Like a back in black - Velhos companheiros escrita por Andrew Ferris


Capítulo 2
Intromissão


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo pra vocês! Que tal aprofundar mais a relação de nosso protagonistas?



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Chris veste uma camisa branca de manga cumprida, confere sua calça cinza, então veste um par de sapatos sociais, usando uma folha de sulfite enrolada para puxar algumas gramas de cocaína para dentro de seu organismo.Nos primeiros instantes, ele sente uma intensa queimação no sistema respiratório, seguida de um peso libertador em sua mente, mas tudo isso fica em segundo plano quando alguém bate à porta.
— Quem é?
— Senhor Cornell, pronto para sair? - Perguntou uma enfermeira do lado de fora, que trajava o uniforme tipicamente azul da clínica, que constrata belamente com seus olhos azuis e seus cabelos castanho claro.
— Quase - Gritou mantendo a calma por fora, tratando de esconder seus "pertences pessoais" na primeira gaveta que encontra, trancando a mesma com uma chave e guardando a chave em seu bolso.
— Pronto - Avisou ao abrir a porta e se deparar com a vista incrível parada no corredor. Ele segura as palavras na boca e, sem jeito, ergue a mão pedindo para a mulher entrar - Você é nova aqui?
— Não exatamente. Costumo cuidar da ala nove, mas a Rebecca não pôde vir hoje, então estou cobrindo o seu turno - Assim que termina de ouvir a explicação, Chris coloca as mãos nos bolsos e sorri para a funcionária.
— Vou pedir pra Rebecca faltar mais - Brincou Cornell seguindo seu rumo. Embora tivesse considerado a fala do paciente deveras estranha, ela não se importava, pois conhecia bem a desconfiança da colega em relação a alguns dos atendidos. Ela já tinha ouvido falar sobre o trabalho de Cornell, embora não gostasse muito de rock. Ela sabia quem ele era e o que ele representava, mas diferente do que tinha escutado, ela via uma pessoa pouco segura de si, hesitante e com inclinação ao isolamento.
Cornell caminha por alguns corredores, chegando na sala de refeição da clínica, um lugar espaçoso e colorido, com tons de sépia constratando com diferentes tons de marrom e violeta. Em um chão liso com mesas e cadeira de madeira castanha, o cantor pisa sem pressa, desviando de outros atendidos que passam por ele, para pegar um prato em cima de um mármore no fim do cômodo e seguir por uma extensa fila onde pega seu café, leite repleto de natas, biscoitos crocantes de amêndoas e uma carambola fatiada jogada no prato. Sem qualquer comentário, ele segue para uma mesa no encontro de duas paredes do lado oposto à parte iluminada, onde vidraças abertas expunham o sol daquela manhã. Sentado, digeriu seu leite com algumas mordidas nos bicoitos, deixando uma média dúzia restando no prato antes de se focar na carambola. Depois de deixar o prato em cima do balcão da sala, Chris volta para seu quarto devagar, sem chamar atenção para si, com movimentos contidos em sua grande maioria e sem nunca tirar as mãos dos bolsos. Assim que chega no corredor de seu quarto, Chris se depara com uma jovem de vestido florido olhando de um lado para o outro com um dos pés tocando a parede sem vergonha alguma. Ele diminui o ritmo do passo para entrar no quarto, mas Amy o avista antes.
— Bom dia - Cumprimenta se aproximando aos poucos, balançando seus braços como quem não tem nada para fazer.
— O que você quer? - Perguntou Chris sem interesse ou surpresa em ver a jovem outra vez.
— Só queria me desculpar pelo que falei no outro dia, estar aqui deve ser importante para você.
— Ao contrário de você, não posso ceder a todos os luxos - Declarou Cornell abrindo a porta de seu quarto quando, inesperadamente, Amy segura sua mão - Porque está fazendo isso?
— Podemos tentar de novo?
— Porque faz tanta questão?
— Não suporto mais ficar aqui, você é o único com quem tive um contato mais profundo nessa merda de lugar - Observou a jovem sentindo-se derrotada ao confessar tamanha verdade.
— Sabe que sou casado e tenho filhas, não sabe?
— E eu tenho namorado - Chris olhar para a mão da jovem, que o solta aos poucos, dando dois passos para trás com um sorriso torto - Podemos pelo menos ser amigos? Faz tempo que não tenho uma amizade verdadeira.
— Se você quer assim - Chris fecha a porta do quarto e se junta á Winehouse, que caminha com o novo colega pela propriedade, gerando comentários diversos e risadas de alguns.
— Acho que somos alvo de piadas - Comentou Amy como se falasse de algo distante demais para que pudesse sentir-se afetada, mas Chris não esboça reação alguma.
— Somos dois esquisitões, o que você esperava?
— Será que eles sabem de tudo que fizemos?
— Eu não fiz nada - Relatou Cornell sentindo um profundo incômodo.
— Não? E suas bandas? E seus milhares de álbuns? Você não influenciou um estilo inteiro?
— Ainda não consegui o que eu queria - Revelou o cantor desanimado com suas palavras.
— O que você quer?
— Queria fazer algo diferente de tudo que fiz.
— Longe do grunge?
— Não sei se longe do grunge ou do rock, mas queria deixar uma assinatura que pudesse olhar todos os dias como uma fotografia de família.
— Quero distância de fotos de família, mas entendo o que quer dizer. Eu praticamente acabei de começar minha carreira.
— Mas você conseguiu o que queria. O que você faz é diferente - Disse Cornell abrindo um leve sorriso enquanto os dois alcançam uma elevação do jardim de grama aparada, sentando-se embaixo de um pinheiro velho e bem alto, apanhando uma pinha aqui e outra ali como distração.
— Mas ainda não é o que eu queria. Faz anos que não lanço nada. Sequer busquei referências - Confessou Amy decepcionada com sua postura.
— O que foi? - Questionou Chris ao perceber a mudança súbita do comportamento da jovem.
— Ás vezes me sinto uma fracassada musical. Não consigo lançar um álbum.
— Não é porque o mercado exige que você tem que fazer o que ele quer. Espere seu tempo chegar.
— Olha quem fala. Quantas vezes chegou perto da morte para ser tão filosófico?
— Muitas, mas nem sempre você precisa tentar se matar para sentir a morte chegar.
— Comigo acontece a mesma coisa - Expressou a jovem franzindo o semblante enquanto se mantém em silêncio - Se eu achar a ideia que me falta para lançar um álbum, juro que vou fugir desse lugar.
— Fugir? Você pode sair daqui a hora que quiser - Lembrou Cornell sem entender a declaração de Wine.
— Você não sabe, mas meu pai é muito paranoico e precavido.
— Em que sentido?
— Tem seguranças particulares guardando esse lugar para me impedir de fugir. De noite, uma enfermeira vêm me anestesiar com uma droga para dormir. Assim eles garantem que não vou fugir no período de ausência dos malditos.
— Que chato - Os dois entram em profundo silêncio, com Chris dobrando suas pernas pernas para enrolar seus braços nos joelhos. Nesse momento a jovem se levanta mordendo os lábios de um jeito sexy, olhando para Chris admirada e surpresa, enquanto seu acompanhante desvia o olhar da jovem, cuja parte superior do vestido havia deslizado suavemente para baixo sem que esta reparasse.
— Você tem escrito alguma coisa enquanto esteve aqui?
— Tenho - Respondeu Cornell recuperando seu entusiasmo - Faz mais de uma semana que tento escrever uma nova canção, mas tudo que consegui foi variações da mesma frase.
— Posso dar uma olhada qualquer hora?
— Na verdade pode olhar agora. Eu sempre carrego ela no meu bolso, junto à chave da minha gaveta - Chris mete a mão no bolso, então fica pasmo.
— O que houve?
— Meu bolso está furado. Acho que deve ter caído no meu quarto.
— Sem problemas, depois você me mostra - Adiou Amy perdendo evidentemente um pouco de sua animação, o que afeta Chris.
— Sem essa de depois. Vamos buscar lá agora.
— Lá onde?
— No meu quarto? - Retrucou Cornell ingenuamente.
— No seu quarto? Tem certeza que me quer lá? - Cornell não responde, apenas se levanta e corre apressado, se esquecendo inclusive de limpar a calça, que fica cheia de grama. Amy vem logo atrás e se depara com um desesperado Chris abrindo a porta de seu quarto e verificando a gaveta com tranca. Para seu espanto e irritabilidade, a gaveta estava aberta e a cocaína que deixara ali não estava mais. Indignado, ele pragueja se agaichando para procurar a caderneta, mas nada havia embaixo dos móveis ou do tapete.
— O que houve?
— Para de encher - Berrou Chris com os olhos arregalados e pulmões estufados, bem como dentes rachando uns nos outros, demonstrando sua euforia negativa.
— Pelo menos explica, eu nunca te vi desse jeito. Quem sabe eu possa te ajudar - Engrossou Amy desaprovando a atitude de Cornell.
— Pode me ajudar pegando essas pernas e caindo fora. Se eu descobrir quem foi juro que arranco as mãos fora - Ele respira fundo, se lembrando de tudo que tinha feito naquele dia.
— Seu estúpido, tomara que encontre alguém pra conversar nesse inferno. Se for pra ter alguém como você do meu lado, prefiro meu pai mesmo - Após o desabafo, Amy se retira do quarto, mas Chris não se prolonga ali. Profundamente irritado, Cornell chega na ala nove e caminha a passos largos pelos corredores até encontrar a enfermeira que tinha arrumado seu quarto.
— Senhor Cornell? - Perguntou na maior inocência, embora ela soubesse perfeitamente que ele iria reparar mais cedo ou mais tarde.
— Olá - Respondeu com o mesmo tom ingênuo e despreocupado, esperando uma funcionária passar para puxar a jovem para dentro da primeira sala aberta que ele encontra.
— O que pensa que está fazendo?
— Devolva o que pegou do meu quarto - Sussurrou Chris, como se isso fosse abafar sua raiva.
— Tem medo de que eu o denuncie por porte de droga ilícita?
— Não sei do que está falando.
— Então o que você está procurando?
— A caderneta que caiu do meu bolso - A arrumadeira tira a caderneta do bolso com uma careta de esperteza, a qual Chris arranca da mão dela com pressa, verificando se não havia nada riscado ou rasgado.
— Pronto. Aí está sua caderneta - Afirmou com seriedade - Se fizer isso outra vez, terei de processá-lo por abuso moral - Sem responder nada, Chris se retira da sala, mas a funcionária o segue com um saco nas mãos - Da próxima vez mais cuidado - Ela entrega o saco de cocaína e a chave da gaveta de Cornell, sorrindo de canto ao ser encarada com extrema seriedade.
— Porque não me denunciou pra ninguém da clínica?
— Porque gosto do meu trabalho e respeito o seu. Tirar isso de você não me faria melhor que você, só guardei comigo por receio de outra funcionária que não fosse eu terminar achando - Ela ergue as sobrancelhas, o que faz Chris sorrir graciosamente.
— Obrigado - Exclamou se virando para retornar a seu quarto enquanto a jovem volta seus afazeres. No meio do caminho, entretanto, Cornell escuta uma musica e uma voz familiares vindo de longe, então decide ir verificar o que era. Parando ao lado de um quarto, ele escuta Amy cantando "Rehab" enquanto a enfermeira injeta o remédio calmante na inglesa, cuja voz diminui aos poucos, até se tornar um ruído e, posteriormente, não passar de uma jovem em silêncio na própria cama. Chris sai dali o mais rápido que consegue, aflito por ter escutado a agonia que sua colega passa naquele lugar, o que o faz tomar uma decisão...


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Notas finais do capítulo

Curtiram? O que acham que vai acontecer nessa clínica?



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