Badlands escrita por TheNextSupreme


Capítulo 4
3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/746916/chapter/4

"Você é estragado como eu? Estranho como eu?
Acende fósforos só para engolir a chama como eu?
Você se intitula como um furacão como eu?
Apontando dedos pois nunca vai assumir a culpa como eu?"
—Gasoline (Halsey)

Trevor|Libra

—Ei, onde você estava?—Eu digo, interceptando minha irmã quando ela entra pela porta da sede, acompanhada por Amanda.
—Por aí, maninho, por aí.
Me levanto do amontoado de trapos que nós chamamos de divã e intercepto-a antes de mais nada.
—Só estou preocupado, sabe?
Na verdade, com todas as missões, todas as richas, todas as perdas e toda a pressão de poder ser apunhalado pelas costas o tempo todo, achei um lugarzinho para me preocupar com o que se passa na cabeça de Líria. Desde que éramos crianças, ela sempre foi do tipo de deixar mistérios e não estar nem aí com quem não compreender, é a pessoa mais segura de si que eu conheço e confio plenamente nas suas razões mas...Ainda assim...
—Trevor, eu não saí da nossa Zona, se é o que quer saber.—Ela ri. Olho pra Amanda que revira os olhos, compartilhando os mesmo pensamentos sobre os perigos da fronteira.
—Tudo bem, Lí.
De uma das portas enferrujadas, Daniel aparece com o olhar inexpressivo. Cumprimenta as meninas e, depois de as assistirmos sumirem de vista na sede, coloca o braço sobre os meus ombros e começa:
—Parece que a missão de hoje é pra você, cara.
—E lá vamos nós...—Reviro os olhos, já sabendo o que estava por vir.—Pode mandar.
—Sean e Asad não têm certeza sobre os Hydra, precisam que você dê uma olhada enquanto eles acalmam as pessoas da nossa Zona.
Meus ombros caem, poderiam ser os Orion ou os Sagitta mas não, havia de ser os piores dos piores. Suspiro.
—Qual é, Trevs? você sabe que é o mais rápido de nós...É só dar uma olhadinha e voltar.
—Por que sempre cabe a mim ver se a sujeira não está mais na nossa porta?
—Bom, o que tem a perder?
Paro pra um momento de reflexão. Não tenho nada a perder, nenhum de nós têm pelo simples fato de não termos nada a não ser um ao outro. E é por isso que evitamos falar dos mortos em batalha, dos desaparecidos e dos capturados, não suportamos o fato de nos tirarem de nós mesmos e então vivemos em constante vigília.
Todos nós, não só os Libras mas todas as gangues. É o que nos torna iguais, mas obviamente, se eu dissesse isso, questionariam minha sanidade.
Então me despeço de todos e saio, com nada além de um binóculo desgastado e ultrapassado, e uma faca no sinto, que espero não ter que usar novamente em tão pouco tempo.

b a d l a n d s
Mais felino do que humano eu escalo a cerca de ferro e pulo pra dentro do território inimigo sem fazer barulho. Há um metro, um garoto com a pele um pouco mais clara que a minha está encostado num poste enquanto uma garota com a mesma pele e cabelo preso anda de um lado pro outro. Sentinelas. Ambos com fuzis brancos cotrabandeados de Castle.
Me abaixo na pouca vegetação e rastejo até um barraco sustentado por poucos tijolos e madeira mas ainda de pé. Me encosto numa das paredes e olho ao redor: Só aqueles dois sentinelas e mais ninguém? Nem ao menos os brutamontes quase atravessando os limites? Isso não é bom sinal.
Normalmente, depois das richas, gangues vigiam umas as outras durante semanas até a poeira baixar, só por precaução mas, não vejo ninguém aqui e até pude invadir sem ter que me preocupar com a segurança da minha bunda.
Se tem algo de diferente com que se preocuparem que seja tão importante quanto outras gangues, precisamos saber também, afinal, qualquer coisa pode ser a diferença entre a vida e a morte nessa cidade.
Saio dos meus devaneios quando ouço o som da areia sendo esmagada. Prendo a respiração e, lentamente, encosto meu ouvido na parede do barraco.
—Que merda nós fizemos, cara?
—Foi ideia sua.
—Que se dane de quem foi a ideia, temos que dar um jeito nisso...Um jeito nela.
—Ela é um deles, se lembra? Só largue ela aí e vamos voltar pra sede.
—As meninas vão nos matar.
—Elas não precisam saber, ninguém precisa saber.
—E se ela acordar? Contar pra alguém? Estamos ferrados, cara!
—Ela nem sequer sabe onde está, se acordar, acabamos com ela.
O segundo solta uma gargalhada demorada e, por fim, as vozes se afastam, misturando-se com as dos sentinelas.
Preciso ir embora da Zona Oliva, é arriscado demais e já vi que somos a menor das preocupações deles. Não sei se me sinto aliviado ou envergonhado.
Me levanto e, sorrateiramente começo a andar até a cerca mas então...Olho pra trás, pro barraco.
Ela nem sequer sabe onde está.
Quando me dou conta, estou voltando pra lá, minhas pernas trabalhando contra a minha vontade...Argh, o que estou fazendo? Preciso voltar pra Libra, pra minha irmã e todos os outros.
Por curiosidade ou heroísmo fajuto, olho por trás do barraco para checar os sentinelas conversando entre si.
Rapidamente, giro de uma parede a outra e entro pelo batente do que era pra ser uma porta. Engulo em seco ao ver os cabelos dourados no chão, as pernas juntas numa posição fetal, as roupas mais quase limpas e novas que já vi. A luz do sol atravessando uma falha na laje e iluminando o rosto delicado, um corte no lábio e uma expressão perdida.
Então, entendo tudo o que acontecera. Sinto meu maxilar se enrijecendo de ódio dos Hydra.
Rápida e cuidadosamente, coloco o braço da garota em torno do meu pescoço e a tiro do chão, checo os sentinelas novamente e nos levo até os limites. Me arrasto por entre um buraco na cerca e passo o corpo da garota logo depois, o mais cuidadosamente possível.
Olho pra ela novamente e pela primeira vez, posso não me importar com de qual gangue ela vem ou a cor de sua pele. Só quero tirá-la do inferno que acabou de vivenciar.

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Badlands" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.