Like a back in black - Velhos companheiros escrita por Andrew Ferris


Capítulo 3
Superando a repressão


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora, estive um tempo sem internet, espero que continue acompanhando a história!!! Boa leitura!!!



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Chris espera agitado a noite passar depois de duas fungadas em sua cocaína, esfregando vez ou outra as mãos nos olhos devido às sensações incômodas por conta da insônia forçada. Normalmente ele conseguiria ficar a noite inteira acordada, mas aquele havia cansado mais do que a maioria, o que o levou a tomar tal atitude. Quando verificou que passava de duas e meia, Cornell sai de seu quarto e se esconde atrás de uma mureta, determinado a aguardar a chegada da enfermeira no quarto de Amy. A mulher abre o quarto e entra com uma expressão de tédio quando ouve o grito desesperado da jovem, que se debate constantemente ao ver a seringa se aproximar novamente de seu corpo.
— Vaca má paga - Amy ri com diversão quando Chris entra no quarto e surpreende a enfermeira.
— O que pensa que está fazendo?
— Meu trabalho, senhor Cornell. O que o senhor está fazendo acordado a essa hora?
— Andei usando drogas - Amy contén o riso, mas a enfermeira mantém o semblante intacto - Eu me esforçei, juro.
— Vou levá-lo de volta a seu quarto assim que terminar com ela.
— Não vai, não - Sem aviso, Chris solta as pernas de Amy, que chuta insana e alegremente a enfermeira em uma estante de parede, terminando machucada no tapete empoeirado do cubículo.
— Agora você vai ver como é bom ficar sozinha nesse quarto miserável, sua cachorra mandada - Empurrando Chris para fora, Winehouse tranca a porta cheia de entusiasmo, como uma criança enganando a professora, então puxa o americano o mais longe que poderia dali. Juntos, correm pelas árvores do jardim afastado da moradia, afastando folhas que se erguiam à frente do caminho. Depois de subir um terreno íngreme, a dupla encontra o pico daquela região, de onde se avistava toda a cidade. Daquela distância, as luzes pareciam estrelas enquanto as casas nada mais eram que brinquedos convincentes.
— Isso foi genial - Confessou Amy soltando a mão de Chris ao ficar tão sem graça quanto este.
— Não queria deixar você daquele jeito.
— Sem problemas, só precisava aguentar aquilo por mais vinte dias. De certa forma eu aprendi a gostar - Cornell a encara com indignação, afastando uma mecha de cabelo da testa.
— Se quiser posso te levar de volta - Declarou com ironia.
— Não obrigada, agora quero relaxar um pouco antes de nos isolarem de todo mundo.
— Quem era aquela? Não tem cara de trabalhar aqui - Observou Chris interessado na situação anormal.
— Uma enfermeira contratada pelo meu pai, ela garante que vou dormir durante a noite - Ela suspira ao perceber que o americano não havia entendido nada, então resolve continuar - Da última vez que me internaram, eu fugi durante a noite, então ele resolveu que todas as vezes que eu fosse internada Margareth deveria garantir que eu permaneceria no hospital. Agora você ferrou a mim e si mesmo, o que faremos a respeito?
— Até onde eu sei, o máximo que vai acontecer é uma matéria curta dizendo que tive problemas com drogas e, no nosso ramo, isso não é lá novidade.
— Nesse caso - Ela revela uma garrafa de vodka e dois copos - Pretendia guardar e tomar de manhã, mas não sei vamos durar tanto tempo assim aqui dentro.
— Achei que não quisesse mais olhar na minha cara - Recordou Cornell pegando um dos copos para si.
— Não queria mesmo, mas mudei de opinião após esse último ato de bondade - Amy abre a garrafa e enche seu copo e o de Cornell, tomando direto da garrafa antes de tomar do seu copo - Podemos dar uma trégua por enquanto? Sem querer ser dramática, mas de vez em quando é bom ter um amigo, principalmente em um inferno como esse.
— Nesse caso pode continuar - Os dois passam o tempo sentados lado a lado, observando os pássaros passando ao longe, seus cantos agudos e dedicados em meio à ida para o sul. Eles bebem sem pronunciar palavra alguma, deixando a tarefa de falar com o vento e os barulhos que volta e meia vinham da floresta ou dos prédios distantes. Quando a última gota de vodka cai na grama, eles se entreolham e sorriam no mínimo satisfeitos, por mais que sentissem um aprofundamento de sua amizade. Chris está deitado com a cabeça levantada e os cotovelos apoiando o trono no chão, enquanto Amy se mantinha de lado com as pernas cruzadas, seu vestido beje florido valorizando seu corpo ao mesmo tempo que transmitiam uma sensação misteriosa. Cornell não queria admitir, mas estar com aquela jovem reclusa e despreocupada fez daquela noite a melhor em muito tempo. Ele não queria estragar o momento falando sobre suas preocupações, então escolheu pemranecer em silêncio, suspirando de vez em quando em benefício de um comentário de sua nova amiga inglesa.
— Devíamos fugir daqui, quer dizer, eu deveria fugir, já que você veio para cá por livre e espontânea vontade - Comentou Winehouse sem ideia do que de fato dizer.
— E onde iríamos?
— Você tem amigos. Poderíamos visitá-los e fingir que nos importamos com essa merda receptiva - Sugeriu se deitando ao lado de Cornell.
— O amigo mais próximo daqui é Tom. Apesar que ele deve estar fazendo qualquer coisa, exceto "morar".
— Tom Morello?
— O próprio.
— Uau - A possibilidade reanimou Amy - Vamos ver o cara.
— Não estou afim. Toda vez que tenho de falar com ele acabo me lembrando de nosso antigo projeto.
— Outra razão para irmos - Reforçou a jovem forçando Chris a se levantar, com ele fazendo força na direção contrária.
— Sem chances, Amy. Eu tenho vida, lembra?
— Vamos fazer diferente, seu adulto. Ligue para sua família e avise que vai visitar alguns amigos sem entrar em detalhes. Qualquer vírgula a mais pode fazer essa gente pensar que sua banda vai voltar à ativa - Cornell se dirige silenciosamente para seu quarto e esbarra na mesma enfermeira que estava com sua caderneta e suas drogas mais cedo.
— Senhor Cornell? - Ela estava cheirosa apesar do horário e seus cabelos agora desgrenhados chamaram mais atenção ainda de Chris, que leva algum tempo para recuperar a ordem do pensamento.
— Você, o que está fazendo acordada?
— Estava indo ao seu quarto, mas vejo que já está acordado. Isso comprova o que as outras disseram, você trancou a coitada da Margareth no quarto de uma das pacientes - Cornell fica revoltado com o tanto que a notícia havia sido modificada.
— Na verdade foi a própria Amy que trancou a enfermeira estúpida, eu só a soltei da cama a qual ela estava confinada.
— É o que se faz com pacientes que tem problemas mentais degenerativos por consumo de drogas.
— E você acha que eu tenho essas doenças?
— Não precisa, sua doença está além desses utensílios - Declarou abrindo passagem para o vocalista. Ela o acompanha até o quarto e ao constatar que ele não diria nada, resolveu perguntar - Porque ajudou a paciente a fugir?
— Ora, porque não está tentando me impedir?
— Porque você veio para cá por vontade própria e a enfermeira está bem, exceto pela rouquidão de tanto berrar - Chris abre a porta do quarto e pega algumas coisas, que coloca numa bolsa apressado para sair dali.
— Ela não queria vir para cá, do mesmo jeito que não é porque uma pessoa esteja doente que ela queira o tipo de tratamento que a oferecem. É um mundo mais complexo do que a maioria pensa ser - A enfermeira sorri antes de deixar o cantor passar e segurar o queixo com a mão direita - Quase esqueci de perguntar, qual é seu nome?
— Erika - Respondeu sem rodeios.
— Prazer Erika, me chamo Chris - Ela ri alegremente, bocejando em seguida enquanto Cornell se afasta em direção à saída da clínica, encontrando com Amy do lado de fora da estação de trem mais próxima.
— Foi difícil pegar minhas coisas - Relatou Winehouse empolgada - Uma multidão no meu quarto, me perseguiram por metade da clínica - Ela ri com tom de quem tinha aprontado, mas logo ignora sua declaração para seguir com Chris até a bilheteria, onde um senhor de cabelos grisalhos e boné entrega dois bilhetes de trem para o casal, que sobe dois lances de escadas, parando em um amplo corredor para que Cornell pudesse fazer uma ligação. Ao atender o telefone, sua mulher escuta empolgada a notícia de que Chris iria visitar um amigo e não questiona muito, e o que em teoria seria difícil se tornou extremamente fácil. Os dois se sentam em um banco do primeiro trem a passar naquela manhã, observando os vagõea vazios e o sol que aos poucos se apresenta no horizonte, deixando o céu com um aspecto roxeado e avermelhado, como um boxeador que levara uma surra pintada por Portinari. Por mais estranho que fosse, naquele momento, Chris com um casaco de lã fino escarlate aberto e uma camiseta branca e Amy com um vestido azulado com tulipas, a jovem mantendo a cabeça apoiada sobre seu tórax, ele não consegue nada melhor para aquele momento, afinal sentia sua inspiração ser plantada novamente em um solo fértil. Mais tarde, quando os dois estavam prestes a dormir, o maquinista os desperta, assustando a ambos, que saem aos bocejos do trem para pegar um ônibus até a residência de Tom Morello, que mais parecia um galpão.
— Ele tem um estúdio na garagem e o estúdio propriamente dito parece uma garagem - Explicou sem se demorar, batendo duas vezes na porta para esperar a saída de Morello, quando percebe que Amy caminha pelos arredores da casa.
— Cadê esse cretino? - Ele bate de novo na porta quando Winehouse volta decididamente assustada.
— Eu juro que não usei nada além daquela vodka.
— Que história é essa?
— Pode rir de mim, mas juro que vi Kurt sentado no sofá da garagem do seu amigo.
— Kurt?
— Kurt Cobain seu imbecil, que outro Kurt?
— Kurt morreu faz tempo - Ele encara a jovem, que recupera o fôlego aos poucos e completa - Com dois tiros na cara.
— Desculpe a demora, eu - Tom fica espantado ao ver Chris e Amy parados à sua porta - Chris? E você seria a Amy Winehouse?
— Eu mesma.
— O que faz aqui?
— Pensei que fosse dizer "pode entrar meu amigo" ou "como vai companheiro?" - Obsservou Cornell parcialmente decepcionado com a recepção.
— Eu estava prestes a fazer isso, mas é muito repentino você aparecer assim. De repente - Ele abre passagem - Podem entrar - O casal entra e logo sentam em duas poltronas em cantos opostos, com Amy mexendo na coleção de discos exposta ao lado de um abajur.
— Como andam as coisas?
— Meio solitárias, então ás vezes ligo para alguém sugerindo um projeto novo, nada muito ambicioso. E você? Pensei que tivesse sido internado perto daqui.
— Na verdade, eu mesmo me internei - Um silêncio perturbador se instala e Amy toma a palavra.
— Ele é tímido demais para confessar que sentiu sua falta na vida dele e os dois deveriam voltar a dar um para o outro e criar alguns rocks da pesada - Tom ri mais de nervoso que por vontade propriamente dita, chamando a atenção de Amy e de Chris.
— Cara, o que está acontecendo? - Perguntou Cornell com certa calma.
— Eu não posso te contar, mas ele disse que se eu não contasse ele iria aparecer aqui pelado para provar, então, a verdade é que... - De repente, um sujeito de cabelos lisos e grisalhos, que outrora haviam sido louros, magricela com olhos tapados e cigarro entre os dedos aparece na sala com seu corpo pálido e nu, sorrindo como um bebê que saiu do banho.
— Kurt? - Perguntou Chris espantado e enojado ao mesmo tempo enquanto, involuntariamente, fica em pé na poltrona, o que é copiado por Amy.
— Puta que o pariu, não era assim que eu imaginava conhecer o criador do grunge - Comentou Amy virando seu rosto para a coleção de discos.
— Não exagere - Pediu Cobain balançando seus cabelos soltos enquanto masca seu chiclete - Eu ainda estou em forma - Completou passando a mão em sua barriga magra com alguns pelos ruivos.


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