Epílogo

Senti um formigamento em meu antebraço, que foi subindo até o ombro direito. Levantei a mão instintivamente para afastar aquele incômodo, mas aquilo insistia em continuar ali fazendo cócegas. Depois ouvi o som de uma risada baixa, e mesmo sonolenta eu conseguia identificar de quem era.

Virei-me na cama e abri vagarosamente os olhos. A primeira coisa que encontrei foi os olhos muito claros me olhando gentilmente. Eu ainda me sentia grogue por ter acabado de despertar de um sono pesado. Esfreguei os olhos e pisquei algumas vezes para recuperar totalmente o meu foco.

— Bom dia, Bugboo.

Ele afastou os fios bagunçados que tapavam o meu rosto, sorrindo maroto enquanto eu ainda estava tentando raciocinar o que estava acontecendo.

— Adrien, o que faz aqui? – perguntei com a voz rouca e arrastada.

— Tenho novidades importantes que não posso deixar para depois.

— Que horas são? – Estiquei o pescoço para ver a hora no relógio em cima da cabeceira. Resmunguei. – Adrien, você me acordou às oito da manhã de domingo para me dizer uma coisa que tenho certeza que pode deixar para depois? Vai dormir, garoto.

Puxei o cobertor até a cabeça e virei-me de costas para ele, querendo voltar a dormir. Ele riu, levantando da cama e abrindo a janela, deixando a maldita claridade invadir o quarto. Reclamei, xingando-o em meus pensamentos. Meu namorado era um idiota. Senti-o vir em minha direção, então segurei o cobertor firmemente para que ele não pudesse me descobrir.

— Vamos, Mari, por favor. Levanta daí, porque o que eu tenho para te contar e sei que você vai gostar.

Já irritada, chutei o cobertor para o alto e peguei uma das almofadas na cama para jogar em cima dele. A almofada não passou nem perto de onde ele estava, então acabei acertando uma luminária no canto do quarto.

— Pronto, acordei! Feliz? – Cruzei os braços e fiz bico. Eu estava totalmente descabelada, tentando segurar a minha raiva para não ter que avançar no pescoço dele àquela hora da manhã.

— Adoro seu bom-humor matutino. – O sorriso idiota não saía de seu belo rosto.

— Te odeio.

— Também te amo, amor.

Ele veio pra cima de mim na cama, enchendo o meu rosto de beijos para melhorar o meu humor, mas me afastei dele com a mão na boca.

— Espere pelo menos eu escovar os dentes.

— Tudo bem, eu vou esperar aqui.

Ele ficou sentado na cama enquanto eu me dirigia até o banheiro para lavar o rosto. Olhei-me no espelho e senti vontade de morrer por Adrien ter me visto daquele jeito desleixado. Minha cara estava amassada e inchada, os olhos vermelhos e cheios de remelas. Céus, qual era o problema da minha mãe por ter deixado aquele menino invadir o meu quarto daquele jeito e me acordar cedo num domingo?

Escovei os dentes e dei uma arrumada no cabelo para ficar com a aparência no mínimo aceitável. Pelo menos o pijama que eu estava usando era bonitinho e não muito constrangedor.

Saí do banheiro e encontrei Adrien acariciando a cabeça de Tikki que ronronava satisfeita. Apoiei-me na porta da suíte com os braços cruzados e estreitei os olhos para ele.

— Agora me fala o que tem para me contar.

Ele me olhou, colocando Tikki ao seu lado na cama.

— Você precisa de um café da manhã. Ainda está fraca e possivelmente desmaiará assim que ouvir o que tenho a dizer.

Revirei os olhos. Ele sabia que eu era curiosa por natureza, e pretendia me torturar até eu perder a paciência.

— Não acredito que está fazendo isso comigo. Está realmente querendo me irritar?

— Claro que não. Dou valor à minha vida. Só estou dando uma sugestão, sabe? – Ele deu de ombros, sorrindo debochado.

— Não ligo, fala logo, por favor. Agora que me acordou, você tem a obrigação de me dizer o que é!

Senti-me ainda mais idiota por ter deixando de lado toda a minha postura mal-humorada para praticamente implorar para que ele me revelasse logo essa tal notícia. Vendo o meu desespero, ele sorriu torto, e percebi um pingo de maldade brilhar em seus olhos. Isso com certeza ele aprendeu com a Chloe.

Com seu ar de suspense, ele me puxou para a cama e fez com que eu me sentasse. Ficou em silêncio por mais alguns segundos, e meu coração já batia acelerado de ansiedade.

— Separe todos os documentos que puder para amanhã, pois... – ele fez uma pausa proposital para ver a minha reação – a Srta. Dupain-Cheng tem uma vaga exclusiva para ela em uma das maiores agências de moda da Europa.

Nesse momento eu parei de ouvir qualquer som que vinha de fora, apenas um zumbido esquisito em meu ouvido. Provavelmente eu fiquei branca como um papel, pois senti meu corpo congelar como uma estátua. Encarei o rosto de Adrien, incrédula, perguntando-me se eu ainda estava dormindo e vivendo mais um daqueles sonhos doidos e realistas, porém o toque das mãos dele nas minhas tornava tudo aquilo verdadeiro.

— Que? – Depois de receber uma notícia bombástica, aquela foi a única coisa que consegui dizer.

— Se não acredita em mim, Nathalie é testemunha. Meu pai falou comigo ontem logo depois que você foi embora. Ele adorou seus modelos e gostaria muito de treiná-la. Como ele mesmo disse “Esta menina é um diamante bruto que precisa ser lapidado”, e eu obviamente concordei. – Ele fez sinal de aspas no momento que fez uma imitação tosca de Gabriel. Eu ainda não estava conseguindo reagir, nem mesmo respirar.

— E-eu acho que... devia ter tomado... café da manhã primeiro – eu disse com a voz baixa e fraca. Adrien começou a me olhar preocupado, levando suas duas mãos ao meu rosto para que eu continuasse olhando para ele. Minha pressão arterial deveria estar caindo.

— Droga, isso deve ter sido demais pra você. Sinto muito. Vou buscar alguma coisa lá embaixo para você comer, espere só um segundo e não se levante.

Concordei com a cabeça, digerindo o acontecimento. Ele desceu as escadas correndo e ouvi um pouco da conversa dele com minha mãe no andar de baixo. Logo ele retornou com um prato de bolo e um suco de manga.

Dei uma garfada no bolo e bebi o suco esperando voltar a minha normalidade. Mastiguei devagar, olhando um ponto fixo no quarto. Depois que a ficha caiu, arregalei os olhos.

— Eu vou ser aprendiz de Gabriel Agreste.

Adrien suspirou aliviado por me ver reagir. Ele sorria com as bochechas coradas.

— Vamos passar a ficar mais tempo juntos. Terá que me acompanhar em algumas sessões de fotos e ajudar a montar alguns figurinos.

Ri empolgada imaginando como seria trabalhar com Adrien e ao mesmo tempo fazer a coisa que mais gostava. No impulso, abracei-o na cintura, jogando todo o meu peso para que caíssemos na cama. Ele retribuiu, puxando-me para que nossos rostos ficassem próximos. Ele me cobriu de mais beijos e enquanto eu ria, divertida.

— Muito obrigada, Adrien – falei esquisita.

Eu não sabia o que estava acontecendo. De repente meus olhos começaram a arder e a imagem dele a ficar turva.

— Marinette, por que está chorando? – Ele perguntou assim que paramos. Ele estava tranquilo, afastando as lágrimas que escorriam pelos cantos dos meus olhos.

— Eu não sei – respondi com a voz embargada. Também queria entender por que estava me sentindo assim.

— Quem diria que Marinette Dupain-Cheng era tão sensível.

Funguei passando as mãos no rosto numa tentativa ridícula de parar de chorar. Sabendo que não seria fácil, afundei o rosto em seu peito, derrubando mais lágrimas e manchando sua camisa cinza.

— Você é o melhor namorado do mundo. Eu te amo, Adrien. – Falei com a voz abafada e chorosa, como uma criancinha que tinha acabado de ganhar o melhor presente de todos os tempos e que não aguentou segurar tanta emoção.

Seu corpo vibrou com os risos que ele dava. Segurou-me com mais firmeza em seus braços e sussurrou:

— Eu também te amo.

Ele afagou minha cabeça para me acalmar. Segurei sua mão que continha a pulseira e sorri entre as lágrimas. Enlacei nossos dedos, vendo os dois objetos cintilarem coloridos. Eu estava feliz, me sentindo leve como se as coisas estivessem ficando cada vez melhores.

Não havia mais pelo que temer. Não me sentia mais sozinha no mundo. Minha barreira para afastar as pessoas fora demolida. Fiz uma promessa ao meu pai e tinha orgulho de ter cumprido.

Era o início de uma nova fase de nossas vidas. Caminharíamos lado a lado, dando cada passo rumo ao nosso futuro. Juntos.