Diga que me ama escrita por Lara Queen


Capítulo 4
Elo-2


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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Elo – 2

 

Adrien encarava com descrença a garota à sua frente. Os olhos verdes-musgo brilhavam em expectativa, ansiando por uma resposta positiva. Ele esperava que tivesse ouvido errado e que fosse só um engano do seu cérebro.

Quando chegou à escola, rapidamente foi abordado por Lila que o esperava no portão de entrada com certa impaciência. Ela parecia estar tão nervosa, que por um momento ele ficou com medo que houvesse acontecido algo grave, pois aquela reação era muito atípica dela. Foi arrastado até o pátio sem questionar nada, mesmo sabendo que faltavam alguns minutos para a aula começar. Se bem que ele precisava esclarecer algumas coisinhas com ela, principalmente sobre a entrevista que tinha feito para a revista Rouge. Será que todo mundo estava enganado e que ela estava falando de outra pessoa e não dele?

Havia acabado de ter a sua resposta.

— O que disse? – Perguntou somente para ter certeza.

— Eu disse que gosto de você.

— Por quê? – Aquilo foi provavelmente uma pergunta muito idiota a se fazer.

Ela riu de nervoso, observando as feições confusas do menino.

— Bom... Você é... Bonito, inteligente, fofo e... Gosto da sua companhia.

— Você gosta de mim como um amigo, né? – Adrien gesticulou, constrangido. Rezava para que fosse só isso e nada mais.

— Não só como um amigo... – Ela se encolheu, olhando-o timidamente.

Adrien engoliu em seco. Ele queria saber o porquê de Lila estar se declarando para ele sabendo que o mesmo estava comprometido.

— Mas Lila... Eu tenho namorada.

— Eu sei disso, mas eu gosto de você desde a primeira vez que te vi. – Ela se justificou. – Acho que... estou apaixonada por você.

Era só o que faltava para sua semana bagunçada. Com tantas coisas acontecendo, ele tinha que resolver mais um problema na sua lista. A expressão decepcionada atravessou seu rosto enquanto analisava a garota. Lila não parecia ser diferente das outras meninas que havia conhecido – com exceção de Marinette –, que só gostavam dele por sua aparência e status. Talvez estivesse errado e que pudesse existir a possibilidade de ela ter sentimentos verdadeiros por ele. Essa era a questão mais problemática, porque ele não podia retribuí-la.

Lila tentava esconder o nervosismo com um sorriso forçado na intensão de passar uma imagem descontraída, mas mal conseguia disfarçar, e Adrien podia perceber claramente.

A pior parte dessa situação é que tinha que rejeitar a garota sem magoá-la. Mas era impossível, porque no fim as garotas sempre choravam, e Adrien não sabia como lidar com aquilo. Já era para estar acostumado, mesmo que durante muito tempo recebesse todos os tipos de declarações, mas ele era muito coração mole para ver uma garota triste por causa dele. A única pessoa que ele foi capaz de retribuir foi Marinette, que nem precisou fazer muito esforço para conquistar seu coração.

 Adrien suspirou com pesar. Deu uns passos na direção de Lila e parou a um metro de distância.

— Lila... – Começou, mas perdeu a voz ainda pensando no que dizer.

— E então? – O coração dela batia descompassadamente, perdida nos olhos verdes claríssimos de Adrien que não devolvia o olhar.

Na verdade ele estava sério, olhando além dos olhos dela, como se estivesse vendo algo bem longe dali. Depois focou-se nela, passando a língua nos lábios secos, para começar a falar.

— Lila, você é uma garota muito legal e bonita, mas... Eu não gosto de você dessa maneira. Sinto muito, mas não posso retribuir seus sentimentos.

Ela vacilou já esperando uma resposta como aquela. O brilho em seu olhar quase se apagou, mas queria tentar uma última vez.

— Nos últimos tempos temos andado tão próximos que... Achei que o que tínhamos estava se tornando real e que você estivesse gostando de mim de verdade, mas acabei me deixando levar pela ilusão. – Ela disse com a voz fraca, abaixando a cabeça tristemente.

Que ótimo! Além de ter magoado a namorada com suas “mentiras”, ele também iludiu a própria amiga sem perceber. Agora ele se considerava o pior ser humano da galáxia por ter enganado duas garotas ao mesmo tempo sem o mínimo intuito de fazer isso. Nisso que dá ser legal com todo mundo!

— Se eu te fiz entender errado, eu sinto muito mesmo. Nunca quis te enganar e nem te magoar. – Ele a olhou com súplica.

— Está tudo bem. Eu devia ter percebido os sinais que estavam tão óbvios. – Lila deu um sorriso triste, mas sempre mantendo a elegância. Adrien sentia-se culpado por também ter feito mal a garota. – Você ama a Marinette, não é?

Ele sorriu sem graça, mas ainda assim seu coração afundava no peito.

— Sim, eu a amo muito.

Lila era compreensiva, mesmo que lhe doesse não ser correspondida pelo garoto que gostava. Não podia forçá-lo a amá-la porque não seria justo de sua parte. Ainda tinha a Marinette que, por mais que fosse muito calada e aparentemente estranha, havia alguma coisa nela capaz de conquistar Adrien e aos seus colegas. Ele a amava do jeito que ela era, e Lila invejava isso. Nas sessões de fotos, quando eles tinham que fingir estar apaixonados, ele não a olhava com a mesma intensidade e brilho como quando Marinette aparecia no estúdio. Na verdade, ele ficava até mais confiante quando a namorada estava por perto do que quando estava somente na sua companhia. Nos jantares, quando não queria ficar sozinha em casa, quando não estavam falando sobre trabalho, ele só tagarelava sobre a pequena morena. Mas ela estava muito cega e distraída aproveitando o momento juntos para prestar atenção. Por isso ela se iludiu, então a culpa de seu sofrimento não era somente dele.

Já pensou em não gostar da garota de olhos azuis, principalmente pela inveja que sentia por ter toda a atenção de Adrien, mas não conseguia. Ela podia perceber que Marinette se esforçava para gostar si e não sentir ciúmes, porque garotas conseguiam identificar facilmente quando a outra não se sentia confortável. Era até compreensível, porque Lila era bem próxima do loiro, então a rixa entre as duas era inevitável.

Ela suspirou cabisbaixa, crispando os lábios para não chorar. Poderia não parecer, mas ela era sensível e chorava fácil, seja por alegria, tristeza ou raiva. Passou as mãos nos olhos sem se incomodar se a maquiagem estaria borrada, e com isso ela deu um sorriso amarelo para esconder a rachadura de seu coração.

— Você está bem? – Adrien perguntou estranhando a mudança no semblante da outra.

— Estou sim, acredite.

— Tem certeza? – Questionou meio aflito. Já estava cansado de lidar com pessoas que fingiam que estava tudo bem. Quanto mais fossem sinceras, melhor seria para que as coisas se resolvessem sem conflitos. – Você está zangada comigo?

Ela deu uma risada para tranquiliza-lo. Ele ficava muito fofo quando estava preocupado.

— Não estou zangada, apesar de essa ser a primeira vez que fui rejeitada.

— Oh – Ele esfregou a mão na nuca, constrangido. – Então me desculpe por...

— Pare de se desculpar – ela o cortou. – Está tudo bem, eu vou superar. – Ela gesticulou a mão no ar como se aquilo não fosse nada, amenizando o clima.

Ele deu mais alguns passos até ela, surpreendendo-a com um abraço amigável que fazia o coração palpitar rápido e o rosto corar ardentemente. Era o tipo de abraço que já demonstrava todos os sentimentos, sem precisar de palavras. Lila logo entendeu o recado. Não queriam que a amizade acabasse por causa daquela bobeira, porque não valia a pena.

— Você é bonita, inteligente e muito gentil. Encontrará facilmente alguém que a mereça. – Ele murmurou, sentindo o pequeno corpo soltar espasmos. Pensou em se afastar para ver se ela estava chateada, mas ela o apertou.

— Obrigada, Adrien. Você é... Um ótimo amigo. – Ela murmurou com a voz rouca e embargada. Ela não estava chorando de tristeza, mas de alívio, porque ela finalmente pôde colocar para fora as emoções que lhe sufocaram por muito tempo. Por Adrien, ela se esforçaria para amá-lo como um amigo, mesmo que pudesse demorar muito tempo. Tudo para não ter que ficar longe dele.

— De nada.

***

As notícias já estavam circulando pelos corredores. Alguém provavelmente viu Lila e Adrien conversando no pátio e não soube interpretar o que estava acontecendo entre eles. A única coisa que realmente chamou a atenção foi o abraço que os dois trocaram que poderia ser entendido de várias formas. Aquilo era como um prato cheio para os maiores fofoqueiros da escola. Logo uma foto deles juntos já estava postada no grupo da turma, e a maior questão era: Adrien Agreste estaria realmente tendo um caso com Lila Ross? Os celulares não paravam de vibrar, enchendo a caixa de mensagem dos alunos.

Marinette estava junto de suas amigas, contando tudo o que havia acontecido no dia anterior. Alya mastigava suas batatinhas, concentrada no que a morena dizia, enquanto Chloe apoiava o queixo sobre uma das mãos, comendo uma barrinha de cereal, também ouvindo tudo. Ela fazia uma cara entediada esperando que tivesse acontecido algo mais emocionante, como nas novelas que assistia. Sabrina estava mexendo no celular fazendo algumas pesquisas para o trabalho de história sobre a Revolução Francesa, então mal prestava atenção – pois estava mais preocupada com sua nota máxima do que com os problemas da amiga.

— Acho que você devia ter demorado mais para perdoá-lo, para que ele aprendesse a lição. Se continuar cedendo a tudo o que Adrien disser, vai acabar se dando muito mal. – Chloe falou antes de dar mais uma mordida na barrinha.

— Você queria que eles ficassem brigados para sempre? – Alya olhou a loira com as sobrancelhas franzidas.

— Não é isso que quero dizer. Marinette podia ser mais firme com ele, sabe? – Ela deu de ombros.

— É isso que você faz com o Nathaniel quando brigam? – A pequena de olhos azuis perguntou mexendo no refrigerante com o canudo. – Eu não sei ser firme.

— Claro que sabe. Se me lembro bem, você deu um chute no Adrien assim que se conheceram. – Chloe deu um sorriso cruel. – Devia aproveitar mais essa força ao seu favor.

— Mas não sou uma pessoa violenta. Fiz aquilo por impulso. – Disse Marinette com o rosto corado.

— Não é que você tenha que usar violência de forma literal, mas sim como uma ameaça de vez em quando.

— Coitado do Nate. – Alya riu sendo acompanhada pela morena.

— Nathaniel sabe que se pisar fora da linha, eu esfrego a cara dele naquelas pinturas. – A loira bufou irritada só de imaginar o namorado fazendo besteira pelas costas dela.

— Mas Nathaniel parece ser tão tranquilo. Acredito que ele nunca faria uma coisa dessas. – Marinette comentou pegando algumas batatinhas do pacote da ruiva.

— É bom mesmo. – Chloe cruzou os braços emburrada.

— E o quanto ao Nino, Alya? – Marinette estava aproveitando que ela não era mais o alvo da conversa.

— Nino é bem pervertido. – A loira a olhava com deboche, mas Alya não dava importância.

— Nós já tivemos nossas fases de brigas e várias oportunidades de nos separarmos, mas continuamos juntos porque aprendemos a confiar um no outro. Sim, ele é um pervertido, mas depois que começamos a namorar ele ficou bem comportado. Se o sentimento é verdadeiro, não há nada capaz de nos separar. – Ela disse de forma reflexiva, estabelecendo um silêncio no ar. Principalmente por parte da morena que tocou automaticamente na pulseira em seu braço.

O silêncio durou pouco. Sabrina, que estava alheia à conversa entre as meninas ao seu lado, deu um salto da cadeira quase derrubando o celular de suas mãos. As garotas viraram-se assustadas para a menina que expressava horror ao encarar a tela do celular. Os alunos no refeitório olhavam para a mesa delas com curiosidade.

— O que foi isso, Sabrina? Quer matar todo mundo do coração? – Chloe perguntou irritada pelo movimento abrupto da garota.

— Me desculpem, é que... – Ela apontou para o celular, assustada. – Eu estava fazendo algumas pesquisas no celular, até que recebi uma notificação do grupo da turma. Vocês precisam ver isso!

Ela olhou especificamente para Marinette que não entendia nada. Estendeu a mão para entregar o celular à garota, enquanto as outras se prontificavam ao seu lado para ver o que tinha ali. A morena foi passando rapidamente as mensagens até encontrar uma foto com a legenda:

Novo casal na área. Parece que depois da entrevista de Lila, Adrien finalmente abriu os olhos.

Aquela foi a gota d’água. Marinette segurou o aparelho com força sem tirar os olhos da tela. Sentia os músculos travados sem conseguir esboçar alguma reação. Ela confiava em Adrien, acreditava que o amor dele era verdadeiro, mas já estava farta de ser feita de idiota e ser motivo de piada para a escola. Abaixou a cabeça, a franja cobrindo-lhe os olhos, e levantou-se da cadeira sem dizer absolutamente nada. As meninas à sua volta mantinham-se quietas, também chocadas com a foto, mas também estavam preocupadas com o estado emocional da amiga.

A pequena andou rapidamente para fora do refeitório a passos largos, sentindo os olhares sobre si. Estava sendo seguida pelo trio até o pátio da escola, onde a maior parte dos alunos se encontrava. Adrien estava sentado com Nino em um dos bancos jogando conversa fora e rindo de alguma bobagem. Quando avistou Marinette, ele alargou um sorriso que não durou muito. Ao ver a expressão da namorada, logo se pôs a andar até ela para saber o que houve.

— Marine... – Ele não terminou de falar, pois ela jogou o celular de Sabrina (que quase morreu do coração ao ver isso) em cima dele, que rapidamente o pegou. Ele fitou a menina, incrédulo.

— Então era isso que você estava fazendo depois que chegou à escola?! – Ela falou ríspida.

— Do que você está falando?

Ela pegou o próprio celular do bolso e desbloqueou a tela. Abriu as mensagens para mostrar a foto para ele. Adrien ficou estático, olhando as duas figuras se abraçando na imagem, e imediatamente ele reconheceu Lila e a si mesmo.

— N-não é isso que...

— Eu sei. Mas não dá... – Ela balançou a cabeça, chateada, deixando o braço pender para o lado do corpo. – Eu aguentei todos os desaforos que pude, tentei ser compreensível, mas não consigo ser forte o tempo todo.

E aquela promessa de serem sempre sinceros um com o outro? Então era só papo furado? Marinette queria acreditar no amor que ele nutria por si – ao menos se forçava a isso.

— As pessoas entenderam errado. Eu e Lila estávamos apenas conversando...

— Isso não me parece ser uma conversa.

O ângulo em que a foto foi tirada dava a entender que estava muito além de um simples abraço. Um aglomerado de alunos se juntou no meio do pátio para assistir a “briga” entre os dois. Bando de fofoqueiros.

— Se você me deixar explicar...

— Explicar o que? Que estou sendo feita de idiota? – Perguntou rancorosa.

— Eu não... Marinette, eu juro que não aconteceu nada. Por favor, entenda... – Ele disse, aflito.

Aquela questão já havia sido resolvida. Se não fosse por uma foto idiota e fora de contexto, não estaria naquela situação novamente. Não culparia Lila pelo ocorrido, porque era melhor que os dois tivessem aquela conversa o quanto antes para que tudo fosse esclarecido de uma vez e que não houvesse desentendimentos no futuro. O problema não era o abraço em si, mas o ângulo da foto que parecia que os dois estavam se beijando. Não dava para ver o rosto deles.

Os olhos de Marinette pinicaram, sentindo uma baita vontade de chorar. A mancha negra em seu coração cismava em se espalhar mais rapidamente, como se tivesse sido apedrejado, causando vários novos hematomas. Mordeu o lábio inferior e deu alguns passos vacilantes para trás.

Marinette estava tão mal que agia sem pensar. Não se importava que as pessoas ao seu redor estivessem ali assistindo sua vulnerabilidade. Que se danem os outros, ela só queria chorar! Derramou algumas lágrimas silenciosas ainda olhando para os olhos verdes que miravam em si com remorso. Ele andou calmamente até ela, tocando-lhe o rosto para afastar as lágrimas. Os alunos ficaram surpresos quando ela afastou as mãos e deu mais um passo para trás.

— Mari...

— Marinette! – Todo mundo olhou para o lado, na entrada do prédio da escola, encontrando uma Lila ofegante, que correu até o pátio assim que viu as mensagens no celular. Os alunos comentavam pelos corredores sobre uma discussão que estava tendo, então ela logo soube sobre o que se tratava. – A culpa é minha, me desculpe!

Os alunos, principalmente Marinette, não conseguiram acreditar quando viram o olhar suplicante de Lila se dirigindo a ela.

— Eu confesso que me declarei para Adrien assim que ele chegou à escola. – Ela explicou. Todos arfaram, chocados, e os cochichos começaram a se alastrar pelos cantos. – Mas ele me rejeitou... Por que ele te ama, Marinette.

— Você se declarou para ele? – Ela sussurrou atordoada, sentindo o sangue ferver nas veias.

— Eu sei que vocês estão juntos, mas eu não podia guardar isso só para mim. Ele tinha o direito de saber. – Lila andou até a morena que estava paralisada com um olhar indecifrável. Tocou-lhe o ombro e esboçou um leve sorriso significativo. – Tudo o que eu quero é a felicidade de Adrien, e eu sei que você o faz feliz. Então, por favor, não termine com ele.

Marinette se encolheu abraçando o próprio corpo. Por dentro ela se sentia muito brava, mas por fora, parecia um coelhinho assustado que só queria fugir para uma toca. A maneira como Lila falava, com palavras aparentemente sinceras, fazia com que ela vacilasse com sua postura enraivecida.

Ela queria dizer mil coisas, xingar, gritar, se espernear, mas a mão calorosa em seu ombro fazia toda essa vontade passar. Toda a raiva que ela sentia de Lila estava sumindo facilmente. O que estava havendo?

— A foto... Por que...? – Ela tentou dizer com a voz falha.

— Essa foto não significa nada. Nós só estávamos nos abraçando... como amigos.

Será que o que ela dizia era verdade? Ainda sentia essa dúvida.

A morena fungou e esfregou os olhos. Maldita vontade de chorar! Lila se sentia insegura se deveria chegar mais perto para confortar a menina. Sem pensar nas consequências, ela a abraçou, percebendo que a outra estava rígida ao seu aperto. Adrien, junto aos colegas, observava a cena surpreso.

— Eu quero ser sua amiga, Marinette. Não tenho nenhuma intensão de lhe fazer algum mal. – Lila murmurou, com medo de ser empurrada com brutalidade.

Marinette foi pega de surpresa, e por vários segundos ficou parada refletindo. Por fim deixou-se suavizar, retribuindo o abraço, querendo deixar todas as rixas de lado. Ambas tinham algo em comum, eram pacificas e não gostavam de intrigas prolongadas.

— Sinto muito se te fizemos entender errado. – Lila tentou mais uma vez.

— Tudo bem... – Marinette finalmente falou, afastando-se um pouco e enxugando os olhos dando um sorriso pequeno. – Eu ainda estou aprendendo a lidar com as minhas emoções.

— Entendo... – Lila deu uma risadinha para amenizar o clima.

Esse tempo todo ela esteve enganada sobre a modelo. Julgou-a errado justamente pelo seu ciúme que lhe fazia ter pensamentos exagerados. Mas vendo como Lila estava sendo franca consigo, decidiu abrir o próprio coração e tentar confiar nela. Ela não tinha o direito de proibir a garota de ser amiga de seu namorado, assim como aconteceu com a Chloe. Ambas no início não se davam muito bem, mas as duas aprenderam a conviver uma com a outra, e posteriormente se tornaram amigas. Talvez acontecesse a mesma coisa com a Lila, porque foi muito legal da parte dela decidir por conta própria esclarecer o mal entendido, sendo que ela poderia aproveitar a briga para se aproximar ainda mais de Adrien.

De repente seus pensamentos foram cortados, desviando a atenção para o pátio movimentado que direcionavam os olhares para ela.

— O Show acabou! Se vocês queriam ver barraco, vão assistir Casos de Família. Saiam, Saiam! – Chloe começou a berrar, empurrando todo mundo para que se retirassem. – Bando de fofoqueiros dissimulados!

Obviamente tinha gente decepcionada esperando porradaria e puxão de cabelo, mas ainda assim conseguiram se surpreender com a cena. Marinette olhou ao redor, sentindo-se envergonhada por ter chamado tanta atenção. Novamente seria motivo de fofoca pela escola, e já estava se preparando psicologicamente para aguentar as piadinhas de mau gosto. Adrien se pôs entre as duas garotas, virando-se para a namorada.

— Você ainda está brava comigo?

Ela o olhou sem graça por não ter dado ouvidos a ele antes. Foi uma boba por quase ter terminado com ele novamente, isso se tivesse tido essa coragem. Mesmo que seu coração fosse partido, ela nunca conseguiria ficar longe dele, consequentemente sendo incapaz de deixar de amá-lo.

Pensando por alguns segundos e analisando cuidadosamente o rosto preocupado do loiro, ela deu um suspiro e fechou a cara.

— Estou... – Ela cruzou os braços, o rosto sério.

Ele arquejou sentindo um nó na garganta. O que faria agora? Ela ainda estava brava e ele não tinha mais ideia do que fazer para pedir desculpas. Deveria se ajoelhar no chão e implorar que ela o perdoasse? Estava com medo que a explicação de Lila não tivesse surtido o efeito esperado e que Marinette terminasse com ele sem dó.

— Olha... Eu sei que eu fui um idiota, mas... – Tentou improvisar um longo pedido de desculpas, mas foi interrompido pela morena que não evitou curvar os cantos da boca, dando-lhe um pequeno sorriso divertido. Aquela foi a primeira vez que a garota conseguiu enganar o namorado. Lila soltou uma risadinha atrás dos dois, afastando-se o suficiente para dar privacidade ao casal. Alya, Nino e Sabrina também se juntaram a ela rindo.

— Chloe me disse que eu deveria ser mais dura com você para que aprendesse a lição.

Por um momento ele teve um mini enfarte, mas logo se recuperou. Adrien pensou em dar uma bronca e dizer que aquela foi a brincadeira mais sem graça que ela já fez, mas ao ver o sorriso que se formava no rosto de sua joaninha, não conseguiu ficar irritado, então acabou retribuindo o sorriso também. Agora, bem perto dela, passou carinhosamente o dedo polegar pelo rosto ruborizado, curvando-se para dar-lhe um selinho. Se não fosse pelas pessoas que ainda se encontravam ali, Adrien teria investido no beijo que só cessaria assim que ambos estivessem sem fôlego, mas se conteve por muito pouco. Só queria garantir que aquela garota lhe pertencia e que nada poderia fazê-los se separarem.

— Você me perdoa? Mesmo assim eu sinto que preciso me desculpar.

— Tudo bem, eu também te devo desculpas por não ter acreditado em você. Sou uma idiota. – Ela abaixou a cabeça.

— Você não é idiota. Acho que mereci isso como um castigo. – Ele riu sem humor, encostando a testa na dela. – Eu devia ser mais atento, já que o pessoal da escola gosta de fofocas e interpretam tudo errado.

Ela se afastou um pouco, fitando os olhos verdes luminosos.

— Eu não devia agir tão impulsivamente. Briguei com você sem enxergar o seu lado da história... Eu estava sendo possessiva.

— Sei que a circunstância não era muito boa, mas eu fico feliz por ver que sente ciúmes. Pior seria para mim se você nem ligasse. – Ele sorriu torto fazendo Marinette corar mais ainda.

— Tem razão. É porque eu te amo que às vezes ajo sem pensar.

Ao ouvir isso, Adrien novamente tomou-lhe os lábios iniciando mais um beijo entre sorrisos.

Vendo com clareza os sentimentos de Adrien por aquela garota tão peculiar, Lila finalmente compreendeu que não havia nada que pudesse fazer para tê-lo para si. Sua luta já estava perdida há muito tempo, o problema era ter coragem para aceitar. Ela gostava muito dele, talvez até o amasse, mas ele não lhe pertencia. Marinette tinha muita sorte. Ao mesmo tempo em que sentia seu coração partido, estava feliz por ter feito algo certo. Mesmo com os olhos marejados e as lágrimas ameaçando serem derramadas, Lila sorriu amplamente. Não seria fácil esquecê-lo, mas tinha esperanças de que seu príncipe encantado estava vagando por aí e que em breve ele cruzaria seu caminho.

— Sabe, eu não gostava de você antes, mas agora estou simpatizando com você. – Disse Chloe aparecendo ao seu lado e pondo a mão na própria cintura.

— Obrigada? – Ela disse sem jeito, um pouco confusa se era bom ou ruim ouvir aquilo. Passou o dedo por baixo dos olhos para não borrar a maquiagem retocada.

O sinal para os últimos tempos de aula tocou e todos ali presentes começaram a se dispersar seguindo para suas respectivas salas de aula. O grupo atravessou o corredor, mas antes que Marinette entrasse na sala, Lila a chamou amigavelmente.

— Sei que começamos com o pé errado, mas quero saber se você gostaria de ser a minha amiga. Você sabe que sou nova na escola e ainda não tenho muitas amizades verdadeiras. Prometo nunca mais atrapalhar seu relacionamento com o Adrien. Se quiser, faço até juramento. – Ela beijou os dedos indicadores para selar sua promessa. Marinette estava de olhos arregalados, mas sorriu segurando as duas mãos da modelo.

— Sou grata pelo que fez por mim e por Adrien hoje. Te devo muito por isso, então obrigada. Sim, eu adoraria ser sua amiga e tentar um novo começo para deixar as coisas ruins para trás. – Lila soltou suas mãos e pulou em cima de Marinette lhe dando um abraço de urso. A morena não era muito chegada a abraços, porém deu leves tapinhas nas suas costas para retribuir.

Lila estava muito feliz por ter ganhado uma amiga nova.

— Muito obrigada, Marinette! Você é incrível!

A garota saiu saltitando até a própria sala. Marinette balançou a cabeça, com vontade de rir da situação irônica. Nunca pensou que acabaria se tornando amiga da garota que a principio não ia com a cara. Ela estava definitivamente em uma montanha russa de emoções, cada dia era uma coisa nova acontecendo.

***

O resto da semana correu bem, mas as fofocas ainda continuavam a circular pelo colégio. Todos falavam sobre o ocorrido no pátio, dividindo opiniões entre os alunos. Os mais românticos acreditavam nas palavras de Adrien e o seu amor puro pela Marinette, os que se consideravam racionais achavam que a pobre morena só estava sendo feita de trouxa. Honestamente, o que as pessoas pensavam sobre eles não deveria ter importância alguma.

Lila e Marinette, desde aquele dia, tornaram-se boas amigas. Mesmo que ambas fossem diferentes em vários aspectos, conseguiram se darem bem, deixando as desavenças de lado. Chloe ficou enciumada com essa aproximação, mas seu mau-humor já era algo habitual e que todos já estavam acostumados. Alya nunca teve nada contra a modelo, recebendo-a de braços abertos para o grupo de amigas que tendia a crescer. Afinal, as duas meninas tinham muito em comum e adoravam tagarelar.

No sábado em que estava livre de seus compromissos, Adrien convidou a namorada para almoçar em sua casa como havia tempos que não fazia. Marinette não se sentia bem com a ideia, pois tinha medo de trombar com o sogro dentro da mansão e não saber como reagir na frente dele. Gabriel Agreste era seu ídolo, e ser namorada do filho dele era um desafio cheio de obstáculos. Adrien nunca mencionara se seu pai aprovava ou não o namoro dos dois, e essa dúvida a amedrontava. Ainda mais, ela tinha uma tendência enorme a fazer bobagens e se atrapalhar toda, e era provável que assim que o encontrasse, ela poderia dizer alguma coisa idiota e Gabriel não gostar. O melhor a se fazer é manter-se calada e falar só o que fosse necessário para que nada desse errado.

Ela roía a unha polegar nervosamente enquanto esperava ser atendida no portão da mansão Agreste. Apertou o interfone mais uma vez, depois se arrependeu por achar que estava sendo irritante com o barulho estridente. Logo uma voz feminina chiada saiu de dentro do aparelho, fazendo Marinette travar na hora de falar.

— A-aqui é a Marinette... Adrien me convidou para...

— Ah, Marinette. Pode entrar, querida. – A voz dava a impressão de estar sorridente, depois reconheceu que se tratava de Nathalie, e quis se estapear por não ter percebido isso. O nervosismo era tanto que mal conseguia raciocinar.

Ela atravessou o portão, caminhando encolhida até a porta da entrada principal. Nem ela própria entendia o motivo de sentir-se tão nervosa. Ela já tinha ido lá antes, e todas as vezes agia daquela maneira, por isso quase não visitava Adrien.

Avistou Nathalie abrindo a porta para recebê-la com um sorriso amistoso. Isso a fez sorrir um pouco tranquila. A mulher se ofereceu para pegar seus pertences e guarda-los por enquanto, mas Marinette recusou educadamente. Olhou ao redor em busca do belo par de olhos verdes, mas não encontrou.

— Adrien está lá em cima preparando-se para o banho. Ele acordou meio tarde hoje e está sem noção de hora. – Nathalie balançou a cabeça como se desaprovasse a atitude do menino.

— Eu devo ter chegado mais cedo do que o horário combinado.

— Somente quinze minutos antes do almoço. Pelo menos você se adiantou. – A mais velha disse depois de olhar o relógio no pulso. – Se quiser, pode ficar na sala de estar enquanto aguarda.

— Eu prefiro ficar por aqui no salão. Não quero parecer uma folgada na mansão do Sr. Agreste.

— Não sei por que toda essa educação. Todo esse tempo namorando o Adrien, já deveria se sentir mais confortável nos visitando. Já esteve aqui antes, não é?

— Eu sei, mas sou muito tímida para conseguir me sentir a vontade. Sinto muito... – Ela abaixou a cabeça.

Juntou as mãos na frente do corpo, mexendo-as, envergonhada. Nathalie balançou a cabeça, sorrindo com o jeito fofo da menina. Ela é mesmo adorável, pensou. Deu um suspiro discreto e se retirou, pois ainda tinha algumas coisas para fazer antes do almoço. Agora, sozinha no cômodo, circulou todo o lugar olhando os porta-retratos que tinham na mesa do canto esquerdo da sala. A maioria era de Adrien quando mais novo, e só algumas que aparecia com a Sra. Agreste. Eram bem poucas as que tinham Gabriel, mas em quase nenhuma ele sorria, o que parecia ser típico dele.

Sorriu ao encontrar uma foto de Adrien bebê que esbanjava alegria com um sorriso contagiante. Ele estava no colo da mãe que também sorria, e ao lado estava seu pai que tinha um pequeno sorriso feliz junto à esposa e filho. No canto da foto estava escrito: 1 ano de Adrien. Desde pequeno ele era adorável, e a beleza era hereditária, pois tanto a mãe quanto o pai eram lindos. Ele era uma mistura perfeita dos dois.

Estava tão dispersa que nem notou o movimento no alto da escada. Continuou olhando as fotos, sorrindo sem perceber. Queria ter conhecido Clarisse. O modo como ele falava dela fazia-a imaginá-la como uma super-heroína que sempre resolvia todos os problemas. Uma mulher gentil e sempre alegre, forte e determinada, capaz de amolecer até mesmo um coração de pedra. Adrien deve ter herdado muito da personalidade dela. Acreditava que os dois eram capazes de conquistar as pessoas mais difíceis, como Gabriel e ela própria.

— Quem é você?

Marinette virou-se tão rápido que quase caiu pela tontura. Olhou para cima e encontrou a pessoa que mais admirava e ao mesmo tempo temia. O corpo travou, incapaz de se mover, provavelmente pelo pânico de estar sozinha com a pessoa mais intimidadora que conhecia. Seu sogro e também seu ídolo, Gabriel Agreste, que tinha um olhar analítico que a fazia se sentir uma insignificante. Se soubesse que ele estaria em casa e não no trabalho – pois ele estava sempre ocupado na empresa ou viajando –, teria se vestido muito melhor do que com aqueles trapos que usava – ou era assim que achava. Não estava apresentável para conhecer uma das pessoas mais influentes do país. Queria se bater por ter escolhido vir com calça jeans e camisa de manga branca com estampa de flor, e com seu inseparável casaco preto. Ela poderia ter vindo com uma de suas melhores criações para mostrar seu talento. Quem sabe ela não arrumasse um estágio com ele caso o mesmo gostasse de suas roupas?

— Você é amiga de Adrien? – Ele perguntou num tom neutro.

Com medo de ele perder a paciência pelo seu silêncio, respondeu timidamente:

— Sou a namorada dele. – abaixou um pouco a cabeça, encurvando-se em sinal de respeito, uma mania de sua família por parte de mãe. – M-meu nome é...

— Ah, então você deve ser a Marinette Cheng. Já ouvi muito sobre você.

Marinette mordeu a língua controlando o impulso de corrigi-lo. Dupain-Cheng. Por que as pessoas sempre esqueciam o hífen? Ela nem deveria exigir muito, porque só o fato de ele saber seu nome já era uma honra enorme. O homem desceu as escadas sem tirar os olhos dela, fazendo o coração da garota bater rápido em desespero. Ele se aproximou, e pegando-a de surpresa, colocou a mão no ombro dela e deu um sorriso pequeno, quase invisível, mas bem significativo.

— Faz tempo que gostaria de conhecê-la.

Gabriel Agreste queria me conhecer? Ela pensou, com o grito sufocado em sua garganta. Engoliu o nó, pondo-se a falar.

— M-muito prazer, Sr. Agreste. É uma... g-grande honra conhecer o senhor. – Ela se amaldiçoou por gaguejar.

Ele olhou a mesa atrás dela e logo deduziu que ela estava vendo as fotos de sua família. Pegou um dos retratos, justamente o do aniversário de 1 ano de Adrien, e passou os dedos sobre a imagem da mulher cuidadosamente, sentindo a saudade invadir o peito e se espalhar  dolorosamente.

Com um suspiro, colocou o retrato de volta no lugar. Pensar em Clarisse ainda era difícil, mas o mesmo se esforçava para não se deixar entristecer novamente.

— Gostaria que me acompanhasse até o meu escritório. Creio que temos algumas coisas para conversar. – Ele disse sem olhar para a menina. A mesma tremeu, engoliu em seco e balançou a cabeça em concordância.

O mais velho seguiu na frente, com a garota logo atrás de si. Subiram as escadas e atravessaram o corredor esquerdo até o fim, onde havia duas portas brancas enormes. Nas outras vezes em que esteve ali, nunca tinha ido até aquela parte da mansão. Ela e Adrien costumavam ficar na sala ou no quarto do loiro conversando.

Gabriel abriu caminho para que ela passasse, adentrando no escritório de tons claros e frios. Realmente, muito parecido com o estilo dele. Havia algumas fotos atuais de Adrien com filtro preto e branco penduradas na parede, e capas de revistas de sucesso que expunham a sua marca.

O homem dirigiu-se até a mesa fazendo sinal para que Marinette se sentasse à sua frente. Novamente ela engoliu em seco e obedeceu sem pestanejar – nem ousaria. Ele apoiou os cotovelos na mesa e cruzou as mãos, olhando-a seriamente. A cabeça da menina trabalhava a mil por hora, imaginando várias coisas que ele diria para ela, tipo: “fique longe do meu filho, sua menina estranha”; “você não é digna dele, sua pobre”. Ela estava de olhos arregalados, suando de nervoso ao observar a postura fria dele.

— Não precisa ficar nervosa. Chamei-a aqui apenas para conversar. – Vendo como a garota estava rígida, tentou suavizar a expressão para não assustá-la ainda mais.

Ele nunca foi muito bom em ser simpático com as pessoas, sempre com uma aparência apática, mas não significava que ele era uma má pessoa. As únicas que realmente não se importavam com seu jeito fechado eram a sua falecida esposa – que amava muito e que sentia muitas saudades –, e sua secretária, Nathalie, com quem convivia atualmente por conta do trabalho. Até seu filho parecia ter receios de falar com ele, e aos poucos Gabriel queria mudar essa imagem ruim que os outros tinham dele.

Marinette preferiu não responder, esperando que o mesmo começasse a falar o motivo de tê-la chamado. Tinha medo de abrir a boca e acabar dizendo algo idiota.

— Soube que Adrien esteve doente nessa semana, mas não pude vê-lo por causa do excesso de trabalho. Nathalie me contou que você cuidou dele, então devo agradecê-la por isso.

— Não fiz mais do que meu dever como namorada. Assim como ele cuida sempre de mim, sinto que preciso fazer o mesmo. – Olhou para baixo, sorrindo discretamente com a imagem de Adrien em sua mente.

Gabriel olhava fixamente a pequena como se procurasse por qualquer sinal de falsidade. Sabia que Adrien era sempre rodeado de pessoas que só se importavam com status, por causa de sua fama de modelo e ser filho do maior estilista da França. Fazer amizades verdadeiras nessas circunstâncias era complicado. Nathalie havia lhe contado sobre as poucas amizades sinceras que Adrien tinha, mas desde que conheceu aquela garota simples, ele andava diferente, e diria que estava mais feliz. Gabriel reconhecia facilmente aquele sorriso singelo que o mais novo mostrava, pois se via ali como um bobo apaixonado nos tempos de juventude. E a morena era a razão de toda aquela mudança na vida do filho, e como podia ver, era recíproco.

— Fico feliz que se importe com ele dessa forma. De uns tempos para cá ele parece estar bem feliz, e não o vejo assim desde que a mãe faleceu. – Ele sentiu uma pontada no peito ao referir-se à esposa.

— E-eu sinto muito... Sei como é perder alguém importante.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Você sabe?

Ela se encolheu com o olhar dele.

— Meu pai... Ele... Ele morreu quando eu era mais nova. Passei por momentos difíceis, achei que o melhor a se fazer para evitar mais sofrimento era me afastando das pessoas. A solidão parecia ser a melhor solução para os meus problemas. – Ela olhou para as mãos pousadas no colo e comprimiu os lábios por um instante. Continuou: - Adrien invadiu a minha vida sem pedir um convite, e de alguma forma ele conseguiu preencher o vazio que havia dentro de mim. Ele me faz feliz, apesar dos problemas que passamos. Somos diferentes em muitas coisas, mas ao mesmo tempo temos muito em comum. – Marinette estava surpresa pela coragem de dizer aquelas palavras sem parecer uma idiota gaguejando.

Ele não deixou a surpresa transparecer em sua face, mas admitia ter ficado encantado com a garota à sua frente. Havia algo nela que o fascinava... Eram poucos que conseguiam essa proeza. No entanto, novamente curvou um dos cantos da boca, dessa vez deixando seu pequeno sorriso torto mais evidente. Ela gostava de Adrien e ele podia ver isso explicito nos olhos azuis-safira ao falar do garoto.

Um silêncio se estabelecia no ar, talvez um pouco abafado pelo som do ar-condicionado do escritório, mas que não incomodava ambos. Marinette havia deixado um pouco da timidez de lado, pensando por alguns segundos sobre as conversas anteriores que teve com Adrien, principalmente sobre o delírio dele quando estava doente, achando que o pai o castigaria. Havia um tempo que gostaria de falar com Gabriel sobre isso, mas esperava que Adrien estivesse ao seu lado neste momento. Ela estaria cometendo um erro em expressar sua opinião sobre o Agreste mais velho? Olhou para o rosto do homem e encontrou o sorriso familiar de Adrien exposto bem ali. Aquilo lhe deu um mínimo de conforto para se pronunciar.

— Com todo respeito, Sr. Agreste... Entendo que há várias maneiras de se amenizar o sofrimento, mas digo por experiência própria que afastar as pessoas não é a melhor solução. Esconder os sentimentos... às vezes machucam as pessoas que só querem ajudar.

Ah... Uma garotinha de dezesseis anos estava dando lição de moral para uma das pessoas mais influentes do País. Realmente uma garota fascinante.

— Então Adrien te contou.

— Sim, ele me conta muitas coisas. – O medo retornou, achando que estava sendo inconveniente. Devia parar de ser tão intrometida... – Desculpe, eu não queria...

— Tudo bem, eu entendo. – Ele fez um gesto com a mão. – Durante esse tempo eu não tenho sido um bom pai, admito. Sou um homem ocupado, pode parecer que não me importo, mas me preocupo muito com meu filho.

— Seria bom que dissesse isso para ele. Enquanto estive cuidando dele, ele teve um delírio achando que o senhor lhe daria uma bronca. Adrien sente medo de decepcioná-lo, sabe?

Ele deu um suspiro.

— Não quero que meu filho sinta medo de mim. Acredite, eu queria muito dizer tudo o que sinto para ele, mas... Eu não sou muito bom em me expressar... – os ombros dele caíram com um peso de culpa. Adrien tinha medo dele? Isso era um cúmulo! Sentiu sua postura séria mudar. Afinal, por que ele estava desabafando com aquela garotinha? Ela não deveria se meter em sua vida.

Mas Adrien confiava nela como sua confidente. Eles estavam juntos há quanto tempo para só agora ele poder conhecer a nora pessoalmente?

— Eu também não era, mas ainda estou aprendendo. O senhor também pode aprender. Tudo o que Adrien quer é que o senhor seja mais presente na vida dele. – Marinette tomou liberdade para aconselhar o sogro que havia acabado de conhecer. Ela podia ver os olhos cinzentos perdidos em pensamentos. Ele não era tão mau quanto aparentava. Ele amava o filho de verdade.

Pelo visto, Marinette Dupain-Cheng e Gabriel Agreste tinham mais em comum do que apenas gostarem de moda.

Desde que Clarisse se foi, ele começou a se afundar no trabalho para não ter que pensar na dor. E era ainda mais difícil olhar para Adrien e ver a imagem da esposa ali, principalmente naqueles olhos verdes que ele herdou dela.

Como pôde ser tão egoísta? Ele só pensou em si mesmo enquanto o filho também sofria. Adrien teve que se apoiar em outra pessoa, e escolheu justamente uma garota que também compartilhava desse mesmo sofrimento, como ela própria contara. E ela o amava o bastante para tomar coragem e lhe pedir que fosse mais presente na vida do filho, deixando seus medos de lado para vê-lo feliz.

No canto da sala, um relógio grande de madeira começou a soar indicando que já estava na hora do almoço. Adrien já deveria estar pronto para encontrar Marinette. Então, rapidamente uma ideia passou pela sua cabeça, mas estava receosa para pôr em prática. Respirou fundo com determinação e olhou bem nos olhos de Gabriel, que voltou a atenção para ela.

— Adrien me chamou para almoçar junto com ele, então gostaria de lhe pedir para que se junte a nós. Garanto que ele irá adorar. – Finalizou com um sorriso convidativo e adorável.

— Eu adoraria, Senhorita Cheng. – Pela primeira vez ele deu um sorriso verdadeiro, mas sem mostrar os dentes. Levantou-se, sendo acompanhado pela mais nova, e juntos foram até a porta.

Por dentro, Marinette estava super empolgada, mas se sentia apreensiva por não ter certeza de que Adrien gostaria ou não de ver o pai. Ainda se segurou para corrigi-lo sobre o hífen no nome, pois isso seria abusar da sorte, mesmo que ele não parecesse se incomodar até agora com sua sinceridade. Durante o percurso, não disseram nada, mas não chegava a ser um silêncio incômodo.

Passaram pelo salão principal indo direto para a sala de jantar onde serviriam o almoço. Nathalie estava perto da porta distraída fazendo anotações na agenda até ver a silhueta de seu chefe e da garota de ombros encolhidos. Ficou surpresa, mas preferiu ficar quieta. Abriu a porta para que ambos passassem e trocou um rápido olhar com Marinette, que deu um breve sorriso sem graça.

Lá estava Adrien sentado em uma das cadeiras na extremidade da mesa, sorrindo abertamente enquanto aguardava a namorada. Quando seus olhos encontraram Gabriel ao lado de Marinette, o sorriso se desmanchou rapidamente, levantando-se da cadeira abruptamente, chocado.

— Pai? O que faz aqui?

— A Senhorita Cheng pediu para que me juntasse a vocês. Seria o momento perfeito para que a apresentasse formalmente como sua namorada.

— Ah... Bom... Eu não sabia que o senhor estava em casa. – Ele crispou os lábios e abaixou a cabeça com nervosismo.

Marinette caminhou até ele e segurou sua mão para acalmá-lo. A mão dele estava suada e um pouco tremida, e isso a preocupou. Por que ele tinha tanto medo? Vendo esta cena, Gabriel resolveu suavizar a expressão séria que sempre habitava sua face. Andou até a cadeira da ponta e sentou-se.

— Espero que não se importe. Acabei encontrando seu pai por acaso e ele disse que queria conversar comigo. Falamos sobre algumas coisas no escritório e decidi convidá-lo para o almoço. – Ela sussurrou.

Adrien apenas concordou com a cabeça e conduziu-a para a mesa, puxando uma das cadeiras para que ela se sentasse, como um perfeito cavalheiro. Logo ele se dirigiu ao seu lugar sem olhar para o pai. O clima pesava de tal maneira que chegava ser difícil de respirar. O silêncio entre eles era perturbador enquanto cada um estava submerso em pensamentos.

Marinette a princípio se arrependeu de ter convidado Gabriel para o almoço, mas era uma das poucas alternativas que tinha para ajudar Adrien a se resolver com o pai de uma vez por todas. Ela queria ajuda-lo assim como ele a ajudou com a sua solidão. Ela queria vê-lo feliz.

Ela pretendia quebrar aquele silêncio, mas não sabia como começar um assunto. Batucou o dedo indicador na mesa, tentando pensar em alguma coisa, mas nada lhe vinha à cabeça. Grunhiu baixinho se sentindo impotente.

O barulho da porta abrindo chamou a atenção dos três. Nathalie surgiu com uma travessa de comida, fazendo com que o cheiro agradável se instalasse no ambiente. A boca de Marinette salivou quando a mulher serviu a comida na mesa.

Gabriel pigarreou.

— Então, a senhorita tem algo em mente após terminar o ensino médio? – ele perguntou antes de levar a comida á boca.

— Eu pretendo fazer estágio em alguma agência de moda ainda este ano. Meu sonho desde pequena é me tornar uma grande estilista. Às vezes eu faço encomendas de roupas, mas ainda sou muito amadora. Quero ser profissional. – Ela falou num tom orgulhoso.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Hm... Deixaria que eu visse alguns dos seus modelos?

— S-seria uma grande honra, senhor. Meus modelos não são tão grandiosos quanto os seus, mas eu o tenho como uma grande inspiração – respondeu acanhada. Ela pôs as mãos nas bochechas para não deixar a vermelhidão evidente, porém foi inútil.

— Tá brincando? Marinette, seus modelos são fantásticos! – Adrien se pronunciou pela primeira vez com a boca cheia, deixando algumas migalhas caírem dos lábios. Apontou o garfo para ela. – Ela só está sendo modesta. Precisa ver o caderno dela cheio de desenhos. Sei de algumas amigas que estão loucas pelas roupas que ela faz.

— Adrien, não é pra tanto! Ainda tenho muito que melhorar.

— Melhorar o que? Para mim é tudo perfeito. – Ele sorriu torto, se divertindo com o constrangimento dela.

Gabriel olhou para os lados, vendo os dois interagirem com espontaneidade. Seu filho estava sorrindo na sua presença, e fazia muito tempo que não o via assim. Os olhos verdes estavam vívidos admirando aquela garota que não parecia mais ser tão simples.

— Você é suspeito em dizer essas coisas. – Ela cruzou os braços fazendo bico.

— Não digo isso só porque estamos juntos. Essa é a verdade. Pergunte só para Alya e Chloe, elas vão concordar comigo.

— Outras duas suspeitas. – Ela virou a cara escondendo o sorriso pequeno que se formava. Adorava ouvir Adrien elogiar o seu talento, apesar de ser insegura.

— Então vamos deixar que um profissional opine para que se sinta melhor. Ele com certeza concordará comigo, não é... Pai? – Adrien virou o olhar diretamente para Gabriel, que o encarou intensamente. Ele não parecia sustentar aquela seriedade habitual. Ele estava... sereno. Nem sequer bronqueou pela falta de educação do filho falando de boca cheia. Estavam em família, afinal.

— Sim, meu filho. – Ele deu um sorriso que fez os olhos de Adrien se arregalarem pela surpresa. Não se lembrava da última vez que o viu sorrindo. Voltou-se para Marinette. – Está com alguma amostra para eu ver?

— Agora? – ela questionou surpresa.

— Pode ser depois da refeição. Estou muito curioso, pois caso eu aprove os seus modelos, talvez eu lhe arrume alguma vaga na minha agência como aprendiz. Poderá trabalhar com Adrien durante a semana. – Ele disse aquilo como se não fosse nada de mais, em seguida colocando o garfo novamente na boca.

Enquanto isso Marinette estava paralisada na cadeira, esquecendo-se completamente como se respirava. Até engasgou com algumas migalhas de comida na boca. Estendeu a mão trêmula até o copo de refrigerante e o bebericou para fazer as migalhas descerem na garganta. Até mesmo Adrien havia parado de comer para encarar o pai, estático.

— Isso é... Sério? – Ele perguntou temendo uma resposta ignorante. Mais uma vez foi surpreendido.

— Sim.

— Isso seria fantástico. – Ela disse segurando a alegria dentro de si. Olhou para Adrien sorridente, que também lhe retribuía a felicidade.

Enquanto continuavam comendo, os três conversaram sobre outros assuntos além do trabalho. Nathalie observava toda a interação através de uma fresta da porta, feliz pelo seu pequeno loirinho estar finalmente interagindo com o pai, assim como estava feliz por ver Gabriel abandonando sua postura rígida para ver o filho feliz. Ela sempre soube que ele se importava. E tinha interesse em saber o que havia acontecido para que seu chefe mudasse de atitude de repente. Será que tinha haver com a rápida conversa entre ele e Marinette no escritório? Talvez ela nunca soubesse.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por terem lido até aqui. Esta foi a continuação do capitulo anterior que estava incompleta. Sei que demorei, mas levem em consideração a quantidade de palavras kkkk >.<
Logo postarei o epílogo.
kisses :*



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