Queridos Mamãe e Papai

Como estão? Desculpe não ir ver vocês na Páscoa, mas eu precisava ficar em Hogwarts, devido à enorme quantidade de deveres de casa que os Professores estão nos passando, já que eles dizem que falta pouco para os exames finais. A Vovó mandou a vocês os doces que pedi? Espero que sim. Ela não ficou feliz por eu ter escrito a ela dizendo que não iria para a casa… Agora já foi, deixa assim mesmo. No meio tempo entre os estudos e as aulas, vou contar algumas coisas que eu vim observando e as consequências dessas obsercações.

Depois do jogo contra a Lufa-Lufa, Harry e Ron vêm se comportando de maneira estranha: Eles estão, de alguma forma, protegendo o Professor Quirrell. Harry agora, sempre concorda e sorri para ele, como se o tivesse constantemente encorajando e Ron passou a ralhar com as pessoas que tiravam sarro da gagueira do Professor. Não sei o que aconteceu, mas sei que isso é muito esquisito. Eles dois também têm passado um tempo extra na biblioteca, mesmo sem a presença da Hermione que vive por lá. Comecei a pensar que eles poderiam estar aprontando alguma.

A vantagem de ser alguém sem importância é que as pessoas não reparam quando você está por perto e foi justamente assim que eu descobri o que os três estavam aprontando dessa vez. Numa noite, Ron apareceu com a mão embrulhada num lenço que estava ficando cada vez mais vermelho de sangue. Deixei minha curiosidade de lado, terminei meu dever de Feitiços e fui para o quarto descansar. No dia seguinte, Ron tentou a todo custo esconder sua mão, mas em vão. Ela havia ganho um tom esverdeado, como se alguma coisa venenosa o tivesse atingido ali. A tarde ele foi até a Ala Hospitalar, pois estava começando realmente a parecer doente. Um tempo depois, quando eu estava a caminho para o jantar, ouvi Malfoy contar a Crabbe e Goyle que tinha encontrado uma forma de fazer Harry Potter ser expulso, através de uma carta de um dos irmãos de Ron dizendo que no sábado, à Meia-noite, seria despachado um dragão da torre mais alta do castelo. Eu não sabia o que pensar, portanto decidi investigar e avisar a Harry antes que o Draco pudesse pôr seu plano em ação.

Eu tinha que avisar ao Harry, mas não sabia como abordar o assunto sem parecer um abelhudo intrometido, então decidi ir me encontrar com eles à meia-noite na tal torre mais alta. Eu subi para meu quarto na hora de costume, fechei as cortinas da minha cama e esperei, sempre de olho no horário e quando o relógio marcou onze e meia, eu respirei fundo e sai. Os corredores estavam desertos, escuros e fantasmagóricos como eu já havia visto antes, mas dessa vez eu estava desbravando o castelo e não parado em frente ao retrato da Mulher Gorda ou correndo pela minha vida.

Eu tinha que ir o mais rápido possível encontrar Harry, Ron e Hermione na torre mais alta… O problema é que só quando eu estava no quarto andar é que me dei conta de que eu não sabia qual era a torre mais alta. Eu congelei. Hogwarts deve ter no mínimo umas quinze torres, cada uma mais alta que a outra e eu jamais saberia qual delas é a mais alta. Penso que assim que possível, vou seguir a recomendação constante da Hermione e ler “Hogwarts, uma História”. Quando eu estava decidido a seguir para a Torre de Astronomia, que é a única que eu realmente sei onde fica, eu ouço uma voz atrás de mim, feroz como o rugido de um leoa me chamando em alto e bom som: “Sr. Longbottom! Espero que o senhor tenha um excelente motivo para estar aqui a essa hora”. Era a Professora McGonagall, embrulhada em seu roupão escocês e atrás dela, com cara de quem havia sido condenado à morte, estava Draco Malfoy.

A pedido da Professora McGonagall, nós dois a seguimos, sem trocar palavra. A Professora deixou Draco aos cuidados do Sr. Filch e, quando eles se afastaram em direção às Masmorras, me perguntou o que estava realmente acontecendo. Vendo que não tinha outra opção, eu contei à ela toda a história. Ela ouviu e para a minha surpresa, ela não parecia espantada ou coisa do tipo, apenas assentiu a cada uma das minhas palavras e pediu que eu a seguisse.

Quando chegamos ao escritório dela no primeiro andar, Harry e Hermione estavam ali, esperando por ela. Será que Ron ainda não havia se recuperado totalmente de seja lá o quê havia o mordido? Como eu não reparei na presença dele em sua cama no dormitório? Ela os repreendeu como a Vovó costuma fazer comigo, inclusive com a mesma expressão no rosto. Não foi legal. Quando os dois não responderam a nenhuma das perguntas que a Professora fez, ela própria chegou a conclusão de que a história do dragão era apenas uma forma que Harry havia encontrado para encrencar Malfoy. Eu não queria acreditar, Mamãe e Papai. Não poderia ser… Harry mentiu e eu acreditei? E Hermione… Aquela garota gentil que sempre me ajuda quando eu preciso, a primeira pessoa a quem eu considerei uma amiga, estaria envolvida nisso também... Eu senti uma pontada dolorosa no coração e mal consegui segurar as lágrimas de desapontamento. Eu não podia chorar ali, na frente deles e da Professora. Como resolução final, a Diretora da nossa própria Casa nos tirou cinqüenta pontos… De cada um. Como se isso não fosse ruim o suficiente, Harry tentou argumentar, mas ela o fez se calar, dizendo que nunca sentiu tanta vergonha de alunos da Grifinória antes. Doeu.

 Então, Papai e Mamãe. Se lembram que a vitória no jogo de Quadribol havia nos garantido o primeiro lugar no Campeonato das Casas? A perda dos cento e cinqüenta pontos nos fez mergulhar para o último lugar.

Depois que a Professora McGonagall nos dispensou, fui para a Torre da Grifinória sem olhar para Harry e Hermione. Eu estava sentindo um gosto estranho e amargo na boca que eu não sabia de onde vinha. Deitei para dormir, mas o sono não veio. Quem vieram foram as lágrimas e dessa vez, eu não segurei e chorei até ser vencido pelo cansaço.

Sei que essa carta não foi das melhores, mas todo mundo tem altos e baixos.

Logo escrevo contando sobre a detenção.

Amo vocês.

Neville Longbottom.