Entramos novamente na quadra. Seguimos os três, que foram para a quadra das comidas. Pegamos refrigerante e uns petiscos.

— Bru, escuta! — Lili segurou meu braço. — A música que tá tocando.

Tentei prestar atenção.

— Eu não quero confessar, eu sei não quero me entregar tão fácil — cantarolou junto.

Caramba, fazia muito tempo que não ouvia essa.

— Mas você chega devagar com esse jeito de me olhar bem fundo. — Mateus cantou, fazendo graça para a Lili. — E a minha timidez vai embora, eu sei.

Ela riu. — Te quero pra miiim!

— Como você sabe a letra? — perguntei achando graça.

— Minha mãe ouvia direto. O negócio gruda e não sai mais.

— Não dá pra resistir ao teu amor, você me olha assim, baby eu voouu. Teus beijos só pra mim e teu sabooorr, não dá pra resistir, preciso ter o seu amooor! — Lili continuou o canto.

Nos meus olhos, nos meus sonhos, minha fantasia é ter você. E quando você está aqui, tudo o que eu quero é ter você, me entregar pra você, deixar meu coração me levar pra você...

Acabei olhando para o Yan naquela parte, mas felizmente ele não viu.

Ele terminou seu refrigerante e jogou o copo fora. — Vocês estão enrolando muito. — Pegou minha mão e me puxou para o corredor.

— Desculpa aê! — Mateus riu lá trás.

Andamos para o ginásio, que estava mais cheio que antes. Descemos as escadas e paramos no meio das pessoas que já estavam lá.

— Um baile é feito para dançar, certo? — Segurou minhas duas mãos.

Eu sorri. — Isso é.

Começamos a nos mover de forma acanhada, mas com o ritmo da música aumentando, íamos nos soltando aos poucos.

Eu só percebi como estávamos nos mexendo quando outra música conhecida começou.

— You say that you really love me, I'm always on your mind... And you say I should be your lover, and we should spend some time... — cantei baixo.

— Cause it's easy to tell me you love me... Easy to say you thinking of me. Words are so easy to say. — Yan cantou também.

— Show me, show me, that you really love me, actions speak louder than words. Show me, show me you really need me...

Pelo jeito além de rock, nós compartilhávamos o mesmo gosto para músicas dos anos oitenta.

Assim que aquela acabou, começou outra que todo mundo parecia conhecer.

— Me sinto só, mas quem nunca se sentiu assim... — Todos cantavam. — Procurando um caminho para seguir numa direção... RESPOSTAS!

Eu ri com a animação daquele povo ao levantar os braços na última palavra.

— UM MINUTO PARA O FIM DO MUNDO, TODA A SUA VIDA EM SESSENTA SEGUNDOS. UMA VOLTA NO PONTEIRO DO RELOGIO PRA VIVER.

Naquele momento, pareceu que todo mundo tomou fôlego.

— O TEMPO CORRE CONTRA MIM, SEMPRE FOI ASSIM E SEMPRE VAI SER!

Yan cantava sorrindo e isso era muito fofo.

— Quando estou com você sinto meu mundo acabar, perco o chão sob meus pés, me falta o ar pra respirar. E só de pensar em te perder por um segundo, eu sei que isso é o fim do mundo!

Todo mundo cantou até a última palavra, e quando acabou, houve palmas e uns gritos divertidos.

— Eu já estou ficando com calor! — Yan precisou gritar.

A próxima música começou e os barulhos pararam.

— Imagino, devia ter deixado o blazer no quarto. — Pude falar no tom quase normal.

— É, mas dá pra aguentar. Qualquer coisa eu corro no quarto e deixo lá.

Mais uma música e ele tirou o blazer. Eu falei que iria com ele, e perto das escadas encontramos Gabriel.

— Onde vocês vão? — Ele quis saber com uma pontada de malicia na voz.

— Eu vou deixar isso no quarto. — Indicou a roupa.

— Ah... — Pareceu meio decepcionado. — Deixa que eu levo.

— Não precisa...

— Para de graça. — Puxou dele, rindo.

Yan riu. — Tá, tá, obrigado.

Gabriel subiu e voltamos ao nosso lugar.

— Eu não queria que ele ficasse sozinho... Ele gosta de festa sim, mas tá meio para baixo ultimamente.

— Por que você e o Mateus vão embora?

— Sim. Deve ser difícil pra ele, eu sei que é. A única coisa que podemos fazer é aproveitar os últimos momentos. Mas acho que ele fica lembrando toda hora que não estaremos aqui no ano que vem e fica quieto, no canto.

— Tadinho... Vocês precisam ficar juntos hoje também.

— Eu sei, vamos ficar. Mas eu também quero aproveitar meus últimos momentos com você. Eu não quero pensar que são os últimos, mas acabo pensando sem querer. — Deu um risinho.

Minhas bochechas coraram. — É... eu também.

— Quero aproveitar o máximo, fazer tudo o que tiver para fazer, dançar até os pés caírem, comer o que eu puder — acrescentou rindo. — E você?

Ele tem razão, temos que aproveitar. Eu também não quero pensar que são os últimos momentos, mas não posso fingir que não são.

Temos que fazer tudo o que pudermos, para não termos arrependimentos... Para eu não ter arrependimentos.

Olhei pelo salão, vendo amigos, casais, uns conversando, outros se beijando, outros dançando igual doidos...

E para aproveitar, eu só precisava de um pingo de coragem.

Olhei para Yan, que me observava, esperando a resposta enquanto movia só a cabeça no ritmo da música.

— Eu também quero aproveitar o máximo.

Com a cara em chamas, apoiei meus braços em seus ombros. Ele pareceu um pouco surpreso, mas deu um sorrisinho e segurou minha cintura.

Olhei bem para ele, tentando memorizar cada detalhe dele. Seu rosto, cabelo, pescoço, camisa, gravata, colete... e seu perfume, é claro.

Então percebi que aquele momento estava mesmo acontecendo. Não era um sonho e nem imaginação minha.

Eu estava no baile com o Yan. O que eu imaginava desde aquele dia que estávamos aqui sozinhos.

Era engraçado lembrar de tudo o que aconteceu. Parecia real e ao mesmo tempo, não parecia.

Tá vendo, Bruna? Imaginou tanto, e mesmo que não esteja do mesmo jeito, está sendo tão bom quanto.

Mas se você quer que seja o mais parecido possível...

— O que foi? — Yan questionou. — Ficou pensativa aí.

— Eu... sempre imaginei esse baile. Imaginava cada detalhe, as roupas, as músicas que tocariam...

— E não está sendo do jeito que você imaginou?

— Não, está sim, mais ou menos, mas está ótimo da mesma forma. É que... é surreal.

Começou a tocar uma música que eu conhecia muito bem.

— Eu estava incluso no seu baile? — Sorriu, brincalhão.

— Claro... — admiti com vergonha.

Ele sorriu e dançamos para lá e para cá com o começo da música.

— I won't hesitate no more, no more. It cannot wait, I'm yours — cantarolou baixinho.

Cantamos baixo, sorrindo um para o outro.

— So, I won't hesitate no more, no more. It cannot wait, I'm sure there's no need to complicate, our time is short, this is our fate, I'm yours... — Yan cantou o refrão um pouco mais alto, junto dos outros do baile.

Aquele refrão arrepiou meus pelinhos do braço. Eu sabia o que ele dizia.

"Não vou mais hesitar, não mais... Nosso tempo é curto..."

Minhas mãos encostaram no cabelo de Yan, que já estava crescendo.

Eu cheguei mais perto inconscientemente. Senti seus braços circularem melhor minha cintura, me aproximando ainda mais dele.

Minha boca estava seca, o que me deixou apreensiva. O calor aumentou e eu engoli seco.

Me ergui, ficando quase na ponta dos pés e aproximamos nossos rostos.

I'm yours... I won't hesitate...

Encostei minha boca na dele e o beijo aconteceu.

Uma de suas mãos subiu em minhas costas, me dando mais apoio.

Meu coração martelava, mas logo o deixei de sentir, assim como tudo o que estava ao nosso redor. Eu só sentia nosso beijo, o toque dele em mim, seus lábios e língua brincando com as minhas.

Não era apressado como no teatro... afinal aquele era o beijo do Yan, não do Heitor. Era devagar, carinhoso e acolhedor, sem urgência.

Era como se tudo tivesse sumido, menos nós e o ginásio. Meus sentidos estavam totalmente focados no que estava fazendo.

Eu não queria que acabasse. Queria ficar assim para sempre. Era tão bom a forma que ele me segurava, como era delicado e atencioso.

Havia um gosto levemente doce em nossas bocas, provavelmente por conta do refrigerante, e ao mesmo tempo parecia uma coisa totalmente diferente, mas boa da mesma forma. Como se fosse um sabor só nosso.

Só percebi que estava tocando outra música mais agitada quando Yan finalizou o beijo com um selinho.

— Que música inspiradora — brincou.

Eu ri, bem cheia de vergonha e o abracei, escondendo meu rosto em seu peito. Ele riu e me abraçou.

O senti dando um beijo em minha cabeça. — Ai, ai, como eu te adoro.

Sorri mais ainda, aproveitando o esconderijo e dei um gritinho interno. — Eu também te adoro.

— Bom, estamos fazendo os tópicos da lista.

— Você fez uma lista? — perguntei sem o olhar, curiosa.

— Fiz. Nela tem: dançar bastante, comer bastante, rir bastante, convencer a Bru a me beijar com uma música fofinha de fundo. — E nessa eu ri. — E ficar muito tempo abraçado com ela.

— Então você me convenceu a te beijar? — O olhei, fazendo uma cara desconfiada.

— Sim, mas foi inconscientemente. Você não percebeu.

— Uau... Já pode ser mágico.

— Acabei de descobrir minha vocação. Obrigado pela ajuda. — Me roubou um beijo rápido.

Eu ri. — Ah... então de nada.

Yan olhou ao redor, procurando alguém.

— Acho que o Gabriel ainda não voltou.

— Quer ir procurar ele?

— Não sei... O que você quer fazer? Se quiser ficar aqui mais um tempo, podemos ficar e ir depois.

— Não, melhor vermos se ele está bem.

— Mas depois voltamos. — Deu uma piscadela.

Sorri e concordei.

Ele segurou minha mão e fomos em busca do Gabriel.