BTS's Doctor Crush escrita por Cellis


Capítulo 4
Como virar uma vida de cabeça para baixo




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E então, lá estava eu, caminhando pelos corredores do hospital com o nariz empinado, batendo meus saltos brancos, pequenos e grossos contra o piso claro e tendo meus cinco minutos de glória. Se fosse para encarnar a diretora de um hospital, pelo menos que fosse com estilo. Aproximando-me do saguão da recepção, desfiz meu rabo de cavalo, deixando meus longos cabelos negros caírem sobre meus ombros, e ajeitei minha franja (que não servia para muita coisa, pois era fina e sempre deixava à mostra pedaços da minha testa) enquanto fitava meu rosto em uma janela de vidro de algum quarto.

Maldição, eu não tinha lavado o cabelo hoje de manhã.

Não foi difícil encontrar o grupo de garotas sobre o qual o diretor falara. Meia dúzia de meninas uniformizadas e que, mesmo ainda estando no ensino médio, já eram mais altas e mais vaidosas do que eu. Elas abordavam qualquer pessoa de jaleco que passasse por elas e, quando me viram, vieram correndo na minha direção.

Se você conseguir despistá-las, seremos eternamente gratos.

Eu espero que isso seja verdade, BTS.

— Diretora Kim? — uma menina de voz manhosa e cabelos curtos se aproximou.

Aigoo, aquilo havia soado tão importante.

— Sim, sou eu. — respondi firme.

E então, as meninas desabaram a choramingar e fazer perguntas, todas ao mesmo tempo. Uma delas, a mais baixa e de cabelos rosados, puxava insistentemente a manga do meu jaleco.

Aish, se acalmem! — exclamei, fazendo com que elas se encarassem e olhassem para mim. — Disseram-me que vocês estão aqui por causa de um grupo idol, certo?

Obrigada minha querida sobrinha de dez anos, que me obrigou a aprender esses termos atuais.

— Não um grupo... o Bangtan Boys! — uma delas exclamou, corrigindo-me. Ah, então era isso que BTS significava? Achei que eram apenas letras aleatórias. — Unnie, onde eles estão? O que aconteceu? Por favor, nos conte!

— Silêncio. — pedi, pela enésima vez naquele dia. Quando elas se acalmaram, comecei a colocar minhas habilidades de atuação em prática. — Bangtan Boys... Nunca ouvi falar. — pelo menos não até umas três horas atrás, completei mentalmente.

Elas arregalaram os olhos e deixaram seus queixos caírem.

— Como isso é possível? — uma das meninas se aproximou ainda mais de mim e, em seguida, sussurrou. — Você é norte coreana?

Yah, mais respeito com a unnie! — outra rebateu. — Pessoas de idade não conhecem essas coisas.

Tudo bem, agora eu estava oficialmente ofendida.

— Escutem. — disse, em um tom de voz próximo ao do diretor. — As únicas pessoas que deram entrada nesse hospital hoje foram uma mulher em trabalho de parto, uma senhora que cortou o dedo cozinhando e um senhor com uma diarréia incontrolável. Eles parecem idols para vocês?

Elas me encararam, com cara de nojo. Ah, como se eu soubesse quem entra e sai desse lugar.

— Mas vazou uma foto da van deles entrando no estacionamento... — alguém murmurou.

— E quem lhes disse que era esse hospital? Ou a van deles? Ou melhor, que essa foto foi tirada hoje? — indaguei, provavelmente dando um nó na cabeça das meninas com tantas perguntas. — Um funcionário pode ter passado mal algum dia, e eles o trouxeram para cá.

— Mas...

— Vem cá, vocês não deveriam estar na escola ao invés de estarem em um lugar cheio de doentes? — dito isso, elas olharam ao redor e se encolheram. — Passem os números dos seus pais, eu mesma ligarei para eles para perguntar.

Aniyo, unnie! — exclamou uma delas, enquanto todas se afastavam. — Nós já estamos indo embora. Desculpe pelo incomodo. Fighting!

E, em uma fração de segundos, o hospital estava livre de fãs adolescentes. E, o mais importante: eu havia sobrevivido a mais essa (estava começando a achar que eu era imortal). Respirei fundo, inspirando e expirando lentamente. Eu teria me dado ao luxo de sentar em alguma das cadeiras do saguão de espera durante um momento, ou melhor dizendo, me jogar em uma delas, porém eu tinha certeza que sete ídolos esperavam ansiosos por notícias —além do tal manager, ou pelo menos um dos, pelo o que eu havia entendido. Girando sobre meus saltos, voltei a ser a nutricionista Kim Sun Hee, enquanto caminhava lentamente de volta para a área dos leitos. Bem, eu não os deixaria esperando para sempre, mas também não precisava sair correndo pelos corredores do hospital. Quando finalmente cheguei ao meu destino, duas enfermeiras retiravam as agulhas dos braços dos rapazes, e eu podia ouvir suspiros de felicidade. Além dessa cena impagável, o manager Gae Mae digitava algo fervorosamente em seu celular e o diretor, de costas para mim, falava algo para as enfermeiras, que saíram dali dentro de um instante, assustadas.

— Doutora! — o rapaz de cabelos avermelhados, Hoseok, se não me engano, foi o primeiro a notar minha presença. — E então?

Num piscar de olhos, todos já estavam ao meu redor, inclusive o mais silencioso deles. Eles pareciam bem melhores, apesar de ainda estarem um pouco pálidos e com uma expressão cansada.

— Elas já foram embora. — disse, e eles suspiraram, aliviados. — E não se preocupem, elas não descobriram que vocês estão aqui.

— Ah, eu disse que a doutora ia conseguir. — indagou Taehyung, rindo. Apontou para o de cabelo azul, que não parecia muito feliz. — Você está me devendo um dinheiro, hyung.

— Não vou pagar nada, não quero nem saber... — murmurou para si mesmo em resposta. Taehyung, ocupado demais em cantar vitória, não chegou a ouvi-lo. 

— Eu disse que se ela conseguia interromper o Suga-hyung daquele jeito e sobreviver, ela ia conseguir lidar com as fãs. — aquela foi a primeira vez que eu havia escutado a voz daquele garoto, Jungkook.

De bônus, ele ainda deixou escapar uma risada quando se sentou em uma das camas, enquanto os outros apenas balançavam suas cabeças positivamente e também riam. Logo em seguida Jimin se sentou ao seu lado (ele tinha sido o primeiro o qual eu gravara o nome). Eu teria achado a diferença de altura entre eles engraçada, se não fosse pelo fato de que eu era ainda menor do que o loiro.

— Então, vocês estão aparentemente melhores e também a salvo. Acho que já podem...

— Nem pensar! — agora era o diretor quem interrompia.

Como sempre, me assustando.

— Diretor Park, não há porque eles permanecerem internados. — disse, calmamente. Apesar de como ele me tratava, ainda era meu superior.

— Como pode dizer isso? — indagou, sussurrando na tentativa de que apenas eu ouvisse. Tentativa que deu errado, considerando o quão grave sua voz era. — Não é como se eles não pudessem arcar com os custos, não acha?

Então era isso.

Eu sabia que o diretor sempre fora um homem arrogante, agora, ser ganancioso ao ponto de agir de modo antiético era novidade para mim.

— Na verdade, diretor, não importa se eles podem ou não pagar pelas instalações. — rebati para que todos ouvissem, fazendo com que ele arregalasse os olhos. De repente, até mesmo o manager havia guardado seu celular e estava olhando para nós. — Não há porque sete homens perfeitamente saudáveis, que podem muito bem serem tratados em casa, ficarem aqui ocupando o lugar de alguém que realmente possa precisar.

— E quem é você para decidir isso? — agora, ele falava alto como se estivesse tentando fazer com que alguém do outro lado do cômodo conseguisse lhe entender. — Nem médica você é!

Eu o encarei durante alguns segundos. Minha respiração estava pesada de raiva, por todos esses anos que esse homem havia me tratado mal. O silêncio no cômodo deixava bem clara a tenção entre nós.

Dane-se a cadeia de comando.

— Eu posso ser apenas uma nutricionista, ao invés de ser uma médica importante, e ainda ter metade da sua idade, mas... — me aproximei, fitando-o nos olhos fundos. — Sou uma profissional quilômetros de distância mais ética e séria do que você.

Eu estava exausta, por dentro e por fora. Cansada de ter que lidar com homens como o diretor Bong-Ki ou o salafrário do Yong Joon, de ter perdido tudo, de ter sido mal tratada no meu ambiente de trabalho e, principalmente, de ainda ser uma pessoa feliz e orgulhosa de si própria, mesmo com tudo isso. Porque sim, ao invés de seguir o caminho mais fácil e simplesmente desistir e dar de ombros para a vida, eu ainda me mantinha positiva e via alguma luz no fim do túnel, exatamente como minha mãe costumava fazer. Era cansativo, todavia eu não estava disposta a deixar que alguém como Park Bong-Ki apagasse essa luz.

Porém, naquele momento, o que eu via era a mão do diretor vindo em minha direção. Sem reação e seguindo apenas meu reflexo (um verdadeiro inútil, diga-se de passagem), me encolhi e cobri minha cabeça com meus braços, apenas esperando para ser atingida.

Yah!

Alguém gritou e, em seguida, eu estava sendo empurrada para trás por vários corpos. Não fora algo confortável, mas com certeza mil vezes melhor que levar um tapa. Quando abri meus olhos, deparei-me com uma parede de sete homens entre mim e um diretor Park extremamente confuso.

— O senhor não estava planejando bater em uma mulher, estava? — Namjoon indagou, em um tom mais calmo do que eu esperava.

Ao lado dele estavam Hoseok, Jin e Jungkook. Mais atrás, Yoongi e Jimin e, por fim, Taehyung, que usava seu braço direito para me colocar atrás dele, quase me cobrindo.

Eles estavam me defendendo.

— Ela me desrespeitou! — o diretor exclamou, porém visivelmente tentando se explicar.

— É para isso que servem as conversas, doutor. — agora foi a vez de Jin se pronunciar.

— Rapazes, vamos embora. — Gae Mae, que nos fitava com os olhos arregalados por cima das costas do diretor, disse. Por algum motivo, meu coração se apertou. — Sejin-hyung concordou.

— Verdade? — Hoseok perguntou. Por algum motivo, ele parecia subitamente animado.

Ótimo, eles já tinham esquecido da minha existência.

— Sim, ele disse que podemos levar a Drª Sun Hee para fazer uma entrevista. — respondeu. Todos os olhares se voltaram para mim. O que diabos estava acontecendo? — Se ela concordar, é claro.

Eu deveria estar com a cara mais confusa, com direito a testa enrugada e tudo.

— A nutricionista que nos acompanhava pediu licença maternidade, e o manager hyung estava justamente procurando alguém para substituí-la durante o ano em que ela ficará afastada. — explicou Yoongi, colocando-se discretamente na ponta dos pés para falar por cima do ombro de Taehyung.

Espera, eles estavam querendo me contratar?!

Apesar de o assunto ter mudado completamente da água para o vinho, reparei que os quatro que estavam de frente para o diretor mantinham a postura firme, vez ou outra revezando os olhares entre ele e eu.

— Enquanto você não estava, as enfermeiras nos contaram algumas coisas sobre você. E, acontece que... —Taehyung pausou para dar um pequeno sorriso, semelhante ao de uma criança travessa. — Você é exatamente o tipo de pessoa que o manager hyung estava procurando.

Eu não estava entendendo mais nada. Desconfio que a única pessoa mais confusa que eu naquele momento era o diretor Park, que simplesmente encarava os rapazes com uma cara de paisagem que poderia fazer todo o meu dia melhor.

— Então, o que acha? — perguntou Jimin, também parecendo uma criança travessa.

Eles seriam fofos, se não estivessem determinados a virarem o meu dia de cabeça para baixo.

Ou, pelo visto, a minha vida.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Nem ta na cara a resposta dela, não é? kkkk
Enfim, o que estão achando da Sun Hee, gente? Me contem!
Até :*



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