Diga que me ama escrita por Lara Queen


Capítulo 2
Ele


Notas iniciais do capítulo

Hello, meus queridos. Como sempre, sinto certa insegurança na hora de postar um novo capítulo, porque na maioria das vezes acho que o resultado não ficou muito.
Demorei muito, eu sei, mas às vezes eu tinha bloqueios criativos (não é novidade), e também pela quantidade de palavras. Esse, com toda a certeza, é o meu record pessoal. Acho engraçado é que eu sempre acabo extrapolando no número de palavras quando escrevo com o Adrien. Se vcs leram a minha outra fic, vão perceber isso kkkk.
Espero que não tenha ficado cansativo para ler e que vocês gostem do capítulo. Talvez algumas partes estejam confusas, por isso é bom ter bastante atenção.
Aproveitem e bola leitura :3



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Ele

Cada fibra de meu corpo vibrava de ansiedade e desejo. Aquela garota não fazia ideia da grande influência que tinha sobre mim. Antes de conhecê-la, eu achava que não era possível amar à primeira vista. Foi só colocar os olhos em Marinette para que tudo o que eu acreditasse no mundo pudesse se desconectar de mim. A atmosfera mudou e meus pés não se encontravam mais no chão. Agora eu flutuava no céu que tinha a cor dos olhos dela. Um céu límpido, sem nuvens, com um azul profundo e infinito.

Se antes eu já a amava com seu jeito tímido e delicado, no momento que ela me puxou para um beijo ousado, partindo de si própria, senti que meu amor tinha se intensificado ainda mais. Os lábios dela eram doces, de sabor inigualável. Ela por inteiro era doce, fazendo-me querer prová-la a todo instante e saciar essa fome de beijá-la.

Não sabia o que a tinha levado a fazer aquilo, mas não queria que acabasse. Suas mãos trêmulas agarravam a gola de minha blusa com força, aprofundando o beijo e causando-me arrepios por todo o corpo. Levei as mãos até suas costas, passando os dedos na linha de sua coluna, fazendo-a estremecer ao meu toque. Adorava causar essas sensações nela. Estava me sentindo tão amado e desejado, que eu tinha necessidade de lhe corresponder não somente por gestos, mas me expressar com palavras vívidas.

— Eu te amo. – Sussurrei em seus lábios, ofegando.

Ela parou, afastando-se e abaixando a cabeça com o rosto corado. Aqueles foram atos inesperados; tanto sua iniciativa ao beijo quanto ao seu afastamento perante o que eu disse – e eu esperava que não tivesse sido isso. Olhei-a confuso, tentando entender o que se passava.

— Por que você... ?

— Desculpe. Eu não... ah...

Sem uma resposta coerente, ela saiu às pressas pelo corredor, deixando-me parado como uma estátua vendo seu corpo desaparecer na esquina.

O que foi isso? Foi o único pensamento que me percorreu.

***

Aquele era o meu dia de folga do trabalho, então eu estava livre para sair com Marinette depois da aula. Fazia tempos que eu não a acompanhava até em casa ou passávamos o tempo sozinhos juntos, pois nas últimas semanas tenho estado atolado de compromissos. Eram sessões de fotos que lotavam a minha agenda, entrevistas para algumas revistas populares e aulas extras desnecessárias de esgrima e de chinês.

Ser filho de um estilista famoso tinha um preço.

Eu, honestamente, detestava essa vida agitada. Até um tempo atrás, eu não me sentia incomodado em fazer tantas coisas de uma vez. Sempre fui um filho obediente que exercia com as obrigações sem reclamar. Fazia de tudo para que meu pai sentisse orgulho de mim, principalmente depois que a mamãe morreu. Gabriel era um homem fechado e mostrava-se sempre sério para as pessoas. Depois de perder a esposa, ele raramente sorria. Isolava-se no trabalho para não ter que encarar a realidade. Eu já estava acostumado com sua ausência, mas isso não queria dizer que não tinha ressentimentos dele. Eu vivia sozinho, desesperado por uma demonstração verdadeira de afeto. Era popular, vivia cercado de pessoas na escola, recebia atenção de todos os tipos de fãs, mas eram somente relações superficiais. Sentia necessidade de algo a mais na minha vida, de alguém que não se importasse somente com a minha imagem de modelo.

Desde pequeno, mamãe me incentivava a conhecer pessoas novas, dizendo para mim que um dia eu formaria laços importantes que deveriam ser muito valorizados, pois era um elo que me ligava às pessoas com quem eu compartilharia vários momentos de minha vida; tanto nas alegrias quanto nas tristezas. Por ser muito novo, eu não entendia o que ela queria dizer com aqueles termos.

O que eu considerava superficial, aos poucos, foi se tornando muito mais do que eu esperava. E por fim eu consegui compreender o que as palavras de minha mãe significavam. Eu pude ser mais do que somente um rostinho bonito. As pessoas começaram a me enxergar de verdade. Nino, Alya, Chloe e Nathalie, eram a prova concreta de amigos que eu poderia confiar. Eram amizades verdadeiras que eu levaria eternamente em meu coração.

Mas não ficou só por isso.

***

#Passado

Marinette era diferente de todas as garotas que havia conhecido. Suas características únicas acabaram chamando a minha atenção. Linda, tímida, séria e calada. Ela andava pelos corredores, desviando-se das pessoas, segurando seus pertences com força contra o corpo, os ombros encolhidos como se formasse uma barreira entre ela e o resto do mundo. Sem nenhum motivo aparente, senti necessidade de conhecer um pouco mais de seu pequeno universo.

Nosso primeiro contato não poderia ter sido mais anticonvencional. Ela praticamente me chutou, fazendo-me rolar vários lances de escada, até bater em uma parede e cair sentado no chão. A primeira coisa que notei foi o cabelo extremamente escuro, num preto brilhoso que lembrava uma noite de luar. Depois foi o par de olhos azuis furiosos que miravam em mim como se tivessem o poder de fuzilar. Ninguém nunca me olhou daquele jeito antes, nem mesmo o meu pai que se estressava com qualquer coisa. De todas as emoções que eu poderia ter sentido, só consegui expressar admiração por sua força espetacular. Ela seria perfeita para participar do clube de luta da escola, e se quisesse ganharia todos os campeonatos intercolegiais. Se tivesse acertado minha barriga, provavelmente teria feito um grande estrago em meus órgãos internos. Por sorte eu coloquei um dos braços na frente para me proteger – mas que começava a formar um hematoma e rezava para que não tivesse quebrado. Os outros alunos presentes olharam surpresos para a cena, querendo entender o que tinha acabado de acontecer. Nino correu para me acudir, mas não demonstrei reação. Estava em choque, encarando a garota com os olhos arregalados e com o coração disparado, tanto pela adrenalina quanto pela sensação incomum que acompanhava o ritmo em meu peito.

— Cara, você está bem? Aquela garota é maluca! – Nino indagou enquanto me ajudava a levantar. – A culpa foi toda minha, eu não devia ter mexido com ela daquele jeito.

Nino era um pervertido que gostava de olhar por baixo da saia das garotas enquanto subia as escadas. Por um motivo um tanto idiota, ele decidiu olhar a saia de uma garota sem saber de quem se tratava. Por consequência disso, ela acabou descontando o chute em mim sem que eu tivesse feito nada. A morena grunhiu, virou-se de costas e foi embora sem se importar se eu tinha me machucado ou não.

— Nino – Chamei, ainda olhando atordoado para o degrau onde ela estava. – Quem é ela?

— É a Marinette Dupain-Cheng da minha turma. Ela é estranha assim mesmo. Sinto muito por você ter sido acertado no meu lugar, ou teria sido eu a estar sentado aí.

— Ela é incrível.

— Acho que ela te acertou com muita força. – Nino me encarou como se eu fosse louco.

E eu realmente enlouqueci. Meus pensamentos sempre pairavam sobre ela. Marinette era incrivelmente linda, mas tinha uma força brutal. Meu braço doía só com a lembrança do impacto de seu chute. Ela não falava com ninguém e vivia vagando pelos corredores como um fantasma; invisível para os outros, mas que se destacava aos meus olhos. Achei que, o que eu estava sentindo, era uma estranha obsessão, mas depois de várias semanas eu pude entender que se tratava de outra coisa.

Eu me apaixonei por ela no exato instante que a vi. Como poderia gostar de alguém que tinha acabado de me agredir fisicamente? Ou eu tinha sérios problemas mentais, ou eu fui estúpido o bastante para cair nas armadilhas do amor. Definitivamente, não existiam explicações claras para isso, mas aceitar aqueles sentimentos tornou-se libertador para mim.

***

#Presente

Minha turma foi liberada mais cedo, então esperei a aula de Marinette terminar para que pudéssemos ir embora juntos como fazíamos antes. Fiquei encostado à parede perto da entrada da escola, com ambas as mãos nos bolsos, ansioso para vê-la mais uma vez. O acontecimento de mais cedo não saía de minha cabeça. Meus lábios ainda formigavam com o beijo recente, implorando por mais um toque de sua boca na minha. Fechei as mãos dentro do bolso e respirei fundo para conter a excitação. Aquela garota me enlouquecia.

— Adrien – Lila chamou, andando na minha direção.

— Oi, Lila. – Cumprimentei com um sorriso.

— Eu e alguns amigos vamos para o Fliperama. Você quer vir com a gente?

— Não vai dar. Queria passar o tempo livre com a minha namorada. Ela ficou resfriada ontem, então pensei em mimá-la muito por hoje.

Ela suspirou com ar de decepção. Comprimiu os lábios e depois voltou a sorrir.

— É uma pena. Diga que mandei melhoras para ela, tá?

— Sim, eu vou dizer. – Entortei a cabeça, abrindo mais o sorriso, feliz por alguém se importar com Marinette.

Lila era uma garota extrovertida e de beleza inegável. Muitos caíam aos seus pés por ser linda e gentil com as pessoas. Mas eu amava demais a Marinette para ter qualquer tipo de interesse por outra garota. Poderia ser um exagero de minha parte, mas para mim, Mari sempre seria a razão de minha existência. Diferente do que as outras pessoas pensavam, Lila era só uma colega de trabalho. Passamos a participar de sessões de fotos juntos com temas românticos, mas não era nada mais além de uma relação profissional. Eu era totalmente fiel à minha joaninha.

Antes de sair, Lila virou-se novamente para mim.

— Mas amanhã, depois do trabalho, você vai jantar lá em casa de novo, não é? – Ela encarou com os olhos pidões.

— Claro. Só se você fizer mais daquela lasanha de ontem. – Ri, piscando um olho.

— Certo. Então eu farei. – Ela anunciou indo embora saltitando.

Ela morava perto do estúdio da Rouge, então, quando eu saía do trabalho, acompanhava-a até em casa, pois não seria bom para uma garota sair sozinha no meio da noite. Aliás, ela morava mais ou menos no mesmo caminho de onde ficava a estação de metrô, então era como matar dois coelhos numa cajadada só. Na semana anterior ela tinha me convidado para jantar, já que não gostava de comer sozinha. Seus pais viviam viajando a trabalho, e às vezes passavam dias fora de casa. Por consideração a ela – pois sabia como era ter pais ausentes –, não fiz desfeita de seu convite, aceitando a refeição. Isso acabou virando um costume para nós dois. Afinal, éramos somente dois amigos jantando amigavelmente sem malícias.

Fui tirado de meus devaneios assim que Marinette passou pelo portão. Ela não me viu, continuando seu caminho. Puxei seu antebraço, fazendo seu corpo chocar-se contra o meu, colocando-a de frente para mim. Ela arregalou os olhos, surpresa.

— Adrien? O que faz aqui?

— Hoje é minha folga. Quero passar mais tempo com você. – Disse, enrolando-a em meus braços, encostando a testa na sua. – Vamos sair juntos hoje?

— Tenho que trabalhar. Mamãe vai precisar da minha ajuda na padaria. – Murmurou, afastando-se um pouco para olhar meu rosto.

— Mas você não estava se sentindo bem ontem. Eu me preocupo caso você não tenha melhorado totalmente. – Encaixei os dedos em seu queixo, vendo suas bochechas corarem de leve.

— Eu disse que estava bem, não disse?

— Por favor, deixe-me mimá-la só um pouquinho. Pede para sua mãe te dar uma folga também. – Pedi fazendo beicinho.

Ela mordeu os lábios, pensativa.

— Podemos dar uma volta no parque e depois te levo para casa. – Sugeri.

Suspirou, balançando a cabeça.

— Está bem. Mas tem que ser rápido.

Gesticulei fazendo um “YEAH!”, sorrindo como uma criança que tinha acabado de ganhar o presente dos sonhos. Ela riu de meu exagero. Com isso, um estalo veio à minha mente.

— Vamos, preciso te mostrar uma coisa. – Puxei-a pela mão, fazendo-a me acompanhar.

Andamos pela calçada com os dedos entrelaçados. Tentei várias vezes puxar assunto, mas ela me respondia de forma vaga e monossilábica. Eu sabia que Mari era naturalmente calada e eu estava acostumado com seu jeito reservado, mas de uns tempos para cá ela ficava muito mais quieta que o normal. Antes, nós conversávamos abertamente mesmo com o seu jeito tímido, e isso era uma das coisas que mais adorava na nossa relação – além dos beijos que trocávamos, é claro. Compartilhar histórias de infância e sentimentos profundos era algo que eu almejava para nós dois, conhecendo mais além da barreira que ela tentava manter em pé.

Ela estava diferente. Alguma coisa aconteceu, e queria descobrir o que era.

— Mari, está tudo bem? – Arrisquei.

— Por que não estaria? – Ela disse, mas não me olhou nos olhos.

Dei de ombros, fingindo estar descontraído.

— Não sei.

Meu cérebro estava em alerta. Com certeza tinha algo errado. Ela não sabia esconder o que sentia e fazia de conta que estava tudo bem. Evitava olhar para mim, mantendo-se focada em um ponto fixo à nossa frente.

— Eu fiz alguma coisa? – Tentei outra vez.

— Não.

— Tem certeza?

— Tenho.

— Sabe que pode me contar qualquer coisa, não é?

— Sei.

Ela aparentava estar calma, mas tinha alguma coisa que deixava o ar tenso. Era provável que eu tenha feito algo errado, pois estava claramente escrito na testa dela. Precisava saber o que era antes que as coisas pudessem sair do controle. Detestava esse mau pressentimento que me predominava.

Chegamos ao parque e sentamos em um banco de frente para o playground vazio. Ficamos lado a lado em silêncio, sentindo o vento da tarde nos refrescar enquanto o sol se punha entre os prédios da cidade. Se eu não me pronunciasse, aquela quietude se estenderia até dar a hora de irmos embora. Para apaziguar o clima estranho, fui o primeiro a falar.

— Tenho um presente para você.

Ela finalmente olhou para mim. Tateei o bolso, pegando um pequeno objeto colorido nas mãos e colocando-o entre nós.

— Uma pulseira?

— Sim. Ela faz conjunto com a minha. – Levantei o braço, mostrando a minha pulseira de bolinhas coloridas. – Posso colocar em você?

Ela estendeu a mão diante de mim, com um sorriso discreto nos lábios. Segurei sua mão com delicadeza, sorrindo satisfeito, e amarrei a pulseira em seu braço. A mão dela estava trêmula, fazendo-me pensar que era de pura emoção.

— Bugboo... – Coloquei sua palma para cima, passando o indicador na linha de sua mão com carinho.

— Diga.

— Eu te amo muito. Essa pulseira é uma forma sólida de demonstrar que estamos ligados um ao outro. Quando se sentir solitária, lembre-se que uma parte de mim sempre estará com você, pois pretendo fazer o mesmo.

— Eu... – Sua voz falhou.

Uma chama de esperança se acendeu em meu coração, incendiando-me inteiramente, transformando meu sangue em lava fervente. Palavras não eram necessárias, mas eu tinha necessidade de ouvi-las pelo menos uma vez na vida. Eu amo você, era algo muito forte para se dizer a alguém, e o sentimento em si era maior ainda, mas tinham uma importância significativa para mim. No momento que ela me beijou, eu sabia que era retribuído por todo amor que lhe transmitia.

Diga que me ama.

Enlacei nossas mãos, esperando que ela continuasse. Os orbes azuis cintilavam como estrelas, deixando-me hipnotizado pelo seu encanto. Não consegui me mexer, temendo qualquer reação negativa. Olhei no fundo de seus olhos, mergulhando nas profundezas do oceano cristalino que me puxava para fundo. Ansiei por sua aproximação, instintivamente apertando sua mão com força equilibrada.

Se ela me beijasse naquele momento... Se ela dissesse que me amava... Eu seria o homem mais feliz do mundo.

Diga que também me ama, por favor.

— Adrien... – Ela sussurrou, soprando o hálito doce que dava água na boca.

Estávamos tão perto...

No instante seguinte, ela se foi, deixando um vazio em minhas mãos, longe o suficiente para que não pudesse mais inalar o seu perfume. Sentia a dor e a surpresa em minha face. Por quê? Quando dei por mim, o celular vibrava em meu bolso indicando uma nova mensagem. Olhei a tela de bloqueio, vendo que se tratava de Lila.

“Acho que não tem mais lasanha. Aceita estrogonofe?”

Lila, agora não é uma boa hora!

Respirei fundo, olhando para Marinette que se encolhera na outra ponta do banco.

— Quem era? – Perguntou com a cabeça abaixada e voz fraca.

— Não é nada importante. – Assegurei.

— É a Lila? – Olhou para mim com uma expressão indecifrável.

— Sim. Ela mandou melhoras para você, já que esteve mal ontem.

— Ah... Gentil da parte dela.

Suspirei frustrado pelo clima ter se desfeito. Aproximei-me dela, grudando nossos ombros lado a lado. A tensão de antes voltou a nos envolver, deixando-me preocupado.

— Marinette, fale a verdade para mim. Tem alguma coisa te incomodando? Não há problema em me falar o que está sentindo.

— Por que as pessoas acham que tem algo de errado comigo? Eu estou legal, tá? – Perguntou irritada, aumentando o tom de voz. Olhei-a chocado por sua mudança drástica de humor.

— Não, você não está. Você nem sabe disfarçar. Mari, por favor... – Ela me cortou.

— Se eu não soubesse disfarçar... Você teria notado há bastante tempo. – Ela se levantou, ficando de frente para mim. Cruzou os braços com o cenho franzido.

— O que quer dizer? O que está acontecendo? – Também levantei.

— Nada. Deixa pra lá. Vou para casa. – Ela agarrou a mochila no ombro, virando-se para a saída do parque.

— Não vou te deixar ir embora sozinha desse jeito. Primeiro você tem que me explicar o que está havendo. Depois eu te levo em casa. – Segurei seu braço para que parasse.

— Não. Quero ficar sozinha. – Desvencilhou-se de meu aperto, dando dois passos para trás. Apertou os lábios, segurando as lágrimas.

Os olhos dela estavam vermelhos e marejados. Vacilei minha postura rígida, sem saber o que fazer. Só queria encostar sua cabeça em meu ombro, abraçá-la e passar os dedos pelos fios escuros. Não aguentava vê-la triste por minha causa.

Por favor, não chore! Minha joaninha...

— Estou tentando entender o que eu fiz, mas você não colabora. Quero concertar o meu erro, seja lá o que eu tenha feito. – Falei com a voz rouca, o coração sendo esmagado por uma força sobrenatural que me atravessava.

Desculpe! Não se vá!

— Tchau, Adrien. – Ela me ignorou, deixando-me para trás com cara de idiota.

***

#Passado

Observar Marinette era algo intrigante, mesmo que à distância. Sempre acabava descobrindo alguma coisa nova sobre ela, como suas manias fofas e atraentes. Quando se distraía, enrolava o dedo nas pontas do cabelo de forma sexy. Mordia os lábios quando ficava nervosa ou pensativa, peguei-a fazendo isso várias vezes no corredor. Ela mexia muito nos dedos das mãos quando sentia vergonha, e corava fácil quando alguém invadia seu espaço pessoal. Essa última, eu mesmo fui capaz de comprovar.

Dias após o incidente na escada, tentei uma aproximação pacífica. Ela era teimosa e não deixava que as pessoas se aproximassem demais. Sem falar que também tinha receios de levar outro chute. Talvez sua reação daquela vez tivesse sido por impulso, como uma defesa automática. Não a julgaria por isso, ela tinha razão em querer proteger sua dignidade – mesmo que tivesse sido meio violento.

Por incrível que pareça, ela conseguiu me surpreender.

A escola estava quase vazia, e só havia nós dois no corredor. Ela pendurava alguns folhetos no quadro de avisos do segundo andar, distraída cantarolando alguma música. Era o calendário das próximas provas do semestre. Era possível que estivesse fazendo um favor para algum professor, já que ela tinha tendência em querer ajudar as pessoas, apesar do seu jeito reservado.

— Marinette Cheng?

Virou-se para mim um tanto espantada. Não estava acostumada com as pessoas se dirigindo a ela.

— Dupain-Cheng – me corrigiu.

— Oh, desculpe. Você usa hífen no nome. – Sentia-me um tremendo idiota pela péssima maneira de iniciar uma conversa. – A propósito, meu nome é Adrien Agreste. – Estendi a mão para que ela apertasse, mas só assentiu com desdém. Ri com nervosismo, passando a mão levantada até a nuca para disfarçar. Notei que ela encarava a mancha escura no meu braço.

— Sinto muito por isso. – Ela suspirou abaixando a cabeça, apertando as folhas entre os dedos com força.

— Não sinta. Você só estava se defendendo. Eu que peço desculpas em nome do meu amigo idiota. Ele não deveria ter pegado na sua saia daquele jeito. Aliás, soube que vocês são da mesma turma. – Quis estender a conversa para ouvir mais de sua voz. Era bem melódica e gostosa de ouvir.

— Não sou de conversar muito. – Voltou-se para o quadro, pendurando um aviso de que na próxima semana haveria um evento no clube de artes.

— Nino age dessa maneira, mas não tem intensão de fazer algo ruim. Desculpe por isso.

— Está tudo bem agora. – Ela não me olhou. – Eu agi errado em ter te acertado com um chute. – Ela mexeu em sua bolsa e pegou um pacote de bandaids, entregando-o para mim. – Aqui, use isso. Quero te compensar por ter sido rude.

Coloquei a mão na frente da boca, tentando reprimir o riso. Marinette era adoravelmente ingênua, e isso era ótimo se comparada às outras garotas que conheci. Ela entortou a cabeça olhando-me com curiosidade.

— Não precisa. Daqui a poucos dias o hematoma já vai ter sumido.

— Mas quero que aceite. Eu te empurrei da escada e nem pude te ajudar. Sinto-me péssima por ter feito isso. – Os orbes azuis me olhavam com culpa e súplica, fazendo meu coração dar um salto.

— Obrigado. – Peguei o pacote de suas mãos e senti o contato de nossos dedos. Uma corrente elétrica envolveu todo o meu corpo, arrepiando-me até a raiz do cabelo. Também a vi estremecer, e um brilho rapidamente passar por seus olhos. Desviou o olhar, ajeitando o bolo de papéis contra o corpo.

— B-bem... Eu tenho que terminar de pendurar esses folhetos pela escola.

— Você quer ajuda? Assim terminará mais rápido.

— É muita gentileza, mas posso fazer isso sozinha.

— É um trabalho cansativo, não acha? – Insisti.

Ela mordeu os lábios, e fiquei feliz por presenciar isso de perto. Ponderou a sugestão hesitante e, contudo, assentiu sem se opor. Sorri alegre e acompanhei-a pelo corredor. Continuei puxando assunto enquanto ela respondia da maneira dela, vaga e misteriosa.

Fomos para o terceiro andar e posicionei-me ao seu lado para pendurar os folhetos na parte que ela não alcançava. Ela era baixinha, e adivinhava que tivesse em torno de 1,55m. Parecia uma pequena boneca de porcelana, detalhada e caprichada. Linda e delicada. Mas só parecia, porque tinha uma força esplendida como a de uma rocha.

Parei de falar no momento que ouvi o som de sua risada. Provavelmente eu disse alguma coisa idiota e engraçada para tê-la feito rir. Senti-me honrado por ter sido o primeiro a vê-la daquele jeito espontâneo. O sorriso dela era brilhante, que atingia meu coração e marcava minha alma com sua luz. Um sorriso que me fazia perder o fôlego e agir como um bobo apaixonado. Fui contagiado, alargando meu sorriso infantil. Ela me olhou, voltando a ficar tímida com a pele corada.

— Acho que terminamos por aqui. – Agora segurava uma pequena quantidade de papéis. – Acho que a Srta. Bustier imprimiu papéis além da conta, então vou entregar isso para a secretaria.

Antes que seguisse seu caminho, parei-a por um instante. Minhas mãos suavam e tremiam pela agitação que não conseguia conter em meu interior.

— Marinette.

Ela se virou rápido, fazendo o cabelo escuro voar. Imaginei aquela cena em câmera lenta.

— Sim?

— Gostei da sua companhia. Queria saber se gostaria que eu a levasse até em casa.

— Não quero incomodar.

— Não incomoda. – Sorri torto.

Ela também sorriu minimamente, franca. Voltou a andar, e eu continuei no meio do corredor pensando se aquilo foi um sim.

.

.

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— Você é sempre tão calada?

— Sim. – Respondeu dando de ombros.

— Interessante – Passei os dedos no queixo formando um L.

Depois que saímos da escola, não parei de tagarelar. Não continha minha animação por estar finalmente falando com a garota por quem estava apaixonado. Ela não parecia se incomodar com isso, mantendo sua expressão impassível.

— Já pensou em entrar num clube de luta? Você leva jeito pra isso.

— Já frequentei um curso de defesa pessoal. Além de ter parentes que me ensinaram Kung Fu quando criança.

— Uau, princesa guerreira. Parece que você não é uma donzela em perigo.

— Não sou uma princesa. Estou mais para plebeia invisível – Percebi uma diferença sutil em sua face, mantendo os olhos longe de mim.

— Claro que é uma princesa. Você se parece muito com a Mulan.

— Por meus olhos serem puxados? – perguntou me olhando, os olhos levemente estreitos e com um meio sorriso quase imperceptível.

— Por isso também. É mais por ter um grande potencial escondido em você. Parece que você criou um escudo que te separa das outras pessoas.

Ela parou de andar, encarando-me com o cenho franzido, reprimindo a perplexidade evidente que surgia em seus olhos.

— Só está dizendo bobagens. Não pense que me conhece.

Também parei, passando a avaliá-la cuidadosamente.

— Você não é muito de transparecer as emoções. Gosta de se manter firme na frente das pessoas. Quando fica agitada por alguma coisa, você gesticula muito com as mãos, - a cada palavra proferida, eu chegava lentamente mais perto dela – costuma morder os lábios – ela recuou os passos, chocando-se com o muro de um estabelecimento – e seus olhos são fáceis de ler.

Como esperado, ela mordeu os lábios, a cor vermelha acumulada em suas bochechas. Sua respiração estava rápida, e ousava dizer que podia ouvir seu coração batendo. Ela claramente não estava gostando do quão próximo eu estava, invadindo seu espaço e derrubando a primeira barreira que ela tinha imposto sobre o mundo. Eu, pelo contrário, estava adorando ver cada sensação que ela não conseguia esconder. Os orbes azuis faiscavam de raiva.

— Nesse exato momento você está nervosa e zangada por eu ter razão. – murmurei presunçoso.

— Fique longe. – Esticou os braços para que eu ficasse parado. Ela estava entre mim e o muro. Não poderia escapar da verdade.

— Desde que me chutou daquele jeito, não paro de pensar em você. Estive te observando de longe esperando por uma oportunidade de me aproximar.

Em parte, sentia-me culpado por assustá-la com meu ataque de sinceridade repentino, mas eu não sabia dizer o que deu em mim. Naquele momento meu cérebro havia pifado, fazendo-me revelar várias coisas que não sabia como controlar.

— Você é louco! – Seus olhos estavam arregalados. O corpo exprimido na parede, como se quisesse atravessar os tijolos para se livrar de mim. Poucas pessoas circulavam na rua, e pareciam não notar a situação que nos agregava.

— Sim, eu sou. Um louco apaixonado. – Coloquei as mãos na parede, uma em cada lado acima de sua cabeça, perto o suficiente para sentir o calor que emanava de seu corpo.

— Por que está fazendo isso? – Abaixou a cabeça, escondendo o rosto com o cabelo.

— Por que não deixa as pessoas se aproximarem de você? – Contra-ataquei com outra pergunta.

— Isso não te interessa! Agora me deixe em paz! Você é só um idiota que quer brincar comigo. – ela dizia na defensiva, completamente irritada. Empurrou-me com uma força que não era dela. Era fraco, diferente de antes, como se não tivesse a verdadeira intenção de fazer aquilo.

— Nunca brincaria com seus sentimentos. Gosto mesmo de você. – tentei mostrar o máximo de sinceridade que podia em minha voz.

— Não, você não gosta. É só uma ilusão da sua cabeça. Você é Adrien Agreste. Há um monte de garotas que adorariam estar com você.

— Menos você. Aquelas garotas não gostam de mim pelo que eu sou, mas pelo que eu tenho. Você é diferente. Você me trata como uma pessoa comum, e não como um garoto popular.

— A gente nem se conhece direito. – insistiu, mas eu permaneci com meu olhar obstinado sobre ela.

— Então seja minha amiga. Aí poderemos nos conhecer de verdade. Quero descobrir mais sobre você. – falei cismado, sem querer me deixar abalar.

— Mas eu não sei se quero. Agora saia da minha frente. – Ela voltou a andar desajeitadamente, desviando-se de mim. Mesmo naquelas circunstâncias, era impossível não achar a raiva dela divertida.

Ela batia os pés como uma criança, o rosto ficava vermelho e as íris num azul mais intenso.

— Espera! Não fique chateada comigo, tá? Desculpe por ter te irritado.

Ela parou, mas continuou de costas. Vi seus ombros subirem e descerem, num suspiro frustrado. Depois se virou para mim, aparentemente cansada de discutir.

— Você é irritante, insistente e muito falante. – Ela contou nos dedos enquanto falava. – Não sei se saberia lidar com alguém como você.

Senti vontade de rir.

— Veremos. Você pode tentar ser minha amiga, e eu tento ser o menos irritante possível. – Sorri torto. Ela revirou os olhos, balançando a cabeça e pondo as mãos na cintura.

Abaixei-me, abrindo a mochila e revirando as coisas. Peguei um caderno e abri na última folha em branco. Encontrei uma caneta qualquer largada na mochila e escrevi uns números.

— O que está fazendo? – perguntou.

— Isso aqui – arranquei a folha e entreguei a ela – é o número do meu celular.

— Não vou te ligar. – Ela amaçou o papel na mão, mas não jogou fora. Entortei um pouco a boca, fazendo um beicinho insatisfeito. Inspirou profundamente, em desistência, e acabou guardando o papel no bolso do casaco do uniforme. Voltei a sorrir alegremente.

— Não seja boba. Pelo menos terá meu número em caso de emergência. – Tentei não soar debochado, mas ela acabou percebeu. Esfregou as têmporas, talvez repensando no que tinha acabado de fazer.

— Continuarei o resto do caminho, sozinha, a partir daqui. – Ela decidiu ignorar o que eu disse. – Tchau.

Recomeçou a andar, apertando o passo para se ver o mais longe possível de mim, enquanto eu andava um pouco mais atrás. Não a seguiria, porque sabia que ela precisava de um tempo para refletir. Ainda mais, não queria agir como um maluco perseguidor; se bem que de maluquice eu já tinha bastante.

— A gente se vê amanhã! – Gritei, vendo-a abaixar a cabeça e correr aos tropeços. Agora que estava sozinho, soltei uma risada baixa.

Marinette Dupain-Cheng, você é uma caixinha de surpresas.

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.

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Dois dias mais tarde, ouvi o barulho estridente do celular tocando em cima da mesa do computador. Eu estava deitado na cama passando meu fim de semana livre totalmente entediado. Nino foi visitar os parentes em Rouen e só voltaria depois do feriado; Alya estava cuidando das irmãs e não poderia sair; e Chloe teria que acompanhar seu pai, o prefeito, em um jantar importante com banqueiros. Não poderia ser nenhum deles a me ligar naquela hora. Saltei da cama e peguei o aparelho. Pela tela de bloqueio vi que o número não tinha identificação. Decidi atender mesmo assim.

— Alô?

— Adrien Agreste? – Era uma voz feminina e familiar.

— Marinette? – Perguntei incerto.

— Eu sei que disse que não te ligaria, mas preciso da sua ajuda. Você é a única pessoa a quem posso recorrer agora. – A voz era urgente, aquilo me preocupou.

— O que foi? Onde você tá? – Perguntei alarmado, começando a procurar meus tênis em algum lugar do quarto.

— Estou no parque municipal, você deve saber onde é. Por favor, venha rápido! – Desligou o telefone, deixando-me atordoado por poucos segundos.

Peguei minha camisa branca sem me preocupar de estar amarrotada. Calcei os tênis que estavam largados atrás da porta e saí do quarto às pressas, descendo a escada correndo.

— Adrien, aonde vai? – Nathalie perguntou atrás de mim, quando eu estava quase chegando à saída.

— Desculpe, Nathalie, mas não dá pra explicar agora. Até depois! – Falei por cima do ombro.

Corri até um ponto de ônibus e peguei o primeiro que levava até as proximidades do endereço indicado. Quando saltei, voltei a correr, procurando por Marinette como doido. Do jeito que ela falou, comecei a pensar em várias coisas que poderiam ter acontecido para deixa-la daquele jeito. Aquilo aumentou o pânico que fazia meu coração quase explodir.

Desde aquela nossa conversa, ela passou dias me evitando. Quando me encontrava no corredor, dava meia volta e se retirava. Não poderia negar que aquilo me magoava, mas a culpa era minha por tê-la assustado com meu jeito impulsivo. Não insistiria para que ela voltasse a falar comigo, deixando que as coisas acontecessem naturalmente. A situação deve ser muito séria para recorrer a mim após ter deixado claro que não falaria comigo.

Encontrei Marinette agachada perto do playground de costas para a entrada. Suspirei de alívio ao ver que ela estava bem. Deixei que meu coração se aquietasse para que pudesse prosseguir sem parecer um desesperado. Depois disso, andei até ela sem fazer muito barulho. Ela estava bem entretida com alguma coisa, então não me notaria facilmente.

Também me agachei e sussurrei em seu ouvido.

— Oi, princesa. – ela pulou de susto e me olhou espantada. – Por que me chamou aqui com tanta urgência? Você me assustou.

Recuperando a calma, olhou para frente, finalmente me fazendo notar a caixa que tinha ali.

— Desculpe. Não queria causar problemas. É que eu preciso da sua ajuda com isso. – Dentro da caixa, tinha um cobertor que escondia alguma coisa que não parava de se mexer. Ela o descobriu, revelando um pequeno gatinho preto que se contorcia. – Eu o encontrei todo machucado quando estava passando por aqui. Acho que a pata está quebrada.

Ela falava como se estivesse prestes a chorar. Comprimi os lábios tomando outra postura.

— Por que não o levou para um veterinário?

— Porque eu fiquei nervosa e não queria ficar com um animal indefeso, sozinha.

— Fique calma, está bem? Vamos ajuda-lo. – Segurei seu ombro tentando transmitir confiança. Ela assentiu com as sobrancelhas arqueadas.

Ela pegou o celular e pesquisou no Google Maps o endereço de alguma clínica veterinária que fosse perto. Peguei a caixa, e o gato continuou se contorcendo, miando esganiçado. Estava ficando nervoso com aquele som agonizante. Marinette estava mais nervosa ainda, roendo a unha polegar. Isso me fez lembrar a vez que ela me chutou da escada e nem ligou para ver se eu estava bem. Olhei para o bicho na caixa e depois para ela com o cenho franzido. Balancei a cabeça, incrédulo por sentir ciúmes de um animal.

— Achei uma clínica perto da estação.

— Então vamos.

Andamos rápido, seguindo até a clínica. O lugar ficava algumas ruas depois do parque, onde tinha a estação de metrô. Mesmo assim o caminho parecia ser longo, pois os miados do gato só aumentavam, deixando-me incapaz de ouvir meus pensamentos.

— Ai que praga... – resmunguei baixo.

— Não vê que ele está sentindo dor? – Seu tom me repreendia.

— Esses miados me deixam tenso. Dá angústia vê-lo se contorcendo de dor desse jeito. Não entendo o motivo de você ter chamado logo a mim para te ajudar. Quer dizer... Estou honrado por ter sido o escolhido, mas eu realmente não entendo.

— É que... – Ela se encolheu com meu olhar analítico. – Chegamos!

Correu para a porta, abrindo-a para que eu passasse com a caixa; aproveitando essa deixa para não ter que me dar explicações. Assim que nos viu, a balconista correu para nos atender.

— É uma emergência! O gato está com várias lesões e parece ter quebrado a pata. – Marinette dizia para a mulher, exaltada.

— Ele já será atendido. Vou avisar ao veterinário. – A mulher entrou em uma sala, e logo voltou acompanhada por um homem de jaleco.

— Olá, eu sou o Dr. Deaton. Muito prazer. – O homem estendeu a mão para que um de nós apertasse. Eu, que estava mais perto dele, o cumprimentei. – Tudo bem, deixe-me ver o pacientezinho.

Ele não era muito alto. Tinha pele escura e olhos castanhos cansados, possivelmente pelas noites de plantão. Ele tinha uma postura profissional e expressão confiante, que tentava transmitir tranquilidade. Olhou para dentro da caixa e encontrou a pequena praga miando sem parar.

— O que aconteceu com ele?

— Acho que foi maltratado e abandonado. Quando o encontrei, ele já estava desse jeito.

Ele pegou o gato no colo e o acompanhamos até sua sala. Colocou o bichento em cima de uma mesa e começou a examiná-lo. Ao meu lado, Marinette estava muito inquieta, mexendo as mãos com ansiedade. Inclinei-me um pouco para que me ouvisse.

— Mari, calma. Vai ficar tudo bem com ele. – murmurei.

De repente ela ficou estática, levando seu olhar diretamente para mim. Então eu percebi o que tinha acabado de falar. Mari. Tinha acabado de chama-la de Mari. Um apelido que escapuliu sem que eu percebesse. Fiquei desconcertado, com vontade de estapear a própria cara. Qual era o meu problema? Marinette se assustaria de novo e voltaria a me ignorar.

Dr. Deaton pigarreou, chamando a nossa atenção. O gato tinha parado de se contorcer, mas ainda miava.

— A pata realmente está quebrada. Há alguns arranhões, mas não é nada sério. Terei que receitar alguns remédios e o mesmo terá que ficar em observação. Alguém se prontifica a cuidar dele?

— Eu já tenho uma gata em casa. Não sei se minha mãe vai querer mais um animal de estimação. – disse ela, cabisbaixa.

— Eu fico com ele. – Acabei falando impulsivamente após ver o rosto triste dela.

— Ótimo. Começarei os procedimentos para engessá-lo e depois lhe darei a receita dos remédios. – Dr. Deaton disse sorrindo.

Tarde demais, o erro já estava feito. Como faria para convencer o meu pai a querer ficar com um gato de estimação? Pior, um gato de rua maltratado! Ele seria capaz de me matar; depois me ressuscitaria e mataria de novo. E mandaria fazer um casaco de peles do bichento, só para eu aprender a lição. E Marinette ficaria chateada, porque dava para ver que ela tinha se apegado ao animal. Bufei, pensando na situação complicada que me meti.

— Você vai mesmo ficar com ele? – Ela perguntou, enquanto me acompanhava até a sala de espera. Sentamos em um banquinho e encaramos um ao outro.

— Se isso te fizer feliz... – Dei de ombros como se aquilo não fosse nada. Meu pai não gostava de animais em casa. Eu estava disposto a arriscar minha própria vida e a pele da praga só para fazer a garota feliz. Teria que dar um jeito naquilo.

— Obrigada. Sei que estou te dando trabalho, mas... – Ela juntou as mãos no colo, olhando para baixo.

— Ei – coloquei a mão na sua. – Relaxa. Estou fazendo isso porque quero. – Sorri sincero.

Um silêncio estranho se instalou entre nós. Desviei o olhar para algum ponto da sala, querendo espantar aquele incômodo.

— Desculpe, eu te chamei de Mari sem querer.

— Tudo bem, você é o primeiro em muito tempo. Minha mãe me chama assim, às vezes. – Senti que ela sorria um pouco. – Você queria saber o porquê de eu ter te ligado. – Ela encolheu os ombros, ficando lindamente tímida. Encarei-a com atenção. – É porque... Se minha mãe não estivesse tão ocupada hoje, eu teria ligado para ela. Você foi a única pessoa que eu poderia chamar.

— Como assim? Você não tem amigos? Nenhum? – Perguntei chocado.

— Não... – Ela fechou os olhos. – Sempre fui sozinha.

— Mas por quê? Isso não faz sentido para mim. Você é tão doce, fofa e... Incrível.

— Como pode dizer essas coisas? – Ela tirou a mão da minha, sem estar realmente irritada.

— Porque te conheço o suficiente. Você é uma pessoa boa e gentil que poderia facilmente fazer amigos.

— As pessoas são falsas e egoístas. Elas se aproximam de você, dizem serem suas amigas, e quando ganham a sua confiança... Elas te dão uma facada nas costas e rasgam cada pedaço de seu coração. – Seus olhos marejaram.

A segunda barreira foi finalmente derrubada. Agora ela estava mais vulnerável. Não era bom pressioná-la naquele estado, mesmo que quisesse saber mais sobre seu passado. Estava sendo consumida pelas lembranças, e dava para ver que aquilo lhe fazia mal. Meu interior se remexia pela compaixão e vontade de abraça-la. E foi isso o que eu fiz. Puxei-a para um abraço, sentindo seu corpo soltar breves espasmos.

— Fizeram isso com você? – Ela não respondeu, chorando em meu ombro. Levei a mão até seu cabelo, fazendo carinho para que se acalmasse. – Você não precisa me contar nada, se não quiser. Saiba que eu estou aqui. – Sussurrei. Seu corpo tenso começando a relaxar. – Nunca irei te magoar. Não te abandonarei.

Ela apertou minha camisa, grudando ainda mais os nossos corpos.

— Prometa. – Sussurrou, seguida de uma fungada.

Ela não era uma garota fraca; isso nunca havia passado pela minha cabeça. Marinette era a pessoa mais forte que já havia conhecido, e não somente pela força física. Ela carregou um trauma e a solidão por muito tempo, e agora eu estava ali para ajuda-la a continuar se mantendo firme. Faria o possível para que não se sentisse sozinha de novo. Queria ser um protetor diante a sua fragilidade momentânea; porque um sentimento muito forte começava a me envolver, e percebi que paixão não era a única coisa que me preenchia. Por tão pouco tempo, descobri o que era amar uma pessoa. A necessidade de estar com ela e fazê-la sorrir todos os dias. Marinette tinha um sorriso lindo, queria poder vê-lo sempre.

Apertei os braços ao seu redor e aspirei seu doce cheiro de flor.

— Eu prometo.

No momento seguinte, ela já estava melhor. Dr. Deaton apareceu com o gato engessado dentro de uma gaiola. Se eu ficaria com o ele, precisava lhe dar um nome.

— Que tal, Praga? Ele é preto e representa azar. – Falei enquanto esperávamos pelo metrô dentro da estação.

— Quero ver você chama-lo assim perto de alguém. Vão pensar que está invocando o mal. – Ela disse com uma careta, fazendo-me gargalhar.

— Você tem alguma ideia? Você disse que tinha uma gata. Qual é o nome dela?

— Ela se chama Tikki. O nome dela significa felicidade em alguma língua. Ela é branquinha e bem fofa. – Ela apertou as mãos na bochecha, sorrindo.

— Dá pra ver o porquê do significado. Ela te deixa feliz. – Sorri de lado, vendo-a corar. – Mas ainda acho que Praga combina com ele.

— Plagg... – Murmurou tão baixo, que se eu não tivesse notado sua boca mexer, pensaria não ter ouvido nada.

— Plagg? O que significa? – perguntei curioso.

— Plagg significa praga, só que de uma maneira mais bonitinha. Já que gostou tanto desse nome, parece ser o mais adequado. – Percebi um tom debochado, mas deixei passar.

— É... – murmurei pensativo. – Vou chamá-lo de Plagg.

Ela abriu o sorriso, entrando no metrô que havia acabado de chegar. Entrei junto com ela e ficamos conversando. Com outras pessoas, ela não falava muito, mas comigo ela podia ser espontânea e mais alegre. Ser ela mesma.

Daquele dia em diante, nosso relacionamento só cresceu, e foi se tornando mais que uma amizade. Apresentei-a aos meus amigos, que de cara gostaram dela. Marinette hesitou pela aproximação de tanta gente, mas aos poucos foi se acostumando e se deixando ser acolhida por eles.

Plagg se tornou o melhor companheiro que poderia ter. Era o típico gato comilão e preguiçoso, mas que sabia ser carinhoso às vezes. Passei alguns dias escondendo-o no meu quarto, até que Nathalie descobriu e contou tudo para o meu pai. No início, pensei que ele se livraria do gato, mas surpreendentemente acabou aceitando-o como o mascote da casa. Pelo menos foi um ato de bondade da parte dele, e fiquei feliz por isso.

Gatos pretos costumam dar azar, e o seu nome enfatizava essa superstição. Comecei a repensar sobre isso, pois foi graças a ele que minha história com Marinette teve uma boa continuidade. Aquela praga me deu sorte, de certa forma.

Estava disposto a cumprir minha promessa. E assim seria.

***

#Presente

Eu e Marinette não nos falamos naquele dia. Pensei em mandar uma mensagem para ela, mas acabei mudando de ideia. O que eu diria? Um simples “oi” não era suficiente. Queria dizer mais coisa, mas nada me vinha à mente. Se eu deveria me desculpar? Mas pelo que? O que foi que eu fiz de errado dessa vez? Refleti por cada segundo, desde antes a nossa discussão, procurando em minhas memórias algo que pudesse tê-la chateado, até mesmo que eu tenha dito algo sem perceber. Não havia nada que eu lembrasse.

Na escola, vários alunos cochichavam pelos cantos, segurando a revista Rouge da semana, provavelmente falando sobre as fotos que eu e Lila tiramos com o tema dos opostos que se atraem. Os burburinhos ficavam cada vez mais altos à medida que caminhava pela extensão do corredor. Os olhares descarados me perseguiam, aquilo me incomodava. Eram maliciosos e maldosos, e eu não entendia o motivo.

— Adrien Agreste, precisamos conversar. – Alya e Chloe apareceram do nada, agarrando cada um dos meus braços. Elas me arrastaram até o pátio da escola, para um canto que não estivesse lotado de gente.

Me prensaram na parede e eu as olhei assustado por estarem me tratando com tanta agressividade. Chloe cruzou os braços e estreitou os olhos na minha direção, o que não parecia ser típico dela, tratando-se de mim. Alya tirou de sua bolsa a revista e jogou no meu peito, com a expressão acusadora.

— Eu juro que tentei não acreditar nos boatos, mas agora não dá mais. Sei que você não é o tipo de pessoa que faz as coisas com a má intensão, mas acho que você deveria começar a refletir sobre suas atitudes.

— Alya, do que você está falando? – Perguntei confuso.

— Você é idiota, ou se faz? Não leu a entrevista da Lila? - Chloe bufou.

Abri a revista que já estava com a página da entrevista marcada.

 

 

Você é muito linda, Lila. Com toda essa beleza, gostaríamos de saber se você tem namorado.

Não tenho, mas bem que gostaria. Estou muito interessada em um garoto da escola, sabe?

Ele é bonito? Que tipo de pessoa ele é? ♥

Além de bonito, é muito gentil. Ele é modelo, e passamos muito tempo juntos. Algumas vezes na semana nós jantamos na minha casa depois do trabalho. Para ele, infelizmente, somos só amigos. Mas não quero desistir de lutar para conquista-lo.

É isso mesmo, Lila! Você não pode desistir do seu amor! Nós da editora estamos torcendo para que consiga conquista-lo. Até lá, você poderia nos dar uma dica de quem seja?

É um segredo que guardo só para mim (risos). Tenho medo de revelar diretamente meus sentimentos e acabar sendo rejeitada.

 

 

— Lila praticamente fez uma declaração pública. Todos nós sabemos de quem ela está falando. – Alya começou, ajeitando a armação dos óculos no nariz.

— Toda a escola sabe que você andou visitando o apartamento dela. O que era considerado um boato, acabou sendo confirmado pela própria Lila. Sinceramente, Adrien, no que você estava pensando? – Disse Chloe, transparecendo sua irritação.

— M-mas eu não fiz nada! Não rolou nada entre a gente. – Disse urgente.

— Não se trata de ter acontecido alguma coisa entre os dois. Trata-se do fato de você ser um sem noção que age sem pensar. Com o artigo de hoje, Marinette ficou tão chateada que acabou indo para casa antes do horário. – Alya falou num tom reprovador.

— Por que você escondeu essas coisas importantes da sua namorada, seu idiota?

Pisquei algumas vezes, assimilando o que diziam.

— E-eu...

— E se tivesse sido o contrário? E se Marinette visitasse outro garoto durante a noite e não te dissesse nada? Você ficaria numa boa com isso? – Chloe gesticulou as mãos, alterada. Estremeci só de pensar. Claro que detestaria vê-la com outro dessa forma!

— Marinette é nossa amiga, Adrien. Você pisou feio na bola por não ter percebido que havia algo errado. 

— Eu sabia, sim, que tinha algo errado. Juro que tentei entender o que estava acontecendo, mas Marinette não queria me contar. – Tentei justificar.

— Marinette não gosta de ser um peso na vida das pessoas. Ela prefere carregar o sofrimento, sozinha, mesmo que a gente queira que ela se apoie em nós. Sua fama de modelo só tem crescido, e ser namorada de um já é bem complicado. – Alya suavizou a expressão, enquanto falava.

— Ela pensa e age como uma garota, mas diferente das outras, ela não teve muito convívio social. Ela é cuidadosa com seus relacionamentos, e você criou um obstáculo para os dois. Nada faz uma garota se sentir mais insegura do que ver o namorado sendo legal com todo mundo. – Chloe completou, ainda com o cenho franzido.

— Eu sinto muito... – Abaixei a cabeça, finalmente entendendo a situação e sentindo a culpa me abater. Esfreguei os olhos, sentindo as lágrimas se acumularem. Não choraria; não agora. Marinette estava sofrendo em silêncio para que eu não me preocupasse. Eu era um imbecil por não ter reparado algo que estava tão claro quanto água.

— Não é com a gente que você tem que se desculpar. – Alya pôs a mão no meu ombro. – Você precisa ir falar com ela e concertar toda essa confusão.

— Também somos suas amigas, Adrien, por isso estamos te dando essa bronca.

Sorri levemente para Chloe, que também sorriu desfazendo a carranca aos poucos. Passei os dedos sobre o vão entre os olhos e respirei fundo. Depois mirei cada uma delas com o olhar reflexivo, dando graças aos céus por elas terem vindo falar comigo. Se não fosse por elas, eu continuaria sendo o idiota cego até o fim.

— Obrigado, as duas. Estou devendo muito a vocês. Agora eu tenho que ir.

Elas concordaram, abrindo espaço para que eu pudesse passar. Ajeitei a bolsa no ombro e me pus a correr pelos corredores até a saída da escola. Sem pensar em pegar um ônibus ou metrô, fiquei correndo na calçada, com os olhares curiosos das pessoas sobre mim. A pressa era tanta, que nem sequer me importei com as coisas à minha volta. O único pensamento que me rondava era o rosto de Marinette e a promessa que tinha feito.

Fracassei. Errei feio como namorado, não dando a atenção que ela merecia. Ela queria o meu bem sem ao menos se importar consigo mesma. Isso era algo típico dela. Fui um ignorante por não pensar nos sentimentos de Marinette e no porque de não ter contado a ela sobre meus jantares com a Lila. Não achei que fosse algo importante, ainda mais porque eu e Lila éramos só amigos.

Marinette, me perdoe! Quebrei minha promessa e te magoei sem perceber. Fui um tolo por omitir as coisas, achando que não fariam diferença na nossa relação. Sinto muito por tudo. Eu te amo, nunca tive a intensão de te fazer sofrer. Você é importante para mim, então, por favor, seja lá o que esteja pensando em fazer, não me deixe.

Eu te amo muito, Marinette.

Bugboo...

Corri, ignorando a falta de fôlego. Os pulmões se comprimiam necessitados de ar. Ao meu redor, o mundo girava e escurecia. Mas continuei a correr. Eu precisava de Marinette perto de mim. A pulseira colorida queimava meu braço numa ardência simbólica. Estava deixando que ela escapulisse de minhas mãos. Estava assustado. Tinha medo que nossa ligação arrebentasse.

Estava se partindo... O fio fragilizado... Faltava tão pouco...

Parei de correr, tropeçando nos próprios pés e caindo ajoelhado. A calça rasgou um pouco, arranhando meus joelhos no concreto. De frente à padaria Dupain-Cheng, fiquei com o corpo tremendo e ofegando, os olhos ardendo arregalados e desesperados. E diante de mim estavam as bolinhas coloridas espalhadas pelo chão junto ao fio arrebentado que as sustentavam.

Era o fim?


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Notas finais do capítulo

Gente, é sério, eu amo a Chloe. Ela é diva, a minha abelhinha preferida. Não consigo vê-la como uma vilã, e meu sonho de princesa é vê-la sendo amiga da Marinette. Alya, Chloe e Marinette seriam o maior trio de amigas da série.
Dr. Deaton é uma referência gritante ao veterinário de Teen Wolf, pq fiquei com preguiça de criar um personagem. Hehe
Esse final tem um significado, e vcs vão ter que interpretá-lo. O próximo capítulo, se eu conseguir fazer, vai ser narrado em terceira pessoa. Eu não sou muito boa nisso, então o risco de ele demorar muito pra sair vai ser grande. Tenham paciência, pois a pressa é ingimiga da perfeição (sou muito filósofa).
Muito obrigada por terem lido até aqui ♥
Kisses :*



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