Badlands escrita por TheNextSupreme


Capítulo 3
2




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"Cansada destas pessoas falando, cansada do barulho
Cansada de todas as câmeras piscando, de manter a pose
E agora meu pescoço está exposto
Implorando por um punho à sua volta
Já estou me engasgando em meu orgulho
Então não há por que chorar por isto"
—Castle (Halsey)

Margot Maddox

Olho pros talheres e pratos perfeitamente postos sobre a mesa de mármore branco a minha frente. Ignoro o conteúdo dentro do maior prato. Olho pra cima, o quadro da Santa Ceia perfeitamente pintado no teto sustentado pelas pilastras de um mármore branco perfeitamente e inutilmente polido pelos empregados.
—Margot, querida, você mal tocou na comida.—Ouço minha mãe dizer enquanto junta o garfo e a faca no meio de seu prato e o coloca de lado.
—Não estou com muita fome hoje.—Digo sem tirar os olhos do teto, estrategicamente para provocar meu pai, e então iniciar uma conversa que se preze ao invés dos mesmos discursos feitos que ele declara pra toda Badlands.
E então, a voz em tom de reprovação surge:
—Margot, faça o favor de de olhar quando nos dirigimos a você?
Contenho um sorrisinho e, por fim, fixo meus olhos nos de meu pai. As grandes janelas atrás de mim refletindo perfeitamente no abismo verde do semblante dele, o verde que nem Mason havia herdado dele mas eu sim. Os olhos. As únicas coisas realmente em comum que temos.
—O senhor fala comigo como se eu fosse uma criança.—Disparo.—Acabei de fazer 17 e...
—Uau, ela tem 17 agora, viram mamãe e papai? É uma completa adulta!—Reviro os olhos ao ouvir a costumeira ironia de meu irmão mais velho.
—Cale a porcaria da boca, pelo menos uma vez na vida, não está vendo que isso não te interessa?
Ouço minha mãe suspirar, desapontada. Mason faz menção de dizer alguma coisa mas meu pai levanta um dos dedos e o aquieta na hora. Limpa a boca com um lenço e aponta o dedo pra mim.
—O que está querendo, Margot?
—Sabe muito bem.
Ele pareceu parar pra pensar por um segundo. Apertei minhas mandíbulas.
Meu pai suspira, passa a mão pelo rosto, parecendo cansado, e responde:
—Achei que já tivéssemos conversado sobre isso.
Cerro os olhos, meu pai é definitivamente a pessoa mais incompreensível que eu conheço.
—Um "Não" não é conversar.
—É claro que é, se eu decidir que é.
—Pai, você já controla as pessoas, agora quer controlar a linguagem também?
—Cuidado com o que fala, mocinha!—Ele se levanta e grita com um dos empregados vindos da cozinha e retorna a falar.—Já está decidido, Margot, você nunca vai sair de Castle. Nunca.
Me levanto bruscamente e bato com o punho cerrado na mesa. Olho pra minha mãe, procurando ajuda.
—Ele não pode fazer isso...Não pode me prender aqui! Concorda com isso, mãe?
—É pro seu próprio bem, querida...É porque te amamos e...
—Ela está querendo copiar o Max, é isso. Quer ser deserdada, Margot? Quer virar uma esquerdista fajuta e...
—Se diz que nos amam tanto, mãe, por que deixar Max sair?
—Ele mentiu e fugiu, sabe muito bem disso!—Mason diz, voltando a se intrometer.
—Eu perguntei pra mãe, seu babaca, será que não se toca? Eu quero servir pra alguma coisa real, isso tudo é inútil, você é inútil esperando o pai morrer pra herdar essa cidade e todos sabem muito bem disso!
Volto o olhar pra minha mãe. Os olhos azuis numa confusão contínua, como o oceano em fúria dos livros antigos.
—BASTA!—Meu pai grita, ecoando pelos 4 cantos da mansão. Os empregados estremecem.—Nenhum filho meu vai sujar o nome Maddox saindo de Castle e deixando seu povo, sem mas e, Margot, escute sua mãe pelo menos uma vez.
Mordo o lábio para não questionar, mas o faço mesmo assim. Como escutar minha mãe se o marido tirano vulgo meu pai, não lhe dá voz? Pela primeira vez na vida:
—Possuir é o oposto de amar. Pai, você não nos ama, você nos têm.
Ouço minha mãe vacilar, em vão contendo as lágrimas. Não por minha causa mas por ela saber que é a verdade. Mason se levanta e sai, cochichando palavrões e chutando os empregados.
­—Suma da minha frente.—Ouço o ultimato final de meu pai. Engulo em seco.
Contorno a mesa, assisto meu pai sumir em uma das gigantescas portas e uma empregada consolando minha mãe. É claro que nossa vida vai virar fofoca por Castle toda até o fim do dia.
Antes de ir pro salão principal, afirmo com a cabeça, quase imperceptívelmente para minha irmã caçula, Mabel.
Ela retribui o aceno e então quase concluímos o plano.
Eu não posso mais ficar neste lugar. Não depois de descobrir sobre o sistema quebrado, sobre a corrupção, as gangues e o povo faminto.
Por toda a vida, me ensinaram que a parte suja de Badlands era depois da ponte Bad Stuy, depois de tudo que eu conhecia, depois da minha zona de conforto estupidamente rica e depois de toda a aparência. Me ensinaram que eu deveria ignorar tudo aquilo e pensar só até onde eu conseguia ver da minha janela.
Mas ninguém pode ser burro o suficiente pra aceitar isso. Badlands suja é a minha família e tudo que ela representa, o resto, é a Badlands pedindo socorro e eu não vou ignorar.

 


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