Made of Stone escrita por littlefatpanda


Capítulo 16
EXTRA - Somos as peças de um quebra-cabeças


Notas iniciais do capítulo

Este é mais um da panelinha do Alex. 2bj :*

IMPORTANTE:
Gentem, eu agendei um capítulo sem nada escrito (eu gosto de fazer isto mesmo com o capítulo incompleto porque me obrigo a vir e terminá-lo antes que seja postado, o que obviamente nem sempre funciona HAHAHAHAH) e acabei esquecendo a data, ou seja, ele foi postado assim mesmo. Mil perdões! Isto aconteceu com MOF também. Eu já disse e repito: sou a rainha da bocabertice! Hahahahhaa.

Boa leitura! ♥



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Jake decidiu que a próxima festa com a galera do colégio seria na sua casa. Seria sua quinta festa desde que entrara no colégio. Havia planejado tudo com o Ben, porque não se disponibilizava a fazê-la sozinho - nunca o fazia - e Ben sempre estava lá para incentivá-lo e para cuidar de toda a parte administrativa da coisa. 

Jake era perfeitamente capaz de fazer tudo sozinho, mas a verdade é que gostava da companhia de Ben no processo e havia estado mal acostumado com tal. 

Os pais do Jake não se importavam muito com as “reuniões” dos amigos em casa, mas isto é porque, como a maioria dos pais, não sabiam sobre as drogas, o álcool e as traquinagens dos adolescentes.

A maioria da galera já estava na casa, embora parte da panelinha ainda não houvesse chegado. Ben havia escaneado o local umas vinte vezes, em busca da loira com a qual conversara apenas por mensagens depois que a viu pela primeira vez, mas nada de encontrá-la.

Já passava da meia-noite quando ele a enxergou entrar pela porta da frente, desviando de um casal que se beijava ao lado. Sorriu, satisfeito, antes de caminhar a passos largos na direção da garota.

— Você veio — murmurou ele, com um sorriso largo.

Lucy, por se sentir desconfortável com o olhar encantado do garoto, fez uma careta ao desviar o olhar. Cruzou os braços, na defensiva, passando os olhos pelo local. 

— Claro que vim — resmungou, fingindo estar analisando tudo. — Não dispenso festa com bebida grátis.

Ben assentiu, sorrindo pelo jeito disperso dela.

Desta vez, os cabelos lisos na altura do pescoço tinham as pontas coloridas em azul, o piercieng da foto de perfil estava ali, em seu nariz, junto do que já conhecia, no lábio inferior. A roupa era igualmente escura e rebelde, denunciando um tanto do espiríto de Lucy.

— Claro — concordou, fingindo acreditar. — Mas eu fico feliz que tenha vindo.

Lucy ergueu o olhar azulado para o escurecido dele, debochada.

— Não é preciso muito para isto então — falou, erguendo uma das sobrancelhas, antes de dar as costas.

Ben riu, mas não demorou muito antes de ir atrás dela, como era o esperado pela loira. 

Jake, ao longe, tinha os olhos cravados nos dois. Os lábios estavam pressionados um no outro, os olhos esverdeados brilhosos demais, e a mão tensa em torno do copo com bebida. 

Ben a havia convidado para a sua festa.

Ele a havia convidado para a sua casa. Ele a havia convidado, porque gostou dela a este ponto, ao ponto de convidá-la para uma festa que sequer gosta. E havia relaxado a postura mais uma vez, e sorrido mais uma vez, e a seguido mais uma vez. 

Jake seguiu os dois com os olhos até que desaparecessem cozinha adentro.

— Jake!

Jake virou, deparando-se com os olhos verdes de Faye.

— Você ouviu uma palavra do que eu disse? — reclamou ela, com um beiço. Jake abriu a boca, mas a fechou em seguida. — É sério isto?

Jake suspirou, virando todo o corpo na direção da amiga. 

— Você está conversando com esta garota, Mia, e ela está te evitando e não respondeu se viria na minha festa. E agora você está com medo que ela seja igual a última garota e ainda esteja... — Jake engoliu em seco, mas inspirou fundo ao finalizar: — No armário. Faltou algo?

Faye estreitou os olhos.

— Não — respondeu, deixando os ombros caírem, mas deixou um tapa no braço do amigo no minuto seguinte. — Se você estava escutando, então por que não me aconselhou?

Jake tomou mais um gole nada sutil de sua bebida, antes de forçar um sorriso.

— Eu sou péssimo com conselhos, Faye — comentou, erguendo os ombros como se pedisse desculpas. — Eu não sei resolver os meus problemas, quem dirá os problemas dos outros. Eu é precisava de conselhos — acrescentou, perdido em pensamentos.

Aquilo chamou a atenção da gótica. — Sobre o quê?

Jake piscou. — O quê?

— Você precisa de conselhos sobre o quê? — repetiu, curiosa, mas Jake apenas olhou para longe. Faye levou uma das mãos para seu rosto, com certo carinho, fazendo com que ele a encarasse. — O que está acontecendo com você, tá tudo bem?

Jake forçou um sorriso, assentindo com a cabeça e se desvencilhando dela para não chorar. Não suportaria carinho agora.

— Sim. — Riu, nervoso. — Tudo ótimo! — exclamou, de forma exagerada, o que trouxe um estranhamento para a mais baixa. — Tudo maravilhoso.

Faye cruzou os braços sobre os seios. — Por favor, Jake, mente menos. — Riu ela, ainda curiosa com relação ao amigo. — Eu odiaria estar na sua pele agora, você é um péssimo mentiroso. 

É, eu também odiaria estar na minha pele, pensou ele. 

Jake deixou os ombros caírem, encarando o resto de bebida em seu copo como se fosse o mais interessante do mundo. — É, já me disseram isto antes.

Ben me disse, acrescentou, mentalmente.

E era por isto que Jake evitava ao máximo os assuntos pessoais, e amorosos, perto dele. Por isto fugia quando o assunto começava a migrar para estes lados, geralmente impulsionado pelos amigos, quando em grupo, porque quando estavam sozinhos, nenhum dos dois jamais engajava conversas semelhantes. 

Era melhor assim. Era seguro. Desde que não conversassem sobre enlaces amorosos, e sobre amor, Jake não precisaria mentir e, consequentemente, Ben não precisaria perceber nada de estranho.

Desta forma, Jake só precisava omitir que estava apaixonado por seu melhor amigo, pela sua alma gêmea, pela cola que mantinha todos os seus pedaços intactos, pela sua outra metade. E que o amava tanto que doía todo o corpo, que daria sua vida por ele, que se atiraria em frente à um ônibus caso isto o deixasse feliz.

Ele precisava omitir isto.

*

— Você está brincando!

Matt estava sentado no gramado da casa do Jake, ao lado de Emily, porque era menos barulhento, menos quente e menos lotado. E gostava muito de passar o tempo com ela, era bem mais divertido jogar conversa fora onde podiam se ouvir do que só beber, gritar poucos diálogos e dançar música eletrônica.

Ao menos, era assim que ele pensava.

— Não — riu ela, junto dele, ao balançar a cabeça. — Ele realmente fez isto, e ainda disse que era pelo bem da humanidade!

Matt riu mais um pouco, se apoiando na grama.

— Seu irmão era uma figura — falou, imaginando sa cena da infância dos dois que Emily haviam estado contando. — Mas você tem que me contar o que você aprontava quando pequena.

Emily riu, balançando a cabeça.

— Eu era uma filha exemplar — garantiu, fazendo-o rir. — Eu não aprontava.

— Duvido! — brincou, tentando encontrar alguma brecha.

Emily tentou não rir, mas não conseguiu. Um tanto pensativa sobre continuar ou não, encarou-o de canto de olho.

— Ok — concordou, vendo um sorrisão do Matt como resposta. — Teve uma vez que eu me enrolei em uma toalha de mesa, da cozinha, e subi no telhado da casa. — Ajeitou-se na grama, sem graça. — Eu achava que eu era uma heroína e eu queria voar. 

Matt arregalou os olhos, sem saber se ria ou se ficava preocupado, apesar de saber que havia corrido tudo bem, caso contrário, ela não estaria ali. 

— Puta merda — falou, rindo, e Emily concordou.

— Isto foi quando ainda morávamos na aldeia, e um amigo da família me enxergou lá de baixo e avisou meus pais — falou, sorrindo. — Eu não pulei porque ainda estava planejando minhas estratégias de vôo.

Matthew gargalhou. — Que perigo, Em! — falou, inacreditado. — E ainda diz que era comportada.

— Eu era! — exclamou ela, em indignação, mas deixou-se rir também.

Matt passou um dos braços em torno dela, puxando-a para si, porque a vontade que tinha era de esmagá-la. Reprimiu-a, no entanto, e limitou-se a fazer um leve cafuné em seus cabelos lisos.

— Você era a que mais aprontava e está escondendo de mim. 

Emily riu, mas se encolheu, envergonhada - e diria que também inebriada com o cheiro masculino de Matt. Deixou-se aproveitar, apoiando a cabeça em seu ombro, e sorriu. 

Tornaram a jogar conversa fora, abraçados, sobre a família, os amigos, os estudos e a rir das desventuras da vida. Mais um tempo se passou antes de duas figuras se materializarem na frente dos dois.

— Ah, não! — reclamou Alex, com o olhar malévolo. — Levantem ou eu faço vocês levantarem! — ameaçou.

Matt arqueou uma das sobrancelhas.

Bruno riu, parando ao lado do Cunningham. — O que o Alex tá tentando dizer é que vocês sempre perdem a maior parte da festa — falou, apontando do Matt para a Emily —, e que devem aproveitar toda ela com a gente.

Alex piscou, encarando o mexicano ao lado.

— Não, na verdade eu tava querendo dizer que se eles não entrarem agora, eu arrasto os dois pelos cabelos — falou, fazendo Emily rir, chocada. — Ei, não existe distinção de gênero para mim, não — falou, colando a mão no peito, com uma careta engraçada.

Bruno gargalhou e Matt o acampanhou no processo, fazendo menção para levantar.

— Bom, acho que estou precisando de uma bebida mesmo — concordou, ficando em pé. — Em? — Estendeu a mão para ela com questionamento, divertido.

Emily suspirou, assentindo com um gemido cansado. Estava gostando até demais do tempo que estavam passando juntos, mas sabia que era melhor não estendê-lo, a não ser que quisesse ficar ainda mais apaixonada por Matt. 

Alex estufou o peito, satisfeito, antes do Bruno pular nos ombros dele e eles gargalharem, um em cima do outro, caminhando em zigue-zague até a porta.

Matt e Emily foram atrás, rindo dos dois.

— Em, graças à deusa! — exclamou Faye, quando viu a Em. — Annelise está me ignorando, aquela vadia, e o Jake sumiu, e eu preciso conversar sobre aquela sereia linda com alguém! — implorou, sequer dando tempo para a garota responder antes de pegar sua mão e arrastá-la em direção à cozinha.

Matt riu ao observar as duas, junto de Alex, que aproveitou para oferecer o copo que Annelise havia lhe entregado, para o amigo. A líder de turma já tinha os lábios tomados pelos de Bruno, que mal chegou antes que Anne o puxasse para um beijo demorado. 

Matt e Alex se entreolharam, riram, e relevaram ao engajar em uma conversa acirrada sobre baseball. Matt também curtia os Yankees, e como era o único da panelinha, Alex sempre aproveitava sua presença para discutir o assunto. 

— O que foi isto? — questionou Bruno, assim que Anne se afastou um pouco para que respirassem. 

— O que foi o quê? — retrucou, divertida.

Bruno revirou os olhos. — O que foi... — começou, mas parou, com um olhar malicioso. — Esquece. Já entendi. Você não consegue resistir muito tempo ao charme mexicano que corre pelas minhas veias. 

Foi a vez de Annelise girar os olhos nas órbitas.

Nah — falou, olhando ao redor para procurar por Emily e Faye. — É que é mais fácil. 

Bruno soltou um arquejo. — Você está me chamando de “fácil”?

Annelise gargalhou, apertando a bochecha do mexicano. Ele fez menção a morder sua mão antes que ela a afastasse, mostrando-lhe a lingua. 

— Facílimo — concordou, provocando. — Você também é meio “piranha”, Bruno.

Ele riu, dando de ombros, ao tentar se aproximar para mais um beijo. — Para você, eu sou o que quiser.

Annelise focou os olhos castanhos nos dele, afastando o rosto para que não a beijasse, e então, em meio a olhares desafiadores, começaram a rir feito dois idiotas antes de se abraçarem de novo. 

— Ei, Matt — chamou Anne, como se recém se lembrasse de algo, soltando Bruno, que estalou a língua. — Preciso falar com você!

Alex ficou indignado quando ela interrompeu a conversa dos dois, puxando Matt pelo braço e o arrastando para longe. Bruno também teria ficado, se não fosse tão tranquilo, então apenas riu da cara do melhor amigo.

— Eita, Anne, eu não trouxe nada comigo hoje — foi logo dizendo, estranhando a ação da amiga.

Ela parou, próxima das escadas que davam para o segundo andar, confusa. Quando se deu conta que ele falava da maconha, abanou como se descartasse a ideia.

— Não é isto — garantiu, se aproximando do rosto do mais velho. — Preciso falar com você sobre a Em. 

Matt franziu o cenho, confuso, enquanto Annelise mordia o lábio, sentindo que estava fazendo algo terrível, tipo, trair a confiança da amiga. Mas era pelo bem dela! 

— Escuta, a Emily gosta de você — disse, sem rodeio algum. Não sabia ser mais delicada, e percebeu que realmente não havia sido, vendo as sobrancelhas do amigo se erguerem. — E eu tenho incentivado e esperado que ela dissesse algo, mas ela é muito... Muito Emily — explicou, abrindo os braços. — Ela é muito tímida, ela não vai dizer nada, então eu estou dizendo.

Matt desviou o olhar, suspirando.

Aquilo não era informação nova para ele. O que era novo é que mais alguém soubesse e, pior, que viesse contar para ele.

— Sim, eu... — Suspirou, voltando os olhos para a Anne. — Eu sei disto.

Ela arregalou os olhos. — Você sabe? — Matt assentiu, apoiando o corpo na parede ao lado das escadas. — Então por que não fez nada a respeito? — exclamou, indignada. — Faça alguma coisa!

Matt riu, mais de incrédulo do que por achar graça. Balançou a cabeça, desacreditado.

— O que você espera que eu faça?

Annelise fechou a cara. — Bom, eu não sei, talvez, beijá-la? — exclamou, gesticulando em exagero, com incredulidade.

Matt soltou um som estranho. — Eu não vou beijar uma garota menor de idade, Anne.

Annelise cruzou os braços. — É mesmo? — questionou, com um tom estranho. — Porque você não teve problema algum quando beijou algumas outras colegiais — alfinetou, vendo o amigo desviar o olhar, constrangido.

— Elas eram mais velhas que a Em e eu era mais novo — defendeu-se, com a mão no peito. — E eu nunca fiquei com alguém que fosse mais do que dois anos mais nova que eu, Anne, e agora que eu tô mais velho, muito menos — garantiu, negando. — Isso não vai acontecer. Não mesmo.

Annelise suspirou, desanimando.

Observou os olhos castanho-esverdeados do mais velho, a barba por fazer, os cabelos castanhos em ondas, as sobrancelhas grossas. Matt aparentava ser mais velho que vinte anos, ele era maduro, responsável, tranquilo. Mas convivia com adolescentes, estava aprendendo as mesmas coisas que os adolescentes, e cometia tantos erros quanto o resto da panelinha. 

Annelise, mesmo com os olhos fixos na barba castanha-aruivada, não conseguia enxergá-lo como um adulto. Aliás, pensando bem, Emily parece mais adulta que ele, pensou ela consigo mesma.

— Você realmente não gosta dela? — perguntou, mansa. — Vocês vivem juntos, ficaram lá fora hoje mesmo por mais de hora, conversando. — Annelise balançou a cabeça. — Eu achei que gostasse dela.

Matt balançou a cabeça.

— Eu gosto dela, é claro que eu gosto dela — falou, com carinho. — Mas não deste jeito. — Annelise estreitou o olhar, desacreditada. — Em é uma criança, Anne — argumentou, sob o olhar acusatório dela. — E antes que você diga, não é só a idade. Você a conhece, ela é... — Suspirou, sorrindo sem jeito. — Ela é a Emily.

Annelise queria argumentar, xingar, e bater no Matt, mas sua consciência não permitiu. Ele não estava exatamente errado, nem sobre a idade, nem sobre o jeitinho meigo e ingênuo de Emily. Ele estava sendo responsável, como devia ser, e ela não podia culpá-lo por isto.

— Que saco! — reclamou, mesmo assim, olhando ao redor. Na realidade, sentia-se pior por Emily. — Preciso de uma bebida.

Deu as costas, procurando pelas duas outras garotas mais uma vez.

*

— Você pode me chamar só de Ben, sabe?

Lucy estava sentada na bancada da cozinha, enquanto Ben estava apoiado na mesma, ao seu lado. Havia mais uma dúzia de adolescentes no mesmo ambiente espaçoso, servindo-se e conversando. 

— É claro que eu posso, Benhur — retrucou, bebendo mais um pouco de seu drink.

Ele riu, desacreditado. Não conseguia tirar os olhos dela, e pôde ver quando ela sorriu disfarçadamente atrás do copo antes de baixá-lo. 

— E você pode baixar a guarda também — acrescentou ele, olhando-a de canto. 

Lucy sorriu de forma estranha, antes de se aproximar um pouco dele. — Ah, mas assim é tão mais divertido! — provocou, com os olhos fixos nos lábios do moreno.

Ben sequer piscou, perdendo o sorriso pela descompostura, e se aproximando involuntariamente da loira. Porém, Lucy tinha outras ideias e desviou o rosto, virando-o para frente mais uma vez, com um suspiro.

Ben piscou, saindo do transe, ainda com os olhos castanhos nela.

— Então se eu baixar a guarda, vai perder a graça — acrescentou, olhando-o de canto com diversão.

Ben deixou a cabeça cair para trás, sorrindo, ao se apoiar melhor no balcão, com os cotovelos. Já havia percebido que Lucy não seria fácil de desvendar, mas isto apenas o fazia gostar ainda mais dela.

Voltou a observá-la, com admiração.

— Sem falar que se você baixar a guarda, vai ficar desprotegida — deduziu, com a voz calma.

Lucy pareceu desconcertada com isto, perdendo o sorriso e girando o rosto para ele. Uniu as sobrancelhas, formando a mesma cara de garota marrenta que possuía quando se conheceram. Observou-o, tentando decifrar de onde vinha aquilo e por que ele havia comentado.

Ben queria dizer algo romântico ou provocador, para que ela risse ou devolvesse, mas no fim, acabou saindo isto. Não queria deixá-la desconfortável ou ainda mais na defensiva do que antes, mas havia percebido a pose, porque ele também tinha uma pose própria para se autoproteger.

Percebeu, no entanto, que não devia ter comentado algo tão invasivo, mas ele aparentemente estava enferrujado na arte de puxar conversa com garotas encantadoras. Não era à toa que fosse péssimo com ela, já que era péssimo com pessoas, em um geral. O máximo que conseguia era se soltar um tanto com os amigos, mas isto porque já os conhecia há tempos.

Acabou perdendo o sorriso pela linha de pensamento e engoliu em seco, desviando o olhar do analítico de Lucy.  

— Eu sei um pouco sobre autoproteção — contou, em um murmúrio triste, mas honesto, na tentativa de reverter a situação. Sorriu fraco, parando os olhos escuros nos azuis dela. — Então não sou eu a querer tirá-la de você.

Lucy o analisou mais um pouco, sentindo-se estranhamente exposta aos olhos do rapaz. Devia ter odiado a sensação, mas na verdade, ela foi um tanto reconfortante.

Ben era mais do que um rostinho bonito. Havia enxergado nela mais do que qualquer um o teria, com duas semanas de conversa por celular e sendo a segunda vez a vê-la. 

Afinal, era preciso um perturbado para identificar outro.

Lucy relaxou, por fim, ao ajeitar-se em cima do balcão. Sorriu, com os olhos nos dele, ao comentar: — Que sério. — Ben piscou, sem jeito, forçando um sorriso ao desviar o olhar. Lucy pôs a mão gelada em seu queixo, por sobre a covinha nele, para fazê-lo voltar a olhar para ela. — Eu gosto. 

Aquilo chamou sua atenção e, embora não quisesse desfazer o contato dela em si, não pôde evitar questionar a fala.

— O quê, minha seriedade? — testou, achando graça.

Ela deixou a mão cair, rindo. — Não, a obscuridade. — Ben franziu o cenho, curioso. — Eu gosto quando as pessoas não são perfeitas e não tentam esconder isto.

Ben abriu e fechou a boca algumas vezes, sem saber o que falar.

Primeiro, ele sabia que era imperfeito, talvez até demais. Sabia sobre a obscuridade em si. Ah, se sabia! Nunca se aprofundou no assunto, mas sempre achou que tentasse esconder aquilo dos demais. 

Afinal, não é instinto humano? Disfarçar os defeitos, engolir o choro, e esconder a maior parte de si, aquela que realmente importa caso seja criticada pelos demais?

É claro que tentava esconder.

Não tentava? 

— Como você sabe que eu não tento esconder? — questionou, curioso e honestamente perturbado.

Lucy girou o rosto para ele, tentando descobrir se falava sério. — Está falando sério? — verbalizou, estreitando o olhar, mas sua confusão o delatou. Lucy sorriu. — Bom, de forma simples: você não estaria me perguntando isto se estivesse tentando.

Ben pareceu ainda mais confuso, e aquilo fez com que a loira mordesse os próprios lábios para não morder os dele. O pensamento a fez se aproximar, o suficiente para que ele saísse do transe e a encarasse.

— Talvez tenha cansado de tentar — murmurou, os olhos azuis parecendo enxergar sua alma e devorá-la ali mesmo. Sorriu. — Eu também sei um pouco sobre autoproteção, então sei o quanto ela pode ser cansativa. — Ben engoliu em seco. — Quem sou eu para impedi-lo de se livrar dela?

Céus, ele estava perdido! 

Ben sorriu, alargando-o a ponto de mostrar os dentes perfeitamente rentes. Lucy o invejou por isto, já que tinha os dentes da frente separados e outros tantos tortos, mas Ben achava uma graça.

Ele desencostou-se do balcão, apoiando apenas a mão neste antes de aproximar o rosto do dela, com os olhos presos nos azuis, até que sentisse o cheiro de morango, da bebida, que exalava da loira. Roçou o nariz no dela, na busca por aprovação em seu olhar, mas Lucy era impaciente e fechou a distância entre eles em meio segundo.

O beijo, apesar de haver começado brusco, fora lento, gentil, carinhoso, como se testassem as águas. Ben passou uma das mãos em torno na cintura da loira e a puxou, de forma delicada, até que estivesse grudada nele.

Aquele não havia sido o primeiro beijo de Ben, nem o segundo, nem o terceiro. Havia ficado com uma série de garotas, mas nunca havia se apaixonado, e nem gostado o suficiente para engajar em um namoro. E tampouco havia passado dos beijos com ninguém.

Parecia bobo quando pensava a respeito, porque um garoto normal se preocuparia com isto, mas ele não. Não havia visto necessidade alguma de transar com uma qualquer só porque já tinha dezessete anos e era o único virgem do rolê. 

Quer dizer, não era o único. Sabia de pelo menos mais alguém que também o era. 

Ben abriu os olhos, brusco, mas não quis terminar o beijo da mesma forma. Sutilmente foi parando o movimento, deslumbrado pela imagem da loira de olhos fechados à sua frente. Haviam pintinhas naquele rosto perfeito. E os olhos, pensou, quando ela os abriu, eram de um azul oceano.

No entanto, eles se tornaram um tanto ferozes ao se depararem com o encanto nos olhos escuros do garoto.

— Não me olha assim — reclamou.

— Assim como? — questionou ele, levando uma porção loira de seu cabelo para trás da orelha.

Ela sorriu, um pouco maldosa, mas não fez menção de se afastar ou reclamar do toque do outro.

— Como se eu fosse uma flor — falou, se referindo ao carinho e a delicadeza no olhar escuro, como se tivesse medo de quebrá-la. — Delicada, quebradiça e o caralho a quatro.

Isto trouxe um riso ao garoto alto.

— Eu jamais cometeria este erro — garantiu, com um sorriso.

Lucy sorriu também, cruzando os braços. — Ótimo.

Ben encarou a porta da cozinha que levava até a sala barulhenta, um tanto nervoso. Não conseguiu disfarçar muito bem que sua mente havia ido para outro lado, e isto trouxe um estreitar de olhos na loira, que o observou.

— Qual o problema?

Ben suspirou, dando um sorriso triste. — O problema é que eu não estava sozinho nesta festa.

*

Faye girou mais um copo de vodka com alguma coisa que não queria nem saber o que era antes de retornar à cozinha.

Ben e Lucy já não estavam lá.

A gótica pegou uma garrafa de cerveja e retornou à sala que já houvera virado uma bagunça. Enxergou os amigos e, já se sentindo um pouco tonta pelo álcool, caminhou na direção deles. Antes que os alcançasse, no entanto, sentiu alguém segurar seu braço de forma delicada.

Girou o rosto, confusa, dando de cara com uma garota praticamente da sua altura, com olhos receosos.

— Faye? — questionou, parecendo um tanto sem jeito.

Faye focou os olhos na garota, chocada que ela fosse ainda mais fofa em pessoa, dando-se conta de que era mesmo a Mia.

Os cabelos castanho-cacheados iam quase até a cintura fina, a pele perfeita chegava a lhe dar inveja naquela cor bronzeada, os olhos castanhos possuíam cílios encurvados e o rosto parecia limpo de maquiagem. Ainda assim, a garota delgada parecia ser perfeita.

Nenhum piercieng, nenhuma tatuagem, nenhum sinal de rebeldia, vestida em roupas perfeitas naquele corpo, que apesar de serem descoladas, eram bem hétero.

Annelise bem que havia dito que ela não era seu tipo. Mas ali estava, coisa mais amadinha do universo. Internamente se perguntou o que aquela garota perfeita de Beverly Hills queria consigo.

— Meu deus, você é ainda mais hétera em pessoa! — falou, daquele jeito dela, rindo. 

Isto pareceu quebrar a tensão da outra, que mal respirava com o olhar verde analisando cada pedaço seu. Riu também, achando graça que Faye era exatamente do jeito que parecia ser.

— É, já ouvi isto antes — disse, rindo.

Faye se segurou para não apertá-la, mas não se impediu de puxá-la para um abraço em cumprimento. Grossa do jeito que era, ficou até com medo de quebrá-la com a brusquidão. 

Faye pensou que até a colônia de Mia tinha cheiro de hétero. 

— M-me desculpa por não ter te respondido — começou Mia, assim que elas se separaram, nervosa com os olhos verdes por sobre si. — Eu não sabia se poderia vir e não sabia como te responder, então quando eu decidi vir, eu só me vesti e... Vim.

Faye abriu um sorriso largo. Ainda tinha um pé atrás sobre o que estava fazendo a garota hesitar tanto - o que, nos casos anteriores, realmente havia sido a saída de armário -, mas preferiu ignorar este detalhe. 

Talvez realmente estivesse bêbada. 

— Não precisa se desculpar, chegou no melhor da festa! — afirmou, acenando. — Eu estava indo até meus amigos, mas se quiser sair daqui pra conversar, Jake tem um quintal bem bonito — falou, sorrindo ainda mais largo ao vê-la ponderar. 

Mia hesitou, pensando a respeito, sob os olhos de Faye. 

— Quão bonito? — optou questionar, e Faye riu, assentindo ao compreender.

— Não tanto quanto você, sereia — disse, para não perder o charme. Mia riu de nervosismo. — Venha, eu te mostro. 

Faye enlaçou os dedos nos dela, percebendo que as unhas da garota estavam pintadas de um tom claro engraçado ao contrastar com as suas, pintadas em uma cor escura.

Mas não precisava nem questionar, adorou a diferença.

Ao passo que faziam caminho entre as pessoas em busca da parte traseira da casa enorme, passaram por Ben, que já não mais estava acompanhado de Lucy.

Ele apenas passou o olho pela amiga e sua companhia antes de encontrar o restante dos amigos mais ao longe. Caminhou a passos largos, sentindo o estômago esfriar ao passo que se aproximava e percebia que Jake não estava entre eles.

— Ei, vocês viram o Jake? — questionou, desviando os olhares entre Matt, Annelise e Bruno.

Eles interromperam a risada, de alguma piadinha sem graça de Bruno, para prestar atenção em Ben. Se entreolharam antes de dar uma olhada ao redor.

— Eu não vejo o Jake já faz um tempo — comentou Annelise, que o havia visto por último quando havia o deixado com Faye.

— Eu não o vi, cara — disse Matt, olhando ao redor. — Qual o problema?

Ben engoliu em seco, sentindo-se culpado por haver ficado com Lucy e esquecido completamente do melhor amigo.

— Não, não é nada — comentou, meio avoado. — É só que... — Suspirou, sem saber o que dizer. — É a festa dele, e eu meio que o deixei de lado... — Sem falar que estive com Lucy esse tempo todo, acrescentou mentalmente. — Eu só queria saber onde ele está.

Bruno assentiu, coçando a cabeça. — Ele deve estar lá em cima.

Ben assentiu, concordando, porque já havia dado uma olhada no resto do primeiro andar e não havia visto nem sinal do amigo. Até ponderou se realmente devia ir atrás dele, porque quando Jake se afastava, era porque queria ficar sozinho. Conhecia o garoto o suficiente para saber disto. 

Mas aquela não era uma situação normal. O sumiço dele era provavelmente sua culpa, e precisava se desculpar. 

— É... — murmurou, sentindo-se impotente. — Eu vou checar.

No entanto, quando se virou em direção às escadas para o segundo andar - nas quais haviam alguns adolescentes bêbados, a propósito -, foi impedido.

— Ei, Ben! — chamou Alex, pegando-o pelo braço, de forma que os olhos castanhos pararam nos olhos pretos do amigo. — Cadê o Jake?

— Eu estou indo atrás dele agora. — Fez menção de dar as costas mais uma vez.

— Não, espera. — Alex apontou para a porta da frente. — O cara não vai esperar, disse que vai chamar a polícia se a gente não pagar aquelas pizzas agora.

— O quê? — Assustou-se Annelise, se aproximando.

— Que pizzas? — questionou Matt, junto dela.

— Aparentemente algum idiota pediu mais de vinte, e eu não trouxe tanto dinheiro, então...

Alex encolheu os ombros, voltando a olhar para o Ben. Da panelinha, os três eram os únicos ricos. E mesmo que os outros tivessem algum dinheiro, não seria o suficiente para a pilha de pizzas que o cara carregava. 

O mais alto relutou, suspirando. — Tá, eu... — Olhou para escadas mais uma vez, com a mão no bolso, procurando a carteira. — Eu só tenho o cartão. — Abriu a carteira, procurando pelo específico entre eles. — Serve?

— Serve.

Bruno colocou a mão no ombro de Ben, também relanceando as escadas. — Vai lá — incentivou, vendo que ele não poderia dizer a senha do cartão no meio de diversas pessoas. — Eu vou atrás do Jake. Mas já te digo por experiência — falou, com um sorriso de canto —, que ele provavelmente deve estar vomitando em alguma parte. É sempre assim quando eles somem — falou, como se fosse um adulto falando de adolescentes. 

— Inclusive você, né? — provocou Anne, fazendo-os rir.

— Ah, só de vez em quando — disse ele, abanando como se não fosse nada, o que provocou mais risos.

Ben, no entanto, não estava tão bem para o humor. Forçou um sorriso, assentindo antes de dar as costas. — Ok, valeu.

Alex foi junto dele, e Bruno abriu caminho entre as pessoas, alcançando as escadas e subindo para o segundo andar da casa que já conhecia. No caminho, nem percebeu esbarrar em um casal que estava aos beijos.

Emily tinha os braços em torno do pescoço de um garoto musculoso, os lábios colados nos dele em um movimento nada recatado, enquanto os braços do rapaz circundavam sua cintura. Matt, de alguma forma, os enxergou de longe. Franziu o cenho, tentando descobrir se era mesmo a Emily, e confirmou ao checar a roupa com a qual ela viera. Piscou, tentando fazer os neurônios funcionarem para entender o que estava acontecendo.

Estranhamente, sentiu o peito apertar com a cena. E ele não havia sido o único que viu.

— Puta que me pariu! — exclamou Annelise, ao seu lado, com os olhos nos dois ao longe. — Desculpa, mãe — acrescentou, para o ar, ao se dar conta das palavras. Encarou Matt ao seu lado, percebendo que a atenção dos dois estava na amiga indígena. — Matt, acho que você se livrou, hein? — Riu, embora estivesse preocupada por dentro. Aquilo não parecida nada com algo que a Emily faria. — Ela parece ter seguido em frente.

Matt piscou, forçando um sorriso também, antes de focar os olhos em Emily. Não soube explicar, mas sentiu como se toda a aproximação deles tivesse sido cortada ali, e como se agora ela estivesse tão distante dele quanto fisicamente estava naquele momento. E aquilo não fazia o menor sentido, porque amigos beijam quem quiser o tempo todo e isto não acaba com aproximação alguma. 

Engoliu em seco, desviando o olhar.

Puta que me pariu!, repetiu, para si mesmo.

*

Bruno caminhou direto para o quarto do Jake, no segundo andar, porque agora já o conhecia, mas quando viu a luz apagada - já que a porta estava aberta -, resolveu procurar nos outros cômodos antes. O quarto dos pais estava trancado, os outros cômodos estavam ocupados ou vazios.

Estranhou, ponderando se o Jake não estava no banheiro do seu quarto, já que ele tinha um próprio. Marchou até ele, sem se preocupar em acender a luz, já que havia a luz do corredor adentrando no cômodo. Quando ia caminhar até o banheiro do outro lado do quarto, enxergou a silhueta de Jake sentada na cama. 

Deu um pulo involuntário para trás. 

— Porra! Que susto, Jake! — exclamou, com a mão no peito, que havia acelerado. Encarou o garoto, incrédulo, que tinha os olhos nos próprios pés. — Cara, o que 'cê faz no escuro? Eu estava te procurando, e a luz estava apagada, então eu ia checar o banheiro... — Parou aos poucos ao ver o jeito desanimado dele. — Jake?

Jake tinha retirado a jaqueta azul que usava, e estava jogada em sua cama. A camiseta tinha os primeiros botões abertos, os tênis estavam jogados perto da porta e os pés, ainda nas meias coloridas, estavam em cima do tapete. Estes eram a única parte do garoto que Bruno podia enxergar perfeitamente, iluminados pela luz vinda da porta escancarada.

— Tudo bem, Bruno, pode usar — murmurou, limpando o rosto, depois que tentou digerir as palavras do mexicano.

Bruno franziu o cenho, forçando os olhos para enxergá-lo melhor. 

— O quê? — questionou, estranhando o garoto. — Não, eu não ia usar o banheiro, eu ia ver se você... — Parou novamente, se aproximando. — Cara, ‘cê tá chorando?

— Não. — Bruno se virou para ligar o interruptor de luz para poder enxergá-lo melhor, mas Jake repetiu: — Não! 

Bruno parou na metade do caminho, virando-se para Jake mais uma vez, que havia se levantado da cama, ainda na sombra do quarto. Bruno ponderou um pouco a respeito, tentando decifrar o amigo.

— Isto é por causa do Ben e da garota aquela? — perguntou, embora fosse óbvio, já que Ben havia mencionado algo sobre haver deixado Jake de lado durante a noite toda. — Olha, eu sei que é chato quando nossos amigos começam a namorar, mas ele é teu melhor amigo, Jake, não vai te deixar de lado. Eu sei que vocês têm esse lance siamês de estarem sempre grudados — riu, tentanto provocar o mesmo no amigo, mas não obteve o mesmo efeito em Jake — mas é justamente por isto que vocês não vão se separar. É normal se sentir deixado de lado quando...

— Eu sei — interrompeu Jake, a voz baixa. — Tudo bem. Eu só preciso de um tempo aqui — pediu, a voz claramente embargada. — Já desço.

A questão é que Bruno não ia deixar por isto. Odiava ver os outros chorando e, embora nunca soubesse o que dizer a não ser tentar fazer com que rissem de suas besteiras, também odiava a ideia de não fazer nada. Deu alguns passos na direção da cama, vendo que Jake havia erguido o rosto para ele, embora não o pudesse ver muito bem sem a luz do quarto.  

— Isto é só por causa de Ben mesmo? — Jake não ousou responder, desejando que o mexicano sumisse logo dali. — Não é pra tanto, Jake — tentou, forçando um sorriso. — Isto não vai ser um problema. Quero dizer, se você estivesse apaixonado por ele, daí sim seria um problema — gargalhou, para tentar fazê-lo rir, só que Jake apenas baixou o olhar. — Cara, eu tô tentando aqui, ok? — Jake virou o rosto para o outro lado, fungando, lutando contra as lágrimas que volveram a sair. — Por que você... Jake?

Bruno tentou alcançar seu braço, mas ele o puxou, limpando o rosto quase com raiva ao se afastar. Bruno apenas observou sua reação, os olhos se alargando ao passo que o cérebro funcionava.

— Espera, você... Você está apaixonado por ele? — questionou, quase em um murmúrio.

Jake ergueu o olhar, furioso com a constatação do amigo que, a propósito, estava completamente correta. Talvez estivesse mais furioso consigo mesmo, por não conseguir mais esconder.

— É claro que não, imbecil! — Bruno franziu o cenho, tentando decifrar se ele falava sério, mas a sentença seguinte o denunciou: — E-eu não... Eu não estou... Não

Bruno mordeu os lábios, piedoso, ao se dar conta da situação. Subitamente, milhares de coisas que Jake havia dito ou feito fizeram sentido. Se sentiu, também, culpado pela forma como havia começado o diálogo, mas não fazia ideia de que Jake podia ser apaixonado por Ben. 

Para ele, e para o restante da panelinha, eles eram irmãos de alma.

— Jake...

Jake limpou o rosto, mais uma vez, com raiva. Sem saber lidar com as perguntas, já que nunca havia chegado naquele ponto - de alguém perceber -, Bruno havia dito o suficiente para que ele se sentisse exposto. 

— Sai — grunhiu, apontando para a porta. — Só sai, Bruno!

Aproximou-se do mexicano, tentando empurrá-lo em direção à porta, mas Bruno apenas desviou.

— Não, não vou te deixar sozi...

— Sai, Bruno, que saco! — exclamou, empurrando-o de vez, com força, em direção à porta. Então, ficaram de frente um para o outro. — Eu já disse que eu não sou... — interrompeu-se, fraquejando — o q-que você pensa que eu sou!

Bruno sentiu o coração apertar, sensível do jeito que era, quase podendo sentir a dor que Jake sentia. 

— Tudo bem — tentou, já que não ia forçá-lo a admitir nada —, mas você está triste, e eu só quero...

Firmou os pés no chão, mas Jake continuou tentando tirá-lo dali.

— Sai!

— Jake, eu só quero...

Não pôde terminar a frase desta vez, porque ao invés de Jake agredi-lo, grudou a boca na dele em questão de um segundo. Desta vez, apenas empurrou-o o suficiente para grudá-lo na parede.

Bruno arregalou os olhos, mas ali, ao lado da porta, com a luz amarelada vinda do corredor, conseguiu enxergar melhor as lágrimas banhando o rosto dele. Rosto este que, por ser branco, estava avermelhado como se tivesse sido agredido, e inchado pelo prévio choro.

Bruno não se afastou, nem quando Jake moveu os lábios, brusco, contra os dele. Também não o retribuiu, mas consentiu a forma de despejo do amigo ao pousar ambas as mãos nos ombros dele.

Jake se afastou poucos segundos depois, segurando um soluço. Os olhos claros estavam avermelhados também, focados nos castanhos do mexicano, e o rosto contorcido em uma careta de choro que trouxe compaixão ao coração mole de Bruno. As mãos, ainda presas na parte dianteira da camisa do Bruno, amassando-a, fecharam-se ainda mais.

Bruno o puxou novamente até que o rosto dele estivesse afundado em seu pescoço. Tão logo acomodou-se ali, volveu a soluçar, abraçando o corpo de Bruno como se o quisesse quebrar no processo. 

Shh, Jake — murmurou ele, passando as mãos em suas costas ao passo que elas começaram a movimentar com o choro. — Tudo bem. Tá tudo bem, cara.

Grudados na parede ao lado da porta aberta, no quarto escuro tomado pelo som de soluços e pelo abafado som de música do andar de baixo, permaneceram pelo que pareceu uma eternidade.

Estranhamente, foi ali que começou a verdadeira amizade entre os dois. Mais curiosamente ainda, talvez foste esta aproximação que mudasse o rumo destes mesmos destinos.  


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Notas finais do capítulo

GENTEM, SOBRE OS REVIEWS:
Desculpa pela demora, eu realmente não vi que fazia 3 capítulos que eu não respondia. Facepalm. Hahahha. Mas eu já respondi a maioria, e agora que postei este, vou responder o restante, ok? Beijos no coração de vocês! ♥

1) Sobre o Ben e o Jake: não se preocupem, eu já explico a complexidade desta relação entre os nossos siameses. Aliás, vai ter um capítulo mais focado nesses dois.
2) Sobre a Faye e a Mia: me joguem um "viva" pelo meu PRIMEIRO casal lésbico! Hahahhah. Oficialmente deixei de ser virgem agora. Em especial um viva para a rainha Faye, por quem sou apaixonada, aquela musa dos sete mares! ♥ Quem mais?

Ah, sim, também sou apaixonada pelo Bruno. Olha esse mexicano lindo lidando super bem com a situação, sendo um amigo exemplar! ♥

Amem, odeiem, mas me digam o que acharam!



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