Passei perfume e coloquei os fios do cabelo para trás das orelhas. Ajeitei a gravata borboleta e dei um sorrisinho para o meu reflexo. Saí do quarto todo contente.

Provavelmente a Bruna já estava dançando com o Yan. Eu que não ia ficar de vela, então seria melhor ir procurar pela Mica direto.

Ela também não tinha par, então por que não juntar o útil ao útil?

Assim que cheguei na escada, reconheci alguém que estava descendo devagar.

Ah, droga...

Desci pelo outro lado e passei por ele rapidamente.

— Bernardo.

Travei nos últimos degraus e demorei um segundo para me virar. — Gabriel — falei no meu típico tom sério.

Ele parou no primeiro degrau e colocou as mãos no bolso. — Ah... Legal o seu terno.

Você me parou pra falar isso? — Valeu.

Ficou uns segundos de silêncio, antes que eu resolvesse falar, ele abriu a boca.

— Me desculpa... Por tudo.

Um riso sarcástico saiu de mim. — Sério? Agora?

— Eu... eu sei. Acredite, eu me torturei por muito tempo depois daquilo... Eu não soube como agir quando te reconheci.

— Eu soube, foi só te ignorar.

Gabriel suspirou. — Você me reconheceu desde o começo?

— É lógico, você não mudou nada. No máximo tá menos bronzeado. — Eu que suspirei agora. — Eu tenho mais o que fazer. — Voltei a descer mais rápido.

— Espera, eu tô tentando explicar. — Me seguiu.

— Continua tentando.

— O que custa você parar uns minutos?

— Custa uns minutos. — Saímos para o jardim.

— Escutar o que eu tenho pra dizer não vai estragar seu baile.

— Com certeza vai. — Parei para olhá-lo. — Por que você não me manda umas mensagens? Eu vou ignorar igual você fez, mas talvez eu leia. Aí você pode ir falar com o Jonathan, o Marcelo e os outros, como sempre.

Saí antes que ele respondesse algo, e vi de longe a Bruna e o Yan saindo das quadras e vindo em minha direção.

Vem querer dar desculpa depois de todo esse tempo? Ah, vai pra por... Vai... Vai catar cocô de camelo.

— Uau, você tá lindo! — Bruna falou ao nos aproximar.

— Eu sei. Vocês também estão.

Yan sorriu, e olhou para trás de mim, para seu amigo.

Era melhor eu sair antes que ele chegasse.

— Vocês viram a Mica, por acaso?

— Mica? Por quê? — Bruna perguntou surpresa.

— Porque somos dois encalhados que decidiram ser encalhados juntos.

— Desde quando? Você nem me...

— Ontem combinamos e eu esqueci de falar. Vou procurar ela, depois nos falamos.

Saí antes que ela me segurasse.

***

— Mas se você estivesse de preto, poderíamos ser escolhidos como os reis do baile. — Monalisa resmungou.

— Você vai ficar falando disso até quando? Por que não aproveita o momento coo todo mundo? Não tô ouvindo ninguém reclamar da roupa do parceiro além de você.

— Eu queria ser a rainha do baile — respondeu, chateada.

— Mas por que a cor do meu blazer impediria isso?!

— Porque tudo conta na hora de escolherem o melhor casal!

— E você acha mesmo que com tanta gente famosinha do terceiro, iriam escolher a gente?

— Tá querendo dizer o quê?

— Que não somos o casal mais falado da escola, só isso.

— Nossa, como você é negativo. — Balançou a cabeça.

— Eu sou realista. — Puxei suas mãos para o meu pescoço. — Se acontecer, ótimo, se não... Não fica preocupada com isso. — A puxei pela cintura e ela segurou um sorriso. — Isso aqui é pra gente dançar, dar uns beijos e aproveitar.

— E você nem quer dar uns beijos, né?

— Talvez, um pouco.

Segurei seu rosto e a beijei. Pelo menos assim ela parava de resmungar.

***

Eu sentia o perfume dele, colado em seu peito. Estávamos abraçados, indo pra lá e pra cá ao som de “Away From The Sun”.

Estava sendo tudo tão bom... Tão diferente do baile do ano passado...

Nesse mesmo dia, um ano atrás, James, Júlio e eu viemos juntos. Dançamos, rimos... Mas no fundo eu queria ter dançado sozinha com o Júlio. Eu achei por um tempo que esse ano isso aconteceria. Mas eu sempre errei quando se tratava de nós dois.

Não que eu esteja reclamando do Mateus, estou só lembrando. Vendo como as coisas mudam.

É engraçado.

— Eu vou sentir falta de momentos assim. — Mateus disse.

Me afastei o suficiente para olhá-lo. — Eu também.

— Eu estava pensando... Vamos continuar nos falando, não é?

— Sim... Por quê? — Estranhei o assunto repentino.

— Não, nada. É que... eu fiquei imaginando se... Não, esquece. — Negou.

— Começou, agora termina. Vai, bota pra fora — falei com bom humor.

— Eu não quero que você pense que... eu já estou pensando em... ficar com outras meninas, mas eu fiquei pensando em como ficaria nossa relação. Nós... temos tantos assuntos em comum... eu não quero que você se sinta presa de alguma forma. Eu não sei se tô explicando direito... — Deu uma risadinha atrapalhada.

Acabei sorrindo. — Eu entendi. Você tem medo de que paremos de viver para ficar trocando mensagens? Que fiquemos nisso pra sempre e não darmos chance para outras pessoas?

— Sim, é isso. Mas também não quero dizer que quero deixar de falar com você — acrescentou rápido.

— Entendi... Eu também pensei nisso. E eu acho que... não devemos ficar presos um no outro... Até porque seria bem difícil conseguir nos ver. — Ele concordou. — Nós podemos... manter a amizade, mas se formos nos afastando... será algo normal.

— Sim... Eu já falei que adoro essa sua maturidade? — Ele sorriu.

Eu ri. — Já.

— Então falo de novo. Adoro sua maturidade.

— Seu bobo. — Segurei o seu rosto e o puxei para beijá-lo.

***

Erica desgrudou de mim quando a música acabou e sorriu.

— Adoro essa música!

— Me parece triste — comentei.

— É triste, mas é aquele triste que parece romântico.

— Ah, se você diz. — Dei risada.

Olhei ao redor, procurando por algum dos meus amigos. Júlio devia estar agarrado com a Mona, Lili dançando abraçada com o Mateus e a Bru com o Yan.

Eu queria que ficássemos um pouco juntos, igual ano passado. Aquele baile foi muito legal...

— O que foi?

— Nada, procurando alguém do pessoal.

— Eu só vi a Bruna saindo com o Yan.

Era impressão minha ou ela queria ver minha reação com essa informação especifica? — Por que essa cara?

— Que cara?

— Essa cara de “quero ver se ele vai ter alguma reação que eu não vou gostar” — falei, bem-humorado.

— Claro que não. — Fez um bico e desviou o olhar.

Mais essa agora. Depois de tanto tempo deu pra ter ciúmes da Bru.

— Acho que quero um refrigerante. Vamos lá pegar?

— Ah... pode ir. Vou ali ficar um pouco com as meninas.

Ela se afastou e eu suspirei. Fui para a quadra, peguei o refrigerante e decidi descansar os ouvidos da música alta, e saí para o jardim.

— James. — Vi Bernardo assim que saí. — Viu a Micaela aí dentro, por acaso?

— Não, não vi. Ela é seu par?

— Eu não diria par, mas é isso aí.

— Ué. — Ri.

— Acho que estamos mais tampando o buraco um pro outro. Vou procurar ela.

— Então tá...

Ele entrou, e de longe vi a Bru, Yan e Gabriel. Como eu não ficaria de vela, fui até lá.

***

— Que cara é essa? — Yan questionou ao Gabriel.

— Nada, nada. Seu casaco foi guardado. — Deu um sorrisinho.

Yan não pareceu acreditar. — Obrigado. — Os dois se olharam, como se conversassem mentalmente.

— O que tá rolando? — James apareceu. — Cansaram da música?

— Não, viemos procurar ele. — Indiquei Gabriel.

— Aproveitando... nos dá um minuto? — Yan me olhou.

Pelo jeito tinha algo errado. — Claro, vai lá.

Yan passou a mão rapidamente no meu cabelo e puxou o amigo para longe.

— O que aconteceu? — James me olhou.

— Não sei, mas ele está meio triste que o Yan e o Mateus vão embora.

— Poxa... deve ser complicado.

Dei uma espiada no copo dele e o peguei, dando um gole.

— Ei, folgada! — James riu.

— Foi só um golinho. — Devolvi.

— Um golinho? Tomou quase tudo!

— Tá, eu pego outro para você, seu guloso! — brinquei.

— Acho bom mesmo.

Voltamos as quadras e pegamos os refrigerantes, e Lili e Mateus apareceram.

— Ué, cadê o Yan? — Mateus me perguntou.

— Ele foi conversar com o Gabriel. Acho que ele não estava muito bem.

Mateus só precisou lançar um olhar rápido para Lili, e ela afirmou.

Então ele saiu atrás dos dois amigos.