Superstition 2 escrita por PW, Jamie PineTree, MV


Capítulo 4
Capítulo 03: My Lies, Your Greed, Our Misery


Notas iniciais do capítulo

Escrito por MV



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O vento marítimo entrava levemente na tenda de madeira construída para abrigar os sobreviventes, enchendo o ar com um cheiro que para muitos seria tranquilizante.

Mas para Victoria, ele vinha junto com um cheiro de morte e aflição. As cenas em que o Pantai Mamba era levado pelas ondas não saiam de sua cabeça, e mesmo que ela quisesse, aquele evento nunca a deixaria em paz.

Victoria desceu do ônibus por uma curiosidade maior de descobrir o que estava acontecendo, e acabou que ela ajudou a acalmar a moça de cabelos pretos que parecia ter um ataque. A loira não mentiu quando claramente lembrou da lenda de Cassandra e estava completamente cética a tudo. Até ver tudo ser levado pelas ondas.

Só conseguia porém pensar em Jeremy. Seu instinto materno dizia que o garoto de seis anos estava vivo, e a esperança não morria. A vontade dela era de descer até o local onde aconteceu a tragédia e procurar seu filho com suas próprias mãos, mas algo a impedia.

O medo da verdade.

Ao seu lado, viu que Sun tinha despertado e também olhava para o sol nascendo no horizonte. As duas tinham ajudado Vânia após a nativa roubar suas jóias e quase a matar, e agora, a moça dormia tranquilamente ao lado delas. Victoria se sentia aliviada por isso, não poderia imaginar o que a empresária estava passando.

 

— Também está pensando nos que ficaram no resort não é? — Sun falou.

 

Victoria respondeu profundamente e disse:

 

— Sim. Não paro de pensar no Jeremy desde que tudo aconteceu. Eu… Eu não estou pronta pra receber uma notícia ruim.

 

— Somos duas. Meu marido ficou lá também… Era pra ele ter vindo comigo, mas estava com dores e resolveu fazer uma massagem, eu vim pro passeio sozinha. Eu torço pra que ele tenha ficado bem, mas sabe quando você não sente qualquer esperança sabe?

 

— Acho que todos nós aqui estamos passando por algo parecido. Deixamos pessoas muito importantes para trás. A questão é: por que nós?

 

— Como assim? — Sun indagou.

 

— Por que nós que fomos escolhidos pra ter essa segunda chance? Podia ter sido qualquer outra pessoa… E escapamos. Temos uma vida inteira pela frente, mesmo que talvez sem as pessoas com que importamos.

 

— É como se tudo fosse um plano maior, acredito. Não deve ter sido por um acaso. — Uma voz masculina falou a distância. As duas se viraram para ver quem estava falando. Era um dos homens daquele casal que estava no templo. — Eu tento ser racional, mas não há explicação. É algo que fez isso acontecer. E eu também escutei o que vocês disseram. Meu marido voltou para o resort, e… Eu não sei o que pode ter acontecido com ele.

 

— Acho que agora só podemos nos amparar uns nos outros. — Sun concluiu. — Só em nós. Infelizmente depois desse evento com a Vânia, estou meio desconfiada.

 

— Que evento? — Milan perguntou, confuso.

 

— Uma mulher nativa assaltou ela, e ainda a dopou. Quando encontrei a Vânia, ela estava quase sendo queimada viva na fogueira.

 

Milan abriu um semblante de espanto.

 

— Mas não podemos deixar que isso abale a nossa confiança no povo. É triste que isso tenha acontecido, acaba até ressaltando preconceitos… — Victoria afirmou categoricamente.

 

— Eu já acho diferente, Victoria, não é? — Milan perguntou para a atriz querendo confirmar se o nome estava correto. — Até esse resgate chegar… Só temos nós mesmos aqui para podemos confiar e amparar.

 

XXXXX

 

Mais tarde, os habitantes do vilarejo de Hadiah trouxeram alimentos e água para os nove sobreviventes. Também ofereceram locais para os mesmos tomarem banho e assim, tentar seguir com a vida enquanto o resgate não chegava.

 

Dentro da tenda onde estavam abrigados, Vânia recebia os cuidados de outra habitante local que usava uma pomada feita a partir de plantas locais para aliviar as queimaduras em seu pé. Ela ainda não acreditava no que tinha acontecido na noite anterior.

 

— Pronto. Isso deve aliviar a dor. — A senhora falou em sua língua. Vânia depois descobrira que boa parte do vilarejo sabia falar o mínimo de sua língua, por conta dos visitantes recorrentes. — Você lembra vagamente de quem foi essa mulher que te assaltou?

 

— Apenas flashes vem na minha mente. Eu posso tentar fazer um esforço pra isso.

 

— Mas isso é realmente muito estranho. Geralmente isso acontece em Bali, outras regiões que as pessoas tem intenção real de assaltar. Aqui não. Estamos afastados desses grandes centros.

 

— Ela me disse que os deuses tinham sido bondosos comigo. — Vânia falou. — Não foi a primeira vez que ouvi isso. O ancião do templo também disse.

 

— Ah, o ancião. Eu não confio nele.

 

— Ué, mas por quê? — Vânia perguntou, mas a senhora parecia ter a ignorado.

 

— Acho que é isso. Em breve você estará curada e poderá deixar a vila em segurança.

 

Ela disse saindo apressada da tenda. Vânia continuava com um rosto expressando interrogação. Não tinha entendido absolutamente nada, mas era claro que a habitante tinha se sentido desconfortável com a menção ao ancião.

 

E isso porque nem tinha tocado no assunto que mais a assustava: a misteriosa visão que tivera do maremoto e depois aquela outra visão bizarra, em que parecia estar em outra era.

 

O que estava acontecendo?

 

XXXXX

 

Milan se alimentava de uma comida típica feita pelos habitantes de Hadiah, juntamente com Andreas. Ambos estavam em uma mesa feita de pedra, localizada na entrada de um pequeno estabelecimento servindo de restaurante para os turistas que iam visitar Hadiah.

 

Andreas observava como o amigo estava calado nos últimas horas e só conseguia lembrar de um único motivo: Kamesh. Andreas também sofria com a perda do amigo, mas o sofrimento de Milan era aumentado muito mais.

 

Milan não só achava que tivesse perdido Kamesh, o seu amor verdadeiro, como não tinha como sequer fazer comunicação para com os seus trigêmeos, que provavelmente já deveriam estar sabendo da notícia do maremoto. Ele apenas continuava remoendo esses pensamentos, enquanto continuava em silêncio e extrema contemplação dos fatos.

 

— Cuidado. — Ambos ouviram uma misteriosa voz se elevar ao lado deles. — Nada está acabado. Eu posso sentir uma aura estranha ao redor de vocês.

 

Quando perceberam, era o ancião do templo que falava novamente. Dessa vez, na língua deles.

 

— Não pensem que gosto de falar nesta língua que me fere os ouvidos e machuca a boca. Mas é preciso que saibam. Ela já está costurando o que foi rasgado, ponto por ponto, ela vai fazer o plano original retornar. Vocês não escaparam, só tomaram um pequeno desvio.

 

— O que quer dizer com isso? — Andreas perguntou.

 

— O desvio que irá levá-los ao mesmo lugar, se não pensarem a frente. — O ancião concluiu, e virou-se na direção contrária deles.

 

Andreas fez menção de segui-lo, mas Milan segurou sua mão impedindo o homem.

 

— Milan, me deixe. Não faz sentido isso o que ele disse…

 

— Deve haver. Só não descobrimos ainda.

 

— Mas como assim, desvio? Costurando o rasgado? Qual é o sentido?

 

— Ele disse que estamos com uma aura estranha… E não é a primeira vez que este ancião vem falar com um de nós. Lembro-me de ter visto ele com a tal da Vânia Vandelli.

 

Andreas olhou novamente na direção em que o ancião tinha se deslocado, mas agora não via mais nada. O homem havia desaparecido.

 

XXXXX

 

O dia continuava a passar, completamente pacato, algo que era uma extrema contradição com o dia anterior, que havia trazido uma tragédia junto. Caminhando lentamente próximo ao vilarejo de Hadiah, Victoria estava reclusa em seus próprios pensamentos.

 

Não conseguia deixar de pensar em Jeremy e Paul. Preocupada com ambos, mesmo que o segundo tivesse virado uma pedra no sapato dela, Victoria ainda torcia para que fossem encontrados com vida.

 

Algo que também a afligia era o fato do resgate ainda não ter chegado em Hadiah. Para piorar, habitantes locais não sabiam dizer quando chegariam. Aquela previsão dada no dia anterior tornara-se um ledo engano.

 

Uma verdadeira mentira.

 

Ah, a mentira. Parece que agora ela está se vingando de mim. Como se não quisesse que eu esquecesse dela…

 

Lembrou-se de Paul repentinamente, e logo aquele rosto do marido que ela buscava tornara-se opaco. Paul não tinha o mesmo brilho do começo da relação deles, e Victoria sabia o porquê. A avareza era o que movia aquele homem, louco por dinheiro, e Victoria se perguntava que diabos ela tinha na cabeça para ter sido inocente o bastante para se envolver com ele.

 

Tinha decidido que após a viagem, terminaria tudo e ficaria com Jeremy. Mas o destino se encarregou de dar com uma mão, e tirar de outra. Tudo parecia terminado, mas sem Jeremy também.

 

Repentinamente, Victoria acabou tropeçando na pequena trilha em que caminhava, e acabou indo ao chão, cheio de pedrinhas, que fizeram a mulher sentir uma leve dor. O cabelo loiro da mulher foi jogado completamente pra frente de seu rosto e ela se levantou assustada, porém sem enxergar absolutamente nada. Acabara de perder o óculos na queda.

 

XXXXX

 

A loira tentou vasculhar a área da trilha ao redor, mas sem sucesso em achar o óculos. O sol da tarde era coberto pelas folhagens da vegetação que começava a aumentar naquele ponto, e sem encontrar o óculos, suspirou e resolveu voltar pelo caminho anterior.

 

Passados alguns minutos depois, a atriz começou a olhar ao redor. Parecia que a trilha se fechava cada vez mais em vez de se abrir para a direção do vilarejo de Hadiah. Foi aí que finalmente percebeu o que acontecera.

 

Estava perdida. Não só perdida, mas também desorientada e com o campo de visão extremamente limitado. Resolveu passar os planos mentalmente:

 

Poderia tentar voltar pelo caminho de onde veio, se o achasse. Mas isso demandaria muito tempo.

 

Poderia tentar simplesmente sentar e esperar alguém aparecer onde ela estava… Não, era uma decisão um tanto quanto idiota.

 

Enquanto pensava, pode ver a distância o que parecia ser um vulto de uma moça caminhando pela mata. Deduziu que provavelmente era uma moradora do vilarejo. Não pensou duas vezes, e foi atrás dela.

 

— Moça? — Ela perguntou se aproximando da silhueta. — Você pode me ajudar?

 

A moça de cabelos longos e negros se virou na direção da loira, carregando um pote de barro vazio. Victoria pode perceber que ele tinha uma leve silhueta avantajada, mas nada além. Também não conseguiu identificar sua idade exata, mas parecia estar chegando a meia-idade.

 

Ela fez um rosto de interrogação e então Victoria percebeu o erro que cometera. Ela não fala sua língua!

 

Pensou rápido e começou a fazer alguns gestos, com a esperança de que a nativa entendesse o que se passava, além de citar os nomes de Hadiah e do Pantai Mamba, além do templo. Minutos depois, a nativa já concordava com a cabeça, e parecia ter entendido o que a atriz queria dizer. Fez um sinal com a cabeça e pediu que Victoria a seguisse.

 

XXXXX

 

Cerca de dez minutos depois, Nicholas entrou na tenda comum aos nove sobreviventes, um tanto quanto cansado. Sentou-se no chão de terra batida e suspirou aliviado, já que finalmente estava na sombra e o sol estava ardendo em sua pele.

 

Ele tinha cogitado a possibilidade de descer até a região do templo mais cedo para ver se encontrava seu filho, Kevan. O homem sentia que a conversa entre os dois não poderia ter terminado de tal forma como aconteceu, mas assim que descia para o templo, repensou sua ideia.

 

O senhor Jaramillo sabia que precisava deixar a poeira baixar um pouco, principalmente após o incidente no resort, em que Kevan provavelmente estava trabalhando voluntariamente no auxílio das vítimas. Ficou preocupado exatamente pelo filho achar que estava entre as vítimas, e queria acalmá-lo, mostrar que ainda estava ali.

 

Mas depois daquela última conversa, era como se ele não estivesse mais presente para Kevan.

 

Suspirou profundamente, Nicholas ainda não sabia exatamente como lidar com a sexualidade do filho, e no momento logo após a conversa, pensou que nunca conseguiria aceitar tal fato.

 

Entretanto após ser salvo da morte, concluiu que aquilo era uma segunda chance. Segunda chance para tentar se reaproximar do filho, e não desperdiçaria novamente. Ele queria entender mais o filho, voltar a criar laços. 

 

Porém como faria isso era a principal questão que ainda martelava em sua cabeça.

 

— Parece preocupado. — O menino de olhos claros falou com ele. Quando o senhor Jaramillo ergueu os olhos, viu Skylar parado diante dele. Atrás estava Georgia, tentando jogar um inseticida para todos os cantos da tenda, espantando os pernilongos sem sucesso e Vânia continuava deitada, descansando. Na realidade, Nicholas não tinha percebido a presença dos três ali até o momento.

 

— Não precisa se preocupar comigo não. — Nicholas falou, percebendo que o rapaz não parava de balançar os braços.

 

Skylar olhou novamente para o homem e até parecia que iria falar algo quando a voz de Georgia se fez impor.

 

— Nicholas o nome do senhor, né? Então, você viu a Sun ou a Victoria por aí?

 

— Quem são elas?

 

— Ora, Victoria Martyn, a atriz, toda loira natural. Sun é a asiática que estava conosco, também é loira. Elas ainda não apareceram.

 

— Ah sim! — Nicholas exclamou, lembrando-se delas. — A Sun eu vi conversando com uns nativos locais um tempo atrás, mas a Victoria nem sinal.

 

— Se for aquela loira cheia de flores na cabeça, ela saiu daqui com o olho cheio de água. — Skylar falou naturalmente, parecendo brincar com algo que achou na terra. — Ela estava sentada aqui mesmo, mas parecia que chorava. Coitada.

 

Nicholas e Georgia se entreolharam, mas não se surpreenderam. Mesmo porque todos sabiam que Victoria era a que mais parecia sofrer com as pessoas que deixara para trás no resort.

 

Subitamente, Vânia acordou desesperada, parecendo ter perdido todo o ar. Georgia e Nicholas correram na direção da empresária, que estava completamente envolta em medo e temor.

 

— O que aconteceu, Vânia? — Georgia falando, segurando a mulher. — Está tudo bem?

 

Vânia respirava de forma ofegante, como se tivesse acordando de um sonho ruim. A dor no peito da mulher tinha aumentado de forma potencial, e ela se lembrava de ter sentido algo parecido. Um dia atrás.

 

— Eu sonhei que estava… — Respirou fundo antes de continuar, e então sentiu um vento gelado que arrepiou toda a extensão do seu corpo. — Me afogando.

 

XXXXX

 

Victoria continuava caminhando atrás da nativa, e finalmente parecia que estavam a caminho de Hadiah novamente. Pouco tempo antes, haviam entrado em uma trilha de cascalho, e ela podia ouvir um barulho de cachoeira a distância.

 

Ela estava ficando obviamente mais aliviada, mas ainda continuava com o aperto no coração. Decidiu que não sairia mais para caminhar na região, principalmente porque tinha acabado de se perder.

 

Não seja tão idiota da próxima vez, Victoria. Você é melhor do que isso.

 

Então foi aí que Victoria levou um susto.

 

O barulho das águas continuava a aumentar e ela percebeu a nativa indo na direção de um rio que erguia a sua frente. Percebeu também que eles estavam no alto de um pequeno morro, de onde poderia se ver o vilarejo um pouco abaixo. Victoria concluiu que provavelmente haviam dado a volta por trás.

 

A loira se aproximou lentamente da água caudalosa, e viu um galho de árvore passando diante de si e logo depois ouviu um barulho estranho nos céus. Iria chover.

 

Olhou então para a direção de onde a mulher estava, mas ela não já não estava lá. O mais bizarro, que Victoria percebeu, é que ela tinha deixado o pote de barro na borda…

 

Logo a mente dela começou a fazer associações.

 

Eu não acredito que ela me trouxe até aqui para me largar novamente! Me enganou direito…

 

Mentiu para mim.

 

O pensamento da mentira veio mais rápido do que ela pode pensar. Ela que sempre a usou e acabou a auxiliando para subir na vida, mesmo que inconscientemente por conta de sua péssima condição, agora parecia jogar contra a mulher.

 

Victoria se aproximou do pote de barro colocado na borda e o levantou, percebendo que na realidade, existia um pequeno buraco nele.

 

— Vagabunda. — Ela disse quase que automaticamente. Com ódio, a mulher arremessou o pote de barro no chão, fazendo ele estilhaçar em vários pedaços. Já estava tudo claro para ela.

 

Victoria estava pronta para dar meia volta e tentar descer o morro, na direção de Hadiah, quando sentiu seus pés escorregarem nas pedras lisas cheias de musgo e ela cair com metade do corpo para dentro da água, com seus pulmões sendo atingidos em cheio pelo impacto.

 

Victoria expirou repentinamente, sentindo uma terrível dor em seu peito, e que tomava conta de seu corpo.

 

Ficou parada alguns segundos, até decidir sair da água. Tentou se levantar, e então percebeu que o problema era maior. Parte de sua roupa havia se enroscado em um galho de árvore, que estava no interior do rio.

 

Ela tentou segurar na borda com uma mão, e tentou retirar a barra de sua camiseta florida da ponta do galho que a segurava, sem sucesso. A correnteza parecia aumentar cada vez mais, junto com o desespero da atriz em sair daquela situação.

 

— So… Socorro! — Ela gritou, mesmo sabendo que nada a ouviria.

 

Um outro som chegou aos ouvidos de Victoria, fazendo seu desespero aumentar. Parecia um barulho de madeira se partindo… Ela olhou melhor na direção do galho, e viu que este estava preso em uma das pedras do rio, quase se soltando. Se tivesse sorte, conseguiria se segurar à margem, enquanto o tronco se soltaria de sua roupa.

 

A mulher colocou a outra mão na margem, e atenta a tudo, viu esse galho se soltar da pedra. Victoria sentiu um puxão extremo, mas ao segurar forte na borda, percebeu que somente sua roupa havia rasgado enquanto a madeira seguia o seu caminho rio abaixo.

 

Suspirou tranquila por um milésimo de segundo, antes de ser arrancada da borda por um grande tronco pesado que descia pela corrente de água.

 

I'ma be that nail in your coffin
Saying that I softened
I was ducking down to reload
So you can save your petty explanations
I don't have the patience
Before you even say it I know

 

Victoria tentava gritar ou nadar em meio ao caos, mas não conseguia. Com a correnteza extremamente forte e seu corpo totalmente dolorido, ela se afogava.

Tentou subir para a superfície mas foi aí que sentiu uma dor terrível em um dos braços, ela não conseguia nem mexê-lo. Tinha sido quebrado no impacto.

 

A mulher então ouviu um som forte que aumentava quanto mais o rio caminhava. Apenas com a cabeça do lado de fora, viu que existia algo a frente.

Uma cachoeira.


You let your pride or your ego
Talk slick to me no
That is not the way I get down
And look at how you lose your composure
Now let me show you
Exactly how the breaking point sounds

A mulher continuava a tentar se debater, sem sucesso. Cada movimento doía mais para o corpo de Victoria. Ela apenas fechou os olhos e deixou que a queda de água viesse, já pensando no fato do rio passar próximo do vilarejo de Hadiah... Ela ainda teria uma chance.

Então, a água e o mundo de Victoria despencou na rocha.

I wanna see you choke on your lies
Swallow up your greed
Suffer all alone in your misery
Choke on your lies
Swallow up your greed
Suffer all alone in your misery

Enquanto caía por alguns poucos metros, Victoria jurou ter visto parte de sua vida passando diante dos seus olhos.

Toda a sua carreira sendo exposta diante das câmeras, seu filho, o pequeno Jeremy e também Paul. Toda a sua, de certa forma, grandiosa vida.

 

Toda construída em mentiras em agora ela se afogava. Ela sabia que tinha chegado em um momento em que tudo transbordaria se não cuidasse deste problema, mas nunca pensou que ela mesmo se sufocaria em toda essa teia de farsas e fraudes.


What is it you want me to tell ya?
I am not the failure
I would rather live and let be
But you came with the right kind of threat to
Push me to let you
Know you can't intimidate me

Victoria atingiu o lago na parte de baixo com um forte impacto, e então sentiu uma forte dor atingir por completo seu corpo. O mesmo galho quebrado, cheio de ramos menores, que havia preso a mulher anteriormente parecia esperar que ela chegasse. Diversos desses ramos entraram em várias partes de seu corpo, atravessando a pele e chegando na carne. Victoria tentou gritar, mas estava presa, de costas para cima e quando ela abriu a boca, muita água entrou.

Ela tentava se virar, ou ao menos tentar levantar a cabeça, mas a dor era tamanha que vencia o desespero. Pouco depois, ouviu outro impacto contra o rio, o tronco de madeira havia caído e apertado a atriz ainda mais contra os galho, fazendo muito sangue espalhar-se pelo rio anteriormente azul.


You disrespect me so clearly
Now you better hear me
That is not the way it goes down
You did it to yourself and it's over
Now let me show you
Exactly how the breaking point sounds

Presa em uma verdadeira armadilha, Victoria tentou segurar a respiração o máximo que conseguiu, mas chegou um momento que não conseguia mais. Acabou inspirando toda aquela água, e junto, o sangue dela que se espalhava pela correnteza.

Sentiu como se todo o seu corpo estivesse em chamas, enquanto engolia cada vez mais água. Aos poucos, seu corpo parou de debater, e sua mente foi se apagando aos poucos, junto com suas memórias, sofrendo sozinha em toda a sua miséria.

I wanna see you choke on your lies
Swallow up your greed
Suffer all alone in your misery
Choke on your lies
Swallow up your greed
Suffer all alone in your misery

A última visão que Victoria focou foi em seu pequeno filho, Jeremy. Pediu para que ele ficasse bem, onde quer que ele estivesse. Mas tinha uma certeza: ele não tinha morrido. 

You did it to yourself

Já sem qualquer sinal de vida, exceto por alguns espasmos, o corpo da atriz continuou a deslizar pelo rio, na direção de Hadiah, enquanto uma chuva fraca começava.

I wanna see you choke on your lies
Swallow up your greed
Suffer all alone in your misery
Choke on your lies
Swallow up your greed
Suffer all alone in your misery

XXXXX

Os cabelos ruivos e longos emolduravam o rosto angelical da moça que estava diante do espelho de vidro, um belo objeto de luxo que a família se orgulhava em ter.

A moça subitamente sorriu diante dele, percebendo que já estava pronta para as suas obrigações do dia. Evie Lothair, filha do rei, dono de várias terras em que não só abrigava o belo e imenso castelo de pedra branca, elevado sobre um abismo nas montanhas, mas também diversas comunidades de camponeses e vassalos do rei, além de um belo monastério localizado próximo da região.

Ou melhor, da rainha.

Era difícil para Evie conceber que seu pai havia morrido, mesmo após meses sem o senhor. Mas deveria seguir a vida, principalmente já que viraria rainha futuramente com o clã dos Lothair já encaminhados com um casamento arranjado com os Hightower.

Subitamente, sua serva apareceu em seus aposentos e disse:

— Princesa Evie, seu esposo, o futuro rei Pete Hightower, te chama no Salão Real.

— Ah, muito agradecida, Judith. Pode se retirar, e diga para ele que já vou encontrá-lo.

Assim que Judith fez o que Sua Princesa havia dito, retirando-se do aposento de Evie, a mulher caminhou lentamente até a janela e olhou ao redor, enquanto o sol se erguia diante da vila abaixo do castelo, chegando a ver os habitantes, como pequenas formigas, indo ao trabalho. Sentiu um vento revigorante a atingir em cheio, até que algo estranho aconteceu.

O vento revigorante subitamente tornou-se gelado, fazendo Evie se assustar, e automaticamente, fazer um arrepio passar pela sua espinha. Parecia que algo estava ali, a espreitando nas sombras.

Fez o sinal da cruz e logo saiu dos aposentos, deixando aquele clima estranho para trás.


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Notas finais do capítulo

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