Mais que uma escolha escrita por nanacfabreti


Capítulo 11
Olhos abertos


Notas iniciais do capítulo

Ah...Se eu pudesse escolher uma trilha pra esse capítulo...
" Eu posso tentar te esquecer, mas você sempre será,
a onda que me arrasta, que me leva pro seu mar.
Me perco nos teus olhos e mergulho sem pensar... se voltarei..."



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De volta ao meu quarto, tomada por inúmeras sensações e sentimentos novos, sentei- me no chão, encostada na cama. Meus pensamentos iam e voltavam no tempo, as frases se misturavam de forma desconexa e, se aquela carta existisse mesmo, talvez alguns buracos seriam fechados e o quebra-cabeças finalmente seria montado.

O universo ou sei lá o quê, parecia mesmo gostar de brincar comigo, nem em meu pior pesadelo eu imaginaria algo parecido com o que estava acontecendo, se bem, que por mais que estivesse relutante, um reencontro com Alex não podia ser classificado como um pesadelo, ao contrário, aquele fora por tempos meu maior sonho.

Pesadelo mesmo, eram as circunstâncias em que eu me encontrava, mais uma vez eu estava diante de um impasse, esse mais sério e com maiores chances de ser catastrófico.

“ De que adianta...?” —A frase de Alex latejava em meus pensamentos, enquanto eu contava os minutos para que a Gabi me telefonasse.

 Atendi meu celular antes mesmo do termino do primeiro toque, àquela altura meu estômago estava enjoado, respirei fundo antes de começar a falar.

—Gabi...

—Lia, eu já estou com a caixa nas mãos—disse séria. —Não me diga que é o que estou pensando...

—Gabi, por favor —eu estava perto de ter um ataque do coração —, tire tudo o que tem dentro dela e veja se tem um fundo falso, ou algo do tipo.

— Meu Deus, Lia...Isso é mais doentio do que eu prensava —ela sussurrou.

—Gabi, por favor, guarde suas críticas para depois, agora, eu preciso que encontre um papel, uma maldita carta... —implorei, provando das sensações de um colapso.

 Ouvi quando ela bateu a caixa no chão, fechei os meus olhos enquanto fazia uma oração interna e por vezes senti minha cabeça girar. “Respire, Lia!”, eu tinha de chamar minha própria atenção.

— Lia...eu acho que... — Sua voz começou a falhar. —Tem mesmo, tem um papel dobrado aqui. Eu achei.

 Um tiro a queima-roupas. Precisei de um tempo para retomar meu fôlego.

—Tem como fotografar e me mandar as imagens? —pedi, sendo tomada por uma emoção diferente, estava cheia de melancolia, mesmo sem saber o que me esperava.

—Lia, eu te falei que meu celular já era...A câmera está quebrada, só serve para ligação mesmo... —ela passou a me explicar com calma.

 —Droga! —praguejei com raiva, eu não podia mais esperar, cinco anos me pareciam um bom tempo, então, só enxerguei uma forma de sanar a minha curiosidade. —Gabi, você vai ler pra mim, ok?

 Antes que ela pudesse me responder, três batidas fortes na minha porta, fizeram-me estremecer. Voltei a ficar sem ar.

 Eu sabia que era ele, afinal, quem mais seria? Sabia também, que se o atendesse, que se abrisse aquela porta, não seria só em meu quarto que ele estaria entrando; Alex estaria também de volta à minha vida, e isso significava um monte de outras coisas.

 Prestes a revisitar uma parte do meu passado, parte essa, que eu sequer sabia da existência e o personagem principal acabava de entrar em cena. Com a mão na maçaneta e ouvindo a Gabi gritar do outro lado da linha, aquela porta tornou-se um símbolo, algo eminente.

 Abrir ou não abrir?

Outras duas batidas na madeira...Meu coração foi á mil.

— Lia, eu estou preocupada...Fala alguma coisa! —Gabi me chamava do outro lado da linha e eu só conseguia me concentrar naquela porta.

— Você vai ler, mas espere que eu retorne pra você...

—Lia, você está me assustando.

—Tranque a porta e espere, eu já vou te ligar. —Desliguei.

Com duas opções bem delineadas, eu podia escolher entre ignorá-lo, ou recebê-lo e de uma vez por todas esclarecer tudo aquilo que era para ter ficado no passado, mas que se mostrava cada vez mais vivo e letal.

Considerei a segunda opção, afinal, não tinha como Alex voltar à minha vida, uma vez, que ele nunca saíra dela, de fato.

—Que surpresa... —falei em tom de escarnio, vendo-o parado com os olhos perdidos e a dor escancarada.

—Precisamos conversar... —Ele respirou fundo e quando soltou o ar, seu hálito atingiu-me, terminando por me entorpecer.—Maria Cecília, se me disser que não ficou mexida, que não sentiu nada nesse encontro,  que eu nunca signifiquei nada para você, eu juro que viro as minhas costas e você nunca mais vai me ver... —ele disparou a falar quase que sem pausa.

 — Entra Alex —pedi com calma, colocando meu copo de lado, dando passagem para ele. Estava anestesiada.

  Ele pareceu não entender minha concessão, talvez esperasse uma maior relutância da minha parte, como Alex mesmo dizia, ele me achava difícil.

 Fechei a porta e olhei para ele, dividíamos o mesmo metro quadrado, no entanto, parecia haver um abismo entre nós.

—Nem sei por onde começar... —ele sentou-se na beirada da cama — eu tentei por todos esses anos arrancar esse sentimento de mim e, por maior que fosse o meu esforço, você ficou marcada de um jeito profundo—Alex colocou a mão no peito e olhou para cima.

—Alex... —Minha voz soou estranha, abafada.

—Deixa eu terminar... — Alex se levantou, seus olhos fixaram-se nos meus. — Por todo esse tempo eu evitei vir ao Brasil porque eu sabia, que não resistiria á vontade de procurá-la, mesmo imaginando que você certamente nem se lembrava de mim, mas hoje... Hoje sua reação me fez pensar que eu não estou sozinho nisso... — Ele segurou o meu braço e me encarou—Estou sozinho, Maria Cecília?

Balancei a cabeça instintivamente, e enquanto ouvia tudo o que ele me dizia, comecei a organizar meus pensamentos, eu precisava colocar ordem naquela bagunça e sabia bem por onde começar.

—Vou dar um telefonema e quero que você fique aqui. —Sentei-me no chão de frente para Alex. —Depois disso, nós vamos conversar.

  Peguei o meu celular, observada por ele, seu olhar sobre mim demonstrava toda sua confusão, mesmo assim, Alex não discutiu, cruzou os braços e ficou quieto, como uma criança colocada de castigo.

—Gabi, você já leu? —perguntei assim que ela atendeu.

—Não Lia, estou tão assustada que tive medo de desdobrar esse papel.

—Então faça, por favor... —Pedi, desviando meus olhos dele, que parecia aguardar por meu próximo ato.

Ouvi o barulho da folha sendo desdobrada e fechei meus olhos tentando me colocar naquela cena, afinal, era eu quem deveria estar com aquele papel nas mãos.

Gabi respirou fundo.

— “Meu nome é Alexandre Collerman, mas prefiro Alex, tenho vinte e três anos e sou arquiteto...” —Meu Deus Lia, o que é isso? —Ela fez uma pausa.

 —Continua Gabi... —ordenei, enquanto todo o meu copo tremia.

  Alex ergueu uma das sobrancelhas e antes que pudesse perguntar alguma coisa, fiz sinal com uma das minhas mãos e ele se absteve.

 —Tudo bem... “Trabalho, ou melhor, trabalhava na Argentina e voltei ao Brasil para ser padrinho do casamento da minha irmã mais velha. Confesso que contava as horas para voltar, afinal, sempre achei essa coisa de casamento uma chatice, mas o que eu jamais imaginaria, é que no meio de tudo isso eu conheceria uma garota diferente de todas as outras. Aquele tipo de pessoa que transforma, que vira a sua cabeça mesmo sem ter a intenção. Uma garota que me encantou assim que coloquei os olhos sobre ela... —nesse momento encarei-o e, era como se eu ouvisse sua própria voz me dizendo cada uma daquelas palavras— “... essa garota virou meu mundo de ponta cabeça e isso foi a melhor coisa que me aconteceu, com ela descobri sentimentos que eu nem sabia que existiam, e passar um dois longe dela foi o bastante para perceber que ela me tem por inteiro.

   Comecei a chorar, eu já não podia mais segurar minhas lágrimas e Gabi também fungava ao final de cada frase.

 —Termine... —Minha voz praticamente não saiu.

 —Deus... —ela sussurrou puxando o ar.—“ Quando afirmo que trabalhava na Argentina, isso tem a ver com ela...Enquanto escrevo essa resenha, estou voltando para o Brasil em definitivo, e por mais que pareça loucura, deixei meu emprego  porque isso é o que  parece mais certo... Ficar com ela é só o que eu preciso. Ninguém, antes, chegou nesse lugar e mesmo morto de medo, já que essa vai ser a primeira vez na minha vida que vou dizer, ou melhor, escrever, eu preciso que saiba que eu te amo, Maria Cecília, e espero honestamente, que seja reciproco, do contrário, eu não como vou fazer pra viver daqui para á frente.” —Ela concluiu, enquanto eu tapava a minha boca com as mãos, do contrário, estaria gritando.

 —Gabi, eu... —tentei falar alguma coisa, mas estava me sentindo sufocada pela dor que me assolava, amaldiçoando-me por ter sido tão idiota.

—Eu sinto tanto Lia... —Gabi lamentou aos prantos. Talvez, finalmente percebera a dimensão da minha história com Alex.

—Obrigada...Nos falamos depois, guarde isso pra mim. —Desliguei, reunindo forças para encarar o Alex.

 Coloquei o celular longe de mim, desligado, para que ninguém mais pudesse entrar em contato comigo. Percebi quando ele se levantou e fechei os meus olhos assim que ele sentou-se a meu lado.

 —O que está acontecendo, Maria Cecília? —Sua voz estava baixa.

 Esperei um minuto antes de responder, eu tinha tanto para assimilar e temi não saber como começar.

 — Largou seu emprego e se mudou de país por minha causa? —perguntei limpando minhas lágrimas com as mãos.

 Alex arregalou os olhos, ele parecia não estar acreditando no que ouvia.

—Não me diga que... guardou aquela caixa?

 Encolhi meus ombros.

—Pretendia me entregar aquela carta no dia em que fui até a sua casa?

Ele balançou a cabeça, seus olhos estavam perdidos e ele certamente estava revisitando aquele dia, em seus pensamentos.

—Eu estava tão apaixonado por você —Alex franziu a testa e deixando sua dor, explicita.

Voltei a chorar copiosamente, aqueles momentos de revelações estavam sendo dolorosos. Odiava-me por pensar que se tivesse encontrado aquela carta antes, ou mesmo, se Alex a tivesse me entregado quando pretendia, tanto sofrimento teria sido poupado e naquele dia eu não seria uma Maria Cecilia cheia de cicatrizes.

—Devia ter me entregado...Tinha que ter me falado tudo isso naquele dia... —Balancei minha cabeça inconformada, era como ganhar na loteria e perder o bilhete.

 Alex se levantou e ficou de costas para mim.

— Quer me convencer de que adiantaria? —ele rosnou. —Como eu podia disputar com esse cara, Maria Cecília?

  Eu queria poder dizer para ele que não havia disputa alguma, no entanto, mais uma vez me calei, mesmo morta de vontade de contar para ele como minha vida ficou devastada assim que o perdi, eu me calei.

 Com todo o meu esgotamento exposto, Alex voltou para perto e colocou-se em minha frente, de joelhos. Depois de um tempo me observando chorar, estendeu seus braços com cautela e os envolveu em torno de mim.

 Eu lutei o quanto pude, tentava não retribuir aquele abraço, mas o calor do seu corpo era irresistível, eu, Maria Cecília Cortezi, era dependente de Alexandre Collerman, de forma irrevogável. Por fim, como uma criança que pede colo, entreguei-me sem reservas ao seu abraço, apertando-o contra mim , tentando me certificar de que aquilo era mesmo real.

Seu corpo, mesmo cinco anos depois continuava sendo o melhor lugar do mundo e, eu ficaria ali para sempre se possível fosse.

—Ah...Maria Cecília, se soubesse como ansiei por esse  momento, como desejei poder tê-la assim, em meus braços novamente —ele sussurrava em meus cabelos. —Eu me esforcei tanto para esquecê-la, mas foi impossível...

 Eu o entendia perfeitamente, entendia porque tudo o que ele narrava ali, era o mesmo que eu vivera, era a minha história e eu queria tanto poder dizer para ele que fora reciproco.

Em meio á tantos pensamentos, um se destacava e me massacrava: As nossas vidas podia ter sido tão diferentes...

—Agora é tarde Alex, infelizmente agora é tarde. —Consegui afastar-me um pouco e olhar para seu rosto.

 Ele balançou a cabeça e de seus olhos vertiam lágrimas involuntárias.

 —Não Maria Cecília...Quando se trata de sentimento, de amor, o tempo é relativo. —Ele segurou meu rosto dentro de suas mãos que tremiam. — Assim que olhei pra você naquela sala de palestras, tive a certeza de que nada mudou. Eu continuo perdidamente apaixonado por você, e é por isso que vou perguntar mais uma vez. Eu estou sozinho nisso?

Eu não acreditava que ele estava me dizendo todas aquelas coisas, aquilo era de mais para mim.

—Alex... —Respirei fundo. —Eu. Não. Posso.

 Ele se manteve do mesmo jeito, segurando meu rosto e eu nem podia desviar os meus olhos dos seus.

—Então me fala, me manda ir embora daqui, me manda sair e vou, eu deixo você em paz...Eu juro.

 —Não faz isso comigo... —implorei aos prantos.

 —Fala Maria Cecília...Eu só preciso de uma palavra sua, para que eu tome uma atitude, então, tudo o  que preciso é que me mande ir embora. —Ele aproximou mais seu rosto do meu, parecia querer me provocar. — Vamos...Me pede pra sair!

Eu lutei, e honestamente, cheguei ao meu limite, esgotei minhas forças e desisti. Alex estava ali, e nossa história cheia de maus entendidos e desencontros, parecia exigir um acerto de contas. Enquanto seus olhos me cobravam, seu perfume me atingia e me embriagava, seus lábios estavam convidativos, esperando para serem beijados e eu não consegui pensar em mais nada.

—Alex, não sabe como eu sofri nesses malditos cinco anos sem você, e quer saber? Não! Você não está sozinho nisso porque eu me apaixonei por você, perdidamente e nunca, nunca passou... —confessei para ele, aquilo que eu sempre soube.

 Ele sorriu, como se ouvisse a melhor coisa do mundo e antes que eu pudesse recuar, seus lábios estavam nos meus e sua língua buscava a minha, com o peso da espera de cinco anos... Eu sentia que nada havia mudado. Suas mãos exploravam meu corpo, sua boca descia pelo meu pescoço, meu colo e eu queria mais e mais, afinal, nada havia mudado.

  Alex tentava alcançar o zíper da minha blusa e quando o fez se livrou dela em uma rapidez absurda, ele parou por uns instantes, ofegante, tirou os cabelos dos olhos como se não quisesse que nada atrapalhasse sua visão enquanto ele olhava para mim. Como a luz do quarto estava acesa, eu podia acompanhar toda e qualquer expressão em seu rosto, e quanto a mim, eu sequer piscava, temia acordar.

 Éramos como um vulcão prestes a entrar em erupção, existia tanto desejo reprimido e tanta saudade e a cada toque, a cada contato, isso ficava mais claro, nossa conexão inexplicável.

—Maria Cecília, eu te amo...amo...e amo...Com todas as minhas forças. —Ele sussurrou enquanto nos tornávamos um só.

—Eu também amo você Alex — Confirmei, sentindo lágrimas brotarem dos meus olhos.

 Passamos a noite toda e entramos a madrugada nos amando, tentando sanar a falta que fizemos um ao outro e que sabíamos que era grande, mas que se mostrou monumental, porque nada bastava. Ficávamos nos olhando e sorrindo, e se existisse mesmo um paraíso, ele era ali, naquela cama de hotel nos braços de Alex.

 Colocara minha razão em stand by, não pensava em nada, esqueci que tinha um noivo e um casamento iminente. Esqueci-me de que existia um mundo, do lado de fora daquelas paredes.

 Nos momentos de descanso, conversávamos sobre como lidamos com a dor daquela precoce separação e eu, finalmente pude explicar que eu não tinha a intenção de dispensá-lo quando fui até a sua casa. O pior, foi saber que Alex passou aqueles cinco anos acreditando que fora apenas uma aventura para mim, um tapa buracos.

 —Eu fantasiei esse momento por tantas vezes Maria Cecília... —ele confessou enquanto acariciava meus cabelos.

 Com a cabeça repousada em seu peito, seus batimentos irregulares eram música para os meus ouvidos.

 —Já eu me achava uma maluca... —comecei a rir —não me parecia normal, amar alguém em tão pouco tempo.

 —Então somos dois loucos —ele puxou-me para olhar em meu rosto—, nada antes tinha sido tão intenso como o que senti por você naqueles dias,  aliás, do que sinto por você.

 Entreguei-me a mais um beijo e depois colei em seu corpo, lutando para não adormecer, sabia que ao fim daquela madrugada, quando o dia clareasse, eu teria um problemão para resolver.

Suspirei chegando a cogitar a sugestão que Gabi fizera á mim dias antes, sobre fugir de Monte Real.


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Notas finais do capítulo

Fugir, Maria Cecília?
Não acho que seja uma boa saída, afinal, os problemas sempre dão um jeito de irem na mala...Na Mochila, ou agarrados em nossas costas...
Beijos e até a próxima!



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