Superstition 2 escrita por PW, Jamie PineTree, MV


Capítulo 7
Capítulo 06: Stars In The Sky


Notas iniciais do capítulo

Escrito por MV



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Um vento gelado lambeu levemente os cabelos de Vânia, sentada no interior da tenda.

A empresária já respirava mais tranquila após o estranho surto que tivera, graças a ajuda de Georgia, que estava ao seu lado. As duas mulheres continuavam na tenda dos sobreviventes, porém desta vez sozinhas, esperando Andreas, Sun e Nicholas retornarem. Com Skylar, de preferência.

O adolescente britânico tinha literalmente desaparecido na noite anterior, e parecia que ninguém sabia de seu paradeiro, o que deixava principalmente Vânia ainda mais angustiada. Já tinha visto como alguns habitantes da vila podiam não ser tão amistosos, e temia ainda mais que Skylar pudesse ter tido o mesmo destino de Victoria e Milan.

Ela não entendia muito de pessoas autistas e nem de como era tal condição, mas mesmo assim se preocupava. Era inquietante que um jovem como Skylar estivesse sozinho em um local tão grande como Hadiah.

— Respira fundo, Vânia. — A negra falou. — Já está melhor?

— Na medida do possível. Eu realmente não entendi o que aconteceu.

— Esse não é o momento. Depois nós conversamos sobre…

— Georgia, tem algo muito esquisito acontecendo nesse local. Não é possível que não tenha percebido. Desde… Desde aquele dia do Pantai Mamba, parece que minha vida não foi mais a mesma.

Georgia se sentou ao lado da empresária e continuou a conversa, assentindo com a cabeça.

— Nossa vida simplesmente mudou. Foi uma dádiva que ganhamos de você, Vânia.

— Eu não sinto que foi uma dádiva. — Vânia comentou. — Eu sinto como se fosse uma armadilha, um pesadelo que apenas começou. Desde esse dia parece que nossa vida tem ido de mal a pior…

— Todos nós fomos afetados de alguma forma. Fomos todos quebrados por esse incidente.

— Mas o pior é uma sensação que venho sentindo desde então. Uma sensação opressora, sabe? — Vânia falou, mostrando preocupação. — O pior de tudo é que ela me assusta cada vez mais, principalmente depois da Victoria e do Milan…

Neste momento, Vânia simplesmente abaixou a cabeça, lembrando da atriz e do coreógrafo, que estavam junto com eles há dois dias atrás, e agora, estavam a sete palmos do chão. As mortes dos dois claramente afetaram muito o grupo, e o modo como haviam morrido tinha sido o pior de tudo.

Vânia ainda se perguntava e remoía algo em sua cabeça: Se ela tinha salvado ambos de morrer no resort, por quê a morte tinha resolvido levá-los logo depois? Era como se eles tivessem ganhado uma nova chance, mas esta chance passou tão rápido que nem puderam aproveitar.

Georgia respirou profundamente, e como um gesto de apoio colocou a mão no ombro de Vânia, e ali ficaram, sentadas, imersas nos próprios pensamentos.

Até ver Andreas e Sun chegando na vila, sem Skylar ou Nicholas. Os dois pareciam extremamente abatidos, e simultaneamente cansados. Andreas foi na direção de alguns habitantes de Hadiah, enquanto Sun se direcionou para a tenda, já que tinha visto as duas mulheres olhando para ela.

— Então Sun, acharam o Skylar? — Georgia perguntou primeiro.

Sun balançou a cabeça em negação e depois disse:

— Depois temos que continuar procurando. Mas primeiro… — Ela parou e olhou as duas mulheres, e elas perceberam que algo terrível tinha acontecido.

— O que…?

— Nicholas. — Vânia falou. — Onde está o Nicholas, Sun?

Quando Sun abaixou a cabeça, e logo depois balançou ela em negação novamente as duas já sabiam o que tinha acontecido.

XXX

Skylar continuava a admirar o templo misterioso em que tinha ido parar no dia anterior, com o ancião e a misteriosa mulher. Desde então, ele tinha se interessado de forma descomunal por tudo o que estava ali, tentando associar com os livros de história lidos.

Mas aquilo ia além de tudo que lera. Estava realmente maravilhado por tudo. Como aquelas esculturas, belas estátuas, estavam escondidas esse tempo todo? Skylar também podia sentir uma estranha conexão entre ele e aquele local, mais um motivo para o fascínio que só aumentava.

— Criança, tome esta sopa. Chama-se soto betawi, um prato típico. — O ancião falou. — Uma das minhas seguidoras disse que você precisa se alimentar.

Skylar pegou o pequeno pote e olhou a consistência da sopa, comendo a mesma logo em seguida.

— Você está realmente interessado no Deus Sem Face, não é, criança?

— Ele se mexeu.

— Como? O que disse? — O ancião se aproximou vagarosamente, como se tivesse calculado todos os passos até chegar ao lado do jovem.

— Eu vi. Ele está vivo.

— Claro que está. Deuses nunca morrem, quem disse isso está mentindo.

Skylar se virou na direção do ancião novamente, expressando certa curiosidade para com o senhor.

— Eu disse que ele nos levará para casa. A Vânia foi a escolhida por ele, o catalisador de tudo o que virá a acontecer aqui neste lugar, devemos agora apenas esperar os eventos acontecerem.

— Eventos. — Skylar falou. — Você quer dizer…

— Sim. Tudo isso faz parte de algo maior. Você, pequena criança, é mais inteligente que pensei. Em breve, todos perceberão o mesmo, não é algo científico o que está acontecendo. É algo místico.

Algo místico. O que ele entendia sobre misticismo? Nunca foi sua área, Skylar sempre tinha sido mais racional, mais lógico, mais científico. Lidar com robôs era mais fácil para ele do que lidar com pessoas, de longe. Mas se ele não acreditava em nada disso, por que estava sentindo aquela conexão? Por quê sentia que ele e o deus diante dele era um encontro que não sabia antes de o observar, mas parecia esperar por anos? Eram tantas perguntas para sua mente, que nem percebeu que o ancião havia sumido novamente.

XXX

(https://youtu.be/fbHbTBP_u7U)

A terra foi jogada acima do corpo de Nicholas Jaramillo, que enrolado em uma túnica branca o cobria como se fosse um caixão. O lugar do descanso final de um homem que havia enfrentado uma batalha extremamente pessoal nos últimos tempos.

Felizmente tudo havia se resolvido antes de ter um final pior.

Feels like we're on the edge right now
I wish that I could say I'm proud
I'm sorry that I let you down
Let you down

All these voices in my head get loud
I wish that I could shut them out
I'm sorry that I let you down
Let you down

Andreas ainda se lembrava dos últimos momentos do fisioterapeuta, quando o comunicador voltou a funcionar. Foi algo inevitável, parecia que o destino havia construído tudo para que aquela despedida viesse junto de uma reconciliação.

Andreas abraçava Sun, enquanto Vânia e Georgia permaneciam ao lado. Quatro sobreviventes de uma desastre, laços construídos de uma forma trágica, mas que agora só se reforçavam ainda mais. Sun se lembrava quando Milan dissera que eram eles que deveriam dar apoio uns aos outros, e era isto o que acontecia.

Só não esperava que a situação piorasse tanto.

Quando Milan dissera aquilo, se referia ao fato de Vânia quase ter morrido na fogueira. Cerca de três dias depois, ele mesmo já não estava entre eles. Sun não chegara a conversar muito com Milan, mas pode sentir a dor da pedra, principalmente emanando de Andreas. Ela se lembrava de horas antes, Andreas imerso em seus pensamentos, e julgou que os amigos haviam discutido seriamente. Não sabia se houve alguma reconciliação, ou se tudo acabara mal. Mas também não cabia a ela invadir a vida alheia dos outros.

Walking towards you, with my head down
Lookin' at the ground, I'm embarrassed for you
Paranoia, what did I do wrong this time? That's parents for you
Very loyal?
Shoulda had my back, but you put a knife into my hands before
What else should I carry for you?
I cared for you

A cada pá de terra, Georgia sentia seu rosto banhado ainda mais em lágrimas. O que havia acontecido afinal com aquela jovem vivaz e feliz, de alguns dias atrás? Assim como Vânia dissera anteriormente, não sentia como se estivesse recebendo uma dádiva, algo que ela falou mas tentava acreditar.

Era um verdadeiro pesadelo.

Pesadelo este que Vânia estava disposta a descobrir e acabar com ele. Enquanto via Nicholas ser levado pela terra, acabara conectando muitas coisas em sua mente. Victoria Martyn, Milan von Hassel, Nicholas Jaramillo. Três sobreviventes que ela vira morrer no acidente, agora também estavam mortos, sem contar que ela mesmo estivera á beira da morte. O que estava acontecendo?

Será que…? Não, isso era impossível. — Vânia pensou. — Será que alguém está levando a morte aquelas pessoas que já estiveram destinadas a morrer?

Automaticamente lembrou da mulher das jóias, será que era ela que estava por trás de tudo?

Feels like we're on the edge right now
I wish that I could say I'm proud
I'm sorry that I let you down
Let you down
All these voices in my head get loud
I wish that I could shut them out
I'm sorry that I let you down
Let you down

Independente do que acontecia, Sun tinha uma certeza. Depois de três mortes seguidas, era claro alguns fatos para a oriental.

O primeiro era que obviamente existia um plano muito maior acontecendo ali, não podia ser uma mísera coincidência. O segundo é que não podiam entrar na mata ao redor, ela estava repleta de segredos e armadilhas. O melhor a se fazer agora era se manter afastado daquele local, para um quarto corpo não acabar sendo enterrado também.

E falando em quarto corpo, precisavam voltar ao templo, e procurar por Skylar. Sun não deixaria ninguém sozinho ou perdido, era quase uma obrigação que eles deveriam agora ficar unidos, e a oriental tinha certeza, que se algo acontecesse com mais uma pessoa do grupo, ela não se perdoaria.

Ela descobriria tudo. Ou não se chamava Sun.

Olhou novamente para o túmulo, e os dois ao lado, e seu pensamento foi para Hwang. Respirou profundamente, desejando não cair novamente. Será que Dawn já tinha achado ele?

Yeah, you don't wanna make this work
You just wanna make this worse
Want me to listen to you
But you don't ever hear my words
You don't wanna know my hurt, yet
Let me guess you want an apology, probably
How can we keep going at a rate like this?
We can't, so I guess I'ma have to leave

Na costa, Dawn tinha tirado um tempo no resgate. Seus superiores poderiam até a xingar de certa forma, mas sua humanidade falava mais alto naquele momento.

Como se fosse uma mãe consolando o filho, Kevan chorava copiosamente em seu colo. Apesar de ter se achado uma decepção para o pai nos últimos tempos, ele ainda o amava. E de tanto o amar, queria que o aceitasse do jeito que realmente era.

E no final, ele havia aceitado, mas tarde demais. Kevan não estava preparado para perder o pai tão cedo, e da forma trágica que aconteceu. Ele só queria estar agora com ele, embora tinha certeza que o senhor Jaramillo estava num local muito melhor agora.

Ele levantou o rosto, com os olhos marejados, e direcionou seu olhar para o céu azulado do dia. E ele sabia que era lá que Nicholas estava, quando a noite caísse, teria mais uma estrela no céu.


Feels like we're on the edge right now
I wish that I could say I'm proud
I'm sorry that I let you down
Oh, I let you down
All these voices in my head get loud
And I wish that I could shut them out
I'm sorry that I let you down
Oh, let you down

XXX

Já haviam se passado algumas horas depois do incidente com Nicholas e seu enterro, e o clima prosseguia pesado naquele local.

Mas Sun já estava mais do que pronta para retornar a sua procura por Skylar.

A oriental caminhou para fora da tenda e começou a procurar alguns utensílios que fossem úteis para sua procura, e também para evitar as armadilhas que a mata guardava. Por sorte, o caminho para o templo não era muito complicado de chegar, mas podia mesmo assim ser traiçoeiro.

— Vai atrás de Skylar novamente? — Georgia perguntou a ela, saindo da tenda.

— Sim. Eu tenho certeza que ele está em algum ponto do templo. O motivo, bem… Não sei. Mas é o único lugar que ele pode estar, sabe?

— Agora que você falou, Sun. Um dia desses eu vi o ancião misterioso conversando com o Sky.

— Como? Quando foi isso Georgia?

— Acho que foi na noite do acidente da Vânia. Não sei ao certo, mas lembro de ter visto os dois conversando do lado de fora da tenda, quando acabei acordando sem querer a noite.

— O ancião do templo… É isso! — Sun bateu a mão em punho contra a outra mostrando que havia desvendado o segredo. — Ele deve ter atraído o Skylar de alguma forma pra lá. É possível que ele ainda esteja vivo!

— Não sei, o ancião me pareceu um pouco suspeito.

— Sim, mas minhas maiores suspeitas estão sobre uma tal de Sawar. Tenho quase certeza que foi a mesma mulher que assaltou a Vânia e o Nicholas. E ao que parece, ela mete medo nos moradores daqui. Bem, eu preciso ir.

— Você vai sozinha, Sun? — Georgia perguntou, expressando preocupação.

— Já falei com o Andreas um pouco mais cedo. Ele está me esperando na entrada da trilha.

— Não seja por isso, eu vou com vocês.

— Georgia, não! — Sun também falou, com preocupação. — Você tem que cuidar da Vânia, ela não está…

— Eu também vou. — Vânia falou, saindo da tenda. — Já estou em situação melhor. Vamos buscar o Skylar e voltamos para cá. Eu também estou cansada das coisas acontecerem ao meu redor, e eu simplesmente não conseguir fazer nada.

— Mas Vânia, a culpa não é sua. — Georgia falou.

— Pode até não ser, Georgia. Pode até não ser… Mas eu não aguentaria ver que mais uma pessoa morreu e eu não ter feito nada.

XXX

Algum tempo depois.

Andreas ia na frente, empurrando alguns galhos e folhas com a mão, prestando atenção em onde pisava. Quando passou do lado do barranco onde Nicholas caíra mais cedo naquele dia, conseguiu sentir um estranho arrepio passar pelo seu corpo.

Georgia e Vânia caminhavam lado a lado. A empresária começava a se arrepender levemente da sua decisão, já que seus pés não estavam totalmente curados, mas mesmo assim prosseguia. No retaguarda vinha Sun, atenta a tudo.

— Acho que não é mais preciso dizer… — Sun falou, colocando uma mecha do cabelo loiro para trás. — Mas cuidado onde pisam.

— Será que não era melhor marcar o caminho por onde estamos indo, caso nos perdermos? — Andreas falou, na frente. — Quero evitar qualquer tipo de incidente.

— A gente pode tentar marcar de certa forma as árvores aqui. Com este galho que a Sun carrega. — Georgia falou.

— Pode ser uma boa ideia. Já que não temos mais nada melhor…

Dito e feito. O percurso continuou, mas agora ambos estavam mais tranquilos, na medida do possível. Era claro que a preocupação para com Skylar ainda não tinha se esvaído, e ainda estava longe disso.

— Será que vamos encontrá-lo? — Andreas perguntou, um pouco incrédulo.

— Torcemos para que sim. — Vânia comentou. — E para que ele esteja vivo.

— Três mortes em três dias… — Sun falou, e parou um pouco, como se refletisse. — Vocês sabem que tem algo muito errado por aqui, não?

— Eu também quase morri alguns dias atrás… — Vânia falou. — São quatro.

— É apenas uma coincidência. — Andreas comentou. — Está sugerindo alguma coisa?

— Não faz sentido, Andreas. Quatro pessoas que escaparam do acidente da Vânia veem a morte passando diante dos olhos delas? Sendo que três morreram? — Sun falou, intrigada.

— A morte é algo imprevisível, vocês sabem. — Ele falou, respirando fundo enquanto lembrava de Milan. — Ela é incontrolável, não há como simplesmente impedi-la de seguir seu curso natural. Todos nós quando nascemos já viemos  com, como se diz? Uma data de validade. Uma data que tudo vai acabar, e não tem como prolongar isso.

— Eu prolonguei isso. — Vânia falou, rebatendo Andreas. — Eu impedi ela de seguir seu curso natural.

— Como assim? Espera, Vânia. Você morria na visão, premonição, sei lá o que que você teve? — Georgia, que até aquele momento estava calada, resolveu falar.

Vânia respirou profundamente. Ela ainda estava presa naquele trauma da visão horrenda que tivera, contudo sabia que estava na hora de dar respostas a todas aquelas pessoas, tão confusas quanto ela.

— Eu lembro… Lembro de tudo caindo, sendo inundado, levado pelas águas. E lembro que minha visão terminou com a minha própria morte, imersa naquele mar de sangue. — Ela disse com dificuldade.

— Então, você escapou da morte? É isto? — Sun perguntou, curiosa.

— Ao que parece sim. Prolonguei o que deveria ter terminado.

Um silêncio sepulcral tomou conta do grupo, já que ninguém ousava perguntar o que estava claro ali. Até que Georgia quebrou a quietude novamente:

— Vânia, eu detesto ser indelicada mas… Você viu a gente morrer na visão?

Repentinamente, parecia que todas as atenções se voltavam para Vânia, e isso era verdade. A empresária podia sentir um peso caindo sobre ela, mesmo que não fosse a intenção de nenhum dos três.

Tomou coragem para falar e então:

— Sim. Todos nós morríamos no acidente do Pantai Mamba. Não lembro exatamente de detalhes, mas entre os flashes que passam na minha mente e não me deixam em paz, eu lembro exatamente dessas mortes.

— Você quer dizer então que éramos pra estar mortos? — Andreas perguntou. — Mas, mas… Isso não faz sentido nenhum. Não tem base…

— Mas era. — Vânia falou devagar. — Todos nós morremos naquele maremoto.

— Então, só um minuto. — Sun começou a deduzir lentamente os fatos. Vamos aos fatos: Vânia teve uma visão em que o resort era destruído, levando todos nós a morte. — Fez uma pausa até ver que todos concordavam, enquanto paravam em uma clareira no caminho. — Nisso, ela teve aquele surto e nos tirou do ônibus que ia direto para o desastre, nos salvando. No mesmo dia, uma nativa estranha assalta a Vânia e quase a mata.

Vânia concordou com a cabeça lembrando da mulher e do momento em que ela tinha estrelas caídas do céu em seu rosto. Suas joias, que haviam sido assaltadas.

— Ok. Salvamos Vânia e o dia continua normal, até que a Victoria desaparece e é encontrada morta na beira do rio de Hadiah, presumivelmente afogada. — Nesse momento, Georgia abaixou a cabeça lembrando-se da atriz totalmente presa entre os galhos de madeira. — Um dia depois, eu vou pesquisar algumas informações na vila, e descubro que tem uma estranha mulher chamada Sawar aterrorizando os moradores sem contar aquele ancião que ninguém sabe de onde veio. E no mesmo dia, o Milan fica preso em uma armadilha na floresta e depois morre de forma brutal na enfermaria.

— Confere. — Andreas falou baixo.

— E hoje, o Skylar desaparece e quando vamos procurar um incidente acontece com o Nicholas culminando na morte dele. Percebem que há uma conexão? Pelo menos entre as mortes?

— Você sugere que…? — Andreas perguntou, ainda meio cético.

— As pessoas que eu salvei do acidente. Elas estão morrendo, uma por uma. — Vânia completou. — Eu, Victoria, Milan, Nicholas.

— Isso quer dizer que nós também vamos morrer? — Um semblante de medo tomou conta do rosto de Georgia.

— Calma, calma. Não vamos nos precipitar. — Andreas comentou. — Sendo verdade ou não, o que me desperta algumas dúvidas, nós temos que encontrar o Skylar primeiro.

— Se isso for verdade, teremos mais um motivo pra achar o Sky rápido. — Sun concluiu, resoluta.

XXX

O dia passava rapidamente, mas Skylar não conseguia perceber. Embora fascinado pelas grandes obras de arte ali colocadas, havia passado a noite em claro e o dia também. Porém, sem saber exatamente o que aconteceu, havia caído no sono mais cedo.

O jovem britânico dormia sentado profundamente em um dos cantos do templo, e não percebeu o exato momento em que alguém parecia carregar algumas coisas para dentro do templo.

Ele sentiu um estranho calor tomar conta do local, e estranhou, logo depois abrindo os olhos. Seu primeiro estímulo foi se limpar repetidamente, o amaldiçoando por ter dormido naquele chão sujo e cheio de terra. Como isso poderia ter acontecido?

Eu estava observando as estátuas até sentir muito sono… Depois de comer aquela sopa! Será que…?

Depois foi procurar o headphone azul, que tinha o acompanhado no pescoço até a caminhada ao templo. Se desesperou levemente ao perceber que os tinha perdido, mas nada foi pior do que perceber o que estava acontecendo.

Na parte central do templo, uma grande fogueira tinha sido construída, e Skylar instintivamente pulou para trás, caindo sem querer em uma madeira no meio do caminho.

Ele gritou quando bateu o braço contra o chão, ralando o mesmo. Assustado, se levantou novamente, até perceber o que acontecia.

Na parte central, onde ficavam as esculturas ao redor, a fogueira queimava alta. E ao redor dela, várias madeiras embebidas com algum tipo de líquido, que Skylar presumiu ser inflamável. As madeiras pareciam ter sido colocadas de forma consciente a fim de formar algum símbolo, e isso foi o que mais assustou o adolescente.

Pode ver uma movimentação estranha pelo canto do olho e se virou repentinamente, até o mesmo de ver uma figura saindo do templo. Parecia… uma mulher?

— Ei. Ei! — Sky gritou, correndo na direção da figura, entretanto não conseguiu chegar antes dela simplesmente fechar a porta de pedra, com Sky do lado de dentro. Ele continuou correndo e chegou na abertura que agora estava lacrada, e começou a tentar mexer na na mesma, porém era muito pesada para ele abrir.

Preciso fazer algo.

Skylar já sentia a sua adrenalina subir, e tinha medo do que isso poderia causar. Então ele precisava sair daquele lugar antes que sua própria condição pudesse estragar tudo.

XXX

Andreas, Vânia, Sun e Georgia finalmente haviam chegado no planalto em que se localizava o Templo budista de Hadiah. Apesar de terem a esperança de encontrar Skylar, o silêncio sepulcral presente ali os assustava.

— Vamos nos dividir. — Sun falou, cada um vai pra um canto. Eu vou para trás do templo, Georgia para a esquerda, Vânia, direita e Andreas procura aqui pra frente.

Sun e Georgia decidiram ir juntas para a esquerda, enquanto Vânia e Andreas foram para o outro, olhando para todas as direções, procurando qualquer pista de Skylar.

Foi aí que Vânia viu algo sobre as pedras, próximo de uma das entradas do templo. Ela correu até lá, sendo seguida por Andreas.

— Esse é o headphone… Do Skylar! — A mulher gritou.

— Então é certeza que passou por aqui, ou está aqui!

No momento em que Vânia pegou o headphone, sentiu um terrível mal-estar, e caiu sobre o chão na direção das pedras, ajoelhada. Seus braços foram contra as rochas, os machucando em alguns pontos. A empresária soltou um grito de terror, enquanto Andreas corria para tentar ajudar a mulher.

Ajoelhada, ela se forçou para levantar o rosto, e quando conseguiu não viu mais o céu azul do dia. E sim o céu da noite, cheio de estrelas, repentinamente encoberto por uma nuvem escura.

Ela soltou outro grito até abrir os olhos novamente, e perceber que estava quase deitada no colo de Andreas, que a socorria, assustado com a cena.

— Você teve outra visão? — O terapeuta perguntou.

— Estrelas, estrelas encobertas… Skylar. Skylar é o próximo.

XXX

O fogo começava a se espalhar pelas madeiras, e Skylar corria desesperado, tentando achar alguma saída do templo do Deus Sem Face. Enquanto corria, pode ver alguns bichos se movimentando do lado de dentro, também escapando do local em chamas.

Inclusive uma cobra em que Skylar quase pisou. Naquele momento, ele ficou levemente paralisado, pois percebeu que era um cobra extremamente peçonhenta, uma krait malasiana. Skylar já havia visto um pouco sobre ela em um livro que lera, e então se assustou ainda mais.

A cobra parecia perceber o medo do garoto e quase avançou na direção dele, se não fosse o fogo que continuava a se espalhar pelo local. Skylar pulou mais uma madeira enquanto a cobra o seguia, rastejando.

Lágrimas começavam a descer pelo rosto do adolescente britânico, correndo sem olhar para trás. Por sorte, ele pulava pelas madeiras, mas o fogo continuava a aumentar proporcionalmente.

Foi então que ele tropeçou em algo, fazendo ele cair sobre outra madeira, ficando repleto daquele líquido estranho. Olhou ao redor e viu que aquela cabeça de bode, que o ancião tinha falado no dia anterior tinha sido a responsável pela sua queda, caída sobre o chão sujo. Percebeu não só ela, mas todos os utensílios daquela prateleira haviam caído no chão.

Entretanto não houve sequer tempo para Skylar perceber isso mais profundamente quando a krait malasiana tentou dar o bote sobre o garoto, que em um movimento automático usou a cabeça de bode, arremessando no crânio da cobra. Ele só conseguiu ouvir e sentir um creck assustador, enquanto o corpo rastejante já sem vida dela caía sobre o chão.

Naquele momento, sentiu um leve alívio, até ouvir uma forte explosão, e perceber que o fogo já tomava conta das paredes ao seu redor, derrubando com o impacto diversas esculturas contra o chão, as quebrando em vários pedaços.

XXX

Do outro lado, Georgia e Sun caminhavam juntas, ainda atentas, quando ouviram o grito agudo de Vânia percorrer o ar.

— É a Vânia! — Georgia gritou. — Meu Deus, a gente tem que ir atrás dela!

— Calma, ela tem o Andreas. — Sun falou, embora ainda transparecia o medo.

— Mas precisamos ir atrás dela também, Sun! Ela pode estar em perigo!

Naquele momento, Sun apenas fez um sinal para que Georgia parasse e respirou profundamente.

— Eu estou sentindo um cheiro estranho… Parece cheiro de fumaça.

— Mas não tem nada pegando fogo por aqui, Sun. — Georgia respondeu, afobada. — Vamos atrás da Vânia, por favor.

Sun então finalmente deu o braço a torcer, e as duas começaram a correr na direção onde eles estariam.

De longe, no meio da mata, uma mulher as observava.

As duas mulheres chegaram rapidamente no local onde ambos estavam, Andreas amparando Vânia, que estava com os braços levemente feridos.

— O que aconteceu aqui? — Sun perguntou.

— Precisam achar o Skylar! Ele é o próximo a morrer! Eu vi… Eu vi no meu pensamento, não sei como.

— Calma Vânia, tenha calma. — Andreas falou, embora nem mesmo o terapeuta conseguia estar em calmaria.

— Esse cheiro de fumaça está muito forte… — Sun comentou.

— Ali! — Georgia apontou na direção da fumaça, saindo pelo o que seria uma das entradas do templo. — Algo dentro do templo está pegando fogo!

Foi aí que ouviram o grito agudo de Skylar ressoando pelo ar.

XXX

Skylar gritou o mais forte que podia, enquanto sentia sua adrenalina subir a níveis extremos. Ele simplesmente não tinha mais poder do seu corpo quando começou a mutilar a si próprio com suas unhas, deixando o líquido rubro descer pelo chão de pedra lisa.

A fumaça e a fuligem tomavam conta do seu rosto, enquanto via tudo se reduzir a uma verdadeira caldeira de fogo do lado interno do templo.

Skylar sentia as lágrimas salgadas descerem pelo seu rosto, enquanto mil e um pensamentos passavam por sua mente, mas nenhum conseguia deixar a sua marca ali. A situação estava o estressando totalmente, e ele simplesmente não podia fazer nada.

Queria que seu tio Jon estivesse ali para lhe ajudar de alguma maneira, embora no fundo sentia que talvez não adiantasse muito. Skylar estava preso em uma verdadeira armadilha, e agora só esperava tudo se concluir, em meio a dor e ao caos.

Preso em seus pensamentos, o garoto não ouviu o grito atrás dele, e só o percebeu quando viu uma estranha luz iluminar o local onde estava.

— Skylar! — Sun gritou com toda a força, e correu para ele, o puxando daquele inferno com toda a força. No mesmo momento, eles puderam ouvir um barulho ensurdecedor de pedra se chocando.

A escultura perto de Skylar havia desabado justamente onde o adolescente britânico estaria.

Em meio a fumaça, a fuligem e o sangue sendo derramado de Skylar no meio do caminho, os dois saíram correndo daquele incêndio, enquanto podiam ouvir os deuses finalmente caindo sobre a terra.

No mesmo instante, um trovão ressoou no céu, anunciando que uma chuva estava por vir naquele fim de tarde.

XXX

Na janela de um dos aposentos paralelos a um templo misterioso, centrado em um ponto da floresta, uma figura se apoiava na mesma para observar as estrelas.

Estrelas, belos pontos reluzentes no céu da noite negra, colocados ali para iluminar e fazer a luz pelo menos estar presente no meio das trevas, como uma forma de que mesmo nos piores momentos da vida, em que tudo parece negro e sem solução, existe um caminho. Existe uma esperança.

Pelo menos era isso que os estudos que Hawley desenvolvia sobre o Deus Sem Face concluíam.

O jovem de cabelos longos e olhos claros comumente vestia se com um manto negro, sinal de sua abnegação e dedicação para com o Deus Sem Face, que o salvou de morrer quando criança.

Hawley tinha uma descendência muito poderosa, pode se dizer. Filho de senhores abastados da Casa Lachlan de Monterruna, Hawley Lachlan poderia ter um grande futuro pela frente até ser acometido de uma grave doença quando criança. Seus pais, desesperados, buscaram consolo no deus pagão, e juraram a vida de Hawley para ele, fazendo assim o rapaz ser curado.

Devoto ao deus, agora ele estudava, com um único foco: se tornar um sacerdote dessa religião um tanto quanto controversa em um mundo dominado pela imposição da Igreja Católica, ramo central de todo aquele meio em que Hawley acabava vivendo, mas não participando. Ele vivia enclausurado no templo, porém até receber um convite dias atrás.

A Casa Lachlan tinha sido convidada para a coroação de Pete Hightower e Evie Lothair, que dominariam uma grande área de terras, um pouco mais ao norte. Do templo inclusive Hawley podia ver, a uma considerável distância, a torre principal e altíssima do castelo. Iria embarcar no dia seguinte pela manhã, encontrando seus pais no meio do percurso para a coroação.

Hawley fechou os olhos e fez mais uma oração simples para as estrelas, onde os deuses viviam, comandados pelo grande Deus Sem Face, e então se dirigiu a cama.

O dia posterior seria muito atarefado.

XXX

(https://youtu.be/J0DjcsK_-HY)

Os sobreviventes retornaram destruídos. Cansados, machucados, desesperados, mas ainda assim, vivos. E por sorte, impediram o fim do jovem britânico.

Every night, I live and die
Feel the party to my bones
Watch the wasters blow the speakers
Spill my guts beneath the outdoor light
It's just another graceless night

Andreas usou de suas técnicas para acalmar Skylar, que agora caminhava devagar, ainda afetado pelos eventos que se sucederam no templo. Porém mesmo com os braços todos machucados ele não sentia tanta dor. Estava anestesiado ainda por ver a morte tão de perto e ao mesmo tempo lembrando do que o ancião havia dito no dia anterior:

Ele é um de nós. Ele está dentro de nós. Ele vai nos levar para casa.

Aquelas palavras… Aquelas palavras haviam grudado na mente de Sky e não a deixavam de jeito nenhum. Aliado tudo isso ao fascínio pelo Deus, e Skylar sentia de alguma forma que ele estava diferente de antes de ter chegado ali em Hadiah.

I hate the headlines and the weather
I'm 16 and I'm on fire
But when we're dancing I'm alright
It's just another graceless night

Skylar podia sentir que a energia de Hadiah, ou seja lá o que fosse aquilo, oscilava muito, assim como o próprio muitas vezes. Mas atualmente parecia que algo havia se libertado, como uma consequência do acidente do templo.

'Cause all of the things we're taking
'Cause we are young and we're ashamed
Sends us to perfect places
All of our heroes fading
Now I can't stand to be alone
Let's go to perfect places

Enquanto continuava a fazer movimentos repetidos com a mão, Skylar continuava imerso em seus pensamentos, enquanto Andreas o olhava, completamente atento.

Skylar sentia lá no fundo, embora não soubesse exatamente o que significava esta palavra, de que estava amadurecendo e a experiência em Hadiah só contribuía de certo modo para isso.

'Cause all of the things we're taking
'Cause we are young and we're ashamed
Sends us to perfect places
All of our heroes fading
Now I can't stand to be alone
Let's go to perfect places

Subitamente, levantou os olhos para o céu, e viu que algumas estrelas, suas maiores companheiras em Londres brilhavam como nunca naquele início tímido de noite, como se estivessem felizes pelo garoto ter sobrevivido.

All the nights spent off our faces
Trying to find these perfect places
What the fuck are perfect places anyway?

Skylar sorriu.

Apesar de tudo, ele estava vivo.

XXX

As chamas ainda se apagavam aos poucos, consumindo o resto de madeira em meio às pedras de onde era uma parte do Templo de Hadiah, atualmente levada ao chão.

Uma leve chuva fina começou a cair sobre aquela parte da ilha, enquanto o dono de passos vagarosos observava o que havia acontecido. Então, esta pessoa adentrou em uma parte dos destroços para justamente atingir o salão principal do templo.

Olhou ao redor, e viu algumas das esculturas jogadas e quebradas sobre o chão. Passou ao lado da cabeça de bode, agora coberta por fuligem negra. Séculos de história transformados em poeira em apenas alguns minutos.

O ancião resistiu em segurar as lágrimas, mas olhou para o pedestal onde o Deus Sem Face estaria. Entretanto já não existia mais nada ali.

O ancião caminhou lentamente para a direção da estátua, e olhou com certa surpresa e desconfiança ao perceber que não havia sequer sinais de que a estátua tinha sido jogada contra o chão. Estava tudo limpo, sem qualquer sinal de pedras.

A estátua simplesmente sumira.

— Sawar, é chegada a sua hora. Você não devia ter desafiado o Deus Sem Face de tal forma. O usando para atingir os seus objetivos e falhando miseravelmente. — Ele falou. E então balbuciou lentamente:

Tuhan sudah kembali dan di antara kita.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Não esqueçam de comentar, as reviews são muito importantes para a continuidade do projeto.



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