Like a back in black - Velhos companheiros escrita por Andrew Ferris


Capítulo 10
Abalados por péssimas escolhas


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora, estive ocupado concluindo outro projeto para me deficar inteiramente à conclusão desta fic, então aguardem atualizações semanais!!!



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Erika acompanha Chris em um táxi até uma casa de shows da cidade, longe do que Cornel havia conhecido. Pessoas do alto-escalão se amontoam pelos cantos, uma festa grande onde Chris não se mostra interessado por nada. O casal se senta em uma mesa branca recostada em uma quina de parede, então o vocalista se põe a observar o movimento quando um garçom se aproxima para atendê-los.
— Posso anotar seu pedido?
— Claro, me vê um copo de uísque - Declara Chris desinteressado no lugar em que se encontra.
— E a dama? - Erika fita Cornell como uma criança pedindo permissão aos pais, levando-o ao riso.
— Vamos, peça o que quiser. Eu pago.
— Alguns salgados e uma cerveja do sul - Pediu a jovem sem querer abusar da boa vontade.
— Voltarei em breve - Avisou o garçom se retirando da presença do casal. O clima permanece silencioso e distante, diferente do resto da festa, mas Chris parecia ignorar tudo que havia ao redor. Depois de certo tempo, a jovem resolve tomar a frente.
— Por que estamos longe da festa?
— Por que ficar no meio de todo mundo? - Retrucou Cornell com esperteza deixando a mochila de lado para espreguiçar o corpo.
— Por que parecemos dois anti-sociais - Afirmou a jovem apontando para o centro da balada.
— Pois bem. Vá se divertir à sua moda e me deixe em paz - Brincou Chris acendendo um cigarro.
— O que houve? Regrediu o suicídio?
— São de Amy - Esclareceu o cantor sem prolongar-se.
— O que fazemos aqui, afinal?
— Não tenho onde ir, a quem recorrer ou um penhasco de onde me atirar, então vamos esperar seu amigo ligar em um lugar menos chamativo e mais seguro.
— Seguro?
— Você queria ficar em uma praça a essa hora?
— Em teoria, eu estava muito bem ao seu lado - Chris balança a cabeça sem dar atenção quando vê o garçom trazendo os pedidos dos dois.
— Eis seus salgados sortidos - Afirmou Cornell apontando para a bandeja, que é deixada à frente de Erika junto à cerveja, então o garçom coloca o copo de uísque perante Chris, esperando que ele dissesse alguma coisa - Ainda não vamos fechar a conta, volte outra hora por favor - O jovem de retira enquanto Erika passa a observar seu acompanhante desconhecido, um homem de muitas figuras e nenhuma face que olha a todo instante de um lado para o outro com notória preocupação.
— Está esperando alguém? - Perguntou por fim.
— Você é bem observadora - Constatou Chris se voltando à jovem com curiosidade.
— Você não está bem - Concluiu Erika olhando cada detalhe do rosto de Cornell individuamente, desde as rugas e linhas de expressão até barba, linhas dos olhos e ângulo de declínio do rosto por meio do nariz e do queixo.
— O que te faz pensar isso? - Perguntou com ironia.
— Se está passando por dificuldades, deveria se abrir com alguém.
— Com você? Mal te conheço.
— Mal conhece Amy, mas ainda assim aqui chegou.
— Sinceramente, não faço ideia de onde cheguei - Declarou Chris com indignação - É como se eu corresse por um túnel querendo encontrar uma saída, mas encontro ainda mais caminho a percorrer e obstáculos a transpassar. Não vejo uma saída para essa sucessão de merdas compostas que chamam de vida.
— Pelo menos você tem alguma coisa de que se orgulhar. Eu não passo de uma arrumadeira e olha que tenho uma idade considerável.
— Você não tem mais de trinta - Afirmou Cornell como se fosse uma questão inútil de se discutir.
— Não mesmo, mas e você?
— Quantos anos pareço ter?
— Trinta e sete.
— Chegou perto - Revelou Chris apagando o cigarro em cima da mesa.
— Teve tempo de sobra para juntar o que quisesse e ser feliz desse jeito - Concluiu Erika inconformada com as respostas vagas de Cornell.
— A vida não é tão simples. Você definitivamente é bem jovem para entender isso - Chris encara as pessoas ao seu redor enojado - Metade deles sabem quem sou eu, mas se importam? Isso faz diferença para alguém? Não muda nada se não houver dinheiro envolvido. As pessoas se tornaram escravas de seus desejos imbecis e perdem tempo enquanto eu tento entender o que tudo isso significa - Após o desabafo, os dois se encaram timidamente, mas Erika sorri solidária, aproximando sua mão do cantor, mas ele afasta a própria mão fingindo não ter percebido, o que a leva a deixá-lo sozinho na mesa e procurar um lugar onde pudesse aliviar a mente. Em sua cadeira, Chris pensa na vida, em todos os problemas que havia adquirido por conta de uma simples amizade que havia levado-o até aquela cidade. Será qu valia a pena continuar lutando por Amy? Sem demora, ele pega seu copo e ingere dois goles de uísque, sentindo seu estômago queimar e se embolar como se estivesse afundando em si próprio. Seu interior arde em calor e agonia vidrante, mas isso não passa de uma simples distração para toda a dor que atinge seus pensamentos. Quando menos espera, um garçom aponta para sua mesa e um jovem de cabelos baixos e louros, pontudos em diversas partes da cabeleira, olhos pequenos e levemente puxados, sorriso simpático e piercing na boca se aproxima, tratando de apontar com o dedo para cima em sinal de imperatividade de forma que Chris se levanta para cumprimentar o amigo.
— Chester, que saldade cara - Declarou Cornell abraçando Bennington com um dos braços enquanto o restante segura o copo de uísque.
— Saudade? Estava pensando seriamente em ligar para a polícia e perguntar se você está vivo - Brincou o jovem sentando-se onde outrora estava Erika - Meses sem telefonar, nunca mais apareceu para bater papo, tomar umas e fazer o que der na telha. Estou começando a achar que o jovem m você morreu e não está velho só do lado de fora - Os dois riam com alegria antes de Chester abrir a lata de cerveja e virá-la em um único gole - Me serve um pouco de uísque?
— Claro - Os dois dividem o copo e tratam de tomar toda a dose antes de voltarem a conversar.
— Você mencionou a Vicky, acha que foi o fim mesmo?
— Talvez. Pelo jeito como ela falou, é capaz que seja, mas você sabe como ela tem gênio forte.
— Mulheres são assim. A minha não larga do meu pé por uma hora, mas quando elas se afastam é um bom sinal, uma chance de você não se sufocar e jogar a gravata na puta que o pariu - Chester assobia para um garçom, que imediatamente se aproxima com uma caderneta em mãos.
— O que deseja, senhor?
— Qualquer merda que vocês tenham desde que tenha mais de trinta por cento de teor alcoólico e gosto de merda. Estou afim de ficar louco com meu amigo, obrigado - O garçom se dirige à adega enquanto Chester observa entediado a festa e as pessoas na pista, que dançam freneticamente enquanto uma ou outra cambaleia pelos corredores ou se agarram nas esquinas.
— Que festa mais caída - Comentou Chris ao reparar o amigo olhando para os convidados com desinteresse e pena.
— Eu queria pó, mas fiquei tão preocupado quando me ligou que simplesmente esqueci que estava indo para uma balada e precisava ter trazido pó - Os dois riam juntos antes de Cornell abrir a bolsa e revelar um saco lotado de cocaína - Você está brincando com a minha porra de cara.
— Levei pra clínica - Explicou Chris, entregando o saco ao amigo, que cai na risada, incrédulo ao sentir o peso da droga em suas mãos.
— E eu me considerava louco - Bennington aspira o pó como se fosse um produto medicinal inovador - Esse é o bom remédio da nossa geração.
— Só tenta não morrer hoje à noite.
— Nós dois sabemos que eu vou morrer bem antes de você, vovô. Eu não aguentaria o tranco, mas já que você tocou no assunto, que papo é esse que você conheceu uma cantora britânica?
— Eu não conheci uma cantora britânica, conheci a Amy Winehouse - Corrigiu Chris revelando a importância e seriedade da situação - Estávamos em um hotel, pela manhã iríamos partir para a casa do Dave, sabe?
— Sei sim - Respondeu Chester enrolando um pedaço de papel em seu bolso e abrindo bem o saco de cocaína.
— Acontece que ela sumiu no meio da tarde e eu passei um tempo falando sozinho antes de perceber.
— Isso foi antes ou depois da Vicky ter ligado?
— Depois. Ela tirou conclusões precipitadas e disse que iria sumir com as crianças. Liguei para o pai dela e ele me chamou de todas as merdas possíveis, o que quer dizer que ela já espalhou a notícia e provavelmente não irá para a casa de nenhum desconhecido, mas o que importa é que preciso reencontrar Amy antes que ela se foda mais ainda nas mãos do pai dela.
— Mas você não tinha dito que ela sumiu?
— Ela foi levada à força do hotel e está sei lá onde.
— Você me parece bem abatido - Comentou Chester ao perceber a aparência do amigo - Amanhã você pode focar na sua busca, e eu pretendo ir com você até o fundo disso, mas precisa relaxar um pouco. Se livre do peso da responsabilidade por algumas horas e deixe a mente fluir.
— Eu estou bebendo menos justamente por conta dessa merda e você me sugere cheirar?
— Então por que você guardou? - Questionou Bennington dando de ombros.
— Aconteceram coisas comigo que me fizeram repensar sobre essas merdas. Se eu tiver algo para pensar, talvez não pense apenas em cheirar cocaína a todo instante.
— Como você consegue compor com todas essas coisas na cabeça?
— São essas coisas que me fazem pensar e compor - Esclareceu Cornell encarando a cocaína com tentação.
— Última chance, amigo, vai cheirar ou não? - Chris e Chester se entreolham. Cornell respira fundo, pega a folha enrolada e transformada em tubo e aspira uma dose do pó branco, que entorpece seus sentidos, causando uma forte irritação no nariz, como corisa, que logo é substituída por tontura. A mente lateja freneticamente, os dedos tremem, a audição sobe e desce estranhamente, então Chris sorri para o amigo como se tivesse feito um favor a si mesmo.
— Chester...
— Sim?
— Ainda bem que guardei esse pó - A dupla ri com diversão pouco antes do garçom surgir com a bebida de Chester, que em dois ou três goles esvazia o copo, se submetendo a péssimas condições de extâse. Chris observa a cena indignado, mas se recusa a beber, provando dois salgados da cesta reservada para Erika antes de voltar a cheirar sua preciosa cocaína. No banheiro feminino, Erika olha para si mesma no espelho instalado na parede, olhando das próprias mãos para seu corpo definido. As luzes apagadas não diferenciam sua vista, pois as luzes da festa iluminam de sobra o ambiente interno do banheiro, embora a jovem também não estivesse interessada em acender as lâmpadas e encontrar as donas dos constantes gemidos que escutava vindos do último box. Ela não sabia o que fazer. Estava perdida e pensava que sua única saída seria Chris. Ela não curtia rock, mas as letras do vocalista grunge fizeram-na despertar um profundo senso de admiração pelo ídolo e de auto-descobrimento. Seria algo mais? Ela não queria deixá-lo fugir da clínica, pois adorava encarar seu belo rosto nas manhãs pouco iluminadas, seus pés descalços caminhando vagarosamente enquanto seu dono procura formas de se inspirar. Ela leu o que estava na caderneta, pensamentos sombrios, solitários, depressivos, coisas íntimas de caráter filosófico que varrem todos os seus preconceitos e ampliaram seus horizontes de maneira única. Quem era Chris Cornell e como ele havia conseguido mudá-la em pouco tempo? Dias antes ela era uma garota isolada vivendo dias isolados em uma clínica isolada observando um homem isolado. Agora ela queria mais, queria descobrir quem estava por trás daquelas respostas curtas e do jeito fechado. Queria entender melhor os cabelos espalhados pelo rosto e os olhos sérios. Mas aquilo não passa de uma fantasia de sua mente, certo? Ela ri das próprias observações, então lava as mãos e sai do banheiro, voltando à mesa onde havia se sentado inicialmente com Chris, mas tudo que havia era sua cesta de salgados e alguns copos com restos de bebida e pó nas bordas. Ela percorre os andares da balada preocupada, sem ideia de onde estaria Chris àquela altura do campeonato, então uma mão a segura pela cintura e a puxa do meio da multidão, de modo que ambos fiquem de fora da pista. Chris a encara com os olhos vermelhos, uma cara pálida e suor frio escorrendo da testa, um aspecto grotesco, porém profundamente envolvente.
— Estava te procurando - Exclamou a jovem afastando-se um pouco.
— Eu também estava te procurando - Confessou Chris sem pensar direito.
— Por que?
— Fiquei preocupado, você demorou para voltar.
— E resolveu cheirar sua cocaína.
— Você é linda - Declarou Chris aproximando-se da jovem com um sorriso provocador.
— Não acredito que você teve coragem de cheirar um monte no meio dessa gente, vamos nos sentar e conversar direito - Erika tenta puxar Chris, mas ele a puxa de volta em sua direção, envolvendo-a com ambos os braços, apertando sua cintura com uma força considerável e olhando em seus olhos com uma expressão de quem avalia o terreno antes de plantar.
— Chris, eu - Antes que possa terminar, Cornell está a beijar-lhe a boca com delicadeza, demorando seus lábios entre os lábios dela, sentindo cada estínulo aquecer seu corpo cada vez mais enquanto a jovem se deixa levar pelo momento, ignorando qualquer coisa que tivesse refletido antes em nome daquele gesto profundo que se desenvolvia com cada vez mais afetividade. Suas bocas se separam repentinamente, ambos duvidando de suas ações, mas uma mera troca de olhares indica que devem continuar antes que qualquer objeto externo interfira, e assim eles o fazem, confusos e perplexos com aquela distração nada conveniente a qual estavam se entregando.


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Notas finais do capítulo

Quem acertou o casal? Ou seria apenas uma avaliação de território? Como estará Amy depois de ter sido supostamente sequestrada? As respostas destas perguntas virão em breve...



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