Marinette fechou os olhos e se permitiu saborear a brisa gélida no topo da Torre Eiffel.

Como ela tinha ido parar lá? Não sabia, e também não se importava. Aquele lugar era maravilhoso – poder observar as luzes noturnas na cidade do amor daquele ponto era simplesmente uma benção.

E também, por algum motivo... a familiaridade da Torre impediu que a garota surtasse no momento em que abriu os olhos e percebeu que estava ali.

Ela só queria... aproveitar enquanto podia.

Ah... queria que meus sonhos fossem sempre tão vívidos assim, a garota pensou. Normalmente seus sonhos eram uma bagunça, mas lá estava ela, tendo uma visão super realista e clara de algo que nunca tinha visto... porque nenhuma parte dela duvidou, nem por um segundo, que aquela era a vista exata de Paris à noite, vista de cima.

— É linda – ela murmurou.

— É sim – uma voz ao lado dela concordou. Marinette sentiu sua respiração ficar presa em sua garganta. – Você sabe o que mais é linda?

Marinette se virou para encarar os olhos intensos de Chat Noir.

— O quê?

— Você.

Ele sorriu orgulhosamente ao responder, mas algo parecia estranho no garoto. O rosto dele é tão familiar...

Marinette só tinha visto o heroi em gravações de Alya, e nas poucas ocasiões em que ele a salvou. Porém, tal como a Torre Eiffel, aqueles olhos intensos traziam uma sensação de conforto indescritível. Marinette sentia como se estivesse em casa.

Foi quando a garota percebeu o que tinha estranhado em Chat Noir: os olhos dele, antes felinos, certamente por causa da transformação, eram simplesmente... verdes. Como os olhos de uma pessoa qualquer. Como os olhos de Adrien...

— Você não está transformado – não era uma pergunta.

Chat sacudiu a cabeça. Marinette cerrou os olhos, mas não conseguia distinguir as feições do garoto à sua frente.

Parece com isso, Marinette, você mesma disse que ninguém pode saber nossas identidades, nem mesmo nós...

Huh?

— Nós... – a garota hesitou. – nós nos conhecemos?

Isso fez com que Chat esboçasse outro sorriso – desta vez um sorriso triste – e se virasse para a cidade.

— Eu disse... – sua voz era baixa, e ainda mais difícil de ouvir por causa do vento, que ficava mais forte a cada segundo. Marinette inclinou-se na direção do garoto para ouvir melhor. – Eu disse que onde quer que você fosse parar nesse mundo, eu iria procurar por você. Mas eu me esqueci.

Por que eu me sinto tão triste?

— Chat...

Ele voltou a encará-la.

— My Lady – o heroi a interrompeu. Marinette sentiu o sangue se esvair de seu rosto no mesmo instante que ela chegava perto de encaixar as peças do quebra-cabeça em sua cabeça.  – Por favor, sem mais segredos.

Marinette respirou fundo, e Chat continuou a falar.

— Sem segredos dessa vez... por favor, me diz, qual é seu nome?

Mas é óbvio que meu nome é Marinette, ele sabe disso...

A menos...

Mais do que nunca, ela sentiu que estava perto de chegar a uma conclusão, e que essa conclusão era algo óbvio que ela estava deixando passar.

Ela limpou a garganta para responder.

— Meu nome é...

— Marinette.

— Huh? - A garota piscou.

— Marinette, acorda.

Acordar? Em um último esforço para responder a Chat Noir, Marinette estendeu a mão na direção do heroi, desesperada. Sua boca se abriu, e a garota não sabia se era pra dizer o próprio nome ou para chamá-lo.

E também não importava, porque no momento em que sua mão se aproximou do rosto dele, o garoto sumiu, e em seu lugar estava o rosto de Alya.

— Finalmente! – a garota exclamou. – Está na hora do intervalo... Você dormiu a aula toda – depois ela fez uma pausa, como se estivesse considerando dizer ou não algo. Por fim, optou por fazê-lo. - Você parecia estar tendo um sonho bem intenso – Alya comentou.

Marinette esfregou os olhos para afastar o sono.

— Jura?

— Sim... – sua amiga pareceu bem pensativa. – Eu quase te acordei antes, parecia que você estava chorando... mas Nino me disse pra deixar, e conversar sobre isso com você depois. Tipo agora no intervalo.

Ao ouvir seu nome, Nino se virou para as garotas e sorriu.

— Isso aí, Mari, você sabe que pode contar com a gente se estiver passando por um momento difícil – ao lado dele, Adrien assentiu.

Marinette sorriu, grata pela atenção que estava recebendo, e por ter amigos que se importavam com ela, mas a garota se viu incapaz de ignorar a confusão que sentia. Ela não estava passando por nada particularmente difícil em sua vida... só estava  atolada de coisas da escola, trabalhando em novos designs e pensando em Adrien, nada de mais.

Na realidade, ela sequer lembrava o que tinha sonhado.

Dando de ombros, a garota tentou explicar para seus amigos que estava, de fato, bem.