Mais que uma escolha escrita por nanacfabreti


Capítulo 12
Balança




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Alex adormeceu agarrado a mim, e eu devo ter cochilado por uma hora ou menos. Saí da cama delicadamente, evitando fazer qualquer tipo de barulho, não queria que ele acordasse. Olhei para o chão e avistei meu celular, aproximei-me dele como se o pobre fosse uma bomba relógio e senti um frio correr pela minha espinha, quando apertei o botão para ligá-lo.

 Já podia imaginar o visor acusando um milhão de chamadas perdidas e, eu não me surpreenderia se o próprio Marcus aparecesse naquele hotel atrás de mim. Assim que o visor se iluminou, lembrei de que meus pulmões precisavam de ar e para minha surpresa, apenas duas ligações, uma da Gabi e uma da minha casa.

 Eram sete da manhã e eu tinha que dar um sinal de vida, não podia abusar da sorte, entretanto, era com Gabi que eu precisava  falar antes. Com uma angustia voltando a crescer dentro de mim, eu tinha de expor minha situação a alguém que conhecia bem toda a minha história.

—Oi Gabi... —sussurrei, trancada no banheiro.

—Lia, pelo amor de Deus! —ela praticamente rosnou para mim. —Tem ideia de que eu estava pronta para pegar um avião e ir atrás de você?

 —Eu sei — assenti me sentando sobre a tampa do vaso sanitário. — Gabi, eu encontrei o Alex aqui e acabamos passando a noite juntos...Agora, ele está dormindo, na minha cama.

 Ela respirou fundo e o barulho incomodou meus ouvidos.

—Eu imaginei que isso, ou algo parecido tivesse acontecido, agora, pensa numa pessoa que está inconformada por não termos encontrado essa carta antes...

 Balancei minha cabeça concordando.

—Nem me fale... Só que pior do que isso é o que vem pela frente — comecei a chorar discretamente. —Eu sou louca por esse cara Gabi, louca —confessei, sentindo meu corpo todo concordar comigo.

 —Lia eu não queria estar na sua pele, juro, estou em pânico por você. —Ela realmente parecia preocupada.

 Olhei para os lados , sem esperanças de encontrar uma saída para aquela confusão em que eu estava metida.

 —Eu estou perdida minha amiga. Perdida.

 Gabi nem ousou me dar nenhum daqueles seus conselhos destemidos, nem mesmo aqueles errados que costumavam ser sua especialidade.

Aquela era o tipo de situação que em que você tem vontade de desaparecer da face da terra e só voltar quando tudo está resolvido.

Novamente lá estava eu, no mesmo lugar em que estivera há cinco anos e, em minha frente, mais uma vez  deparava-me com dois caminhos diferentes que no final, me levariam ao mesmo destino: magoar alguém.

 Altruísmo e egoísmo, era tudo o que eu tinha, quando na verdade eu precisava desesperadamente de uma terceira opção, algo no meio disso.

 Como cancelar um casamento há duas semanas de ele acontecer? Como abandonar um cara tão bacana e amável como o Marcus, praticamente no altar?

   Sem contar a barra que eu teria de enfrentar, seria massacrada por toda a cidade e haviam também meus os pais que jamais me perdoariam, eu seria uma vergonha para eles.

 Eram tantas as razões, as perguntas e os motivos que me barravam, que me impediam de decidir-me pelo que eu realmente queria.

 Por outro lado, era justo deixar de viver aquele amor que queimava e me consumia com tanta voracidade e que vinha se mostrando vital, por ter de viver presa em convicções e imposições externas?

 Eu gostava do Marcus, isso era um fato, mas eu não o amava da maneira que ele merecia, portanto, não seria exatamente honesto estar me casando com ele.

  Depois, para fechar com chave- de -ouro, tinha Alex. Como eu poderia descartá-lo novamente depois de tudo o que eu acabava de descobrir, depois de tudo o que confessamos e partilhamos um com o outro. Como eu poderia?

 E quanto a mim? Nem eu mesma conseguia compreender como ainda respirava estando como estava, á beira de um abismo, perdida dentro de um enredo errado, confuso e injusto.

 Algumas escolhas exigem muito além de optar pelo certo ou pelo errado, na maioria das vezes, principalmente quando se tratam de grandes passos, muita coisa entra em jogo. Eu estava num conflito intenso, num exercício mental entre querer e poder.

 Tomei um banho rápido, eu literalmente precisava esfriar a cabeça, do contrário, fritaria meus miolos. Vesti um roupão e voltei para o quarto, para minha surpresa Alex já estava acordado e vestido.

 —Aqui estamos nós, não é Maria Cecília? —Ele cruzou os braços e pôs-se a me encarar.

 —Parece que estamos voltando as páginas de um livro, não parece? —indaguei sentindo o peso daquela conversa.

 Alex caminhou em minha direção e parou a cerca de vinte centímetros de distância de mim.

—Pode ser...só que naquela história eu perdi a mocinha para o príncipe de jaleco branco. —Ele esticou o braço e tocou meu rosto com a ponta dos dedos. — E agora, será que o final vai ser diferente?

  —Alex...sabe que meu casamento está marcado para daqui a quinze dias... —Sussurrei sem forças. —O que eu posso fazer?

 Ele puxou o ar devagar e depois o soltou enquanto dava mais um passo à frente.

 —Mude o desfecho desse livro Maria Cecília, me deixe ter o final feliz dessa vez. —ele sussurrou em meu ouvido.

 —Alex — ele me interrompeu com um beijo—,se eu pudesse, seria você —finalizei quando ele se afastou.

 —Não pense que não entendo sua situação, estou vendo em seus olhos o mesmo sofrimento de cinco anos atrás. —Ele segurou-me pelos ombros. — Maria Cecília, naquele dia, mesmo sabendo o quanto estava envolvido com você, eu quis facilitar as coisas, eu não suportei vê-la se despedaçando em minha frente.

 —Eu sei... —fechei meus olhos recordando aquele, que fora um dos piores dia da minha vida .—Você praticamente decidiu por mim.

—Isso. —Ele segurou meu rosto. —Só que dessa vez Maria Cecília, eu não vou deixar a passagem livre, eu não vou desistir de você e não me importo que  seu casamento esteja  marcado para daqui à quinze dias ou para amanhã... Se for preciso eu invado a igreja e a impeço de se casar.

—Você faz parecer tão simples, tão fácil. —Segurei suas mãos e depois me afastei dele. —Tem ideia de tudo o que vou passar caso eu realmente cancele esse casamento? —Virei-me de costas tentando não desabar.

Alex envolveu seus braços em torno da minha cintura e colocou seu rosto em meu ombro, seu coração pulsava em minhas costas.

—Eu posso imaginar que não vai ser nada fácil, mas, eu vou estar com você. —Ele me virou de frente. —Eu prometo.

Entreguei-me ao seu abraço e permaneci ali, fingindo para mim mesma que ficaria tudo bem, mesmo sabendo que não ficaria.

—Eu pedi o café. —Ele falou depois de algum tempo. —Você precisa comer.

Não, eu não precisava comer, na realidade eu precisava de um clone para colocar em meu lugar em Monte Real. De qualquer forma me forcei a engolir um suco de maracujá, eu realmente estava sem nada no estômago.

Alex permanecia em silêncio, ele apenas me acompanhava com os olhos.

—Eu vou embora — decidi depois que me vesti. —Vou ver se consigo uma passagem, para agora, de preferência.

—Vou com você, eu não conseguiria mais ficar aqui também. —Ele veio até mim e sentou-se na cama, ao meu lado.

Sem saber como encararia o Marcus, e nem como explicaria meu retorno prematuro para casa, voltei ao meu estado de nervosismo nível alto.

Alex tocou minhas costas com uma das mãos.

—Nós vamos dar um jeito. —Ele parecia certo do que dizia e também, parecia certo de que realmente teria coragem de desmanchar meu noivado.

—Eu preciso ficar sozinha. — Finalmente criei coragem de dizer alguma coisa.

Alex se levantou.

—Tudo bem, eu vou arrumar as minhas coisas, dar uns telefonemas e em meia hora eu volto.

Permaneci quieta, não restara-me forças nem para falar. Alex se abaixou em minha frente, acariciou o meu rosto e depois, beijou-me intensamente.

—Eu te amo —Alex falou baixinho antes de sair.

Apenas encarei-o, era mesmo tudo o que eu precisava para ficar ainda pior.

Naquele instante eu já não conseguia mais organizar meus pensamentos, muito menos prever os meus atos. Em cinco minutos recolhi todas as minhas coisas, por bem, organização era uma qualidade minha. Fechei minha mala e desci para acertar a conta com o hotel.

Menos de vinte minutos depois eu estava dentro de um taxi, rumo ao aeroporto. Consegui a passagem para uma hora depois e enquanto aguardava o horário do meu embarque, imaginei que Alex deveria estar furioso com minha fuga.

Não me restava outra alternativa, eu precisava de tempo, tinha que calcular cada passo meu, afinal, sentia-me como se pisasse em um  campo minado.

No mais, ele me encontraria, Alex tinha deixado bem claro que não desistiria, eu só não sabia se isso era bom ou ruim.

Quando meu voo foi anunciado, senti-me como se caminhasse rumo a um abatedouro. Resignada, pus-me a arrastar minha mala, foi quando avistei Alex. Ele vinha na minha direção com um sorriso cínico no rosto.

—Ai, Maria Cecília... Você é mesmo difícil, não é? —Ele passou a caminhar do meu lado. —Por que não me esperou?

—Alex, eu disse que precisava ficar sozinha —resmunguei sem consegui me irritar com ele.

—E eu disse que não facilitaria as coisas para você. —Ele sorriu com o canto dos lábios.

Viajamos lado a lado, fiquei na poltrona da janela e permaneci com o rosto virado contra Alex. Isso não durou muito tempo, dez minutos depois eu já cedia aos seus carinhos, ele segurava minha mão e sem forças para lutar apoiei minha cabeça em seu ombro, sentindo meus olhos pesarem.

—Maria Cecília... —Ouvi a voz de Alex invadindo meus sonhos. —Vamos aterrissar.

Abri meus olhos e demorei alguns segundos até entender, que eu estava dentro de um avião com Alex ao meu lado, sorrindo para mim.

—Você apagou. —Ele roçou os dedos em meu rosto. —Já chegamos.

Que peso aquela frase teve. Chegamos, para mim era o mesmo que: “Você está ferrada!”

Sabia que a possibilidade de encontrar alguém conhecido no aeroporto de Alana era quase nula, mesmo assim, tentei evitar que Alex estreitasse seus contatos comigo enquanto esperávamos por um taxi.

—Essa é a minha deixa. —Falei sem olhar para ele.

—Eu vou junto e de lá, sigo para Santo Valle.

—Não Alex, por favor, não piore as coisas. —Tive que tomar as rédeas da situação.

—Tudo bem... —Ele não escondeu sua decepção. —Mas e agora? O que você vai fazer Maria Cecília?

 Olhei para cima, o céu azul e calmo contrariava minha situação, nebulosa. Sentia-me esgotada, tanto física quanto mentalmente.

—Eu não sei Alex. —Balancei minha cabeça. —Eu realmente não sei.

Assim que o táxi encostou, eu se quer esperei que o motorista colocasse minha bagagem no porta malas, eu mesma o fiz observada por um Alex assustado.

 Preparava-me para entrar no carro, quando ele segurou-me pelo braço.

—Não preciso repetir o que disse antes, não é? —Ele usou um tom desafiador, seus olhos pareciam me provocar.

—Por favor, Alex, não me pressione — supliquei.

Era certo que ele percebera o poder que tinha sobre mim e, como se fosse necessário, ele mais uma vez me beijou, para ajudar em minha decisão, segundo ele.

Parti sem fazer nenhuma promessa, e Alex sabia que embora quisesse fazer parecer fácil, estávamos no olho de um furacão.

O pior foi encarar toda aquela cidade e pensar que eu estava prestes a cometer um ato que para muitos seria imperdoável.

—Lia, achei que voltaria só amanhã —Lucia surpreendeu-se com  a minha chegada a floricultura.

—Era pra ser, mas não tinha muito a se ver, então... —comecei a mentir sem muita criatividade. —Meus pais, onde estão?

—Seu pai foi fazer umas entregas, e sua mãe está resolvendo coisas sobre seu casamento.

Baixei minha cabeça, era aquilo mesmo, não fazia cinco minutos que eu colocara meus pés em Monte Real e a palavra casamento já estava ali, onipresente.

—Lucia, eu estou exausta, vou para casa dormir um pouco, a câmera com as fotos, vou deixá-la aqui no balcão para vocês darem uma olhada.

—Tudo bem querida. —Ela tocou meu ombro. —Eu cuido de tudo, vá descansar.

Em meu quarto, finamente coloquei os olhos naquela carta, claro, agora eu já sabia o que tinha escrito ali, mas pegar aquele papel e lê-lo com meus próprios olhos, com calma e com minha própria interpretação era diferente. Cada linha escrita com uma letra rabiscada, cada palavrinha ali me atingia como tiros á queima roupa.

Tentava organizar as peças daquele quebra cabeças que estava minha vida, e era como se ele estivesse praticamente completo. De um lado, minha história com Alex aparecia toda encaixada, sem furos agora; do outro lado tinha Marcus e todos os quase dez anos de convivência, amor, cumplicidade e descobertas.

Uma década era muito para alguém com vinte e cinco anos.  Como é que eu chegaria para ele e diria que estava jogando tudo para o alto, porque estava apaixonada por alguém que convivi por apenas dez dias ou nem isso?

Eu mesma achava aquilo uma insanidade e sozinha, comecei a pesar tudo com muita frieza. Em um dos cantos, encostadas na parede havia duas caixas grandes, minha mudança.

Nossa casa estava pronta, mobiliada, não vou dizer que era tudo do meu jeito, do meu gosto, porque não seria verdade. Os pais do Marcus cuidaram dessa parte, inclusive, a lista de presente foi feita por ela, sua mãe.

Os presentes eram muitos, uma das salas da nossa futura casa estava abarrotado de embrulhos. As pessoas não economizaram, ganhamos desde jogos de taças de cristal até eletrodomésticos dos mais sofisticados.

Outros que estavam sendo bem generosos, eram os fornecedores que contratávamos. Com anos de trabalho naquele meio, muitos me viram crescer, acabaram por não cobrar ou dar belos descontos nos serviços. Foi assim com os convites, bolo e até com a limusine, tudo isso não nos custou nada.

Parada no meio do meu quarto, imaginava uma balança gigante, onde eu colocava todas as razões e motivos para cada uma das minhas duvidas. De um lado, todas as emoções despertadas e sentidas com o dono dos olhos verdes mais bonitos que já conheci; do outro, minhas obrigações, responsabilidades e mais, minha própria honra, já que muitos naquela cidade, já viam a mim como Maria Cecília Demetri.

Não preciso nem dizer para que lado o fiel da balança imaginária pendeu...

                                                         *******

—Eu vou me casar Gabi, está decidido —afirmei seca e amarga, assim que ela chegou em minha casa.

—Lia, dessa vez não vou opinar. —Ela sentou-se não chão, de frente para mim. —Sério, isso é muito complexo, eu só vi esse tipo de coisa em filmes, e neles não parece tão difícil.

—No meu caso, só se for filme de terror —reclamei. —Graças á Deus o Marcus está de plantão e só vamos nos ver amanhã. Eu não sei como vou fazer para encará-lo, eu estou me sentindo um lixo, pior, o chorume do lixo, ou nem isso...

Gabi respirou fundo e depois me encarou, os olhos caídos, ela partilhava da minha derrota.

—O que eu disser vai ser inútil, mas eu não vejo como você vai conseguir levar isso adiante, não tem com se casar com um cara amando outro. —Ela foi dizendo cada palavra com cuidado e ceticismo.

—Há dez minutos, minha mãe estava aqui, enchendo minha cabeça sobre a prova do meu vestido, penteado e sei lá mais o quê. —Comecei a chorar. —Está tudo pronto, tudo feito e, eu não tenho forças, essa é a verdade eu não posso decepcionar tanta gente.

Ela me abraçou e eu chorei em seu ombro pela milésima vez.

—O Alex... ele já sabe? —Gabi indagou com a voz baixa, quase inaudível.

—Eu já o magoei uma vez, acho que agora consigo que ele me odeie —afirmei sentindo uma dor imensurável, que queimava tudo dentro mim. —Ele vai me procurar e quando o fizer, vou pedir para que me esqueça, de uma vez por todas.

 Mais tarde, antes de dormir, ou melhor, antes de deitar em minha cama e chorar a noite toda, eu peguei a caixa de Alex com tudo o que tinha dentro, menos a “resenha”, e coloquei em uma das caixas de papelão que iriam para o lixo. Não dava mais para ficar alimentando aquele sentimento e nem fantasiando uma história de amor que não tinha como acontecer.

Na manhã seguinte, fui para A Florista, eu precisava trabalhar e enquanto ajudava Lucia a montar uns arranjos, ela lançava-me olhares furtivos.

—Você não parece bem, Lia. — Ela cruzou os braços e me encarou.

Respirei fundo e continuei amarrando as flores.

—Acho que é a pressão pré- casamento — Fui vaga e me segurei para não voltar a chorar, estava com um nó na garganta que só crescia no decorrer dos minutos.

—Sabe, quando me casei, foi assim como você. Uma festa grande, centenas de convidados, e eu fiquei desse jeito também, mas não era pressão pré- casamento, era opressão mesmo. —Ela voltou a trabalhar e eu me interessei em sua história.

—Como assim, opressão?

 Lucia riu com amargura.

—Eu não amava meu marido, mas alguns bons anos atrás, isso não era um fator primordial para selar um compromisso, aí, deu no que deu. —Ela parecia estar se lembrando de coisas desagradáveis. —Anos e anos de tristeza e sofrimento. Você entra nisso achando que pode dar conta e depois fica cada vez mais difícil de sair, o pior é olhar para trás e ver que o tempo perdido não tem volta.

Nossa, parecia até que ela estava lendo os meus pensamentos... Ou será que estava na minha cara que eu não queria me casar? De qualquer forma estava gostando de ouvi-la.

—Você era apaixonada por outra pessoa, Lucia? —perguntei meio sem jeito.

Ela balançou a cabeça em negativa.

—Não, eu só não o amava, mas fiquei presa nesse casamento que eu sabia desde o principio que não daria certo. —Ela encolheu os ombros. —Com certeza o homem da minha vida deve ter se perdido por aí, enquanto eu não queria ser a primeira divorciada da família.

—Uau! —Percebi o quanto ela parecia magoada com sua própria história.

Por um minuto coloquei-me em seu lugar e pensei: “Será que vou ser eu em alguns anos á frente, quem vai estar amargando uma relação fracassada?”

—É por isso que eu digo, algumas decisões que não são tomadas no tempo certo, podem ser ainda mais difíceis quando se arrastam tempo á fora. É mais fácil cortar um broto, que cortar uma árvore. —Lucia filosofou como se respondesse minha pergunta interna.

Arregalei meus olhos com medo.

—Você não é vidente ou coisa do tipo, não é Lucia? —perguntei séria.

Ela riu deliberadamente.

—Não Lia, mas quando tiver a minha idade, vai saber que a experiência nos torna de fato mais observadores, eu diria.

—Ah... —respondi sem entender muito bem ao o que ela se referia. De qualquer forma, suas palavras fundiram ainda mais a minha cabeça.

Continuamos com nosso trabalho, eu tentava me concentrar, mas era praticamente impossível com tanto a me atormentar.

—Você pega mais fita azul pra mim? —Lucia pediu-me, quando entreguei o último pedaço.

—Já volto. —Segui rumo ao nosso estoque. Estava abaixada em frente a uma prateleira quando ouvi passos atrás de mim.

—O que você está fazendo aqui? —Levei minhas mãos ao peito, duplamente assustada.

—Precisamos conversar Maria Cecília, resolver nossa situação. —Alex posicionou-se bem em minha frente.

—Quem foi que te deixou entrar aqui? —Preocupei-me. —O que você falou para Lucia?

Ele sorriu, Alex sabia ser cínico quando queria.

—Ela se lembrou de mim e me disse que você estaria aqui. —Ele encolheu os ombros como se não estivesse fazendo nada errado.

—Isso só pode ser um pesadelo. —Joguei minha cabeça para trás, eu estava perdida. —Nós vamos conversar, mas não agora e nem aqui.

—Então vamos para outro lugar. —Ele esticou o braço para me tocar, com muita dor me desvencilhei.

—Alex, você tem ideia do problema que vai me causar se meus pais, ou pior, se meu noivo nos pegar aqui? —perguntei entre os dentes.

Sua expressão se modificou imediatamente, seus olhos se perderam e depois voltaram-se á mim.

—Não terminou essa droga de noivado ainda? —Ele foi ríspido.

Fechei os meus olhos, arrasada. Preferia sumir, a ter que dizer minhas próximas palavras.

—Alex... —comecei a tremer —eu não disse que faria isso. —Minha voz começou a falhar.

Ele se aproximou de mim e aquilo não costumava dar certo.

—Você disse que me amava, por tanto, não vejo onde esse noivado se encaixa nisso. —Alex foi convicto.

—Olha pra mim Alex. —Dessa vez fui eu quem deu um passo a frente encurtando nossa distância. —Acha mesmo que está sendo fácil? Acha mesmo que se eu pudesse, não estaria em seus braços nesse exato momento? —Estiquei minhas mãos e elas trepidavam. —Veja como eu fico quando estou perto de você... só que eu não posso cancelar essa droga de noivado.

Ele arregalou os olhos, não sei dizer qual a parte do que eu acabava de falar havia o impactado mais, mas a verdade era que eu estava no meu limite, ou além dele.

—Então é isso? —ele falou em meu ouvido e seu corpo chegou a roçar no meu. —Fala na minha cara que me ama, mas vai se casar com outro?

Comecei a chorar.

—É isso Alex. —Cuspi aquelas palavras. —É exatamente isso.

Ele virou- se de costas para mim.

— Eu espero que tenha pensado muito bem...dessa vez Maria Cecília, eu vou fazer questão de te esquecer — falou num tom mais alto e, àquela altura, eu estava pouco me importando se alguém ouvisse a nossa discussão.

—O que eu posso te dizer Alex? Você tem que me esquecer mesmo, me apague de suas lembranças! —eu quase gritei em meio aos meus soluços. —Tudo o que sei é que a vida fez com que nossos caminhos se desencontrassem e agora é tarde para mudarmos o rumo.

Quando finamente ele se virou para mim, era nítido seu esforço em não chorar, mesmo assim algumas lágrimas escapavam e ele parecia estar decidindo o que iria me dizer.

—Eu mais uma vez furei no meu trabalho, deixei de atender clientes importantes —ele começou num tom baixo — ,era para eu estar na Argentina a essa hora, e no entanto, eu estou aqui, ouvindo a mulher que eu amo me dizer que vai se casar com outro. Eu devo ser um trouxa mesmo! —Ele riu com sarcasmo.

Sem respostas, eu apenas balançava a cabeça tentando me explicar.

—Alex, não faz isso comigo, você não tem ideia de como eu me sinto... —Tentei falar.

Ele se aproximou novamente e dessa vez não estava nada amistoso.

—Eu vou te esquecer Maria Cecília. —Agora suas lágrimas já não tinham mais intervalos. —Só não vou desejar á você, felicidades, porque acho que não vá adiantar, afinal, eu não vejo como você possa conseguir.

 Antes de partir ele olhou-me com pena. Eu fiquei ali, largada no chão daquele estoque, amargando tudo o que acabava de ouvir. De novo a história se repetia, dessa vez de forma pior.


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Notas finais do capítulo

Que situação complicada!!! Com bem disse a Gabi:"Eu não queria estar na pele da Maria cecília."
Casar com um, completamente apaixonada por outro? Pior, que agora parece que o Alex ficou com raiva mesmo...
Beijos e até a próxima!



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