jeito mais divertido!”

 Eu nunca fui do tipo que levava desaforos para casa, mas estava lá á trabalho e por isso, tão somente por isso, não voltei até eles e falei como é que eles deveriam gastar aquela uma hora. Olha que eu estava cheia de ideias...

 —Idiotas! —Foi tudo o que pude dizer, claro que num tom quase que inaudível.

 Eu estava finalizando as flores que iriam nos vasos da piscina, quando vi os três saindo de lá, isso uma meia hora depois da minha ida até eles. Senti uma alivio sem igual, já podia imaginar minha mãe me mandando voltar a falar com eles.

 —Lia, vá até o caminhão e pegue as caixas das velas—ela já me delegava outra função. —Preciso de todas elas.

 Estava com uma penca de orquídeas brancas nas mãos e terminei de colocá-las dentro dos vidros que decorariam as mesas. Dez minutos depois lá estava eu, dentro do caminhão olhando para três grandes caixas.

 Arrastei uma a uma para perto da porta, em seguida ajeitei-as no chão. Embora não fossem muito pesadas, eu não me atreveria a tentar levar todas de uma só vez.

—Eu te ajudo... —Uma voz masculina veio das minhas costas, enquanto eu me abaixava para pegar a primeira caixa de velas.

 Era ele, o mais velho dos rapazes parecidos, e dessa vez estava vestido. Usava shorts e camisetas claras, o cabelo ainda úmido estava coberto por um boné vermelho, com o símbolo da Ferrari bordado na frente.

—Pode deixar, eu estou acostumada. —Tomei a caixa em minhas mãos sentindo meu rosto queimar.

—Olha —ele se colocou em minha frente —, quero pedir desculpas pela coisa toda lá na piscina...o Denis é um idiota metido a Dom Juan.

—Tudo bem, eu não me incomodo. — Dei de ombros.—Sei lidar com pessoas como ele.

 Ignorando o que eu havia dito quanto a sua ajuda, o rapaz abaixou-se e pegou as duas caixas nas mãos, acelerando os passos para me acompanhar. Não tive como não me lembrar do Marcus e das varias vezes em que ele foi até a floricultura para me ajudar. Meu coração voltou a sangrar.

—Essas vão lá pra baixo também? —Ele estava logo atrás de mim.

Parei.

—Sério, pode deixar que eu levo tudo. Esse é meu trabalho . — Encarei-o quando parou do meu lado.

Ele balançou a cabeça e sorriu, era mesmo um rapaz muito bonito, daqueles que deveriam vir com uma etiqueta escrita: “cuidado, perigo!”

—Deixa eu te ajudar... — ele fechou um dos olhos. —Como é seu nome?

—Maria Cecília —respondi um tempo depois de analisar se havia algum motivo para não dizer.

 —Então, Maria Cecília, eu estou de bobeira, de forma que não me custa nada ajudar você! —Ele voltou a caminhar. —Á proposito, meu nome é Alexandre, mas pode me chamar de Alex.

   Achei bastante estranha a atitude dele, só que eu não podia fazer nada para impedi-lo.

 —Posso colocar aqui? —Ele apontou para a mesa sob a tenda em que estávamos trabalhando.

—Pode —afirmei, largando ali também a caixa que eu segurava.

Alexandre ficou me olhando, uma das sobrancelhas estava levantada.

—Tem mais alguma coisa que eu possa fazer?

—Não. —Fui direta. —Você já fez muito, me poupou de voltar lá por mais duas vezes. De qualquer forma, eu agradeço.

 Ele não saiu do lugar, abriu a boca como se fosse dizer alguma coisa e depois desistiu. Aquela situação estava me deixando desconcertada, corri meus olhos à procura dos meus pais, certamente se me vissem ali de conversa fiada, chamariam minha atenção.

 —Sabe o que é, eu estou sem nada pra fazer até a hora do casamento —ele encolheu os ombros —, então, eu posso carregar outras caixas, ou amarrar essas coisas...—Alexandre apontou para as fitas.

 Eu ri, não sabia o que  responder, ele estava sendo insistente  e além de tudo, tomando meu tempo.

—Algum problema, Lia? — Minha mãe surgiu como uma luz no fim do túnel.

 —Não. —Virei-me para ela.

 —Bom dia, eu sou Alex Collerman, irmão da noiva. —Ele estendeu a mão para cumprimentar minha mãe.

  Ela apertou a mão dele e correu os olhos por mim com um certo ar de desespero.

 —Sim Alex...Bom dia. —A voz denunciava sua tensão. —Tem algo errado... Algum problema?

—Não. —Ele balançou a cabeça, tentando desfazer o mal entendido. —Eu só estava oferecendo ajuda, estou de bobeira, então pensei que pudesse ser útil para vocês.

 —É mãe, e eu estava dizendo a ele que embora seja muito gentil de sua parte, não há necessidade. —Escolhi cada palavra oscilando meus olhos entre Alexandre e minha mãe.

 Ela ensaiou um sorriso.

—Claro! É isso mesmo...É muito gentil, mas nossa equipe vai dar conta de tudo.

—Estou certo disso. —Ele caminhou ficando mais próximo de mim. —Só que eu tenho mais umas cinco horas de ócio e acho que se eu ficar aqui, esse tempo vai passar mais rápido.

 Deus! Aquilo estava se tornando no mínimo constrangedor, e sabendo que Alexandre era irmão da noiva, as coisas só pioravam.

 Minha mãe acabava por ficar na mesma situação que eu, tanto que olhou-me desesperada, como se eu pudesse socorrê-la.

—Bem, acho que se ele quer mesmo ajudar... —Comecei a dizer sem ter ideia de estar acertando.

 —Isso! —Alex me interrompeu. —É só me dizer como.

 Então foi assim que passei uma parte da manhã e toda a tarde tendo como meu ajudante, Alexandre Collerman, o irmão da noiva.

 Quando concordei que ele ficasse , imaginei que em um quarto de hora o rapaz se encheria e acabaria por dar uma desculpa qualquer para desaparecer. Não foi isso que aconteceu. Sem muito saber como lidar com aquela situação, no inicio pedi para ele separar cinco flores de cada cor para que eu fosse finalizando os buquês das damas de honra. Em seguida ele ajudou a dar laços em arranjos e a separar os vidros por tamanho.

—Deve ser muito legal trabalhar com isso, não é? —ele questionou-me enquanto eu colocava o que estava finalizado, dentro das caixas que seguiriam para o salão de festas.

 —São flores, não é? — Fui rasa. —Não é ruim chegar ao fim do dia cheirando a mistura do aroma que elas têm.

 —E você conhece todas pelos nomes?

 —A maioria sim —estranhei o fato dele ainda estar querendo manter aquela conversa sobre flores — ,agora meus pais sabem até a geração antepassada de cada espécie. —Brinquei.

Alexandre riu.

—Você tem uma preferida? —Ele caminhou para sentar-se ao meu lado.

“Que droga!” — praguejei-me por ter me lembrado de Marcus, mais uma vez. —Peônias — amarguei a palavra, enquanto me lembrava do arranjo que ele comprou na nossa primeira vez.

  —Desculpa, mas, quais são elas? —Alexandre correu os olhos pelos baldes de flores.

 —Sua irmã não as quis para sua decoração. Oitenta por cento das flores aqui são orquídeas.

 —Quando eu digo que a Chiara não sabe escolher as coisas, ela briga comigo! —Ele usou um tom escarnio.

 Sorri balançando a cabeça.

 —Na verdade ela teve muito bom gosto, orquídeas são flores maravilhosas —elogiei com sinceridade.

 Alexandre pela décima quinta vez, colocava-se a me observar sem dizer nada, em seu rosto, a expressão era a de quem assiste a um filme dos mais interessantes.

—O que foi? —perguntei já sem concentração no que estava fazendo.

Ele tirou o boné, os cabelos claros agora estavam secos e bagunçados. Ele coçou a cabeça e recolou o acessório virado para trás. Parecia um garoto.

—Quantos anos você tem? —Alexandre finalmente voltou a falar.

—Por quê?

—Sei lá...Só para saber mais de você. —Ele ainda me encarava.

 Balancei a cabeça.

—Deixa eu te avisar uma coisa —comecei a falar com calma — o nosso trabalho já está pago, sua colaboração aqui não vai abater valor algum.

Alexandre riu deliberadamente.

—Que pena! —Ele franziu a testa. —E eu aqui perdendo tempo, enquanto podia estar roubando docinhos.

 Foi minha vez de rir.

—Nossa, é verdade, docinhos de casamento são os melhores. —Dei conta de que estava morta de fome.

—Eu já volto. —Alexandre se levantou num rompante e saiu andando rumo ao salão.

 “Que cara legal!” —pensei livre  de sua presença. De qualquer forma ainda me parecia estranho seu empenho ficar me fazendo companhia.

  Perdida em meus pensamentos, cheguei a achar que ele não voltaria, mas antes finalizar minhas conclusões, Alexandre se aproximava com um prato de doces nas mãos.

—O que acha? —Ele colocou –o sobre a  mesa e aquilo parecia a visão do paraíso, doces de todos os tipos  estavam ali.

—Uau! —Consegui dizer sentindo minha boca encher d’agua.

—Roubei para nós dois. —Ele voltou a se sentar ao meu lado enquanto já comia um brigadeiro.

Não resisti, comecei a atacar aquele prato de maravilhas. Era um mais gostoso que o outro.

 —Eu amo brigadeiro! —confessei tentando me decidir entre um camafeu e uma trufa.

 —Eu gosto de todos. —Ele apenas enfiava os doces na boca sem escolher.

—Olha Alexandre, essa foi de longe a melhor coisa que você fez hoje! —elogiei sentindo o efeito da glicose em meu sangue, estava até mais animada.

—Yes! —Ele deu um soco no ar, como se comemorasse. —Até que enfim uma dentro!

 Não tive como não rir.

—O que eu falo pra você Alexandre? —Balancei a cabeça me isentando de qualquer pensamento.

 —Alex, por favor...E de verdade, não são palavras que eu estou querendo de você. —Ele ficou sério.

 Meu rosto ferveu. Ele estava me cantando? Tudo bem que se fosse mesmo, até que estava sendo de um jeito fofo. Ajudando-me, trazendo doces, mas mesmo assim eu não me senti confortável com aquela constatação.

—Dinheiro? — Tentei me desvencilhar. —Seu pagamento deve ser reivindicado com aquela senhora de preto, ali. —Apontei na direção da minha mãe.

 Ele balançou a cabeça e sorriu com o canto dos lábios.

—Maria Cecília...você é problema, hein...? —ele sussurrou para si mesmo.

Seguimos então assim, ele e suas cantadas veladas, eu me fingindo de boba, mas uma coisa eu precisava admitir: Aquele rapaz vinha sendo uma grande ajuda para mim, em todos os sentidos.

—Alex, já que em breve você vai abandonar seu posto... — acabava de ter uma ideia brilhante —Não acha que podia me ajudar a colocar as velas na piscina?

—Ah! Agora eu senti que você realmente precisa de mim. —Ele estreitou os olhos.

 Baixei a cabeça resignada.

 —É, confesso, eu preciso de você.

 Ele respirou fundo e deu de ombros.

—Peça o que quiser, eu não negaria nada á você.

Assim lá foi ele, Alex entrou na piscina e enquanto eu acendia as velas, ele delicadamente as colocava na água, cuidando para que não se apagassem. Realmente seria um baita trabalho se ele não estivesse ali dentro.

O sol começava a se pôr quando ele se despediu, seria um dos padrinhos, tinha que se arrumar.

—Vocês ficam durante a cerimonia, não é?

—Normalmente não, mas como o religioso e a festa vão acontecer aqui, temos que ficar para remanejar algumas coisas —expliquei.

—Certo. Isso é bom... —Ele ficou explicitamente feliz. —Então nos vemos daqui à pouco.

—Ok. —concordei. —E obrigada, por tudo...você foi..

Ele voltou dois passos ,colocando-se bem perto de mim.

—Eu fui...?

Voltei a rir.

—Ótimo, eu diria.

Alex olhou para cima como se decidisse se aquilo era bom ou não.

—Ótimo? Acho que já é um bom começo. —Ele partiu então.

Olhei para Alex enquanto se ele afastava de mim e fui tomada por uma sensação boa, mas não por completo. Era como se algo estivesse fora do lugar, em menos de um segundo descobri do que se tratava.

 Por bem não tive tempo de me abalar, faltava pouco para a cerimonia e estávamos dando os retoques finais na decoração.

 Quando terminamos devo reconhecer que tudo ficou impecável. Aquela era de longe a festa mais bonita que tínhamos feito até então.

 —Nem acredito que conseguimos! —Minha mãe abraçou-me sem conter a empolgação.

—Pois é —concordei orgulhosa. —Vamos ficar por quanto tempo mais?

—Ainda temos muito a fazer. Vamos assessorar os padrinhos e damas, entregar os buquês, os corsages, mudar alguns vasos de lugar depois da cerimonia... —ela começou a listar todo o trabalho que ainda teríamos.

—Antes da meia noite estaremos em casa. —Meu pai tentou amenizar.

Com tudo pronto, os convidados começaram a chegar e eram como pessoas saídas de revistas. As madrinhas organizaram-se em fila, esperando pela entrada. Todas iguais, vestidas em longos vestidos, cor -de- rosa.

 Comecei a entregar os buquês para elas, todos feitos com um mix de orquídeas brancas e flores coloridas.

—Lia, pode colocar os corsages nos padrinhos? —minha mãe pediu assim que os dois rapazes que estavam mais cedo com Alex na piscina, chegaram junto de um outro jovem que eu não vira antes.

 De ternos escuros e com gravatas no tom do vestido das damas, eles se mostravam também muito elegantes. Procurei por Alex, mas não o avistei, fui até eles então.

—Boa noite, vou colocar a flor na lapela do terno de vocês — avisei meio sem jeito.

 Comecei pelo que eu não conhecia, e enquanto eu arrumava o pequeno arranjo de flores em sua roupa, ele conversava com o rapaz mais novo, o próximo a ser abordado por mim.

—Prontinho... —falei, notando que ele ruborizava com a minha proximidade.

 Deixei o engraçadinho, Denis, por último, e já estava irritada por ter de manter aquele simples contato com ele.

—Por que não fui o primeiro? Não gosto de ser deixado para trás... —Ele começou mal.

Fingi não ouvir e tentei ser o mais rápida possível.

—Você é mesmo um idiota... —Alex apareceu atrás dele sem que eu notasse sua aproximação.  — Nem sei como minha irmã o convidou para esse casamento.

Tive que me segurar para não rir.

—Olha, o Alex chegou! Achei que tivesse se confundido e pensado que era a noiva! —Ele se virou para encarar o amigo, impostando uma voz mais fina.

—Denis, vai procurar uma bebida, quem sabe o álcool não deixa você menos chato. —Alex deu três tapinhas, nada amistosos nas costas dele, que saiu fazendo uma careta.

 Revirei meus olhos vendo que ele se afastava. Quando ficamos apenas nós dois é que fui notar, Alex conseguira ficar ainda mais bonito. Fiquei impressionada; o tom rosado da gravata se igualava ao de seus lábios saudáveis, os olhos verdes, pareciam ser florescentes.

—Estou me sentindo culpada por seu atraso —confessei segurando o último dos arranjos em minhas mãos.

—Meus cabelos... —ele apontou para o topete —Eles foram os culpados. —Alex sorriu e eu fiquei sem jeito, inesperadamente sem jeito.

 —Vou prender esse corsage em sua lapela, vai ser bem rápido. —Coloquei a mão entre seu terno e a camisa.

 Ele ficou quieto com os olhos parados em mim, como se quisesse ver algo além do que enxergava. Respirei fundo, Alex voltava a me desconcertar, e pra piorar, seu perfume era muito bom.

—Pode parar com isso? —reclamei quando por culpa das minhas mãos trêmulas, derrubei o arranjo de flores.

 Ele se abaixou para pegá-lo e depois devolveu a mim. Nossos dedos se tocaram rapidamente, mas foi o bastante para que eu me sentisse eletrizada.

—Você não mentiu mais cedo —ele falou baixinho enquanto eu tentava prender o adorno em sua roupa.

—Sobre o quê?

—Sobre seu cheiro, o perfume das flores está impregnado em você.

Balancei a cabeça em negativa.

—Ah, claro, eu devo estar mesmo muito bem, depois de mais de doze horas de trabalho— resmunguei imaginado que deveria estar acabada.

Alex voltou a sorrir.

—Você não tem ideia de como... —ele passou as mãos pelo rosto —Bom, deixa pra lá.

—Isso! —tentei fugir de seu olhar furtivo. —Pronto, finalmente consegui.

—Vai mesmo ficar, não é Maria Cecilia?

 Confirmei com a cabeça.

—Vai Alex, só estão esperando por você... —Queria desfazer aquele clima que estava me envolvendo.

  —Eu vou, mas depois da cerimonia eu preciso falar com você. Me encontre onde está o caminhão da floricultura.

—Imagina! Eu não vou... —Neguei sem ter certeza de que eu não queria fazer aquilo.

 —Maria Cecília, você está me devendo essa. —Ele arqueou as sobrancelhas me pressionando.

 —Alex, eu...

—Eu te espero lá, daqui a pouco —Alex afirmou sem me dar chances de responder.

 Aquele tipo de situação era totalmente nova para mim e pior, eu não estava em meu estado normal, estava quebrada.

 Enquanto meus pensamentos divergiam, considerando mesmo ir me encontrar com Alex, a noiva entrou, linda como uma princesa.

 A cerimonia durou cerca de cinquenta minutos, e de onde estávamos eu tinha uma visão parcial dele. Minha mãe chorou enquanto assistia os votos do casal, e eu ali, sem conseguir me concentrar em nada além de ir ou não ir.

                                              ******

— Você veio mesmo! —Alex parecia incrédulo a me ver chegando, talvez, só não mais do que eu.

—Você me acharia de qualquer jeito. —Passei as mãos pelo rosto e notei que estavam trêmulas, dando a mim mesma a dimensão do meu nervosismo.

 Alex estava encostado no caminhão, ali a iluminação era parcial, ele se abaixou e pegou uma garrafa que estava perto dos seus pés.

—Não vai dizer que não bebe... —Ele apontou para a garrafa.

—Pior que não mesmo — confessei enquanto ele se aproximava de mim.

—Maria Cecília...

—Fala Alex, eu não posso me ausentar por muito tempo —menti, àquela altura não tínhamos quase nada para fazer ali.

—Meu Deus! Você é sempre tão responsável? —Ele riu.

 Seus olhos verdes brilhavam.

—Costumo ser, exceto por agora que estou sendo bem imprudente—afirmei gostando mais do que deveria daquele clima.

 Alex afrouxou a gravata com uma das mãos e depois virou a garrafa na boca, tomando um gole do champanhe.

—Tem certeza que não quer? É um espumante bem docinho. —Ele deu alguns passos, encurtando nossa distância.

Balancei as mãos.

—Eu não gosto de álcool, nunca sequer provei — admiti pensando em como eu era careta.

Alex tomou mais um gole e depois soltou a garrafa no gramado.

—Acho que esse é um bom momento pra você experimentar. —Sua voz era quase que num sussurro, e antes que desse-me conta, seus braços já envolviam minha cintura.

 Sua respiração estava curta, enquanto eu nem respirava mais. Quando ele se inclinou em minha direção não tive forças para hesitar, fechei meus olhos e me entreguei ao seu beijo.

 Bloqueei todo e qualquer pensamento, enquanto o som da banda chegava até nós de modo suave, eu só sentia sua língua explorando minha boca com urgência e delicadeza, o gosto adocicado da bebida tornava aquela experiência ainda mais prazerosa.

  Levei uma das minhas mãos até sua nuca, enquanto com a outra eu tocava seu rosto, sua pele era lisa e macia, como se nunca tivesse nascido barba ali. Enquanto ele me apetava contra seu corpo, embrenhei os meus dedos em seus cabelos que estavam duros de spray fixador, eu não queria que ele se afastasse, e ele também demonstrava que não me deixaria fugir.

 Foi bom, ou melhor, foi maravilhoso e diferente. Naquele instante foi como se Alex tivesse o antidoto para o veneno que estava prestes a me matar, toda a dor e tristeza que eu vinha sentindo nos últimos dias, desapareceram como num passe de mágica.

 Ele socou o ar discretamente, do mesmo jeito que tinha feito mais cedo.

 —Não acredito que isso está mesmo acontecendo! —Alex falou no meu ouvido, e seu hálito quente fez minha pele se eriçar por inteira.

 —Eu é que não acredito... —Disse ainda em transe.

  Ele me abraçou com força, depois seus lábios foram para o meu pescoço, meu queixo, minha orelha...

 —Adoro seu cheiro Maria Cecília. Aliás, estou adorando tudo em você.

“Como assim?” —Pensei. Aquele era o tipo de coisa que não acontecia no mundo real. No meu mundo, rapazes como ele não costumavam ser tão doces e gentis.

—Isso é loucura! —Forcei meu corpo para trás, queria ver o seu rosto.

Ele permanecia agindo da mesma forma, parecia ter prazer em fixar seus olhos nos meus.

—Nossa...Isso nunca me aconteceu antes —disse antes de voltar a me beijar.

 Não vou negar que por alguns instantes, breves, confesso, Marcus se fez presente em meus pensamentos, mas mesmo assim, naquela noite eu não sentia que estava fazendo nada errado. Ao contrário, entregue as sensações tão diferentes e novas que os beijos e os toques de Alex estavam me proporcionando, era como se o universo estivesse me presenteando, dando a mim um balsamo para meu sofrimento.

—É melhor você voltar para a festa. —Sugeri depois de mais um longo beijo que quase havia tirado os meus sentidos. —Você precisa fazer fotos, sua irmã deve estar querendo matá-lo.

 Alex se virou fazendo com que eu ficasse encostada no caminhão, depois forçou seu corpo no meu, praticamente me prensando.

 —Eu não saio daqui por nada... —entrelaçou seus dedos nos meus. —A não ser que você venha comigo.

Revirei meus olhos.

—Claro, vamos lá pra festa! Estou bem adequada para acompanhá-lo.

 Ele afirmou positivamente com a cabeça.

—Por mim tudo bem, de qualquer forma você vai ser a mais bonita desse lugar. —Seu elogio veio de forma sedutora.

—Deixa eu te falar uma coisa... —coloquei meus braços em torno do seu pescoço, sua pele fervia. —Eu não estou aqui graças a essas suas cantadas fajutas, viu?

 Ele franziu a testa e ficou sério.

—Não são cantadas, são fatos, verdades... — Alex olhou para cima. —Você é linda, natural, tem uma boa conversa e não fica fazendo joguinhos como a maioria das garotas. —Ele segurou meu queixo com uma das mãos. —Eu nunca conheci ninguém assim.

—Nossa... Nem sei o que dizer...—Percebi que pensei alto.

—Não precisa falar nada — ele forçou mais seu corpo contra o meu —, só me beija, fica comigo...

 Que outra opção eu tinha? Na realidade, mesmo que tivesse, escolheria ficar ali com ele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A aí galera...Espero que tenham gostado...Do Capítulo e do Alex!
Beijos e até o próximo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mais que uma escolha" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.