Edmund e Lottie passeavam pela passarela, entediados. O garoto, para passar o tempo, jogava a sua lanterna pra cima e a pegava, também entretendo Lottie. No entanto, em um dos lançamentos, a lanterna fugiu de seus dedos e caiu em uma varanda abaixo. Ambos correram à borda da varanda e arregalaram os olhos ao ver  um guarda passar por baixo, pegando a lanterna. 

— O que faremos agora, Ed? - Lottie perguntou em desespero. - Ed!

O garoto correu escada abaixo sendo seguido por Lottie, ao chegar a uma janela, ambos observaram o homem acender a lanterna, cegando-se temporariamente já que o feixe de luz atingiu o seu rosto. Em um pensamento rápido, Edmund saltou da janela derrubando o guarda, Lottie tentou descer assim como ele, mas decidiu que não seria de grande ajuda se quebrasse algum osso, então continuou descendo as escadas. 

Quando chegou em baixo, um telmarino se pôs no caminho de Lottie e esta teve tempo apenas para desembainhar a sua espada, rebatendo o golpe. Ela tentava se defender ao máximo do inimigo como Edmund havia lhe ensinado.

— Agora, Ed! Agora! - Pedro ordenou correndo no pátio do castelo. 

— Estou um pouco ocupado, Pedro! - Edmund gruniu enquanto lutava com o seu adversário. 

— Lottie! - Pedro chamou sem enxergar a garota. 

— Agora não, Pedro! - a garota gruniu.

O guarda por ser mais experiente, conseguiu derrubar a espada dela e a empurrar rumo a borda da varanda. O homem soltou um grito de guerra, enquanto corria em sua direção. Ela, por instinto, gritou enquanto se abaixava e viu o guarda passar direto por suas costas, caindo no pátio abaixo deles. Lottie pôde ver Leah desviar do corpo do homem, olhando pra cima em seguida, a garota observou um guarda vir atrás de Leah e a alertou. Leah combateu com o homem em maestria, correndo em direção ao portão, em seguida. 

Edmund conseguiu se livrar de seu oponente acertando sua cabeça no nariz dele, porém um outro apareceu, atrasando Edmund outra vez. O guarda conseguiu derrubar a espada dele, fazendo o garoto se afastar em busca de alguma arma. Ele encontrou a sua lanterna e atacou o homem, porém o golpe de um escudo na cabeça do oponente o derrubou. 

— Você está bem? - Lottie indagou soltando o escudo no chão. 

— Sim, obrigado. - agradeceu gentilmente. 

No portão, Pedro girava uma espécie de timão para abrí-lo, porém o fazia sozinho.

— Pedro! É muito tarde! - Susana gritou. - Temos que recuar enquanto ainda podemos! 

— Não! Ainda posso fazer isso! - afirmou. - Me ajudem!

Os três foram ajudar Pedro a rodar o timão. Eles observaram as tropas do Exército sair de seus alojamentos e urrar gritos de guerra. Ainda dava tempo de voltarem, poderiam se preparar melhor para a batalha. O elemento surpresa já era, porém Pedro queria fazer aquilo. 

— Por quem, exatamente está fazendo isto, Pedro? - Leah indagou, fazendo o garoto olhá-la em desespero. 

Edmund tentava ligar a sua lanterna, mas devido ao ataque, esta apresentava dificuldade em completar a sua tarefa.

— Vamos... - Edmund gemeu ansiosamente. 

Lottie olhou para baixo e viu os quatro tentando freneticamente abrir o portão, fazendo o seu pânico aumentar. Ela chegou perto da borda, notando as tropas de aproximarem deles. Se os narnianos não chegassem, eles morreriam ali mesmo, então ela sentiu seu sangue esquentar e borbulhar.

— Aaaaaaah! - Lottie gritou. 

Um feixe de luz saiu de suas mãos, atingindo os soldados no pátio, atrasando-os por um tempo. Ela olhou para Edmund que a encarava com os olhos arregalados. O que aconteceu? 

— O que foi isso? - perguntou alarmado.

— Eu não sei. Não é como se eu fizesse isso em casa! - confessou nervosa. 

Edmund assentiu com a cabeça, apoiando-se na borda da varanda enquanto via alguns soldados desorientados no pátio. Ele voltou a bater em sua lanterna, porém não funcionava. 

— Pelo visto, terá que fazer de novo. Acho que a minha lanterna quebrou.

— Essa não é hora para piadas, Ed! - advertiu. 

— Não foi uma piada. Precisamos avisar as tropas. - explicou gentilmente a fim de não deixá-la mais nervosa. 

Lottie gemeu e abriu as suas mãos, tentando repetir o que havia feito, porém nada aconteceu. Edmund mordeu o lábio nervosamente enquanto observava a garota imitar as ações sem resultado. Ele observou que a visão dos telmarinos estava voltando ao normal e disse gentilmente a Lottie:

— Vamos, Lottie. Eu sei que você consegue.

— Eu me sinto uma idiota...parecia tão fácil alguns minutos atrás. - confessou frustada.

— É só imaginar você projetando a luz. Não deve ser tão difícil. 

— Me desculpe, você por acaso tem poderes mágicos que acabou de descobrir? 

— Não... - respondeu receoso.

— Então, pare de falar! - ordenou exaltada. 

Edmund obedeceu sem relutar, só ela que podia gritar e ordenar que um rei calasse a boca, se não fosse um momento de desespero, ele a teria puxado para um beijo ali mesmo. Lottie se pôs a repetir os passos novamente e observou os telmarinos correrem em direção aos seus amigos no portão. De repente, ela sentiu algo queimar fortemente dentro dela.

— Luz! - gritou. 

Um feixe de luz tão brilhante quanto o outro surgiu, quase cegando Edmund que cobriu os seus olhos com o braço. As tropas entenderam o sinal e saíram em direção ao castelo.

Os quatro conseguiram abrir o portão a tempo, deixando os narnianos com sede de recuperar a sua terra entrarem. Ao passarem, o grupo desembainhou as suas espadas. Pedro bradou:

— Por Nárnia! 

Eles partiram ao ataque cortando as cabeças e ferindo todas as partes do corpo dos telmarinos que pudessem. Minotauros os atingiam com seus chifres, os guepardos mordiam e arrancavam os membros, os faunos pulavam em cima dos soldados atingindo-os com suas patas de bode, enquanto os centauros lutavam bravamente com suas espadas. Lottie ficou assustada ao constatar a fúria e violência lá em baixo, uma coisa é aprender sobre guerras na escola, outra bem diferente é estar em uma.

— Arqueiros! - eles ouviram um guarda bradar. 

Logo em seguida, um grupo de trinta homens estava a postos em uma passarela abaixo deles. Edmund observou que um deles apontava para o seu irmão e pulou, atingindo o soldado que caiu no pátio em baixo.

— Ed! - a garota gritou chamando a atenção de Pedro. 

 Lottie acompanhou o garoto, derrubando outro soldado no chão do pátio. Pedro observou o corpo de arqueiros ao lado deles e alertou:

— Ed! Lottie! 

Os dois olharam espantados para o lado. Lottie sentiu Ed a puxar pela mão quando os soldados começaram a bombardear as suas flechas neles. Eles atravessaram uma porta caindo juntos no chão, enquanto Ed fechava-a com o pé, depois só viram a porta ser alvejada por dardos afiados.