Made of Stone escrita por littlefatpanda


Capítulo 10
IX. De todas as ideias do mundo


Notas iniciais do capítulo

, logo esta :3

Oilá, projetos de panda do meu ❤

Eu sei que demorei horrores - foi meu recorde, aliás, de demora e não vai se repetir, graças a todos os deuses -, mas era o último semestre do meu curso, era muita pressão, muita ansiedade, muita melancolia, e eu não tinha vontade nem de erguer um dedo pra escrever. E nem tempo.

Pra vocês terem noção de como eu tava esperando tudo acabar, sexta-feira agora (dia 14) eu entreguei a versão final (depois de haver entregado uma vez, depois de ter defendido com a banca, e depois de rever as alterações deles) do meu trabalho, e hoje revivi das cinzas! Aliás, queria pedir desculpas de novo pela demora em responder os reviews :/

Enfim & Boa leitura! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/746861/chapter/10

Com o coração a mil, olhei para os lados mais uma vez.

Me encolhi quando vi uma pessoa passar do outro lado do pátio, com uma pilha de papéis em mãos. Suspirei de alívio quando ela virou em um dos corredores e sumiu. 

Comecei a balançar a perna, remexendo as mãos.

Isto foi uma péssima, péssima, péssima ideia!

Arregalei os olhos quando a diretora se materializou no fim do corredor, caminhando em minha direção, mas com a atenção na professora de ensino médio ao seu lado. Girei a maçaneta e entrei para dentro do cômodo com o coração na boca.

Todos pararam o que estavam fazendo e os pares de olhos focaram em mim.

— Alerta vermelho — pronunciei, em nada mais que um murmúrio, com a boca seca.

Foi o que bastou para a confusão começar.

— Vai, vai, vai! — sussurrou um deles, alto, enquanto o outro ria de nervoso.

— Guarda essa merda — reclamou Alex, jogando um polígrafo na direção de Bruno, que não sabia o que fazer com aquilo.

— Onde? Onde?

— O que eu faço? — perguntou Ian, alarmado.

— Se esconde, caramba! — Dito isto, Alex empurrou o primo na direção da única porta do cômodo que não fosse a entrada.

— Aqui? — perguntou, incrédulo, antes que Mason o puxasse para dentro.

Eu travei com as costas ainda na porta e os olhos arregalados observando todos correrem para pôr as coisas nos devidos lugares e encontrar algum espaço para se esconder. O peito quase queimava com a sensação do coração pressionando as costelas, e o pior de tudo é que eu não tinha certeza de que a sensação era ruim.

A mão de Alex fechou-se na parte frontal da minha camisa e me puxou para que eu fosse com eles assim que percebeu que eu estava petrificado. E logo estávamos os cinco trancafiados em um armário onde deveria caber apenas um, com as respirações trancadas, as bocas cerradas e gotas de suor escapando das têmporas.

*

Tudo havia começado no ponto de fumo do Alex atrás do ginásio.

Ele havia nos convencido a ir até lá com ele enquanto fumava, conversando conosco, mas checando o celular com frequência. Bruno também estava lá, na outra ponta das costas do ginásio, de amassos com uma garota do terceiro ano.

— Qual é a do celular? — perguntou Mason, pela vigésima vez, mas de forma mais direta.

Depois de semanas em que Alex andava meio nervoso, mandando mil mensagens pelo celular, checando-o e irritando-se o tempo todo, até mesmo eu ponderava do que se tratava aquilo tudo. 

— O quê? — perguntou, débil. 

— O celular — disse, apontando para o dito cujo. — Com quem tanto fala? 

Alex riu, daquele jeito dele. — Não é da sua conta, magricela — disse, fazendo um cafuné nos cabelos loiros do Mason, antes que ele se desenvencilhasse, irritado.

Alex tragou mais uma vez, soltando a fumaça na direção do primo, que o empurrou. 

— É sério, Alex, se você fizer isto de novo, vai se arrepender!

Alex apenas riu mais uma vez. Deu de ombros, focando os olhos em Mason. — São meus amigos — respondeu, mas algo me dizia que aquela era uma grande mentira. — Andam me ignorando ultimamente.

No entanto, pela mágoa em sua voz, ponderei se não era verdade.

— Quem precisa dos velhos amigos quando se tem o Brunão aqui? — perguntou Bruno, que houvera se aproximado repentinamente, passando um dos braços por cima dos ombros de Alex.

Alex achou graça, e eu dei um passo em frente para que a garota passasse pela cerca e retornasse ao pátio. Ao vislumbrar o espaço, percebi que todos já estavam se movimentando em direção às salas. O sinal já havia tocado e nem percebemos. 

— Meu Brunão — declarou Alex, em um tom afeminado, enquanto Bruno fingia que iria beijá-lo. 

Os dois gargalham antes de chegar perto o suficiente para que os lábios encostassem, e os garotos riem enquanto eu reviro os olhos.

É por causa deste tipo de coisa que ele não conta para os amigos sobre suas aventuras com garotos em quartos fechados de festas alcoólicas? Para poder fazer brincadeirinhas sem graça consideradas de hétero macho-alfa com os amigos?

Eu não entendo.

— Temos que voltar — falei, referindo-me às aulas. — Já soou o sinal.

— Ok — concordou Alex, tragando o que restava do cigarro antes de jogá-lo na grama e pisar em cima. — Preciso sair hoje. Casa de quem?

“Casa de quem?” era a pergunta que mais saía das nossas bocas, quase como um ritual, e Alex fazia parte disto agora.

— Casa de ninguém — respondeu o primo, passando pela cerca primeiro. — Temos prova amanhã.

Bufei alto ao relembrar.

— De quê? — Bruno perguntou e só então percebi que ele continuava a nos acompanhar.

— Matemática — respondemos, juntos.

— Eu não vou estudar — declarou Mason, emburrado, enquanto virávamos para ele. 

— Como assim “não vai estudar”? — imitei, incrédulo. — A gente vira a noite estudando pra matemática e ainda assim vai mal, e você não quer estudar?

— Exatamente! — exclamou, indignado. — Eu vou ir mal mesmo, para que perder meu tempo?

Bruno gargalhou, apertando o ombro de Mason. — Este aqui é meu espírito de colégio.

Alex riu também. — Qual é o problema com matemática? — perguntou o cínico, que era bom com números.

— O problema não é a matemática — disse Ian, por nós três —, é o professor.

— Ele diz que vai cair algo, e cai outra coisa — acrescentei. — Ele dá umas questões que não são do fundamental, e não considera nada quando a gente erra.

Alex arqueeou as sobrancelhas, surpreso pela reclamação coletiva.

— O Cara de Pato, né? — perguntou Bruno, pensativo. Estudava ali desde sempre, logo, conhecia bem os professores.

— Sim!

Alex portou uma careta pensativa, olhou ao redor e colou uma mão no meu peito e outra no peito de Bruno, já que ambos estávamos ao seu lado, parando de caminhar subitamente.

Todos o encaramos, como se ele fosse maluco. E era, é claro.

Abriu um sorriso malicioso, guardando, por fim, o celular no bolso. Deu mais uma olhada no pátio já vazio, com exceção de uma ou duas almas que corriam para entrar nas salas.

— Quando é esta prova? — perguntou, sugestivo.

— Amanhã — respondemos, juntos.

Alex aumentou o sorriso, relanceando Bruno que, pelo jeito, parecia ter a mente em sincronia com a do Cunningham, devido ao sorriso espelhado em seu rosto com a mesma alegria malandra. 

— Quão afim vocês estão de tirar nota boa?

*

— Ouch!

— Cuidado!

— Shh! 

— Calem a boca.

— Eu não acredito que estamos fazendo isto! — Mason, como sempre, verbalizou meus pensamentos. 

Não sei como pode ser surpreendente ouvir um "estão afim de roubar as provas de matemática?" do Alex, mas ainda assim me pegou desprevenido. 

Decidimos, por unanimidade, que aquela era uma péssima ideia e concordamos, também por unanimidade, em desempenhá-la. Era um paradoxo, mas o que podíamos fazer quando Alex dava uma ideia dessas com aquela cara animada com jeito de que tudo pode dar certo?

Ignorávamos o fato de que tudo podia dar errado! 

Éramos três em uma mesma turma, então óbvio que notariam nossa ausência, mas ainda tínhamos alguns minutos para que isto acontecesse, já que não éramos lá muito importantes. E como era período de aula, a sala dos professores estaria vazia. 

No entanto, tínhamos que passar pela sala da direção, e pela coordenadoria, sem levantar suspeita. E caso houvesse algum funcionário da limpeza na sala dos professores, ou algum professor em período vazio, estaríamos ferrados. Mas era apenas uma chance, e não tínhamos como checar antes de praticamente nos atirarmos para dentro da sala. 

Mason caiu por cima de Ian e eu caí por cima de Mason. Bruno praticamente pulou por cima de nós, rindo baixo, e Alex nos xingou por atrapalhar o caminho antes de conseguir entrar e cerrar a porta.

Demos sorte.

— Ok — disse Alex, em tom baixo, ao dar uma olhada ao redor. — Procurem o armário dele.

— Vocês tem noção que as provas devem estar na maleta do cara, com ele, né? — perguntou Mason, em tom sussurrado e alarmado.

Todos viramos em sua direção com uma careta desagradada.

— Ótimo momento para você apontar isto, Mason — reclamei, dando as costas para procurar indícios do Cara de Pato.

Bruno começou a rir novamente, e Alex o cutucou para que parasse, mas então ele próprio começou a rir da cara magoada do amigo, e logo nós três chiamos para que os dois parassem. 

— Cara, quantos professores tem aqui? — perguntou Bruno, observando a quantidade de armários. — Eu nunca parei pra pensar. 

— E não é agora que deve né — reclamou Mason, sem paciência, fazendo o mais velho rir. 

— Vamos, procurem o nome dele — diz Alex, checando nas gavetas das cinco mesas redondas dali. — Não temos muito tempo.

Franzi o cenho, enquanto passava os olhos pelos pertences dos professores em uma estante, virando para Mason e Ian. 

— Qual o nome dele mesmo?

Os dois também pararam, se entreolharam e arregalaram os olhos quase ao mesmo tempo que eu.

— Vocês só podem estar brincando! — pronunciou-se Alex, indignado. Girou o rosto para o Bruno, questionador, e fizemos o mesmo. 

Bruno, no entanto, soltou um riso pelo nariz e ergueu os braços. — Não olhem pra mim, faz dois anos que não tenho aula com o cara — defendeu-se, com humor. 

— Ok — disse Alex, relanceando a porta. — Não precisamos do nome, só precisamos de matemática. — Piscou um dos olhos, bem-humorado, enquanto eu e Ian revirávamos os nossos. Instruiu, em seguida: — Mas alguém precisa cuidar a porta pra gritar “alerta vermelho” caso algo dê errado! 

Ian riu. — Alerta vermelho? Sério?

Me permiti rir também, mas Mason deu de ombros. — Ouvi dizer que funciona — acrescentou, sério.  

— Tem razão — concordou Bruno, aparentemente também especialista em roubar provas colegiais, ao ignorar nossa conversa. — Eu e Alex procuramos nos armários, Mason e...

— Os armários estão cadeados — apontou Ian, interrompendo-o.

Bruno e Alex cruzaram um olhar cúmplice.

— Por isto mesmo que eu e Alex cuidamos disto — revelou, erguendo um grampo. Até eu fiquei chocado. De onde ele tirou aquilo? — Mason e Ian podem procurar aqui nas gavetas. E Caleb — dirigiu-se à mim —, você vigia a porta.

Arregalei os olhos, ao passo que Alex franzia o cenho, balançando negativamente a cabeça ao se colocar na minha frente. — Não, o Caleb não.

Bruno revirou os olhos, enquanto eu me sentia ultrajado. 

Tudo bem que eu estava com medo de ser pego, mas Alex não podia sair com esta como se eu não fosse capaz de uma tarefa tão simples. Eu era capaz, sim!

— Ok — falei, girando nos calcanhares. 

— Caleb! — chamou Alex, sussurrando alto, mas eu não lhe dei ouvidos.

Abri a porta, saí e a fechei com nervosismo, quase tendo um infarto a cada som que ressoava de dentro das salas de aula.

Olhei ao redor, checando se não havia ninguém, e fiquei em posição, com a mão na maçaneta, até que as duas benditas aparecessem. Entrei no local, todo mundo entrou em pânico até nos escondermos. 

Eu devia ter escutado a voz da razão.

Aquela era uma péssima ideia.

E, naquele instante, apertado dentro daquele armário minúsculo, desprovido de luz, desprovido de ar, com mais quatro seres humanos, eu me dava conta da fonte de todas as péssimas ideias. Mais do que isto, já que era óbvio se tratar de Alex, eu me dava conta de que aquela não seria a última vez que concordaríamos em segui-lo. Não seria a última vez em que eu o seguiria.

A porta do cômodo se abriu segundos depois, seguido do som de salto alto batendo no chão. As duas conversavam sobre salário e grade de horários, enquanto também se ouvia o som de páginas sendo viradas.

Eu não me permiti sequer respirar, mas depois de alguns instantes, percebi que eu nem devia pôr esforço nisto, já que eu pararia de respirar por meios naturais. 

Eu fui o último a entrar no armário de limpeza, então eu estava grudado na porta deste e Alex, que me puxara, estava atrás de mim. Eu não fazia ideia de como os outros três estavam, porque não havia luz alguma ali e a adrenalina fora tanta que eu nem prestei atenção.

Mas o Alex estava atrás de mim.

Eu já sabia disto, mas eu tive certeza absoluta quando ele deixou um beijo nos meus cabelos emaranhados. Arregalei os olhos, engolindo em seco. Então seu braço, que eu nem havia percebido estar em meu entorno para que coubéssemos os cinco ali dentro, estreitou-se ainda mais em mim. Sua mão, que estava espalmada em meu peito para não arriscar que eu encostasse na porta e ela se abrisse devido ao espaço pequeno, puxou-me ainda mais na sua direção. 

Meu corpo inteiro retesou.

Alex não havia parado de respirar, porque expirou justo na minha nuca, fazendo eu me segurar para não me contorcer pelo arrepio. E então deixou um beijo casto no mesmo lugar. Firmei as pernas que começaram a tremer, ao passo que ele deixou mais outro beijo ali, e então outro mais para a esquerda, e então outro na lateral do meu pescoço.

E, sem eu sequer entender ou perceber, minha própria cabeça inclinava para que ele tivesse ainda mais acesso para a ação pecaminosa.

— Caleb?

Abri os olhos, que sequer havia percebido ter fechado, embora não tivesse feito diferença devido ao bréu do cantinho minúsculo. 

— Abre esse bagulho de uma vez, elas já foram — reclamou Bruno, parecendo sufocado.

Ao mesmo tempo, endireitei o corpo em um vulto e no processo, acabei dando uma cabeçada no nariz de Alex.

Ele resmungou.

Abri a porta e quase caímos todos do lado de fora. Eu literalmente caí de joelhos no chão, e Alex ao meu lado, já que estávamos grudados na porta. Os outros já se espalhavam novamente para encontrar de uma bendita vez as provas, para não ter sido tudo em vão, mas eu não consegui me mexer, com medo de que as pernas não tivessem força. 

Girei o rosto para encontrar Alex que, ao invés de portar um sorriso cínico como sempre, sustentava uma careta culpada. Engoli em seco, percebendo estar tonto, e desviei o olhar, erguendo-me do chão. 

Eu havia inclinado a porcaria da cabeça!

Agora eu não podia nem ficar puto com ele, e nem tratá-lo mal por dias, porque eu havia inclinado a cabeça! Eu havia deixado! Eu havia gostado! 

Respirei fundo, colocando quase um cômodo inteiro entre a gente e cerrei as mãos para que parassem de tremer. Não o olhei mais. Fingi procurar... 

O que é que procurávamos mesmo?

— Achei! Achei! — Pulou Ian, com um amontoado de papéis em mãos.

Ah, as provas. 

— Não grita, cacete — repreendeu Bruno, olhando para a porta.

— Tira foto, coloca no lugar e vamos sair logo daqui — instruiu Alex e, também sem me olhar, se dirigiu até a porta para ouvir se mais alguém vinha. 

— Ok.

E foi assim que tudo terminou. 

Ainda tivemos que encenar dor de barriga por algo que comemos na lanchonete do colégio ao voltarmos para a sala, e sabe-se lá qual foi a desculpa dada por Bruno e Alex, mas a aventura cessou de forma contrária à forma que começou: com calmaria​. 

Exceto por minha nuca, onde os lábios de Alex tocaram, que formigava. 

*

Eu passei a odiar o futebol de campo, que eu costumava gostar, desde que Alex chegou na cidade. 

Não podia ser hipócrita também, porque apesar de odiar muitas coisas a respeito de Alex, eu estava feliz que ele formasse parte do nosso grupo. Mas se havia algo que eu odiava, era isto, o fato dele ter arruinado o futebol do bairro para mim. 

E eu não vou dissertar os motivos.

— Ah, eu tô com preguiça de ir pra casa — reclamou Ian, alongando-se depois do jogo.

Eu já havia me atirado no banco, ao lado de Mason que, mais uma vez, se recusava a participar do jogo e permaneceu no celular. 

— Eu não — falei, convencido, já que minha casa era três blocos à distância. 

Ian me olhou com desgosto, mas eu apenas ri, limpando o suor da testa com a camisa.

— O que tem pra comer lá? — perguntou Mason, deixando de lado o celular, com os olhos azuis interesseiros.

— Comida pra mim e pra minha família? — ironizei, vendo o Alex rir.

— Nós somos sua família agora — concluiu ele, sorrindo, ao juntar a camisa do banco ao meu lado e vestir, graças a todos os deuses.

Dei de ombros, já que eu sabia que eles parariam lá mesmo.

Depois da prova roubada, estudamos apenas as questões e fomos bem, embora as notas não tenham sido reveladas ainda. Erramos uma ou outra para que não ficasse óbvio, segundo as instruções dos dois meninos mais velhos, os instrutores do mau caminho.

Quanto ao Alex, como era de se esperar, ele continuou agindo da mesma forma.

Era como se nada houvesse acontecido, e eu realmente acreditaria ter sido coisa da minha cabeça, não fosse a culpa que enxerguei nos olhos negros no momento em que caímos do armário. Mas eu agradecia por isto, já que a última coisa que eu queria era agir como se algo houvesse acontecido realmente. 

Nada aconteceu, convenci a mim mesmo. Mesmo assim, toda vez que ele me olhava por mais de um segundo, eu tinha vontade de gritar para a Terra me engolir, porque a memória do que quer que não houvesse acontecido, voltava a ser repassada na minha cabeça. 

Assim que cheguei em casa, joguei as chaves na mesa, dei uma olhada ao redor, me certificando de que ninguém havia chegado ainda, nem minha mãe nem meu irmão.

Nos atiramos no chão do meu quarto, conversamos por um tempo, e quase morremos de rir quando Ian teve a brilhante ideia de imitar personagens de desenho animado feito um imbecil. Discutimos sobre os melhores jogos, não deixei que Mason pegasse emprestado o jogo que eles me presentearam porque eu sabia que não teria de volta, puxei meu caderno de desenhos antes que Alex bisbilhotasse, como sempre, e me certifiquei de trancafiar seus adornos no meu guarda-roupa. 

Ian duvidou que soubéssemos jogar carta, com todo o mundo virtual, mas eu encontrei o dito baralho no fundo da minha cômoda e começamos o jogo. 

Alex volveu a ficar distraído com o celular, pensativo.

— O que foi isso? — perguntou Mason, girando o rosto para a porta aberta do meu quarto. 

Arqueei as sobrancelhas. — Isto o quê?

Todos paramos ao tentar ouvir algo, mas nada foi ouvido.

— É um espírito — concluiu Ian, para provocar, ao fazer sons que deveriam ser assustadores mas eram apenas engraçados.

Revirei os olhos.

No entanto, quase dei um pulo quando a porta do quarto do Will rangeu e Alex arqueou uma das sobrancelhas com humor por isto. Estreitei o olhar, vendo que Ian também segurara o riso, enquanto Mason tinha os olhos arregalados detrás dos óculos.

— Deve ser meu irmão — concluí, me recusando a acreditar em fantasmas. É o cúmulo do absurdo! 

Levantei, estranhando que Will estivesse em casa, enquanto os outros três permaneceram no quarto, e caminhei até a sala de estar. 

— Will? — perguntei, me dirigindo ao quarto dele. — Você tá em casa?

Ouvi um sussurro e um estrondo em seguida, e apressei os passos na direção do som. Vislumbrei meu irmão assim que ele fechou a porta do banheiro com força, os olhos alargados ao focar em mim e bloquear a porta com seu corpo.

— Estou — respondeu, com a voz trêmula. Pisquei, vendo-o coçar os cabelos úmidos. — É que eu cheguei cansado e... Dormi.

Analisei meu irmão dos pés à cabeça. O fecho da calça jeans estava aberto, embora o botão estivesse no lugar, a camisa estava amarrotada e a pele alva do seu pescoço estava completamente marcada. O cabelo mais parecia um ninho de passarinho com o emaranhado dos fios castanhos.

— Tive um pesadelo, acordei suado e... — Relanceei a porta cerrada do banheiro, vendo que os olhos verdes alargaram um pouco quando o fiz, antes de finalizar: — Turner logo vai chegar, é melhor eu tomar um banho de uma vez!

Eu até teria acreditado, se não soubesse que Will jamais dormiria de calça jeans e que quando ele acorda no meio da tarde, ele se assemelha mais a um zumbi do que com alguém que tomou dez litros de cafeína. E quando ele tem pesadelos, ele caminha feito um morto-vivo até a sala, senta no sofá e fica encarando a televisão desligada até a sensação ruim ir embora.

Pelo menos, este era o tipo de coisa que ele me conta que eu não esqueço facilmente. 

É, eu conheço meu irmão bem demais. 

— Ok. — Não iria envergonhá-lo ainda mais ao acusá-lo de mentir. — Os garotos tão aqui.

— É, eu ouvi. — Ele assentiu, nervoso. — Acho que eles podem ficar pra a janta, se quiserem.

— Ok.

Dei as costas, querendo pôr um fim na conversa estranha, e voltei ao quarto, encontrando todos os pares de olhos curiosos em mim. Deviam ter ouvido a conversa.

— Eu disse que era o meu irmão — contei, dando de ombros, ao sentar onde estava anteriormente.

Eles se entreolharam.

— O que ele tava fazendo? — Mason perguntou, curioso devido aos barulhos provindos de seu quarto e provavelmente ao mesmo estrondo que eu ouvi antes de encontrá-lo. 

— Não quero saber — apressei em declarar, com uma careta, ao afastar qualquer ideia do que ele podia estar fazendo. — Só sei que ele escondeu o Turner no banheiro. 

Isto pareceu chamar a atenção dos outros dois, já que as orelhinhas de Mason já estavam ligadas. Ele se entreolhou com Ian e os dois começaram a gargalhar. 

— O quê? — Ian parou um pouco de rir, se apoiando na mesa. — Você viu? 

Ri também, dando de ombros. — Não, mas eu soube. 

Os dois volveram a gargalhar, provavelmente ponderando o que me levou a saber do fato. 

Alex pareceu perdido na conversa, se inclinando para frente. — Quem é Turner? — perguntou, curioso. 

— O namorado do Will — respondeu Mason, por mim, ainda rindo do relato ao checar suas cartas.

— Cara, eu não consigo parar de rir — continuou Ian, colocando a mão na barriga, antes de tomar uma pausa para perguntar: — O que foi que ele disse?

Torci o nariz, desagradado.

— Mentiu, é claro. 

Os dois riram novamente, enquanto eu também volvia a passar os olhos pelas minhas cartas, distraído ao deixar para lá o que acabou de acontecer. Enquanto planejava minha próxima jogada, Ian bateu uma das mãos com força na mesinha, com uma das cartas. Riu consigo mesmo por haver conseguido, e Mason revirou os olhos. 

Sorri para os dois, balançando a cabeça antes de colocar uma das cartas em cima das outras quando foi a minha vez, continuando o jogo.

— Seu irmão tem um namorado?

Foi só quando ouvi a voz do Alex que pousei os olhos nele. 

Perplexo não parecia o adequado para descrevê-lo, porque ia além disto, mas eu não era capaz de discernir o que se passava por seu rosto. O sorriso cínico ou brincalhão não estava lá, mas os olhos brilhavam com algo que não pude compreender. 

Havia me deixado desconfortável, como sempre, mas também me deixou curioso com relação ao que exatamente passava por sua mente.

— Sim — respondi, ouvindo ao lado a breve discussão entre Ian e Mason sobre uma das regras que Ian acabara de quebrar. — Por quê?

Fiquei um pouco surpreso que ele ainda não soubesse, afinal, não era nenhum segredo e os meninos já sabiam. Também não é como se eu houvesse contado em algum momento, como se isto fosse relevante, mas já devia ter mencionado meu cunhado alguma vez na presença do Alex. Ou não?

Vi os olhos escuros desfocarem aos poucos, o mascarado indício de sorriso sumindo, enquanto seu semblante tornava-se pensativo. Arqueei as sobrancelhas, tentando decifrá-lo e falhando, como de costume.

— Alex, sua vez — resmungava Ian, ao cutucá-lo, porque havia perdido a discussão para o Mason.  

Alex piscou várias vezes, focando os olhos em mim mais uma vez com seriedade antes de voltá-los às suas cartas e despejar uma na mesa, sem parecer ter enxergado que carta largava. Voltou os olhos para mim e sorriu forçadamente, dando de ombros.  

— Nada.

Pareceu ter pego qualquer carta e jogado na mesa, e voltou a ter o olhar desfocado, preso em um canto qualquer do quarto enquanto os outros dois conversavam. 

Mordi os lábios, nervoso.

Será que ele se sentia mal por não se assumir? Ou, talvez, por não ter um namorado? Ou então, por não poder ter um namorado? Ou será que ele não se importava com isto, já que podia ter namoradas também?

— Caleb, planeta Terra chamando!

Alex, a fonte da minha atenção, parou de mexer com o celular em movimentos aleatórios e focou os olhos em mim. Desviei o olhar para o Mason, que apontava para as minhas cartas de maneira indignada.

Joguei uma em cima da pilha e o jogo continuou.

Mais tarde, eu teria a certeza de que aquilo afetou diretamente o Alex, seja da maneira que fosse, porque ele não tirava os olhos do meu irmão e do seu namorado durante todo o jantar. 

Will sempre foi muito transparente e eu sabia que ele não havia ido com a cara do Cunningham mais velho desde a primeira vez em que o viu aqui em casa. Eu fui é bobo de não prestar atenção nele e não ver que ele encarava Alex de volta. Para piorar, Will resolveu provocá-lo por não gostar das encaradas em sua direção. E, bom, por não gostar de Alex. Mas Alex conseguiu virar o jogo e, ainda por cima, conquistar o coração da minha mãe. 

Chegava a ser patético. 

Eu retornaria a chamá-lo de estranho e de irritante, mas eu não conseguia esquecer aquele olhar sombrio que tomou conta de sua face quando descobriu sobre o Will. Aquela sombra esquisita sobre os olhos negros que permaneceu mesmo quando sorria, desconfortável, até a hora de ir embora. 

E eu conhecia - embora não quisesse - Alex o suficiente para saber que isto não se tratava do meu irmão, mas dele mesmo. 

E de todas as ideias do mundo, talvez a pior houvesse sido querer desvendá-lo. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Para quem não acompanha MOF, esta última parte aqui com o Will e o Turner está interligada com o capíulo XXVI de MOF. Já que eu ressurgi das cinzas em ambas ao mesmo tempo, decidi uni-las. Mas não é preciso a leitura de MOF para entendimento de MOS. A provocaçãozinha entre Will e o Alex foi bem de leve, mais sobre o Alex estar se sentindo incomodado ali ou não e que ele podia se sentir à vontade (Will irônico), já que o Will tem um pé atrás com o Alex por perceber a maneira como ele olha pro Caleb. AHAM. Pois é. HAHAHAHAHAHAH.

Posso trazer a panelinha do ensino médio, narrada em terceira pessoa, no próximo capítulo ou vou levar pedrada? HAHAHAHHAAH. Tá semi pronto!

Aos poucos, eu tô riscando a lista de traquinagens dos garotos.
Roubar provas de colégio: CHECK. Hhahahahahah.

#elenão.

Amem, odeiem, mas me digam o que acharam! ♥
Att: 05/2021.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Made of Stone" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.