Made of Stone escrita por littlefatpanda


Capítulo 15
XII. De todos os enigmas do mundo


Notas iniciais do capítulo

, logo este, de olhos negros, jeito de badboy e sorriso lindo. HHAHAHAHAHA.

Boa leitura! ♥



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Eu acordei com a respiração do Alex no meu ouvido e o braço dele jogado em cima de mim. Dei um pulo quando senti o arrepio subir pela minha coluna e eriçar os pêlos dos meus braços. Senti o coração bater furiosamente, mas era devido ao susto de acordar sem saber onde estou e o que havia acontecido. Claro que era.

Alex havia infestado meu quarto com cheiro de colônia, suor, álcool e tabaco. Resmungou com meu movimento súbito, entreabriu os olhos, mas sorriu ao falar algo tipo “ah, é você, bebê” e virar para o lado para tornar a dormir.

Eu odiava que me chamasse de “bebê” ou “neném” ou “pirralho”, em termos normais, mas passei a sentir rancor, já que sei sobre o gosto do Alex com caras mais velhos. Não que tenha alguma ligação uma coisa com a outra, mas eu odiava que ele se achasse super adulto quando namora um cara que é mais velho em comparação a ele do que ele é em comparação a mim. 

Estreitei os olhos para os cabelos que pareciam oleosos pelo tanto que ele havia suado pela manhã. Havia tido pesadelos, e se remexido e murmurado coisas desconexas. 

Quem diabos era Agatha, a propósito?

Só o que me faltava o Alex ser bissexual, e ter mais uma lista inteira de garotas com as quais se envolveu, além dos garotos. Não que eu ainda esteja incomodado com isto. 

Não tenho preconceito, repeti mentalmente.

Encarei-o por mais um instante, incrédulo pela cara de pau dele haver voltado a dormir feito um anjo, relanceei o relógio e decidi que haviam limites. Ao menos, na minha casa.

Tive que, literalmente, puxar o lençol debaixo de seu corpo até que ele caísse no chão para acordar. Alex não tem o sono pesado como eu, ele só é preguiçoso.

— Caralho, Caleb, minha bunda! — reclamou, mas esfregou os olhos no lugar.

— São quase onze horas — apontei, impaciente. — Se minha mãe te ver aqui, você vai ter que explicar que veio sozinho, bêbado, de madrugada, de uma festa na qual não podia estar ou beber por ser menor de idade. 

Afinal, eu sei como essas coisas funcionam, especialmente para adolescentes inescrupulosos como o Alex e sua turma. Estudantes populares do ensino médio tem uma mania chata de quebrar as regras e fazer besteira feito totais lunáticos, e Alex, sendo Alex, tinha isto em dobro nele.

Ele piscou, esfregando os olhos mais uma vez, antes de levantar.

— Tá, mas não precisava me jogar no chão — reclamou, com um beiço.

Revirei os olhos, juntando os lençóis e colocando-os na cama junto do travesseiro que também havia seguido o Alex de encontro ao chão.

— Eu não posso tomar um banho, sair escondido e voltar pela porta? — perguntou, relanceando o celular que apitava pela bateria. — Não quero voltar pra casa ainda.

Titubeei por um instante, querendo que ele fosse logo embora para pôr a maior distância possível entre a gente e eu voltar a me sentir confortável no meu quarto. De novo, eu não tenho preconceito, eu só gosto do meu espaço preenchido apenas por mim.

Sou uma pessoa solitária.

E aquele era o meu quarto, o meu porto seguro, que estava sendo invadido por nada mais nada menos que o... Alex.

— Ok — resmunguei, irritado, antes de procurar uma toalha e emprestá-la. — Mas depois você vai embora.

— Ei — chamou, pegando meu braço quando entreguei a toalha. — Valeu.

Dei de ombros, desvencilhando-me dele.

Alex sorriu, e eu esperei ele sair de fininho do meu quarto em direção ao banheiro para, por fim, respirar. Tomei meu tempo, já que só poderia sair do quarto assim que Alex retornasse. 

Joguei meu pijama longe - normalmente teria vergonha de usá-lo na frente dos outros, mas era o Alex e depois de revirar o guarda-roupa dele, descobri que ele tinha camisas de banda, o que é mais vergonhoso do que pijama de Star Wars - e vesti uma roupa normal, arrumei a cama, e... 

Não, não enfiei o nariz no travesseiro.

Provavelmente estaria cheirando ao alcoolismo intratável de adolescente rebelde. 

Alex retornou e fechou a porta com rapidez, suspirando de alívio.

— Seu padrasto tá aí e quase me viu — falou, apontando vagamente para a porta com um riso.

— Alex! — exclamei, nervoso, olhando para a janela para não olhar para ele. — Você não podia ter se vestido no banheiro?

Isto trouxe um riso a ele.

— O que foi, nunca viu um garoto de toalha? — provocou ele, me deixando com mais raiva. — Então dê uma boa olhada, Caleb, porque aí você não vai precisar mesmo de beijo algum pra saber do que gosta.

Girei o rosto para ele com incredulidade, mas vi que ele frisava um lábio no outro para não rir. Peguei o travesseiro - que não cheirei! - e taquei na cabeça dele. Otário. 

— Otário — verbalizei, caminhando até a porta e empurrando-o para longe dela para que eu pudesse sair. 

— Irritadinho.

Ouvi a risada dele antes de fechar a porta, caminhar até a cozinha e, sem trégua alguma, ter minhas orbes queimadas pela visão da minha mãe e Theodore. Eu recém havia adentrado na cozinha quando os peguei se beijando, e não era um selinho.

Ugh. 

Eu podia ter limpado a garganta para que se dessem conta da minha presença, mas eu não aguentaria a culpa e o embaraço da minha mãe por conta disto, acabando por me fazer sentir culpado e embaraçado. Logo, dei meia volta, silencioso, e, “sem querer”, chutei a estante da sala, resmungando para que ouvissem e ouvindo a movimentação na cozinha antes de adentrá-la.

Agora sim: os dois comportadinhos com meio metro de distância entre eles, fingindo estar conversando e tomando o café da manhã.

Todo fim de semana a gente costuma tomar o café mais tarde, e almoçar mais tarde, e jantar mais tarde, e dormir mais tarde. Fim de semana é o paraíso, basicamente, então não estranhei o café da manhã naquele horário. 

— Bom dia — cumprimentei, ouvindo do mesmo e aproveitando para sentar na mesa e devorar tudo que havia na minha frente.

O beijo? Esquecido!

Se você visse o tamanho daquele bolo de chocolate, entenderia.

— Ei, Caleb, você não sabe o que eu comprei de novo para o restaurante — comentou Theo, divertido, ao puxar assunto.

— O quê? — perguntei, com a boca cheia, interessado.

Logo, ele começou a me contar sobre as algas raras que encomendara de não sei onde para fazer um prato diferente para os clientes. Theo têm um restaurante indiano, e sua comida foi aprovada com sucesso pelo meu selo de “botão da calça”, que quer dizer que é bom a ponto de comer até abrir o botão da calça para caber mais.

Coisas minhas que, a propósito, me fizeram ganhar peso nas últimas semanas.

Eu gosto do Theodore, gosto mesmo. Não havia nada que eu pudesse apontar nele como algo digno de um alerta vermelho, então por isto mesmo eu me sentia péssimo por ainda não ter me acostumado com ele. 

Eu não consigo apontar o que há de errado, então por que minha pele coçava como se ele fosse uma doença contagiosa? 

E eu me sinto horrorizado com isto, porque se ele passa a morar com a gente, eu vou acabar odiando o cara. Eu gosto de Theodore, desde que ele mantenha certa distância. Não de mim, mas uma distância de tempo, tipo “te vejo hoje, não te vejo amanhã”. E isto me fazia ficar horrorizado comigo mesmo por ser uma péssima pessoa e um péssimo filho.

Não que minha mãe tenha mencionado algo a respeito dele se mudar para cá, mas depois de um tempo juntos, em algum momento eles vão querer morar na mesma casa. E eu vou junto, porque eu só tenho treze anos e segundo algum imbecil criador de leis, isto não é idade o suficiente para morar sozinho.

Mentira, não acho que seja imbecilidade. Eu realmente não sei lavar roupa sem deixá-la com cheiro de cachorro molhado, então ainda preciso da minha mãe e do meu irmão para isto. Mas pelo menos eu não odiaria sair daqui. Eu, pessoalmente, odeio esta casa. O porquê eu não sei, mas ela possui más energias. 

Talvez Hugh tenha mesmo morrido, como Alex sugeriu, e agora esteja amaldiçoando nossa casa. Talvez mamãe o tenha matado e enterrado no jardim. Eu não a culparia.

— Alex! — exclamou ela, depois que a campainha tocou e ela levantou-se para atender. — Que surpresa!

Revirei os olhos, lembrando de agora há pouco.

Alex adentrara na cozinha, com a cara lavada a cinismo, fingindo que não havia dormido comigo hoje. 

Evitei deixar o queixo cair quando percebi que ele usava todos os meus itens roubados: a camisa que roubei em seu aniversário, o pingente que roubei naquela festa e o boné, mais distante, quando roubei na sala de aula.

Meu deus, eu sou aquele cara que coleciona as coisas dos outros, cujo ato têm até um nomenclatura científica que vi na televisão uma vez.

E aquilo queria dizer que ele mexeu no meu guarda-roupas, o que quer dizer que talvez ele tenha encontrado o caderno de desenhos da aula, onde havia pelo menos três desenhos dele.

Quis bater minha cabeça na parede. Afinal, por que diabos eu tinha desenhos dele?

Meu deus, eu sou pior do que o cara que rouba para colecionar, eu sou um perseguidor. 

— Enquanto um entra, outro sai — comentou Theo, levantando-se ao passo que Alex sentava depois de cumprimentá-los. — Já tá na hora de voltar ao restaurante — avisou, deixando um selinho rápido na minha mãe —, mas eu os vejo de noite. Combinado?

De novo? 

Minha mãe sorriu, assentindo antes de focar os olhos em mim. Pisquei, forçando um sorriso também.

— Claro — murmurei, enfiando mais um pedaço de bolo na boca.

Assim que Theodore se retirou, Alex fez minha mãe se apaixonar por ele mais uma vez, como todo mundo se apaixona. Puxou assunto, elogiou o bolo, comentou sobre o colégio e sobre mim. E toda mãe adora saber coisas sobre o filho que não sabe, como por exemplo, como ele foi bem na prova de matemática e não comentou nada a respeito.

Bom, eu não comentei a respeito pelo motivo que Alex decidiu não comentou com ela: só fui bem porque havia roubado aquela prova e sabia as ditas questões.

Mamãe, se orgulhe do filho que criou. E das companhias que ele arranjou, acrescentei mentalmente, com os olhos no Alex.

Eu queria me irritar com isto, mas não consegui sequer prestar atenção em tudo que eles conversavam. Agora que estava completamente acordado, eu só conseguia repassar em minha mente nossa conversa de madrugada.

Me sentia um pouco incomodado com estes segredos compartilhados. O bafo de álcool dele deve ter me embebedado, só pode, para eu ter aberto a boca sobre o Hugh também. E agora era como se eu tivesse em território proibido, com o Alex, já que haviam estes segredos flutuando entre a gente.

Era sempre a mesma atmosfera comigo, o Alex, o Ian e o Mason. Mas de alguma forma, também passou a existir uma atmosfera separada, minha e do Alex. Ele nunca estaria na minha casa sem os outros garotos, se não fosse por isto. E eu odiava essa sensação de estar fazendo algo errado. Só que tudo relacionado ao Alex me dava a sensação de estar fazendo algo de errado. Tudo relacionado ao Alex me levava de novo ao colégio, quando roubamos aquelas provas. Foi divertido, dava um frio na barriga, mas ainda assim era errado.

E quando o Alex, antes de ir embora, deixou a camisa, o boné e o pingente na minha cama com um sorriso de canto, sem que eu precisasse pedi-los de volta, a sensação se repetiu.

Com pesar, ponderei se não se repetiria sempre.

*

— Cristina!

Ian e eu erguemos os olhos dos celulares para um entusiasmado Mason, que levantou com rapidez do banco do colégio e correu até o portão de entrada. 

Eu e o Cunningham mais novo nos entreolhamos, pegamos as mochilas e corremos até lá também, rindo. Não perderíamos por nada no mundo ver o Mason atrapalhado de paixão ao conversar com a ruiva.

Como sempre, minha mãe havia me trazido até o colégio meia hora mais cedo, e logo antes de bater o sinal, Ian chegou. E agora Cristina aparecia. 

— O que faz aqui? — perguntou ele, com um riso, sem graça.

— Ah, viemos deixar minha irmã no colégio.

Mason havia nos contado tudo o que sabia sobre a Cristina, porque ele só falava sobre ela ultimamente: era mais velha, como o Ian, com catorze anos, mas ao contrário do nosso amigo, ela estava um ano à frente no colégio. Não estudava aqui, mas a irmã mais nova sim, que estava na terceira série. É nerd como o Mason, e vencedora de não sei o quê de jogos computadorizados, o que não é minha área para compreender, e também tem um estilo Holmes como o magricela do Mason. Afinal, ela era a “informante” dele, seja lá o que isto quer dizer.

— E não pensou em estudar aqui também? — perguntou ele, os olhos brilhantes.

— Ah, não sei... — murmurou ela, meio sem jeito.

Não seria a primeira pessoa que arrastamos para esse colégio de fim de mundo, pensei, relanceando Alex, que estava abraçado em Mary Jane.

Alex.

Eu admito para mim mesmo que o Alex anda tomando conta demais dos meus pensamentos. Isto porque eu também admito que pode ser um indício de preconceito, já que eu passei tanto tempo incomodado com a sexualidade dele. Aliás, ele não fez questão nenhuma de esclarecer se é gay, bi, ou sei lá quais outros termos existem.

Ele me acordou no meio da madrugada, bêbado, com fome, com sede, e com intuito verborrágico de me contar tudo sobre os romances da vida dele. Cara de pau

Tudo bem, eu admito que aproveitei a deixa para fazer minhas perguntas, mas em minha defesa, foi ele que começou. 

Ou talvez eu tenha começado?

O que importa é que eu estava certo. Ele realmente estava com a Mary Jane porque é um idiota e tem preconceito com ele mesmo, e Jillian realmente não foi o primeiro garoto que ele beijou.

Suspirei, minha mente fazendo o favor de ficar em branco por alguns instantes.

Eu entendo que ele tenha medo de se assumir, eu já li a respeito e sei que muita gente é assim. Meu irmão era assim, e ele conversou um pouco comigo a respeito. Mas eu não acho que seja tão assustador...

É tão assustador?

Como Alex mesmo disse, várias pessoas já sabiam, inclusive eu. Tudo bem que ele não quisesse que os pais soubessem, mas aqueles eram os amigos dele. Nós éramos os amigos dele. E ainda que ele não quisesse que ninguém soubesse, precisava estar com a MJ?

— ... então vocês podem ir pra lá. O que acham?

Pisquei, voltando a atenção para a ruiva. 

Cristina era um pouco mais alta que eu, era gorda, cabelos ruivos na altura do pescoço, sardas por todo o rosto e roupas de gamer. Se Mason namorasse um dia e não fosse com a Cristina, certamente seria uma com uma sósia dela. 

Ri com o pensamento.

— Claro — respondeu Mason, animado. — Nós iremos!

Franzi o cenho, percebendo que me perdi na conversa.

— Ótimo. Te mando a localização hoje à tarde!

Assim que ela foi embora, nos dirigimos para o prédio das aulas, já que o sinal havia batido, enquanto eu tentava descobrir o que tinha acontecido na minha ausência - de mente.

— Onde é que nós iremos? — perguntei, arqueando uma das sobrancelhas.

Mason piscou, olhando para mim em confusão. — Onde você tava com a cabeça?

— É, Caleb, onde você tava com a cabeça? — questionou Alex, aparecendo do nada ao jogar seu braço em torno dos meus ombros.

Ouvi a risada dos amigos dele, recém percebendo que todos estávamos caminhando ao mesmo tempo para as aulas. Uni a sobrancelhas, evitando olhar muito para cima, porque Alex não tinha pudor algum com a distância entre a gente.

Estalei a língua.

— Bem aqui — respondi, dando de ombros.

Ian riu, acabando com meu sofrimento: — Nós vamos na casa da Cristina, você não ouviu?

— Vocês.

— O quê?

— Vocês vão na casa da Cristina — esclareci, tentando ignorar o cheiro de colônia do Alex, sem o cheiro de álcool desta vez. — Eu não vou a lugar algum.

— Iremos os três — reclamou Mason, ajeitando os óculos.

— Não iremos, não — insisti.

Eu é que não ia segurar vela, e pior do que isto, segurar vela com o Ian!

— Iremos sim, Caleb — retrucou, começando a gesticular. — Ela vai estar sozinha e ela tem um Ouija e vamos jogar! — Mexer com espíritos enquanto seguro vela com o Ian? Rá, até parece! — E vocês têm que ir porque precisa de mais gente para jogar e eu não quero ficar sozinho com ela — acrescentou, nervoso. 

— Ui, aquela Cristina? — questionou Alex, malicioso.

Mason o ignorou, continuando sua verborragia. 

— Ela me deixa nervoso e eu só consigo me comunicar por meio dos jogos, porque é muito mais fácil quando ela é a cat89 e não a Cristina — falou, como se fizesse sentido. Revirei os olhos. — A gente fez um pacto, lembra? — comentou, e eu deixei o queixo cair pela audácia.

— Mason, isso foi há três... — tentou Ian, envergonhado, mas o loiro continuou.

Fechei os olhos em desalento porque Alex estava ouvindo.

— Isso quer dizer que devemos nos ajudar sempre, não importa no quê, e eu tô pedindo — continuou, a voz afinando. — Vocês esqueceram dos juramentos? 

— Cala a boca, Mason.

— Mason! — exclamou o Ian, ultrajado. 

— O que foi que eu perdi? — perguntou Alex, parecendo divertido.

— Nós fizemos um pacto de amizade três anos atrás — contou, fazendo o Ian resmungar. — E eu não quebro pactos.

Alex gargalhou e Bruno, que caminhava atrás dele, acompanhou-o no riso. — Tipo, com sangue? — perguntou ele, divertido. 

— Não, com algo bem mais forte do que isto. — Mason garantiu, tranquilo, enquanto Alex arqueava uma das sobrancelhas. Fechei os olhos. — Saliva! 

Facepalm, Mason, facepalm!

Alex tornou a gargalhar e eu aproveitei a deixa para me desvencilhar dele, vendo-o julgar-me com o olhar pelo ato corajoso. 

— Que bonitinhos — disse, volvendo a olhar para os outros dois ao me ignorar. — Agora estão ligados para sempre. 

Girei o rosto para o Ian, que estava vermelho de vergonha. Eu não o culpava.

Éramos três desmiolados. Isto aconteceu logo após defendermos o Mason na primeira vez que Bruce implicou com ele. Ian recém havia entrado na nossa bolha do antissocialismo e tivemos certeza de sua lealdade quando também brigou pelo Mason. Fizemos o pacto na casa dele com dez - no caso do Ian, onze - anos de idade. 

O assunto acabou quando nos separamos e entramos para a aula, mas pareceu se perpetuar na hora do intervalo. Ian nos arrastou até a fonte do meio do pátio, onde a galera do Alex estava, e acabamos ficando por lá.

— Ei, também devíamos fazer um pacto de sangue! — falou Alex, parecendo considerar a ideia. 

Fiz uma careta. 

— Não! — Nós três respondemos, e ele riu.

— Eu e você então, Bruno? — questionou, esbarrando o ombro no do mexicano, que estava sentado ao seu lado. 

Bruno riu também. — Vamos!

— Então vamos! — exclamou, animado, antes dos dois rirem feito abobados.

Os outros pareciam entretidos em suas próprias conversas.

Bruno parou por um segundo, encarando Alex com o canto de olho. — É, mas pra fazer um pacto assim não poderíamos mentir um para o outro.

Alex pareceu estranhar a frase, e eu também, mais atento do que deveria na conversa alheia. — Anda mentindo pra mim, Bruno? — brincou, mas parecia desconfortável.

Eu não — respondeu ele, elevando uma das sobrancelhas.

Alex abriu a boca para responder, mas o outro amigo dele o interrompeu ao chegar não sei de onde. Girei o rosto para ele, com os olhos para cima, porque o garoto é ainda mais alto que Ian. 

— Alex, nos encontramos hoje à tarde então? — questionou Ben, parando na frente dele.

Ele fica com o Ben também?, pensei, horrorizado.  

Pisquei, tentando não prestar atenção, mas encarando os dois de forma descarada. Vi que o assunto entre Ian e Mason também havia morrido e eles também prestavam atenção. Menos mal que eu não era o único.

Alex esfregou uma mão na outra com animação. 

— Partiu! — disse ele, com empolgação. — Tô louco pra começar!

— O que vocês vão fazer? — perguntou Bruno, também parecendo perdido. 

Alex nos olhou com um sorriso de ponta a ponta, e logo para o Bruno. — Eu convenci o Ben a me dar aulas de violão — contou, me surpreendendo.

Ele realmente adora música.

— Vou fazer meu melhor — disse Ben, já cansado, parecendo uma mãe que acabou de ser convencida a gastar seu tempo para levar o filho na pracinha.

— Coisa boa, Alex! — Ian exclamou, parecendo animado também. — Conseguiu convencer seu pai?

Alex fez uma careta, mas logo riu.

— Nah — falou, rindo, mas forçado. — Não preciso da aprovação dele pra isto.

Ian se calou, mas pareceu contrariado à ideia. Eu partilhei do mesmo sentimento, porque apesar de não conhecer o pai do Alex, deu para entender que ele não aprova muito do que o filho faz. 

— Você vai precisar do seu próprio violão — comentou Ben, colocando as mãos nos bolsos.

Alex assentiu. — É, tô trabalhando nisto. — E então pareceu enxergar Ben, com um olhar estranho, que logo trouxe um sorriso malicioso ao seu rosto. — Sabe no que você devia trabalhar? — Ben arqueou uma das sobrancelhas escuras. — Naquela garota marrenta da festa. Lucy, não?

Isso pareceu chamar a atenção de Annelise, que se enfiou na conversa.

— Ui, também acho — comentou, concordando com Alex.

Ben apenas uniu as sobrancelhas em uma expressão engraçada. Imaginei que isto era ele sem jeito. O garoto parecia um robô, mal sorria, mal saía da mesma postura, mas ainda assim interagia normal como se funcionasse perfeitamente por dentro.

— Certo — murmurou, realmente sem jeito. — Vamos voltar para o assunto do violão.

— Nem pensar! — exclamou Annelise, o que pareceu chamar a atenção dos demais. — Ben, eu convivi com você durante o ensino médio todo, e nunca o vi com ninguém! — acusou, como se fosse um crime. Matthew riu, junto de Bruno. — Francamente, garoto, aproveita! Eu vi aquela garota com você... Ela não tava completamente na sua ainda — comentou, fazendo uma careta —, mas tá quase lá! Não é, Faye? — cutucou a garota gótica ao lado.

Faye piscou, analisou as próprias unhas, e resmungou um “hum” ao dar de ombros. Isto causou risos nos demais, até mesmo no tal de Ben, e eu fiquei sem entender nada.

— É, talvez eu esteja um pouquinho feliz por você — resmungou, por fim, ao erguer os olhos verdes para o Ben. Mas pude perceber que apesar do tom triste, os olhos pareciam divertidos com a situação.

Annelise revirou os olhos, voltando-se para o Ben.

— Conseguiu o número dela?

Ele ficou olhando de um para o outro antes de se render.

— Sim, consegui o número dela.

Em seguida, uma onda de assobios e comemorações se seguiram. Relanceei Mason, que parecia tão pateta quanto eu, encarando tudo, e Ian, que ria junto como se pertencesse ao mesmo grupo. Revirei os olhos.

Ao passo que eles conversavam, eu até puxei algumas conversas com Mason e com Ian, em pé mesmo, em frente aos mais velhos. E então, eu percebi

Alex olhava de forma estranha para algum ponto específico, que aparentemente caminhava, porque seus olhos acompanharam o objeto com certa malícia no olhar. Desviei os olhos para o corredor ao lado, por onde o loiro azedo passava, com os olhos em Alex, ao passar a língua nos lábios de forma depravada.

Obsceno!

Senti o corpo tremer de ódio, vendo que, quando o Jillian sumiu de vista, Alex imediatamente pegou o celular do bolso e começou a digitar com rapidez, com um indício de sorriso no rosto. 

Ele estava marcando encontro com o loiro, o maldito.

Cruzei os braços feito uma criança emburrada, e assim fiquei até o intervalo - finalmente! - acabar. Não sei de quem eu sentia mais ódio, do Alex que só pensava em ficar com garotos 100% do tempo, do loiro aguado por se submeter a isto, ou de mim, por sentir ódio dos dois.

Provavelmente de mim.

*

— Pronto, cheguei — disse Alex, ofegante, quando nos alcançou.

Inspirei fundo, me controlando para não xingá-lo pela demora.

Eu não tinha absolutamente nada contra a Cristina, apesar da junção de Cristina e Mason me deixar profundamente irritado pela paixão no ar, mas eu não queria estar ali por nada no mundo.

Estávamos no centro da cidade, porque a ruiva morava por lá, no meio da rua, quase em frente a uma distribuidora, enquanto esperávamos por Alex, já que Ian insistiu que a gente precisava de álcool e não podíamos comprar. Tecnicamente, Alex também não pode comprar, mas ele tem identidade falsa, então funcionava. 

Eu fui arrastado, completamente contra a minha vontade, para esta função. Acontece que a Cristina era cheia de contatos, como o Mason, só que ao contrário do loiro, ela os conhecia pessoalmente. Então, para finalizar aquela noite maravilhosa, ela convidou mais uns dez amigos próprios para ir para a casa dela com a gente. 

Não queria ser chato, mas eu só conseguia pensar em que eu estaria sozinho com Ian - amo o Ian, mas ele é muito chato nessas junções! - e com o casal revelação, e mais dez cópias nerds, intrometidas e estranhas dos dois. 

— Vocês planejaram tudo, hein? — questionou, achando graça, como se observasse seus aprendizes nas traquinagens que ele ensinara. 

— Não vai ser nada demais — garantiu Cristina, ao lado de Mason, ao passo que caminhávamos até a distribuidora. — A gente vai pôr uma música, beber um pouco, fumar um beck e fazer algumas brincadeiras.

Girei o rosto para ela, em um vulto. Percebi que Ian também ficou um pouco chocado.

— Caralho, garota, que idade ‘cê tem? — questionou Alex, também impressionado.

Ela deu de ombros.

— Cara, pensei que vocês fossem uns nerds — falou Ian, tirando as palavras da minha mente.

— Somos nerds que sabem se divertir — retrucou ela, com um sorriso.

Que o criador dos diferentes tamanhos de pincéis me abençoe!

Mason só faltava babar para a garota.

— Uau — disse Alex, por fim, cutucando o ombro no meu. — Impressionante — sussurrou, me fazendo sorrir. Era mesmo.

Alex se inclinou na bancada da distribuidora, jeitoso, e pediu o que havíamos dito. Entregou o dinheiro da vaquinha que fizemos - sim, tive que gastar meu dinheiro de pobre com isto -, e a identidade falsa. Pela cara do homem, ele pareceu perceber que era falsa, mas não deu bola ao entregar as três garrafas de destilados para o Cunningham.

— Era só para isto que precisavam desta belezura aqui? — questionou, referindo-se a si mesmo.

Havíamos parado mais ao longe para esperar um amigo da ruiva antes de prosseguirmos. 

— Você não vai? — perguntou Mason, ajeitando os óculos no rosto.

Alex arqueou as sobrancelhas, surpreso. — Estou convidado?

— Claro né, seu idiota — resmungou Ian, revirando os olhos.

Ele pareceu genuinamente animado, mas quando ia dizer alguma coisa, o celular de Cristina tocou e todos focaram a atenção nela. Alex deu alguns passos até parar ao meu lado, olhando-me com atenção.

— Que animação a sua — debochou, achando graça.

— O que eu não faço por esses idiotas? — retruquei, mas sorri.

Ele riu, assentindo. — Um amigo muito leal — elogiou, colocando a mão no peito, teatralmente.

Seus cabelos escuros estavam jogados para um lado apenas, mas não de forma organizada, o que me fez pensar que havia sido o vento. Ele usava uma jaqueta, porque hoje havia esfriado um pouco, e estava todo de preto, se fundindo ao fundo escuro da noite.

O cenho havia franzido, no entanto, ao passo que desviou os olhos de mim para o pessoal atrás e de novo para mim. Parecia haver ficado pensativo com o que disse, mas não entendi o motivo. Antes que eu perguntasse qualquer coisa, o tal do amigo de Cristina chegou e a gente começou a andar em direção à casa dela. 

Demorei alguns segundos para perceber que Alex não nos seguia.

— Você não vem? — questionei, confuso, parando de caminhar.

— Cara, não amarela agora! — gritou Ian, mais em frente.

Alex abanou com a mão, como se dissesse que tudo bem que eles fossem. Deu alguns passos na minha direção, com um sorriso, e pegou minha mão na sua. Estranhei o ato, o suficiente para deixar que ele o fizesse, como se isto explicasse algo. Alex sorriu, roçando os dedos nos meus como em um carinho silencioso.

Queria poder tirar algo disto, tirar algo dele, qualquer coisa. Mas eu não sabia nem como começar a decifrar aquele olhar misterioso.

— Você não vem? — repeti, com as sobrancelhas unidas.

Ele balançou a cabeça.

— Não — falou, com a voz meio falha. — Não, vá você — falou, apertando minha mão, com os olhos negros nos meus. — Vá se divertir, com os seus amigos. Depois me conta como foi — finalizou, como se para descontrair, ao piscar um dos olhos. 

Pisquei, não entendendo nada, mas assenti assim mesmo. 

Quisera eu ser evoluído o suficiente para desvendar um enigma como o Alex. Mas eu não sei resolver nem cubo mágico, quem dirá um ser humano complicado. Sabendo disto, achei melhor relevar. 

Ele ainda demorou alguns segundos antes de soltar a minha mão, caminhar um tanto para trás e, por fim, dar as costas. Fechei-a assim que senti o frio da noite fazendo-a formigar, ao ver a figura de Alex diminuir ao caminhar para longe. 

Desapareceu aos poucos, devido à escuridão da noite e de sua roupa. A escuridão dele próprio. 


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Notas finais do capítulo

GENTEM, eu programei o capítulo pra qualquer dia (que resultou ser hoje, dia 20), mas eu ainda não tinha postado porque não tinha revisado e queria postar junto do EXTRA, que ainda tá incompleto. Como já foi, agora já eras ahahhahaha. Bom, dei uma ajeitadinha nele agora e trarei o EXTRA assim que tiver pronto. 2bjs :*

Compartilhem suas teorias comigo e ah, por fim: Dois capítulos sem o Caleb narrando e eu já sentia falta dele! Hahhahahah. E vocês?

Att/2020: gente, é óbvio que pré-adolescentes tão jovens como a Cristina e o grupinho deles NÃO devia e nem podia estar bebendo álcool e fumando beck sem nem se importar. Cristina NÃO é um exemplo a se seguir, ela tem o background dela e tenho a intenção de me aprofundar nisso mais tarde. Bj no coração de vocês ♥

Amem, odeiem, mas me digam o que acharam! *O*
Att: 06/2021.



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