Diga que me ama escrita por Lara Queen


Capítulo 1
Ela


Notas iniciais do capítulo

Essa fanfic é uma comemoração para a chegada da nova temporada de Miraculous que estréia no Brasil hoje, dia 3 de novembro. Será uma short fic, possivelmente de três capítulos, que talvez demore a ser atualizado. Os capítulos tendem a ser grandes, mas eu espero que não seja uma leitura cansativa. Eu deveria estar escrevendo a continuação da fanfic Além de mim, mas queria aproveitar a oportunidade para colocar essa ideia no papel logo de uma vez. Já tem bastante tempo que quero escrever algo do tipo. Ela é baseada em um dos plots do anime/mangá Sukitte ii na yo, também conhecido como Say “I love you”, que é um dos meus shoujos preferidos. Achei que combinava bastante com o casal Adrianette, que ultimamente tem ganhado bastante destaque na série (para quem viu os spoilers).
E de alguma forma, também queria que fosse um presente para os meus leitores que me trataram com tanto carinho enquanto eu escrevia as minhas fics. Em especial à leitora KazukoSama que me presenteou com uma fanfic, escrevendo sua própria versão do final da fic Além de mim. Fiquei tão feliz que eu precisava retribuir ♥
Espero que gostem e tenham uma boa leitura.



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Ela

Como pude deixar as coisas chegarem a aquele ponto? Como foi que me tornei uma pessoa tão horrível e egoísta? Tudo o que eu mais queria era a felicidade de Adrien e evitava privá-lo de sua liberdade. Não queria atrapalhá-lo e arruinar sua carreira de modelo que seguia muito bem. Ele estava se tornando alguém importante e de futuro promissor, e se eu intervisse em suas escolhas, só acabaria com a chance que talvez fosse única.

Mas eu não conseguia evitar aquele sentimento desprezível que se instalava em meu peito. Aos poucos aquilo se espalhava como uma mancha negra que me consumia. Tão amargo e... cruel.

Desde que o conheci, só tenho tido sensações inéditas as quais nunca esperei sentir. Cada dia eu me surpreendia ainda mais com as mudanças que ocorriam em meu ser. Adrien fazia com que eu me tornasse uma pessoa melhor e mais sociável, e foi graças a ele que consegui fazer vários amigos.

Por muito tempo eu fui uma pessoa fechada e solitária. Nunca tive amigos na escola ou em qualquer outro lugar. Um trauma do passado fez com que eu não gostasse de me aproximar das pessoas, porque eram sempre falsas e egoístas umas com as outras. Mas um dia, devido a um acidente, minha vida foi entrelaçada à de Adrien, como um laço predestinado a se juntar. Ele fora bastante insistente em querer se aproximar de mim, mesmo que eu tentasse o máximo evitá-lo. De alguma forma, aquele garoto conseguiu me cativar por sua perseverança e aura iluminada. Principalmente aquelas relvas verdes que ele carregava no olhar, convidando-me a afundar em seus orbes, deitar-me na grama e admirar o brilho radiante de seu sorriso. Por mais que eu tentasse resistir, ele era capaz de me hipnotizar somente com algumas palavras gentis, e eu me derretia toda em seus braços, totalmente entregue aos seus encantos.

Eu o amava e ele me amava. Um sentimento mútuo e intenso que me preenchia com tons de rosa. A paisagem ao nosso redor brilhava com pequenas estrelas que nos envolvia magicamente. Sentia-me num conto de fadas. Nossos beijos, mesmo o mais singelo toque de lábios, transmitiam tantos sentimentos que eram incapazes de serem citados. Sentimentos esses que faziam as borboletas baterem as asas em meu estômago e causarem arrepios em minha pele. Adrien entrou em minha vida sem fazer cerimônias, e me tornou uma de suas preciosidades. “Você é o meu tesouro”, ele dizia.

Amar era um sentimento muito forte e que me assustava. O amor em si era belo, mas tinha um poder muito grande sobre as pessoas. Ele tanto podia trazer a felicidade quanto a ruína de alguém. E eu tinha medo de ser devastada.

Dizem que o amor e o ódio sempre andam de mãos dadas. Assim como experimentei o amor, pela primeira vez também pude experimentar um sentimento obscuro e cinzento que se debatia dentro de mim. Era mais forte que a raiva. Estava assustada e sem entender o que aquilo podia significar.

Havia um obstáculo entre mim e Adrien. Alguém que se metera em nosso caminho, bagunçando um tanto de meus pensamentos e deixando-me confusa, trazendo aquele sentimento horrível à tona. Não sabia se essa pessoa era consciente do que estava acontecendo ou se não tinha a mínima intenção das coisas que fazia. Eu me sentia mal com sua presença impertinente, fazendo meu peito se apertar, me machucando internamente.

Lila Rossi era muito bonita e inteligente. Ela era a aluna nova que havia acabado de se matricular no Colégio Françoise Dupont, ou seja, minha escola. Logo conseguiu chamar a atenção de vários alunos com sua beleza. Todos a adoravam por ser famosa e a modelo teen mais querida de Paris. Ela parecia ser uma pessoa simpática e gentil com todos ao seu redor, sempre trazendo presentes e sorrisos para quem estivesse por perto. Então por que ela me incomodava tanto? Por que fazia com que eu me sentisse tão inferior ante sua presença?

Demorei muito para compreender o que acontecia comigo. Eu era a única pessoa da escola – e talvez do mundo – a ter um pensamento diferente em relação a ela sem ter um motivo. Eu era tratada normalmente como todos os outros, ela era educada e sorridente. Questionei-me várias razões para estar daquele jeito, mas não havia nada que pudesse justificar.

Foi então que eu entendi, quando a vi tão perto de Adrien. Foi como se algo me perfurasse, destroçando tudo o que havia dentro de mim. Vê-los juntos, conversando e rindo como amigos de longa data. Trincava os dentes e cerrava os punhos de tanta raiva.

Raiva? Eu estava com raiva de uma pessoa? Uma garota que não fez nada de mal contra mim? Adrien e Lila eram apenas amigos e nada mais. Ficava repetindo isso para mim mesma, forçando-me a acreditar em tais palavras. Só amigos. Porém meu cérebro arquitetava situações que não eram reais, coisas que só se passavam pela minha cabeça perturbada.

— Mari, está tudo bem? – Adrien chamou a minha atenção, apertando levemente a minha mão enquanto caminhávamos até minha casa. A aula tinha acabado mais cedo naquele dia, então ele tinha um tempo para me fazer companhia antes de voltar para o trabalho. Virei-me para ele um pouco corada pelo seu olhar curioso sobre mim.

— Sim – Dei uma resposta monossilábica. Não era de falar muito por conta da minha timidez. Nós estávamos juntos há tempos, então já era para eu estar acostumada com sua presença.

— Você está muito calada.

— Sempre fui assim – dei de ombros.

— Mas está mais que o normal – ele disse num tom brincalhão.

Esbocei um pequeno sorriso.

— Só estou... Pensando.

— Pensando em que? Espero que seja em mim, pois estou sempre pensando na minha Joaninha. – Ele envolveu meu pescoço com um braço enquanto que com o outro, sua mão alcançou minhas bochechas fazendo-me ficar com biquinho de peixe.

 Ele me chamava de joaninha desde o nosso terceiro encontro, quando apareci com um vestido vermelho de bolinhas pretas – porque era o único vestido decente que eu tinha. A partir desse dia eu me tornei uma pessoa mais vaidosa, querendo estar sempre bonita para ele. Ele disse que a cor vermelha era a que mais combinava comigo, desde então eu tenho a usado com muita frequência.

— Estou pensando nas matérias acumuladas que deixei de estudar por sua causa. – Murmurei após afrouxar seu aperto em meu rosto. Ele deu uma risada sonora ao ver o meus lábios formarem um bico infantil. – A culpa é toda sua.

— Sou como um gatinho carente por sua dona. – Ele esfregou sua bochecha no topo de minha cabeça, agindo como um animalzinho doméstico. – Preciso de toda atenção necessária.

— Eu já tenho uma gata para dividir atenção com você. – Debochei.

— Malvada. – ele riu sem se importar de verdade com o que eu disse.

Paramos de andar por alguns instantes e olhei ao redor para localizar onde estávamos. Avistei a porta da padaria de minha casa e depois voltei os olhos para o rosto do garoto loiro. Ele estava muito sorridente – como sempre –, e me perguntava de onde ele tirava tanta alegria. Nós éramos diferentes, opostos que acabaram se atraindo. O garoto mais popular do colégio que se interessou por uma garota fechada e depressiva. Típico clichê que nunca esperei que acontecesse comigo.

Passei levemente a pontas dos dedos pela sua mão, entrelaçando-as logo em seguida. Puxei-o para que me acompanhasse e abri a porta de casa. Não havia ninguém, então achei que minha mãe deveria ter saído para fazer alguma entrega de doces.

— Mamãe deve demorar um pouco para voltar...

— Quer que eu lhe faça companhia enquanto ela não chega?

Suspirei para disfarçar o meu nervosismo.

— Pode ser.

Eu estaria sozinha em casa com Adrien, só o pensamento já me deixava ansiosa. Sabia que ele não faria nada que eu não quisesse, pois desde o começo mostrou-se ser um cavalheiro que me respeitava.

Subimos as escadas e fomos até o meu quarto. Soltei sua mão e sentei-me na cadeira giratória, encolhendo os ombros e com a cabeça abaixada. Ele passou os olhos pelo quarto cor-de-rosa com um semblante impressionado. Geralmente, quando ele vinha para a minha casa, só ficávamos na sala. Era a primeira vez que eu o convidava para o meu quarto. Aproximou-se de uma prateleira cheia de fotos de quando eu era pequena, com um sorriso mínimo e tranquilo.

— Você era muito fofa. – Virou-se para mim. – E ainda é.

— Pare, você sabe que eu fico sem jeito quando diz essas coisas. – Coloquei as mãos na bochecha, o rosto vermelho pela timidez.

— Fica ainda mais fofa quando está envergonhada - Ele riu achando graça.

Andou na minha direção, abaixando-se para ficar na minha altura. Levou sua mão até o meu rosto, fazendo a região que tocava ficar muito quente. Meu coração começou a ficar fora de controle por ele estar perigosamente perto demais. Fiquei parada no mesmo lugar, tensa do que iria acontecer.  Ele uniu os nossos lábios e novamente perdi o meu chão. Tudo ao nosso redor deixava de existir sempre que isso acontecia. Sem que eu percebesse, envolvi automaticamente seu corpo, querendo que ele ficasse mais próximo de mim.

O cheiro de Adrien era bom. Lembrava-me a calmaria dos campos e o frescor dos ventos que traziam o aroma das flores. Seus olhos refletiam a natureza, e seu cabelo era como os raios de sol que iluminavam o meu dia, junto ao seu sorriso encantador e brilhante. Ele era o meu paraíso particular o qual só eu poderia usufruir. Ele era o que eu mais desejava.

Sentia o nosso beijo se aprofundar e suas mãos passarem pela lateral de minha cintura, seguindo até minhas costas. Puxou-me para que eu me levantasse e fui arrastada até a cama, sem que nos desgrudássemos. Não tinha mais consciência do que estava fazendo, pois eu não era de agir daquela forma. Não estava me importando com nada do que acontecia. Só queria estar com ele e aproveitar cada segundo de seus toques em minha pele. Ele ficou por cima de mim, interrompendo nosso beijo. Eu continuava de olhos fechados, extasiada com os arrepios que me percorriam e da quentura que sentia em minha boca. Abri calmamente as pálpebras e encontrei os olhos brilhando num verde vivo. Seu rosto estava corado pelo calor do momento e sua respiração acelerada soprava em meu rosto.

— Minha joaninha... Se continuarmos, não conseguirei mais parar. – Disse ofegante.

Eu não queria que ele parasse. Eu queria tocá-lo mais. Meu corpo queimava de dentro para fora, desejando senti-lo em cada pedaço de minha pele.

Aquilo era tão novo para mim. Aos poucos eu tentava avançar uma nova etapa de meu relacionamento na intenção de fazê-lo feliz. Ele era tão carinhoso e gentil comigo, que eu queria retribuí-lo da maneira que ele merecia.

— Vamos parar por aqui, está bem? – ele se levantou, sentando-se ao meu lado.

Assenti sem conseguir dizer uma palavra, com vergonha de mim mesma por ter sido tão descuidada. Foi por pouco.

Ele se aconchegou na cama, puxando-me para que eu me sentasse entre suas pernas e apoiasse as costas em seu peitoral. Esticou-se para pegar sua mochila e tirou um envelope branco de dentro, pondo-o na minha frente.

— Essas são as fotos que eu tirei para a edição dessa semana. Quero saber o que acha delas.

Retirou as fotos do envelope e espalhou-as no colchão. Peguei uma que ele estava usando roupas sociais e óculos de grau.

— Nessa você está parecendo um professor de universidade. Está... muito bonito.

— Sério? Acha isso mesmo? – Perguntou animado.

— Sim – ri de sua reação.

— E esta aqui? O que acha?

Mostrou-me uma que os seus cabelos estavam bagunçados, usava uma calça jeans escura e blusa preta, um par de botas e casaco preto de couro.

— Está parecendo um Badboy. – Ri colocando a mão na frente da boca. – Ficou adorável.

— Não era para ser adorável. Deveria ser sinistro já que estou com cara de mal. Mas já que você diz... – deu de ombros, com um sorriso travesso.

Em cima da cama, encontrei uma foto que chamou minha atenção. Encarei a figura de rosto sério. Os fios loiros estavam puxados para trás, usava um blazer escuro e uma camisa social parecida com a anterior. As íris estavam mais escuras, deixando-o um tanto intimidador. Ele não olhava para a câmera, mas sim para um ponto fixo distante. Adrien estava muito diferente do que normalmente era – cabelos bagunçados, roupas casuais e tênis gastos pelo excesso de uso. Aquilo me deixou fascinada por finalmente conhecer uma face dele que ainda não havia sido mostrada.

— Nessa você está... – hesitei um pouco para falar – parecendo com o seu pai.

— Meu pai? – surpreendeu-se.

— Seu pai costuma usar o cabelo para trás. Sempre aparece sério nas fotos das revistas. E você se parece um pouco com ele.

— Ah... – Ele não parecia estar muito feliz com a comparação. – Mas está bom para você?

Encolhi os ombros e olhei novamente para a foto.

— Você está sempre lindo, Adrien. Por que quer tanto saber o que eu acho, já que há tantas pessoas que vivem dizendo isso para você?

— Gosto de ouvir você dizendo isso. Infla o meu ego de uma maneira que você nem imagina. – Encostou a cabeça em meu ombro, passando o nariz pelo meu pescoço e fazendo cosquinhas.

— Gatinho exibido... – sorri com uma das sobrancelhas levantadas.

Adrien não se dava muito bem com o pai. Gabriel Agreste era um dos maiores estilistas franceses, sendo conhecido mundialmente pelas suas roupas de grife caríssimas. Ele era uma das minhas maiores inspirações para me tornar uma grande estilista assim como o próprio. Quando descobri que Adrien era filho dele, fiquei tão surpresa que mal consegui dirigir uma palavra para o garoto de tão chocada que fiquei. Demorou um pouco para eu me acostumar com a descoberta. Ainda não tinha sido devidamente apresentada ao meu sogro (era tão estranho chamá-lo desse jeito), pois o mesmo era muito ocupado com o seu trabalho. Adrien era ressentido com a ausência do pai, e por vezes eu ouvia seus desabafos já que não havia mais ninguém para lhe dar atenção. Ele não gostava de mostrar sua fraqueza para os outros, então eu era a única que o conhecia de verdade, ouvindo-o atentamente e dizendo-lhe que estava tudo bem. Ele encostava sua cabeça em meu colo e sorria serenamente, enquanto eu acariciava sua cabeça para dar-lhe conforto. Sua mãe morreu quando era mais novo, e ele sofria muito com isso. Eu o entendia perfeitamente, pois sabia como era perder alguém importante. Meu pai havia morrido há muito tempo, quando eu tinha nove anos. Eu e Adrien compartilhávamos do mesmo tipo de dor, e juntos nós completávamos os espaços vazios que havia dentro de nós.

 Meus pensamentos se dissiparam assim que meus olhos esbarraram em uma foto escondida por baixo de outra foto. Estiquei a mão para pegá-la e vê-la inteiramente. Meu coração deu um salto, o sentimento ruim estava voltando. Minhas mãos tremiam enquanto segurava a figura.

Lila o abraçava por trás, encostando a cabeça nas suas costas enquanto sorria docemente. Adrien também sorria, com a cabeça virada para o lado tentando olhar para a garota que o envolvia, como se estivesse perdidamente apaixonado por ela. A foto amassou um pouco devido a força que eu usava.

— Marinette...

— Está tudo bem. É o seu trabalho, não é? A foto ficou muito boa. – Eu disse sem olhar para ele, a franja caindo sobre os olhos, escondendo a tristeza que sentia.

Tristeza, raiva, inferioridade... Era uma mistura de emoções que eu tentava não demonstrar. Na foto, eles pareciam um casal apaixonado. Eu estava com raiva e insegurança. Afinal, ela era linda e a beleza dos dois era compatível... E eu me sentia rebaixada de nível comparada a ela.

Não queria que Adrien se preocupasse comigo. Eu não podia ser um estorvo para ele, uma causadora de problemas irritante. Conhecendo-o bem, se eu dissesse o que estava sentindo, ele acabaria desistindo de ser modelo por minha causa, apenas para me ver bem. E eu infelizmente admitia para mim mesma que não queria que ele continuasse sendo. Eu estava sendo muito egoísta? Com toda a certeza sim. Uma mimada, cabeça-dura e idiota. Por fim eu preferia manter meus pensamentos em segredo para não atrapalhar a vida do único garoto que amava.

— Se isso estiver te incomodando, eu posso parar. Nunca gostei muito de ser modelo, mesmo que eu fosse o garoto propaganda da empresa do meu pai. Aliás, queria procurar outra coisa interessante para fazer, além de ficar posando para fotos. – Segurou meus ombros tensos, falando com a voz preocupada.

Eu tinha razão, não deveria dizer nada para ele.

— Seu bobo, não precisa. Já disse que está tudo bem.

— Lila é só minha colega de trabalho. Não quero que se preocupe.

— Não estou preocupada. – Eu era uma péssima mentirosa. – Por favor, não desista do seu trabalho por minha causa. O que seu pai pensaria de mim?

— Tem certeza? – Abraçou-me com mais firmeza.

— Sim...

Não!

— Então, está bem.

Ele se encostou à cabeceira da cama e eu apoiei a cabeça em seu ombro. Continuamos a ver suas fotos, mas sem a mesma empolgação de antes. Sentia seus dedos puxarem os fios de meu cabelo, alcançando o topo de minha cabeça. Aquilo estava me deixando sonolenta. Sentia seu peito subir e descer atrás de mim e sua respiração bater em meu pescoço. Aos poucos eu fechava os olhos, sendo levada pelo sono. Não sabia de onde vinha aquele cansaço, mas não resistia contra ele.

— Está com sono, bugboo? – Outro apelido bobo que ele me dera.

— Humm... – murmurei grogue.

— Durma bem. – Sussurrou com sua voz de veludo.

Foi a última coisa que ouvi.

 

 

***

 

 

Quando acordei, era de noite. O colchão estava vazio e frio pelo tempo que Adrien havia partido. Tikki, minha gatinha, pulou na cama para lamber o meu rosto, pedindo por comida. Atendi ao seu pedido silencioso e dei-lhe sua ração.

Mamãe já tinha chegado em casa, dizendo que saíra para fazer compras. Enquanto ela descansava, pus-me a fazer o jantar. Depois nos sentamos à mesa e ela me contou um pouco do seu dia. Vez ou outra eu fazia alguns comentários e ria um pouco de algo engraçado do que ela falava. Também contei algumas coisas que aconteceram comigo, evitando falar sobre a vinda de Adrien. Ela sabia que eu namorava, mas tinha vergonha de falar sobre meu relacionamento.

Terminamos de comer, ofereci-me para lavar a louça e depois voltei para o meu quarto. Entrei na suíte, escovei os dentes e chequei as notificações de mensagens no celular, ainda com a escova na boca.

O chat do grupo da escola estava cheio de mensagens. Haviam juntado todas as turmas do segundo ano, por isso tinha tanta gente ali. Fui passando rapidamente o dedo na tela de baixo para cima, com preguiça de ler tudo, até que os nomes de Adrien e Lila foram mencionados na conversa, chamando a minha atenção.

“Vcs viram as novas fotos da Lila que saíram na revista?”

“Ela está muito linda, como sempre.”

“Adrien tbm apareceu nessa edição. Os dois ficam fofos juntos.”

“Ele ñ estava namorando aquela garota?”

“A Marinette? Acho que eles ainda estão juntos. Coitada, nem imagino como é ver o namorado posando em uma revista com outra garota.”

“Ei, cuidado com o que dizem. Ela está no grupo da turma.”

“Vish, então vamos criar outro grupo pra conversar.”

Não dava para crer na tamanha cara de pau dessas pessoas. Elas conversavam tão abertamente sem pensar na possibilidade de eu estar ali, lendo cada palavra. Embora eu estivesse junto de Adrien, eu ainda não tinha reconhecimento. Ninguém acreditava que nosso relacionamento pudesse durar tanto. “O que ele viu nessa garota? Ela é tão estranha”; “Deve ser só uma fase, não irá durar muito tempo”; “Ela deve estar chantageando ele, isso sim”.

Era impossível evitar a dor que me atingia. Aquelas frases me machucavam muito. Era por isso que eu não gostava de conviver com outras pessoas. Antes eu não me importava com o que diziam de mim, mas de uns tempos para cá a barreira que eu havia erguido para o meu coração estava desmoronando. Adrien derrubava cada pedra de minha muralha como uma bola de demolição. Agora eu estava fragilizada e sem saber como lidar com a situação.

Bloqueei a tela e cuspi a pasta de dente na pia, terminando de lavar a boca. Deitei-me na cama e coloquei o aparelho em cima da mesa de cabeceira. Por ter dormido durante a parte da tarde, estava sem sono. Fiquei me revirando de um lado para o outro procurando por uma posição confortável. Tikki repousava ao pé de minha cama, dormindo profundamente. Era a minha gatinha branca, felpuda e gulosa que foi minha única amiga por muito tempo. Eu tinha um carinho muito grande por ela, e diferente dos outros gatos, ela parecia demonstrar ter sentimentos.

Meu celular vibrou, fazendo um barulho irritante na mesa. Era uma mensagem no grupo que Alya, minha amiga, havia criado para as garotas da nossa turma. Lá estavam Alya, Juleika, Mylene, Rose, Alix, Sabrina e – por mais incrível que poderia ser – Chloe. Aliás, ela não era uma pessoa tão ruim quanto parecia. Tínhamos as nossas diferenças, mas aprendemos a lidar uma com a outra com o tempo. Já teve uma época que ela não gostava de mim, pois ela gostava do Adrien e me considerava uma ameaça, mas com uma boa conversa e acerto de contas, conseguimos nos tornar amigas. Por baixo de sua arrogância e ego extremamente grande, ela até que sabia ser legal quando queria. Ela ainda implicava comigo, mas era tolerável de aguentar.

Alya: Mari, eu li as mensagens no grupo da turma e queria saber como vc tá. Ñ ligue para aquele bando de idiotas.

Chloe: Idiota é pouco para descrever aqueles energúmenos irritantes. São mt sem noção. Garanto q sou mais bonita q aquela Lila. Eu é quem deveria ter sido chamada para posar na revista! Ñ aquela sonsa!

Alix: Chloe, o assunto aki é a Mari e ñ vc, sacou?

Chloe: Só tô expressando minha indignação! AQUELES ABUTRES MALDITOS!!

Ela expressava abertamente o fato de não gostar da Lila. Eu considerava sua justificativa bem verídica. Apenas por Lila roubar toda a atenção para ela, tirava Chloe do sério.

Alya: Ñ sei se ela leu as mensagens de lá... Tô mt preocupada.

Rose: Eu tbm tô, tadinha. Ela ñ merece isso...

Era só nessas horas que eu agradecia por ter me tornado uma pessoa sociável. Minhas amigas eram incríveis e não sabia o que seria de mim se não as tivesse conhecido.

Eu: Hey gnt... Eu tô bem, ñ se preocupem.

Alya: Ai q bom!! Nós estávamos preocupadas com vc.

Chloe: Preocupada, eu ñ fiquei... Coloca uma vírgula nesse “nós” aí.

Alix: Chloe admita que vc tbm se importa com a Mari. Pelo amor de Cristo, vc é mt cabeça-dura!

Ri sozinha, digitando minha mensagem.

Eu: Calma Alix kkkkk... Essa é a maneira de Chloe expressar sua preocupação.

Chloe: Ai q bom q vc me conhece, né, Mari?

Eu: Já estou acostumada. E Alya, meninas, obrigada por se preocuparem comigo. Eu estou bem, juro.

Rose: Ñ deixe que essas pessoas te subestimem, Mari. Vc é incrível do seu jeito.

Alya: Concordo. Adrien te merece muito e vice versa.

Chloe: Ñ acredito q vou dizer isso, mas... Elas têm razão. Mari, ñ ligue para a opinião dos outros. Eu sei q muita gnt fala mal de mim pelas costas e msm assim eu estou seguindo bem com a minha vida. Deveria fazer o mesmo, por mais q isso te machuque um pouco. Com o tempo vc se acostuma e ñ se deixa mais abalar.

Alya: Nunca pensei q viveria para ver vc dizendo essas coisas, Chloe!! Tô surpresa!! (palmas)

Chloe: Às vezes eu sei ser legal u.u

Eu: Nossa... Mt obrigada mesmo, Chloe ♥

As palavras de Chloe me afetaram positivamente. Senti-me determinada a seguir o seu concelho. Ela tinha muito mais experiência em lidar com as pessoas do que eu. Afinal, ela era a garota mais metida e popular da escola, e a filha do atual prefeito de Paris. Pessoas falando dela era algo de seu cotidiano.

Alya, no entanto, se preocupava bastante comigo e eu era muito apegada a ela. Ela foi a primeira melhor amiga que fiz na escola, depois de tantos anos de solidão. Eu era definitivamente grata por tê-la em minha vida, assim como todas as outras do grupo. Juleika, Sabrina e Mylene não falavam tanto, mas mesmo assim eu adorava ter a companhia delas. Todas tinham uma importância única para mim.

Chloe: Agora q fiz a minha parte, vou dormir. Adeus.

Alix: :P

Alya: Eu tbm vou dormir. Até mais, meninas. E fique bem, Mari :3

Eu: Até...

Coloquei o celular de volta na mesa e virei-me na cama, de frente para o teto. Dei um suspiro, esboçando um pequeno sorriso nos lábios. Conversar com elas me fez muito bem. Fechei os olhos e esperei que o sono retornasse.

 

 

***

 

 

Os dias se passaram. Adrien não pôde mais me acompanhar até em casa por causa de suas sessões de fotos que pareciam nunca terminar. Vez ou outra eu aparecia para ver como ele estava indo no trabalho, mas sem querer incomodá-lo. Era claro que ele ficava feliz só por me ver e tentava me dar o máximo de atenção quando podia. Lila também estava lá, sempre com um sorriso que não saia de sua boca.

Alya, Nino, Chloe e eu tínhamos sido convidados para ver tudo o que acontecia nos bastidores, por convite da própria Lila. Ela só estava tentando ser gentil conosco, pelo que eu podia ver. Chloe revirava os olhos e cruzava os braços, soltando alguns comentários maldosos do meu lado. “Nem sei o que estou fazendo aqui. Eu mesma poderia marcar uma sessão de fotos só para mim. Só que a minha seria melhor, é claro.” Eu e Alya apenas ríamos. Nino estava distraído na mesa de petiscos que tinha ali, tentando não ser notado enquanto pegava os docinhos escondido.

Adrien surgiu do camarim usando uma calça jeans, colete de lã cinza com uma gravata e óculos, num visual bem sério. Mas os cabelos ainda estavam levemente bagunçados, dando um charme no seu look. Ele seguiu na nossa direção, sorrindo por nos ver.

— Nossa, Adrien! Tá gato, hein – Alya comentou, levantando as sobrancelhas. Ele riu.

— Valeu, Aly. A edição dessa semana é sobre opostos que se atraem. Eu representarei o garoto sério e bem arrumadinho.

— Você combina com qualquer estilo. Chega a irritar... – Chloe debochou.

— É porque eu sou muito perfeito. – Exibiu-se, meu namorado. Depois ele olhou para mim com as bochechas rubras. – E você, Mari? O que acha?

— A opinião dela sempre tem que contar mais que a nossa, não é? – Disse Alya, me empurrando um pouco para frente.

— Ah... Bem... Você está demais, Adrien. – Mexi os dedos das mãos nervosamente.

— Obrigado. – Ele bagunçou os fios da nuca, rindo um pouco.

 Chloe e Alya reviraram os olhos. Nino apareceu com as mãos lotadas de doces, oferecendo alguns para nós.

— Oi, gente. Que bom ver vocês. Obrigada por aceitarem meu convite. – Lila disse, andando até nós.

— Nós é que agradecemos por ter nos convidado. – Disse Nino. Alya concordou e Chloe bufou, olhando para o lado de cara amarrada. Quanto a mim, demonstrei indiferença. – Espero que não se importe por eu ter roubados alguns docinhos.

— Pode ficar a vontade. É tudo cortesia. – Ela riu. Virou-se para Adrien, segurando o seu braço. – Nosso ensaio fotográfico começa em cinco minutos. Você está pronto?

— Claro que estou. E você?

— Eu só preciso fazer uns ajustes no vestido, mas logo estarei pronta. – Ela piscou. Foi então que ela notou minha presença ao lado dele. – Oi, Mari! Espero que você não se importe por eu estar pegando seu namorado emprestado. Prometo que cuidarei bem dele durante o trabalho, tá? Logo o devolverei para você.

Abaixei a cabeça, sentindo-me nada confortável com aquela frase.

Contanto que você o devolva...

— Está bem – sorri. – Tenham um bom trabalho.

— Obrigada. Vamos, Adrien. – Ela saiu, o puxando para o outro lado.

— Espera, eu já vou! Mari, eu... – Ele não pôde completar a frase, já estando distante de nós quatro.

— Mas que garota irritante. – Disse Chloe, batendo o pé.

— Você que é muito recalcada.

A loira bufou, tentada a ignorar o que Alya disse.

Fiquei vendo os dois se afastarem, encaminhando-se para o cenário branco. Lila usava um vestido rosa com vários babadinhos e uma jaqueta jeans cheia de detalhes coloridos. O cabelo estava preso com duas chiquinhas, dando-lhe um ar fofo e bem infantil. Adrien já cumpria a sua parte, fazendo poses com o olhar sério.

A cada flash que saía, eu me sentia cada vez pior. A cada pose entre os dois, o sentimento ruim só lutava para sair, prendendo-se em minha garganta como um nó. Adrien esboçava alguns sorrisos que faziam meu coração palpitar rapidamente. Eu queria ser a única no universo a contemplar aquela beleza tão única. Ele seria somente meu.

Não que eu gostasse de admitir, mas Lila também estava linda. Seus sorrisos eram mais abertos, fazendo o seu papel de menina stalker apaixonada pelo garoto mais inteligente e lindo da escola.

E a cada foto, mais ousadas as poses ficavam. E então, nas telas dos computadores, veio a foto que me deixou em pedaços. Meu coração que batia acelerado simplesmente parou de bombear o sangue. Fiquei congelada. Adrien e Lila encaravam um ao outro, ele com uma mão em sua cintura e a outra no rosto dela, enquanto a mesma envolvia seu pescoço, insinuando um beijo provocante.

— Esses dois têm uma química incrível. – Ouvi alguém dizer.

O sentimento escapuliu como um breve soluço. Algo quente escorria sobre minha bochecha, e fiquei horrorizada ao pôr as mãos no rosto e perceber que eram as minhas lágrimas.

— Caramba, as fotos ficaram ótimas. – Nino comentou.

— Adrien realmente tem talento para essas coisas. – Alya ficou maravilhada com as imagens que apareciam na tela, intercalando seu olhar com a presença dos dois no palco. – E pra você, Mari...

Escondi meus olhos, enxugando rapidamente o rosto com os pulsos.

— Ei, você está bem? – Ela perguntou, chegando perto de mim. Dei dois passos para trás.

— Eu só preciso tomar um ar. – Disse, me afastando e indo até a saída.

Do lado de fora, liberei tudo o que eu tinha para chorar.

Continuei andando, sem nenhuma intensão de voltar para lá. Nem sequer olhei para trás. Corri para a estação de metrô, com medo de alguém ter me seguido e poder me alcançar. Não queria que alguém me parasse e me enchesse de perguntas que nem saberia como responder. O lugar estava lotado de pessoas que voltavam do trabalho e que seguiam para casa.

— Marinette! – Ouvi a voz de Alya me chamando.

Olhei para trás e ela estava sozinha. Apavorada, camuflei-me na multidão, passando pela porta do metrô que estava prestes a sair. As portas se fecharam e avistei Alya através do vidro que dava para o lado de fora. Ela mostrava um semblante infeliz, olhando para mim e gesticulando com a boca, sem que eu pudesse entender o que dizia. Então eu acenei para ela, triste por estar indo embora sem dar uma explicação para a minha amiga.

O metrô foi se afastando e ela continuou parada, seguindo-me com os olhos. Virei-me para o lado, não querendo mais encará-la.

Desculpe, Alya. Não queria te preocupar com meus problemas bobos. Preciso ficar sozinha e pensar.

Suspirei, sentando-me em um lugar vago e chorando discretamente enquanto ia para casa.

 

 

***

 

 

Tikki esfregou-se em minhas pernas, miando e pedindo para que eu lhe desse atenção. Coloquei-a em meus braços e comecei a fazer carinho na sua cabeça e ouvindo-a ronronar. Distraía-me com sua fofura, esquecendo-me do tanto de coisas que tinha para fazer. Além do dever de casa de história que tinha para terminar, logo teria que fazer alguns ajustes no novo modelo de vestido que havia preparado para uma cliente, que tinha um evento importante para ir na próxima semana.

Eu me sentia sob pressão, minha cabeça estava prestes a explodir. Não estava conseguindo me concentrar em nada, pois só a lembrança daquela tarde me fazia devanear sem direção. Estava frustrada comigo mesma. Uma idiota que abandonava os amigos por causa de uma crise de choro sem sentido. Alya deveria estar tentando me ligar, mas acabei tirando as notificações do celular. Não queria conversar com ninguém no momento. Encostei-me à cadeira de frente para escrivaninha, olhando minha gatinha adormecer com as caricias. Depois olhei para os ponteiros do relógio de pulso. Meia-noite... Estava tarde e precisava ir dormir. Teria aula do dia seguinte e provavelmente chegaria à escola exausta.

Deixaria tudo para depois. Estava cansada e indisposta a terminar de fazer as minhas coisas. Coloquei Tikki na almofada perto da cama e depois me deitei, olhando para o teto. Assim que fechei os olhos, logo fui levada pelo sono.

 

 

***

 

 

Não esperei Adrien vir me acompanhar até a escola. Decidi por mim mesma ir sozinha, com vergonha de como olharia para ele depois de ir embora sem me despedir.

— Marinette! – Alya correu na minha direção. – O que deu em você ontem? Por que você fugiu daquele jeito?

— Alya... Me desculpe.

— Só me explica, por favor. Adrien ficou decepcionado por você ter sumido.

— Você disse alguma coisa para ele? – Perguntei com o coração batendo forte.

— Como eu te conheço bem, sei que você não quer preocupá-lo. Disse que você foi para casa porque não estava se sentindo bem. Mas ainda me deve explicações, mocinha. Por que estava chorando ontem?

Antes que eu pudesse responde-la, Adrien surgiu na minha frente com o rosto preocupado.

— Ei, Mari! Você já está melhor? – Colocou a testa na minha para medir a minha temperatura. – Alya me disse que ficou doente ontem. Eu te liguei, mas você na me atendeu.

— Eu estou melhor. Foi só uma vertigem, nada de mais. – Tranquilizei-o.

— Está se alimentando direito? Você deve estar com alguma anemia. – Continuou passando as mãos no meu rosto, procurando por um visível problema.

— Ou deve ser só um resfriado. – Disse Alya, se metendo entre nós dois. – Ela parece bem melhor, não acha?

— Sim, deve ser só um resfriado. – Falei nervosa.

— Ontem fez um pouco de frio, então deve ter sido algo passageiro. – ele disse aliviado. Beijou a minha testa, fazendo-me corar. – Fico feliz que esteja bem. Fiquei muito preocupado por você ter ido para casa passando mal.

— Mas eu estou bem. – Repeti, revirando os olhos e sorrindo.

— Ai ai, vocês dois... Vamos logo para a sala antes que o sinal toque. – Alya nos empurrou para que andássemos até a sala.

Quando nós três passamos pelo corredor, meu namorado foi barrando por um bando de alunos que pediam por seu autógrafo. Eu já estava acostumada com a sua fama de modelo, mas quanto mais o tempo passava, pior parecia ficar. Eu e a ruiva fomos empurradas para longe, deixando Adrien no meio daquela multidão. Minha bolsa foi derrubada durante a confusão, deixando-me incrédula pela falta de educação daquelas pessoas.

— Mas que alvoroço todo é esse? – Alix apareceu ao lado de Chloe e Sabrina.

— Mas que patético... Estamos tentando passar, seus bandos de inúteis! – Chloe gritou, mas ninguém lhe deu bola.

— Soube que hackearam os computadores do estúdio da Rouge e vazaram as fotos que Adrien e Lila tiraram ontem. – disse Sabrina, segurando seus livros contra o corpo.

— Adrien está ficando ainda mais famoso. – Alix comentou.

— Pois é... – Peguei minhas coisas no chão e suspirei cabisbaixa.

Agora, já afastadas da confusão, Alya pôs a mão no meu ombro, fazendo-me encará-la.

— Marinette, agora me fala: por que você fugiu? Eu ainda não esqueci o que fez comigo ontem. – Ela cruzou os braços e me olhou de forma acusadora. Todas viraram-se para mim.

— Não foi nada. Só estava sentindo doente e precisava ir correndo para casa.

— Você já deu desculpas melhores que essa. Eu vi você chorar, e quero entender o porquê.

A insistência dela já me tirava do sério.

— Eu já disse que não foi nada, Alya. – Falei mais alto do que gostaria, perdendo o controle de minha voz.

Levei um susto quando Chloe pôs a mão da gola da minha blusa, empurrando-me para trás.

— Se nada está te incomodando, então pare de fazer essa cara! Isso já está um pé no saco!

Por favor, Chloe, não me obrigue a falar.

Meus olhos marejaram e meu corpo começou a tremer. Eu não queria que elas me vissem daquele jeito.

— Chloe! – Alya, Alix e Sabrina berraram.

— Eu só estou falando a verdade. Eu sei que durante esses últimos dias ela tem tentado esconder de nós o que estava realmente sentindo. Marinette ainda não percebeu, mas está morrendo de ciúmes de Lila e de todo mundo que fica cercando o Adrien. Eu conheço isso de longe, por que já estive no lugar dela.

Escancarei a boca, sem acreditar no que estava ouvindo.

— Ciúmes? Eu? – sussurrei, vendo tudo embaçado.

— Sim. Ciúmes. Você. Não creio que você não sabe o que é sentir ciúmes de alguém!

As meninas ficaram chocadas, olhando de mim para a loira a todo o momento.

— Você também não precisa falar desse jeito com a garota, né! – Alya colocou-se entre nós, empurrando Chloe para trás.

— Ela precisa ouvir! Se não quer ficar nos preocupando, então não deveria demonstrar o que está sentindo! – ela avançou dois passos na minha direção.

— Chloe, pare! Vai piorar as coisas! – Alix segurou os braços dela.

— Suas amigas estão preocupadas com você e não sabem o que fazer! Sua idiota, não pode ficar chorando sozinha pelos cantos.

Chloe era grossa, mas só queria me ajudar. Aquela era a sua maneira de agir, mesmo que machucasse meu coração. Ela também não gostava de demonstrar fraqueza e por vezes fingia não se importar com as pessoas. Fazia-se de durona, mas tinha um coração muito mole. Ela era como uma abelha bem docinha, mas quando incomodada, dava ferroadas dolorosas. E o ferrão dela estava encravado no meu peito, espalhando o veneno que me acordava para a realidade. Alya me abraçou, enquanto eu estava imóvel e chorando como uma criancinha. Passou as mãos no meu cabelo, sussurrando que agora estava tudo bem. As outras duas ruivas arrastaram Chloe para longe para que a mesma pudesse se acalmar.

O sinal para a aula havia tocado e todos os alunos iam para a sala. Alya segurou minha mão e me levou para o caminho oposto. Eu a segui sem pestanejar, vendo que ela me levava até o banheiro feminino. Lavei o rosto para tirar o inchaço dos olhos e limpei com as mangas do casaco preto.

— Chloe tem razão até certo ponto. Não deveria chorar sozinha, sabe? Se algo te incomoda, o melhor a se fazer é revelar isso para alguém. Não dá para se fazer de forte o tempo todo.

Continuei muda, sem saber exatamente o que dizer para ela.

— Sentir ciúmes é uma coisa muito normal. Não há motivos para se preocupar com isso. Se você está se sentindo insegura, então é melhor lutar pelo o que ama. Você gosta do Adrien, não é? – Segurou os meus ombros. Olhei para ela, mordendo os lábios com força.

— Gosto muito dele.

— Se você o ama... Precisa mostrar com suas palavras e ações. Sem rodeios. Seja clara e direta. Verá que os resultados poderão ser melhores do que imagina. – ela sorriu gentilmente.

As palavras de Alya me fizeram pensar em todas as coisas que havia feito até então achando que era o melhor para todos. Esconder o que eu sentia também fazia os meus amigos sofrerem. Eles só queriam o meu bem, independente do que eu estivesse passando. Então eu contei tudo para Alya até o ultimo resquício do que havia no meu coração. Perdemos quase metade das aulas, sentadas no chão do banheiro, conversando e desabafando. Aquilo me fez muito bem.

Na hora do intervalo entre as aulas, Alya tinha ido para sala assistir as ultimas aulas do dia. Eu continuei sozinha no banheiro, refletindo sobre os recentes acontecimentos. Fiquei isolada dentro de uma das cabines, até que ouvi a porta do banheiro se abrir e um bando de meninas entrarem conversando.

— Vocês estão sabendo da novidade?

— Que novidade? Conte tudo!

— Fiquei sabendo por fontes confiáveis que Adrien Agreste foi visto saindo da casa de Lila Rossi ontem à noite.

As garotas exclamaram surpresas. Arregalei os olhos, ouvindo cada detalhe da conversa.

— Será que ele e aquela menina estranha terminaram mesmo?

— Acho que ele finalmente abriu os olhos e decidiu procurar alguém melhor.

Não podia ser verdade. Adrien não me disse nada sobre ter ido à casa de Lila.

Ele nunca esconderia de mim algo tão importante, não é mesmo?

Meu corpo soltou um espasmo, fazendo meus músculos doerem. Aliás, tudo em mim doía como se uma grande pedra esmagasse os meus membros. Coloquei a mão na boca, abafando o som de meu choro.

 

 

 

“Se você o ama... Precisa mostrar com suas palavras e ações.”

 

 

 

 

Adrien... Você seria o tipo de pessoa que iria à casa de outra garota mesmo tendo uma namorada?

Eu o amo muito. Sempre dizia isso em meus pensamentos.

O risco de dizer pessoalmente essas três simples palavras gerariam a minha total perda de controle. Eu não seria mais dona de mim mesma, e meu coração lhe pertenceria para sempre. Eu estava condenada e perdida no meio daquela mistura louca de emoções e sensações que me preenchiam.

Eu o amo. Queria que soubesse disso.

 

 

 

 

Ele estava parado a uns metros de distância de mim, distraído com o celular em suas mãos. Caminhei a passos largos, indo na sua direção com pensamentos já decididos.

Desde o princípio, ele sempre dava as iniciativas para que o nosso relacionamento progredisse. Agora era a minha vez.

Ele desviou os orbes verdes do celular e olhou para mim abrindo um sorriso.

— Bugboo!

Antes que ele dissesse mais alguma coisa, segurei a gola de sua blusa e o puxei para perto de meu rosto. Sua face mostrava dúvida, até que eu me aproximei ainda mais dele.

Sem rodeios. Agindo de forma clara e direta. Levei seus lábios aos meus, querendo transmitir para ele todo o amor que eu sentia.

Eu te amo, Adrien. Amo muito. Você a melhor coisa que já surgiu em minha vida.

Eu queria tê-lo só para mim, pois também o considero meu tesouro, guardado em meu coração a sete chaves.

Podia ouvir o coração dele batendo. Ele mal respirava surpreso pela minha ação repentina. O beijo foi se intensificando e suas mãos foram parar nas minhas costas, envolvendo-me num abraço quente.

— Eu te amo. – Ele disse entre o beijo.

Se você me ama, por que foi se encontrar com a Lila sem me avisar?

Parei o beijo, abaixando a cabeça e permanecendo de olhos fechados, não querendo que ele visse o quão deplorável eu estava.

— Por que você... ? – perguntou encabulado.

Meu rosto estava borbulhando de vergonha. O que eu tinha feito? Qual era o meu problema?

— Desculpe. Eu não... ah... – gaguejei como uma idiota.

Sendo uma perfeita covarde, saí correndo na direção oposta, deixando o garoto atordoado e confuso.

Desculpe-me, Adrien. Eu não consigo agir normalmente quando estou com você. Meu coração fica batendo descompassadamente e minha mente fica em branco, sem que um único pensamento coerente passe por ela.

Como você consegue me deixar desse jeito?

Por que você fez com que eu te amasse tanto?

O que mais você tem a esconder de mim?


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Notas finais do capítulo

Chloe é uma das minhas personagens preferidas da série. Não queria colocar ela como uma vilã, pois isso já tá se tornando muito repetitivos nas histórias, mas também não queria tirar essa essência maldosa da personagem que me cativa. Achei que o papel dela teve muita importância para a Marinette, assim como também terá na vida de Adrien. Alya também tem sua importância na história para os dois protagonistas. Para quem leu o mangá, já deve saber, não é?
Acho que não tenho muita coisa para dizer, mas logo voltarei com o próximo capítulo. A segunda parte de Além de mim se chamará Além de nós, e postarei o primeiro capítulo no final de novembro ou início de dezembro. Ainda não tenho uma data definida.
Obrigada por terem lido até aqui e até a próxima :3
Kisses :*



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