Canção Vintage (Crânio & Magrí - Os Karas) escrita por Lieh


Capítulo 44
A Única Coisa que é Real


Notas iniciais do capítulo

Baseado na música Hurt do Johnny Cash.



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1995

Magrí cantarolava enquanto atravessava o imenso corredor do hospital com uma pasta de histórico de pacientes nas mãos. Sorriu ao se recordar de quando era criança e morria de medo dos corredores de hospitais. Não conseguia deixar de pensar na ironia de tudo aquilo, agora que era uma médica quase formada — apesar de ainda ter um longo caminho pela frente.

Ela adentrou, quase sem fazer barulho, a sala de arquivos. Era um dia tranquilo no hospital da universidade, o que era raro de se ter. Precisou cuidar de algumas emergências e passou a maior parte do dia na ala infantil. Porém, depois do almoço ela ganhou um tempo ocioso, sendo assim foi ajudar uma das colegas.

Só havia o som de alguns pacientes em recuperação passeando no jardim. Sem querer, assim que adentrou a sala, Magrí deixou a pasta cair e a papelada se espalhou pelo chão. Com um suspiro, ela se abaixou passando a reunir os papéis tentando seguir a ordem meticulosa que estavam. Os olhos percorriam os nomes dos pacientes... Quando ela ficou imóvel e arregalou os olhos.

"Não pode ser", pensou sentindo o coração acelerar e os ouvidos zumbirem. Leu novamente o histórico, piscou e balançou a cabeça. Fez alguns cálculos — tudo se encaixava com o que estava descrito no histórico. 

Ela deu um pulo quando alguém abriu a porta da sala:

— Tudo bem aí?

A voz animada de Denise quebrou o estupor de Magrí. A jovem forçou um sorriso e tentou soar o mais despreocupada que pudesse.

— Tudo ótimo, Denise. Eu só dei uma de desastrada e acabei derrubando tudo.

Denise riu e passou a ajudar Magrí, que tinha se levantado do chão com a chegada da colega. Engoliu em seco — precisava confirmar as informações que tinha lido. Ainda não tinha se esquecido do que aprendeu com o Calú no tempos dos Karas quando precisava atuar um pouco. Aquela era uma hora em que precisava se esforçar ao máximo.

— Denise, você acompanha esse paciente aqui, não é? — ela apontou para a folha que ainda segurava e que a tinha deixado tão perturbada.

— Sim, eu acompanhei a cirurgia — Denise franziu — Por quê?

— Não, é só que eu me lembrei desse caso, mas não tive mais notícias.

Magrí deu de ombros e Denise acenou.

— Sei que a gente não pode ficar comentando dos nossos pacientes — continuou Denise — Mas esse foi um caso que me entristeceu muito. Não há muito o que se fazer, coitado.

Magrí mordeu a língua e piscou os olhos para conter as lágrimas. O que Denise dizia confirmava o que leu no histórico.

— É uma pena mesmo... E ele não retornou mais?

Denise balançou a cabeça.

— Não. Ele ficou tão abalado que acho que desistiu do tratamento, o que é um grande erro dele. Mas o que eu podia fazer se nem esperança eu poderia passar?

Magrí fez um comentário banal enquanto sentia o coração se despedaçar. Foi com muito custo que conseguiu levar uma conversa casual com a colega enquanto arrumavam os arquivos. Quando enfim ficou sozinha no corredor, Magrí deixou as lágrimas que segurou se derramarem.

Não tinha lido errado. Finalmente achara o velho detetive Andrade, mas para saber que ele tinha pouco tempo de vida.

***

— Você tem absoluta certeza que é o nosso Andrade, Magrí?

A moça suspirou enquanto encarava o noivo do outro lado da mesa do restaurante. Crânio lia a cópia do histórico que Magrí achara de testa franzida.

— As informações batem, Crânio. Nome, idade, profissão... Não tem como não ser ele.

— Não sei... Pode ter vários Andrades que trabalharam na polícia de São Paulo.

A teimosia de Crânio era uma das coisas que mais irritava Magrí desde os tempos da escola. Contudo, ela era perspicaz em perceber que a teimosia dele era pela negação da situação de Andrade. Ela estendeu a mão por sobre a mesa e segurou a mão de Crânio.

— Querido, desista. É ele, você sabe disso — disse de forma carinhosa e triste.

O olhar que trocaram já dizia tudo o que sentiam e pensavam diante daquela realidade dura. Não precisavam colocar em palavras o sofrimento que sentiam. Magrí viu pela expressão no rosto de Crânio que ele estava se segurando ao máximo para não expor o coração que estava tão pesado quanto o dela.

Os dois ficaram em silêncio e sem apetite. O murmúrio dos clientes nas outras mesas e as risadas das crianças ao redor pareciam ser uma realidade distante, como se estivessem assistindo a um filme. Magrí passou o dedo mindinho na boca do copo com o olhar distante. 

Despertou do devaneio quando sentiu a mão de Crânio apertar-lhe os dedos.

— Você deseja visitá-lo?

Ela levantou os olhos e piscou.

— O quê?

— Visitar Andrade — disse o noivo suavemente — Eu sei que você deseja vê-lo.

Ele tinha razão, é claro. Desde o momento que descobriu o paradeiro do velho amigo que desejava vê-lo o quanto antes. Mas ao mesmo tempo temia o que encontraria. Andrade ainda se lembraria deles? Ele estava tão mal assim? Ficaria contente em ver os velhos amigos de tantos anos?

— Eu tenho medo do que vou encontrar... — sussurrou ela se inclinando pela mesa — Você não tem?

Crânio acariciou a mão de Magrí pensativo.

— Tenho também... Mas sei que nem eu ou você vamos sossegar enquanto não fizermos essa visita. Além do mais, nós não somos covardes.

— Sim... Eu me pergunto se eu estou ficando medrosa conforme passa o tempo — Magrí sorriu amarelo.

Crânio suspirou.

— É só a vida, querida...

***

O carro avançava tranquilamente pela estrada quase deserta. Magrí deixou a brisa suave daquela tarde de sábado banhar seu rosto pelo vidro aberto do banco do passageiro, enquanto Crânio com uma mão conduzia o volante e a outra segurava a dela. No banco de trás, uma voz animada quebrou o silêncio:

— Será que ele está nos esperando? Será que está animado em nos ver? Poxa vida, mal posso esperar para ver o Andrade!

Magrí e Crânio forçaram um sorriso para o alegre Chumbinho, que ainda não tinha perdido aquela típica alegria infantil que ele sempre teve. O casal não teve coragem de contar toda a verdade para o rapaz quando o convidaram para visitar Andrade junto com eles. Chumbinho ficou tão contente, tão feliz ao saber o paradeiro de Andrade, que nem Magrí ou Crânio tiveram a frieza de mencionar que provavelmente o velho detetive não seria o mesmo que eles conheceram há mais de dez anos.

Eles deixaram São Paulo para trás ao passo que avançavam para a região interiorana, adentrando a cidade de Sorocaba. Os três amigos acharam engraçado como a cidade conseguia misturar o clima de uma cidade grande ao mesmo tempo com o estilo de uma típica cidade do interior. Chegaram numa rua estreita sem saída que de acordo com o histórico de Andrade, era o seu atual endereço.

Crânio estacionou o carro alguns metros de distância do portão da casa e desligou o veículo. Desceu para abrir a porta para Magrí, enquanto Chumbinho, muito afoito, deu três passos largos como se estivesse se segurando para não correr e apertou a campainha do número 105. 

A casa parecia ser um velho sobrado que já teve dias melhores — o portão de ferro estava enferrujado e as trepadeiras quase mortas. Havia um aspecto triste no local que contradizia as outras casas bem mais conservadas.

Crânio e Magrí que ficaram um pouco mais afastados, se entreolharam com apreensão. Por alguns instantes, eles se arrependeram de não terem contado a Chumbinho o que poderiam encontrar, mas agora já era tarde. O rapazinho apertou novamente a campainha até que por fim uma senhora de aspecto severo e vestida toda de branco abriu o portão só até a metade.

— O que deseja?

— Me chamam de Chumbinho. Eu e os meus amigos viemos visitar o Andrade.

— O sr. Andrade não está disponível para visitas — respondeu secamente — Assim como a sra. Andrade.

A expressão de Chumbinho murchou, enquanto Magrí e Crânio tiveram uma conversa em voz baixa.

— Eu não sabia que Andrade tinha uma esposa — sussurrou Magrí — No histórico não constava que ele era casado.

— Talvez viemos na casa errada — Crânio pensou — Ou o histórico está desatualizado.

— Impossível. O documento era recente, não tem nem um mês.

Magrí se aproximou do portão para perto de Chumbinho e falou de forma suave:

— Desculpe, senhora. Foi com você que eu falei por telefone ontem, correto? — Magrí falou o seu verdadeiro nome — A senhora nos tinha dito que poderíamos vir.

A expressão da mulher tornou-se pensativa enquanto fitava os três jovens ao portão. As linhas da testa se suavizaram:

— Sim, é verdade. Acabei me esquecendo que viriam. Desculpe — não havia tanto arrependimento na voz dela — É o que srs. Andrades estão muito cansados hoje. Por isso vou pedir que não estendam muito a visita.

Ela falou com tal autoridade que não sobrou outra alternativa para Magrí, Crânio e Chumbinho a não ser concordarem. O coração de Magrí estava muito pesado, pois reconheceu de cara que aquela mulher não era uma empregada como havia pensando quando falou com ela pelo telefone — ela era uma enfermeira.

A mulher os conduziu para um corredor estreito e um pouco escuro até a sala de estar do sobrado. O aposento era estreito com uma janela que dava para a rua parcialmente coberta por uma cortina bege. Havia uma mesinha de madeira no centro apenas com um vaso de flores que pareciam necessitar serem regadas. O sofá tinha uma cor escura e estava puído, assim como o tapete. Havia um velho relógio cuco que era o único som da sala. Não havia televisão. A decoração era completamente sem graça e fora de moda, como se o lugar tivesse parado no tempo.

No sofá velho estava uma senhora magra com uma manta nas pernas. Os cabelos muito brancos refletiam um pouco o sol da tarde que entrava pela janela. Havia algo preso nas narinas — Magrí soube na hora duas coisas: que aquela não poderia ser a esposa de Andrade e que aquela senhora estava com sérios problemas respiratórios. Dois olhos de coruja que se destacavam no rosto pálido fitaram os visitantes.

Ao lado dela estava um homem careca com a barba por fazer segurando uma tigela para que a velha se alimentasse. Os olhos dele estavam caídos; parecia que ele perdeu dez quilos pelo aspecto nada saudável da sua aparência. A barriga era maior do que o normal para um homem de sua idade, e havia algo de doentio na forma como as mãos se movimentavam ao levantar a colher — os dedos tremiam e ele parecia se esforçar para fazer o mínimo gesto.

Os três amigos ficaram mudos diante daquela cena. Eles se sentiam como intrusos num filme que não foram convidados a fazerem parte. Chumbinho pela primeira vez ficou mudo, e toda a sua alegria parecia ter sido deixada no portão do sobrado. 

Crânio fitava ora a velha ora o homem que só poderia ser o já quase idoso detetive Andrade. Magrí se apoiou no noivo como se segurasse para não desmaiar por alguns segundos antes de forçar a sua melhor expressão de alegria:

— Boa tarde, querido Andrade. E sra. Andrade.

A sra. Andrade piscou:

— O quê? O que você disse?

— Ela disse boa tarde — Andrade respondeu sem olhar para os visitantes — Eles vieram me visitar.

Um curso silêncio se instaurou. Andrade parecia relutar em olhar para os garotos. Por fim, ele levantou os olhos:

— Olá Magrí, Crânio, Chumbinho. Bom vê-los de novo.

Pelo modo como a cena se deu nem parecia que era o reencontro de velhos amigos, mas sim uma cena de um funeral. Gaguejando, Andrade fez a vez de anfitrião e ofereceu o sofá menor e uma cadeira para os visitantes sentarem. Ele ofereceu um pouco de café e bolachas e os três educamente aceitaram — sem nem ao menos pestanejar pelo café já estar frio e as bolachas com gosto de mofo.

O silêncio caiu de novo. A velha no sofá resmungava coisas incompreensíveis enquanto bebericava do ensopado que Andrade oferecia a ela com insistência. Chumbinho disfarçava o melhor que podia as caretas enquanto comia; Crânio olhava de soslaio para Magrí o tempo inteiro com a xícara na mão e a moça corria o olhar para ele e Andrade. Crânio parecia pedir alguma coisa a Magrí, mas ela relutava. Então o rapaz tomou os rédeas:

— Eu imagino que ela seja sua mãe, não é Andrade?

— O quê? O que ele disse? — resmungou a velha olhando de um lado para o outro.

Crânio queria se chutar pelo pergunta estúpida, mas ao menos Andrade voltou a dar atenção para os visitantes.

— Sim, Crânio ela é a minha mãe. Desculpe, ela é um pouco surda — um tímido sorriso brincou no rosto bochechudo dele — Ou você fala bem perto dela ou bem alto.

Crânio sorriu de volta e por alguns instantes a tensão se dissipou. Ele não conseguia parar de pensar que estavam sendo intrusos e que não deveriam estar ali. Mas já era tarde para voltar atrás.

A enfermeira adentrou a sala com passos rápidos se dirigindo a velha com um medidor de pressão.

— Hora do exame, senhora — disse ela com eficiência.

Magrí se levantou depositando a xícara na mesinha de centro.

— Deixe-me ajudá-la. Eu já sou quase uma médica formada — sorriu de forma encantadora para apaziguar o olhar duro da enfermeira.

Por um momento, Magrí achou que ela não iria ceder ou ralharia com ela, mas seja qual fosse o motivo — talvez cansaço — a enfermeira deu passagem para a moça que se aproximou da sra. Andrade com o medidor de pressão arterial dado pela enfermeira.

— Estenda o braço e o aperte — disse ela bem perto do ouvido da velha enquanto ajustava o aparelho.

Ela não reclamou e fez como Magrí pediu. A moça apertava a bomba, enquanto olhava o número no visor. O número estabilizou e ela segurou um suspiro de alívio.

— Sua pressão está boa, sra. Andrade — disse ela retirando o aparelho do braço dela — Imagino que tome remédio, certo?

— Sim, muitos remédios — respondeu ela.

Andrade olhava para a cena com uma expressão entre a tristeza e o orgulho de ver aquela menina que considerava sua filha — não mais uma menina, pensou assombrado — cuidando de sua mãe.

— Você não está mais trabalhando na polícia, Andrade?

A voz de Chumbinho fez com que todos se virassem para ele, menos a sra. Andrade. Crânio queria esganar Chumbinho, mesmo sabendo que o rapaz não tinha culpa pela própria ignorância. Andrade pareceu perturbado, mas mesmo assim respondeu com carinho para ele:

— Estou aposentado, Chumbinho, e aproveitando o tempo para cuidar da minha mãe.

Magrí sentiu um caroço na garganta — aquela frase tinha mais significado do que aparentava. Numa conversa muda com Andrade, o ex detetive soube no olhar dela que Magrí estava ciente não somente da situação da sra. Andrade, mas dele próprio.

— A pressão do sr. Andrade também precisa ser medida — disse a enfermeira secamente para Magrí — Você vai ou não fazer isso, mocinha?

— Ah desculpe — Magrí piscou e se dirigiu a Andrade com o medidor — Estenda o braço, Andrade, por favor.

Ele fez conforme ela instruiu. Pela proximidade, os dois puderam conversar aos sussurros sem que os outros ouvissem — e agradeceram pela surdez da sra. Andrade.

— Você trabalha no hospital universitário de Campinas, não é? Eu vi você por lá algumas vezes.

Magrí arregalou os olhos.

— Você me viu quando esteve lá internado? Por que não falou comigo? Por que não pediu minha ajuda, Andrade?

Ele não respondeu e Magrí se segurou para não para pressioná-lo mais. Os dois ficaram mudos, até Magrí voltar para o sofá. Pela expressão de Crânio e Chumbinho, os dois sabiam que a moça e Andrade tiveram uma conversa tensa.

Crânio mais uma vez tentou iniciar um diálogo:

— Fiquei surpreso quando descobrimos que você saiu de São Paulo, Andrade. Aqui me parece ser uma cidade tranquila.

Andrade fitou Crânio com um olhar estranho que deixou o rapaz um pouco apreensivo. Ele se arrependeu do comentário casual, apesar de não saber ainda o motivo. A expressão de Andrade, no entanto, suavizou-se.

— Gosto daqui, Crânio. Sempre quis sair da loucura de São Paulo e depois que me aposentei, não deixei a oportunidade escapar.

— Sentimos sua falta, Andrade — disse Magrí — Não sabíamos o que tinha acontecido com você depois da formatura...

Pronto. Magrí tinha introduzido o que todo mundo queria saber, mas tinha medo de mencionar. Ela olhou para Chumbinho como uma forma de aviso para que o rapaz não se precipitar e tivesse paciência. Os ombros dele caíram.

Andrade gaguejou:

— Os úl-timos anos foram... difíceis, Magrí. Mais difíceis do que eu esperava.

Ele parou e olhou de soslaio para a mãe que estava totalmente alheia a conversa, brincando com os dedos com as pontas do lençol que cobria as pernas.

— Passei por momentos terríveis enquanto trabalhava na polícia que me fizeram ter alguns... Alguns problemas de saúde. Não sou mais jovem e não tenho mais a energia que tinha antes quando saíamos por aí prendendo criminosos como o Dr. Q.I. — ele sorriu com carinho para os três — Todos os casos que resolvemos juntos foram cruciais para a minha carreira de detetive, mas também paguei um preço muito alto por todo esse sucesso.

O lábio superior de Magrí tremeu. Sentiu que Crânio apertava-lhe a mão para consolá-la e a tensão que emanava do corpo de Chumbinho do outro lado do sofá.

Andrade fingiu não ver a expressão de apreensão no rosto dos velhos amigos — ou ignorou, difícil dizer. Quando levantou os olhos que estavam ao longe fitando o nada, havia um brilho no olhar que transmitia todo o peso dos últimos anos.

— Não vou esconder nada de vocês, queridos. Só gostaria que os outros estivessem aqui... — ele pausou — Não vejo Miguel e Calú há muito tempo. Eles estão bem, espero? Vocês continuam se falando e se vendo? Minha alegria seria saber que continuam amigos até hoje.

A mandíbula de Crânio ficou rígida e o corpo mais tenso do que o de Chumbinho. Magrí se remexeu ao seu lado com o coração acelerado. Antes que ela pensasse em dar uma resposta, o noivo interveio:

— Mais ou menos, Andrade... Ainda nos falamos, é claro e como Calú também está nos Estados Unidos, de vez em quando nós nos encontramos para jogar conversa fora — ele forçou um sorriso despreocupado — Com Miguel o contato é mais difícil... Sabe como é, ele trabalha demais, não tem muito tempo...

Andrade franziu a testa. Havia algo na afirmação de Crânio que o incomodava e sabia que o rapaz estava omitindo algo dele. Pensou em pressioná-lo a falar, mas mudou de ideia rapidamente. Não era uma boa hora.

Chumbinho se remexeu e num rompante quebrou toda a formalidade e a conversa fiada que estava ocorrendo:

— O que está acontecendo? Andrade, o que você tem? Por que está aqui nesse fim de mundo? Por que você me parece tão doente?

Magrí arfou e Crânio olhou feio para Chumbinho que o ignorou fitando Andrade. O ex detetive abriu e fechou a boca como um peixe.

— O quê? O quê? O que ele disse? — a sra. Andrade olhou de um lado para o outro como uma barata tonta.

— Está tudo bem, mamãe. Fique tranquila.

Andrade ajustou a manta da senhora e sentou-se novamente. Chumbinho não escondia a expressão zangada e demandava a uma explicação imediata. Andrade encarou Magrí e Crânio e nessa troca de olhares, ficou claro para ele que o casal sabia da condição que se encontrava.

— Respondendo a sua pergunta, Chumbinho... Sim, estou doente. Estou com câncer no estômago.

Magrí não aguentou segurar as lágrimas e Crânio tentou acalmá-la sentindo o peso daquela afirmação em voz alta que tornava tudo mais real.


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