Mais que uma escolha escrita por nanacfabreti


Capítulo 10
Atingida por um raio




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Os meses voaram, tínhamos tanto para resolver sobre o casamento, e mais, a formatura de Marcus ficava no meio de tudo isso. Ocupados e sobrecarregados com tantos compromissos, mal conseguíamos nos vermos.

Marcus fazendo residência e eu trabalhando como uma louca nas floriculturas. Havíamos acabado de inaugurar uma filial da Florista em uma cidade próxima, Alana, e lá chegamos com tudo, já que a fama da nossa floricultura fora consolidada apenas com predicados.

Era março, e eu me casaria em maio, claro, o tradicional mês das noivas. Dia dezoito para ser mais exata. Aquela data se destacava em todos os calendários em que eu colocava meus olhos, como se brilhasse.

—Acabamos de fechar com o colégio de Alana o fornecimento de rosas, todas ás últimas sextas-feiras de cada mês —Lucia comentou assim que desligou o telefone. —É uma ação para angariar verba para a formatura deles.

—Que bom. —Fui breve enquanto checava os e-mails. —Precisamos confirmar presença na feira de decoração na capital, essa é a última semana.

—Qual o dia mesmo? —Minha mãe caminhou até o balcão.

—Dias 01, 02 e 03 de maio —avisei.

—Nossa, tão perto do seu casamento e uma semana antes do dia das mães. —Ela fez uma careta. —Que data ruim.

Respirei fundo.

—Então não vamos —decidi. —Depois acompanhamos pela internet.

Minha mãe coçou a cabeça e olhou para cima.

—Você vai, Lia —ela deliberou. —Você entende melhor dessa coisa de palestras, vai se familiarizar com os termos. Não podemos ficar fora disso, é importante para nós.

Eu não gostava nenhum um pouco de palestras, na verdade, elas me davam sono, mas não discuti, seria bom ficar alguns dias longe de Monte Real, e longe de tudo que envolvia o meu casamento.

 —Três dias sozinha em outra cidade?  — Marcus não gostou nada daquela história.

  Ao lado da sua cama, eu me vestia porque precisava voltar para a floricultura. Tinha dado uma escapada, queria ficar um pouquinho com ele.

 —Está com ciúmes, Dr. Marcus Demetri? —perguntei fazendo charme ao abotoar minha camisa.

Ele balançou a cabeça e me puxou de volta para a cama.

—Claro que estou...Eu cuido do que é meu —ele afirmou e depois colocou seus lábios nos meus — Mas tudo bem, eu confio em você Lia, sei que você foi e sempre será só minha.

 “Que droga!”, pensei. Não tive como não me lembrar que não era bem desse jeito....

—Marcus... —Sentei-me na cama e encarei-o. —No tempo em que ficamos separados, você se envolveu com alguém? — indaguei desejando com todas as minhas forças que ele dissesse sim, eu adoraria que não tivesse sido a única a ter ficado com outra pessoa.

—Não! —Ele foi firme. —Lia, eu não tomei aquilo como uma separação, sabia que não passava de um mal entendido, e veja... No fim, eu estava certo.

 “Talvez eu não devesse ter perguntado...”Concluí enquanto nos abraçávamos.

                                            ***********************

—Juro que se eu pudesse, iria com você. — Gabi vislumbrou a hipótese e teve de voltar para a realidade em imediato.

—Seria bom —olhei para ela e sorri balançando a cabeça—,ou não...Imagine nós duas na capital? Sozinhas? Acho que não ia prestar.

 —Hum...Pior que não posso ter faltas nesse colégio que estou dando aulas.

—Eu sei Gabi, e sei também que tem outro bom motivo para que não queira se ausentar...

Ela riu maliciosa, estava caidinha por um professor de português.

 Seguíamos para o atelier de costuras, combinara com minhas outras três damas que acompanharia a prova de seus vestidos. Assim que chegamos, encontramos Marina com Michele no colo, Carol já usava seu vestido longo azul claro, elas optaram pela cor, já que por mim, cada uma escolheria o que quisesse.

—Estou nas nuvens meninas! —Carol se olhava no espelho e parecia animada. —Veja quanto terá de ser ajustado desde a última prova, por fim meu corpo está voltando ao normal.

 Gabi pigarreou limpando a garganta.

—De nada...Não precisa me agradecer. —Ela bateu no peito . —Eu coloquei essa garota para correr...

 —Deus! Acho que todo o mérito vai para essa pequenininha aqui —intervim tomando Michele em meus braços — ,ela está um chumbo...

 —Isso Lia, vai treinando... —Emily juntou-se a nós.

 Suspirei observando-me no espelho, Michele brincava com meu colar, enquanto eu não conseguia me identificar com aquela cena, não, ao menos para mim.

  —Que foi Lia? —Carol me tirou daquele lugar, onde os meus pensamentos me prendiam. —O Marcus faz questão de falar pra todo mundo que vocês vão ter três ou quatro filhos.

— Como se dependesse só dele, essa decisão — resmunguei, sabendo que ele realmente planejava aquilo.

 Houve um momento de silêncio total, depois de alguns minutos, todas elas voltaram dos provadores, vestidas iguais, e quando se coloram lado a lado, não pude deixar de me emocionar.

—Lindas! —afirmei, sem ter nada mais original a dizer.

—Mandamos fazer um igual para a Michele —Emily avisou.

—Ela vai ficar fofa... —Entreguei a pequenina de volta a sua mãe.

 Carol me encarou de um jeito estranho.

—Sabe Lia, sei que você nunca gostou muito dos meus conselhos... —Ela fechou os olhos por uns instantes.—E com razão, só que agora eu tenho propriedade para falar.—Ela deu de ombros.—Um filho é mesmo uma responsabilidade sem tamanho, você esquece de você e passa a viver cem por cento em função dessa pessoinha, e apesar de ser maravilhoso esse amor que você descobre que pode sentir, se eu pudesse escolher, teria esperado mais.

 Respirei fundo, aquela nem parecia ser Caroline Bernardes falando. A vida realmente havia pregado uma peça nela. De todas nós, Carol era quem tinha os sonhos mais ambiciosos e acabou por engravidar de um cara casado, que optou continuar com a esposa, e para piorar, nem preciso dizer como as pessoas de Santo Valle enxergavam um fato como esse... Seu sobrenome passou a ser “mãe solteira.”

                                                 *************

—Lia fotografe tudo que puder, e nos mantenha informados em tempo real! —Meu pai instruía-me enquanto colocava minha mala no carro da Gabi. Ela ficou incumbida de me levar ao aeroporto de Alana.

  Mais cedo eu fora me despedir de Marcus, que me encheu de recomendações, só faltou dizer para eu não conversar com estranhos. Sentia-me como uma garotinha de dez anos, prestes a fazer sua primeira excursão escolar.

 —Se resolver ficar por lá, me liga que eu fujo com você. —Gabi me abraçou. —Podemos vender flores nos sinaleiros de São Paulo.

 —Cala a boca! —Revirei os meus olhos, ela sempre me fazia rir com suas ideias absurdas. —Se bem, que deve ser bom viver em um lugar onde o que você come, não vira notícia de primeira página.

 — Exato! —Ela piscou pra mim. —Sabe que essa sua viagem ganhou uma notinha na segunda página...

 Estreitei meus olhos, aquilo não era mesmo de se duvidar.

 Menos de uma hora depois em que entrei no avião, ele já estava pousando, foi muito mais rápido do que eu imaginei. Do aeroporto, segui de táxi para o hotel, a todo tempo chegavam mensagens no meu celular, alternadas entre Gabi, meus pais e meu noivo. Todos queriam saber se eu sobrevivera a minha primeira viagem de avião.

“Tudo bem...Não foi dessa vez!” —Enviei o mesmo texto para todos eles.

 O local da feira ficava ao lado do hotel escolhido por mim, e seria no salão social do mesmo, que aconteceriam as palestras e os coquetéis.

—Nossa, o tempo de voo foi menor que o do aeroporto até aqui... —comentei com o taxista enquanto pagava a corrida para ele.

 —Esse é o nosso trânsito... E olha que hoje não está sendo um dos piores dias —ele pareceu resignado.

 Olhei á minha volta e o som das buzinas e vozes me assustaram um pouco, aquele realmente era um lugar muito diferente de Monte Real.

“Sejam bem vindos expositores e visitantes da 11ª feira de arquitetura e decoração, ARQDECOR 2012”. Um banner na entrada saldava a todos.

   Meu quarto ficava no sexto andar, e eu estava ansiosa para conhecê-lo. Era a primeira vez que eu viajava assim, sozinha e hospedava-me em um hotel, longe de todo e qualquer conhecido. Quando abri a porta do quarto 216, uma vertigem boa correu pelo meu corpo.   Tudo ali era muito bonito, uma cama de casal grande, um frigobar e uma televisão enorme.

Minha vontade foi de não ir à feira alguma, mas sim, ficar trancada naquele quarto, vendo filmes o dia todo.

—Volta pra realidade Lia! —chamei minha própria atenção.

Já no primeiro dia assisti a uma palestra sobre o crescimento do mercado de decorações de festas e sobre como prospectar clientes em potencial, depois segui para feira e me surpreendi com tantas novidades. Fiz centenas de fotos, a cada coisa que via de diferente, pensava imediatamente na reação que minha mãe teria se estivesse ali.

O dia voou, à noite descarreguei todas as fotos e as enviei para o e-mail da floricultura.

Falei por telefone com Marcus por poucos minutos, ele estava de plantão naquela noite e parecia exausto.

—Só consigo pensar que em pouco tempo estaremos no nordeste, curtindo nossa merecida lua de mel —ele comemorou.

—Sim... Eu também não vejo a hora. —Joguei-me na cama sentindo-me estranha.

No dia seguinte mais um tour pela feira e outro monte de novas fotos. Voltei para o hotel e depois de um longo banho, segui para outra palestra.

Gabi tinha acabado de me mandar uma mensagem contando sobre sua aventura com o tal professor de português. Eles vinham se encontrando e minha amiga adorava detalhar as ficadas que aconteciam nos lugares mais inusitados.

Quando cheguei ao salão, a palestra já havia começado, dei três batidas na porta e todos se voltaram para mim, sentei-me no primeiro lugar vago que encontrei.

Na sala requintada, o silêncio imperava e a única voz a ser ouvida era a do palestrante. Todos mostravam-se atentos ao tema  sobre metas de negócios, além de como aquela feira seria boa para o fechamento de contratos com novos fornecedores. Eu também  esforçava-me para manter a concentração, quando um celular começou a tocar.

“Merda!”, pensei enquanto revirava minha bolsa em busca do meu telefone. Era regra desligar ou deixar no silencioso os aparelhos celulares durante as palestras, mas estava tão entretida com as aventuras de Gabi, que acabei me esquecendo de fazê-lo.

—Desculpa! —falei diante de vários pares de olhos que me encaravam com reprovação.

Afundei-me naquela cadeira, desejando que o chão se abrisse para que eu me pudesse me esconder.

“Só podia ser a menina do interior!”, insultei-me em pensamento.

Depois daquilo eu mal conseguia prestar a atenção em uma palavra do que o senhor com cara de deputado falava. Eu não via a hora que aquilo acabasse, tanto, que fui a primeira a sair depois das considerações finais.

 Do lado de fora acontecia o tal coquetel, na área do bar. Fui para um canto isolado e peguei o telefone para ver quem tinha me ligado. Gabi, claro, três chamadas perdidas.

—Fala! —disse assim que ela atendeu.

—Agora que você me retorna? —ela gritou do outro lado da linha.

—Passei a maior vergonha com esse telefone tocando no meio de uma palestra!

Gabi riu.

—Lia, quase fui pega transando na sala dos diretores —ela contou-me em meio á gargalhadas.

—Você é uma grande vadia! —sussurrei ao telefone.

—Não... O pior é que na correria derrubei meu celular, a tela está toda trincada, a câmera quebrada, nem sei como ele está fazendo ligação... Sabe que era novinho...

Balancei a cabeça, a Gabi era impossível.

—Onde está agora? —perguntei enquanto negava com a mão, uma bebida oferecida pelo garçom do hotel.

—Estou em casa. E ai, como estão as coisas?

Olhei em minha volta, centenas e centenas de pessoas conversavam em grupinhos enquanto comiam canapés e bebiam martinis.

—Chatas, eu diria, mas agora, deixe-me desligar, vou tentar me enturmar, conhecer gente diferente...

—Tudo bem, qualquer coisa me liga, porque mensagem eu não consigo ver.

Desliguei sentindo o salto alto começar a me incomodar, considerava mesmo a ideia de subir, vestir meu pijama e devorar tudo o que tinha naquele frigobar.

—Pode me trazer uma água? —Pedi a um dos garçons que só tinha bebida alcoólica em sua bandeja, depois continuei checando meu telefone para ver se tinha alguma mensagem de Marcus ou dos meus pais, tentando decidir-me se ficava ou não.

Lembrei-me do quase flagrante de Gabi, e acabei rindo sozinha.

—Para a senhora. — Um outro garçom estendeu-me uma taça de espumante.

—Não, eu pedi água, acho que houve um engano. —Sorri e ele saiu com a promessa de trazer meu pedido correto.

Enquanto aguardava, passei a olhar as fotos tiradas mais cedo por mim.

—Senhora... —O mesmo garçom novamente me oferecia a taça. —Desculpe-me a insistência, mas aquele senhor pediu que eu insistisse. —Ele apontou para a direção de um aglomerado de pessoas.

Eu não entendia nada, franzi a testa, certa de que tratava-se de algum engano. De qualquer forma, corri os meus olhos pelo grupo em questão e, embora nunca tenha sido atingida por um raio, o impacto deve ser parecido com o que senti quando reconheci uma das pessoas ali.

Alto, magro, um pouco mais forte do que eu me lembrava, o mesmo corte de cabelo e os mesmo malditos olhos verdes, que atuavam como imãs para me atrair. Alex estava lá, como uma miragem, sorrindo enquanto conversava com senhor que o parou quando ele vinha em minha direção.

Se meu cérebro não tivesse entrado em curto, talvez eu pudesse descrever o que senti, mas eu tive um branco, eu jamais esperaria que aquilo acontecesse, ele era a última pessoa a qual eu pensaria encontrar naquele bar de hotel.

Sem ter a mínima ideia do que fazer, deixei o garçom , entendendo menos ainda do que eu, e caminhei rapidamente em direção ao elevador, nem sei como me equilibrei no salto que usava, minhas pernas tremiam muito.

Lembrei-me de respirar assim que a porta se abriu e ele estava vazio.

Eu podia ouvi o som do meu coração pulsando contra meu peito, eu sentia a veia da minha têmpora trepidando e como em uma cena daquelas que só acontecem nos filmes, quando faltavam menos de dez centímetros para a porta do elevador se fechar, uma mão colocou-se entre o vão, impedindo que aquilo acontecesse. O pior, é que mesmo antes de vê-lo, eu já sabia, e talvez por isso tive que me escorar em uma das paredes para não cair.

—Fugindo de mim Maria Cecília? —Ele já se colocava ao meu lado.

—Alex... —Consegui falar enquanto ele me encarava com uma expressão indecifrável, um misto de surpresa, felicidade e tristeza. —Eu... Eu nem sei o que dizer.

 Permanecemos por mais de um minuto apenas nos olhando, e naqueles instantes de reconhecimento, era como se o tempo não tivesse passado. Ele não tinha mudado nada, e não era porque eu o via em fotos quase todos os dias, para Alex, aqueles cinco anos não fizeram diferença nenhuma.

 Outro que não sentiu a passagem do tempo foi meu coração, acelerado, ele pulsava e me impulsionava a correr para os braços daquele que era meu dono, mesmo sem saber. Tive de fazer um esforço sobre humano para não atender aos meus impulsos e não entregar-me aos meus instintos.

 Eu tinha tanto para dizer, e tê-lo ali, bem em minha frente, ao alcance de minhas mãos, só reforçou o que eu sempre soube, nunca ninguém me fez tanta falta como ele me fizera, sob os seus olhos, era quando eu me sentia completa e eu acabava de ter a prova disso tudo, dentro daquele elevador.

—Quanto tempo... —Ele passou as mãos pelos cabelos desarrumando seu topete claro, da mesma forma de antes.

 —Cinco anos —respondi, sem me incomodar que ele percebesse que eu contava.

Alex balançou a cabeça e depois franziu a testa como se sentisse alguma dor.

—Cinco anos...Nossa! —Ele forçou um sorriso.

—E você, o que faz aqui? —indaguei temendo um silêncio entre nós.

 Ele colocou as mãos nos bolsos da calça e sorriu.

—É uma feira de arquitetura e decoração...  —Encolheu os ombros.

Fechei meus olhos e percebi o quão idiota eu era.

—Claro! —Cruzei meus braços sem saber o que fazer com eles.

 —Eu mal pude acreditar que era você quem estava atrapalhando a palestra com seu celular... Depois daquilo, eu não ouvi mais uma palavra sequer daquele cara....

Balancei minha cabeça e senti meu rosto queimar mais uma vez.

—Eu também não ouvi...Fiquei morrendo de vergonha, e... —Acabei rindo de nervoso pensando que, estivera por mais de uma hora no mesmo espaço que Alex sem nem imaginar...

—O que acha de irmos até o bar? —Ele se posicionou bem em minha frente e seu perfume me atingiu. Era o mesmo, doce e amadeirado, e reconhecendo aquele cheiro, meu corpo reagiu, mais uma vez eu me sentia adicta e aquilo era enlouquecedor.

 Desviei com muito custo meus olhos dos dele, que pareciam fulgir, cobrando-me uma resposta positiva.

—Eu não posso...tenho que... —Tentei ganhar tempo sem ao menos conseguir formular uma desculpa decente.

—Vamos, Maria Cecília, você me deve isso. —Ele se aproximou ainda mais, parecia perceber que aquilo me deixava vulnerável. —Além do quê, sou mais perigoso aqui, nesse elevador, que no bar onde está cheio de gente.

 Involuntariamente balancei a cabeça concordando, eu sabia que estava ferrada de qualquer jeito.

—Tudo bem — respirei fundo—,mas vai ser rápido!

  Alex sorriu e depois, discretamente socou o ar antes de apertar o botão para que o elevador se abrisse. Aquela cena me arrebatou, foi como ter um déjà vu.

—Você não mudou nada! —Constatei sem conseguir deixar de rir.

 Alex sinalizou com a mão para que eu saísse primeiro.

—Já você, Maria Cecília, conseguiu mudar para melhor—ele tocou minhas costas levemente — ,está ainda mais bonita.

Fingi não ouvir e pus-me a caminhar ao seu lado, era realmente muito perigoso estar a sós com Alex.

 No bar nos sentamos em volta do balcão, ele me devorava a cada olhar e eu me sentia desmanchando. Tinha medo de piscar, era como se ele pudesse desaparecer e por mais perturbador que estivesse sendo aquele encontro, eu não queria que terminasse.

—Um whisky com gelo —ele pediu ao bartender, que esperou pelo meu pedido.

—Uma água.

— Maria Cecília...continua evitando os prazeres do álcool? —Ele riu.

—Sim...Consegui  não me corromper, já você, vejo que piorou... —comentei sem jeito, eu realmente não sabia como agir.

Alex colocou um dos braços sobre o balcão e apoiou a cabeça na mão, de uma forma que seu rosto ficava direto em minha direção.

 —Maria Cecília... Eu ainda não estou acreditando nessa do destino... —Ele parecia sentir prazer em dizer o meu nome e eu, infelizmente adorava ouvi-lo.

 Ficamos ali, apenas nos olhando, cada um perdido nas próprias memórias, quando então, as bebidas chegaram. Alex tomou um gole do whisky  sem deixar de me fitar.

— Me fale sobre você. —Ele se ajeitou na banqueta. —Casou-se? Tem filhos?

 Respirei fundo, preferia não ter que tocar naquele assunto, mas sabia bem o quanto era perigoso omitir um fato, eu sentira na pele seus efeitos.

—Sem filhos, mas—tomei folego—me caso em breve. —Apontei meu dedo com o anel.

 Ele não esboçou reação, pegou novamente seu copo e terminou com a bebida num único gole.

—É com o médico? —ele indagou com o cenho franzido.

—É —confirmei de forma simples, sem conseguir encará-lo.

—Fico feliz. —Ele virou seu corpo todo para mim. —Eu odiaria saber que partiu meu coração á toa.

“Nossa!” —Pensei. —Aquela frase não fora da boca pra fora, havia mágoa em cada palavra e eu senti como se estivesse quebrando-me ao ouvi-las.

—Alex, eu realmente — comecei a falar e me interrompi quando ele levantou uma das mãos.

—Tudo bem Maria Cecília, no fim você fez a escolha certa, sua história com ele está perto de um final feliz...

 Aquilo começava a ficar ruim, Alex não fazia questão de esconder que guardava mágoas, e eu estava a ponto de vomitar sobre ele todo o inferno daqueles cinco anos de sofrimento, certamente as coisas não acabariam bem.

—Você me mandou uma caixa no meu aniversário? —perguntei num rompante depois de chegar a morder a língua para não fazê-lo.

Alex baixou a cabeça e ficou sério.

—É, eu mandei. —Ele sorriu com amargor. —Confesso que achei que aquilo faria você me procurar... Eu fui um idiota! —Ele fez sinal com uma das mãos pedindo outra dose.

Meu sangue começou a ferver.

—Foi mesmo um idiota... —concordei com raiva. — Não se deu o trabalho de colocar um cartão, esperava que eu me guiasse por sinais?

 Ele tomou outro grande gole da bebida e fechou os olhos.

— Isso significa que... —Ele passou as mãos pelo rosto e suspirou, o cheiro do seu hálito de álcool me atingiu. —Não leu a carta? —Ele me encarou com os olhos tristes.

—Que carta? —Senti meu coração acelerar, bem como quando você está prestes a receber uma notícia que pode mudar sua vida.

 Alex começou a rir de forma sádica.

—Bom...Talvez tenha sido melhor assim... —Ele continuou enfiando álcool no corpo. —Vou pensar que foi melhor assim, afinal, de que adianta?

 Eu estava sem entender nada. De que diabos de carta, ele estava falando?

Segurei seu braço impedindo que ele pedisse outra dose. Aquilo fez com que ele se voltasse para mim sem sua armadura, ele sofria, era nítido.

—Que carta Alex? —perguntei num sussurro sentindo meu mundo saindo de orbita.

Ele fechou os olhos e balançou a cabeça, resignado.

—Foi bom te rever, Maria Cecília. — Ele se levantou e ficou bem perto de mim.

 Levantei-me também, ainda tinha tanto a ser dito, ao menos era assim que eu me sentia, no entanto, eram tantas as coisas nos impediam. Alex se curvou e encostou seus lábios em meu rosto, uma despedida.

Deus! Tive que buscar forças sei lá de onde para me conter, eu estava quase agarrando-o ali mesmo, á um passo de perder a razão e de cometer uma insanidade.

 Alex partiu e me deixou naquele bar de hotel, sozinha, ou melhor, na companhia daquela informação inédita, a existência de uma possível carta.

 Confesso que meu desejo era pegar minhas coisas e me enfiar num avião de volta para minha casa, eu precisava saber o que Alex quis me dizer cinco anos atrás. Aquela noticia caíra como uma bomba em minha vida e eu não sabia o que fazer, comecei a pensar e só uma ideia me pareceu ser a solução.

— Gabi, graças a Deus! —Gritei assim que ela atendeu minha ligação. —Onde você está agora?

— Em minha casa, Lia...aconteceu alguma coisa? —Ela se mostrou preocupada.

—Gabi, eu preciso de um grande favor — comecei já dentro do elevador — ,vá até a minha casa, invente uma mentira qualquer para os meus pais, então no meu quarto , na segunda parte do maleiro, em baixo das cobertas, tem uma caixa. Assim que você estiver com ela nas mãos, me ligue.

—Tudo bem...Eu já estou indo. —Ela desligou sem maiores questionamentos.

Esse era um dos motivos pelo qual eu gostava tanto da minha amiga, Gabi sempre foi o tipo de pessoa com quem eu podia contar de olhos fechados.


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Notas finais do capítulo

Continua...
Ai meu Deus! O que foi esse reencontro?
Confesso que todas as vezes que assisto o clipe Closer, dos The Chainsmokers, eu penso na Maria Cecília e no Alex...
E agora? O que será que tinha nessa bendita carta? Pior...O que a Lia vai fazer?
Beijos e até a próxima!



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